terça-feira, 7 de outubro de 2014

O portunhol na produção das artes


BrasilxArgentina


Soledad Domínguez, especial para o Clarín em Português

O portunhol está presente na música e nas falas dos turistas. Neste texto, fica claro que ele também faz parte de uma forma muito mais ampla na nossa cultura.
Buenos Aires, 30 de setembro de 2014


(acima Caetano Veloso no Maracanã onde assistiu a Argentina jogando na Copa do Mundo. Ele é citado aqui no texto de Soledad Domínguez)



O mais grande do mundo”, “sublinear”, “habló de lo filme”, “más nada”, “preconcepto” são algumas das nomenclaturas e traduções apressadas do português para o espanhol.


Elas são entendidas como filtrações –muitas vezes cômicas- e ‘erros interlinguísticos’, corrigidos por professores de idioma.


Mesmo assim, elas transitam livres nas falas de turistas, de estudantes e acadêmicos, nas redes sociais e nas vozes do Kevin Johansen e Paulinho Moska cantando Por las ruas, pelas calles.... Todas representam formas de estabelecer vínculos, diálogos e interação transnacional.



O portunhol, esse idioma regional sem regras semânticas, está inscrito no imaginário sul-americano. Assim como as canções que combinaram as duas línguas “Soy loco por tí America”, gravada por Caetano Veloso (1968) e “Los justicieros” (1966) por Os Mutantes. No comic, “Los três amigos” (1987), com desenhos de Angeli, Glauco y Laerte.



No cinema, “El provocador. Primeiro filme em portunhol” (2011), de Pablo Navarro Espejo. Nos últimos anos, o festival El Vecinal, um encontro musical de artistas da América do Sul.


Brasil tem uma extensão de 16.886 quilômetros de fronteira e limita com sete países da América Latina de fala espanhola. O contato entre as duas línguas, desdobra-se em vários portunhóis binacionais e até trinacionais, como é no caso da tríplice fronteira Brasil-Argentina-Paraguai.


Lá, ruas dos três países se cruzam. Espanhol, português e guarani se confundem e se transbordam um para o outro. As pessoas se cumprimentam em portunhol-guaranhol-espanhol. Mba´eicha´pa?, como você está?, como estás?



(acima, Kevin Johansen, de camiseta azul, e o cartunista argentino Liniers. Kevin gravou com Paulinho Moska eles também falaram em portunhol)


Portunhol Selvagem


Para dentro e para fora dessa tríplice fronteira se expandiu o ‘portunhol selvagem’, uma prática cultural, ou melhor, uma comunidade artística-literária que faz prosa e poesia na mistura de idiomas.


“É um projeto estético e linguístico ideado pelo escritor brasileiro (de família paraguaia) Douglas Diegues que convoca uma serie de manifestações através da invenção de uma língua poética em portunhol”, aponta a doutoranda Maria Eugenia Bansescu da UNR/CONICET (Argentina). O conceito ‘portunhol selvagem’ é do próprio Douglas, em homenagem às selvas primitivas da região.

Ele mora na cidade de Ponta Porã, no estado de Mato Grosso do Sul, a 35 quilômetros de Cerro Corá, onde teve fim a guerra da Tríplice Aliança. Ali o guarani ainda está vivo. É “um experimento selvagem que brota como flor misma de las lenguas que moram dentro du meu pensamentu, u português, o espanhol, algo do guarani y do guaranhol, mesclados” explica o escritor.


É o resultado das linguagens híbridas nascidas nas ruas, nas fronteiras, apropriando-se de ações erráticas como fonte inspiradora de criação, sem preconceitos nem proibições.


Nesse contexto, acrescenta a pesquisadora Maria Eugenia, o adjetivo ‘selvagem’ estaria associado também ao modo de insurreição e negociação cultural frente às convenções linguísticas e do mercado editorial.


Douglas lançou em 2002 seu primeiro livro ‘Dá gusto andar desnudo por estas selvas’ (Travessa dos Editores, Curitiba, 2002) e ‘Triple frontera dreams’ (Katarina Kartonera 2010 y Eloisa Cartonera, 2012).

Os outros porta-vozes são escritores que desde a década de ’90 se somaram a esta proposta. E relacionados a eles, os chamados Poetas das três fronteiras, os paraguaios Jorge Kanese, Edgar Pou, Cristino Bogado e o argentino Marcelo Silva. Wilson Bueno, Xico Sá, Joca Reiners Terrón e Rolando Bressane.


Contos, novelas e poemas em portunhol selvagem, como única escritura. Mas todos com seu estilo próprio. Nenhum deles se parece com ninguém.


“Cada vez que alguém começa a falar em portunhol é um novo portunhol, é selvagem como todo recém nascido”, diz Joca.


O primeiro do grupo a produzir obra foi o paranaense Wilson Bueno com ‘Mar paraguayo’ (1992), com prólogo do poeta argentino Néstor Perlingher. É ele que trará a próxima novidade com seu livro “Mascate”, que incluirá também vocábulos em árabe.


Será vendido através da primeira editora cartonera do Paraguai YIYI Jambo -inspirada na precursora e argentina Eloísa Cartonera- que utiliza cartão reciclado para a montagem dos exemplares. Produção artesanal e limitada. 


Rolando Bressane, autor de  “Cada vez que ella dice xis” (Yiyi Jambo, Assunção, 2008) fez a primeira reportagem nesta língua para O Estado de São Paulo (http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,hablando-serio,122244).


O mato-grossense Joca Terrón passou parte da infância e adolescência em cidades fronteiriças do Paraná e Mato Grosso do Sul. “O portunhol falado pelos habitantes de regiões do Brasil próximas de países de língua espanhola, tem a ver com a porosidade delas e o uso da língua só reflete isso”, explica. Joca produziu uma peça de teatro chamada “Bom Retiro 958 Metros”, em São Paulo onde diversas personagens falavam em portunhol.

Publicou Transportunhol borracho (Dulcineia Catadora, São Paulo, 2008), traduzindo a poesia de grandes nomes como Raymond Carver, Jim Dodge, H.M Enzensberger ao portunhol.

Xico Sá é outro dos representantes, autor de Caballeros solitários rumo ao sol poente e La mujer és un gluebo da muerte.


Pouco se conhece da produção desses escritores “porque o portunhol é uma língua sem Estado, e ele não permite que se fale. Ele não é oficial. Eu gosto de escrever em portunhol porque não gosto de ser o bom aluno”, reflete irônico Douglas Diegues.


Em outros campos como o das artes visuais, a artista conceitual argentina Ivana Martínez Vollaro, reuniu em 2005 a mais de 100 artistas num projeto chamado Portunhol, onde as palavras e expressões “erradas” foram um disparador de criação e comunicação.


Nos anos ’60, o artista argentino Xul Solar tinha criado o neocriollo, uma espécie de língua do futuro de Sudamerika, muito próxima ao que seria o portunhol.


(O artista plástico Xul Solar também valorizou o porteunhol de alguma forma, cita a autora)


No que diz à literatura, a pesquisadora Maria Eugenia nos lembra que na América latina, teve algumas obras chave de interferências linguísticas como Galáxias de Haroldo de Campos no Brasil e alguns contos de Horacio Quiroga na Argentina, contextualizados na fronteira com o Paraguai.


Mais recentemente, que ‘movimento’ artístico estaria aparentado com o portunhol selvagem? Myriam Avila, professora da faculdade de letras da Universidade Federal de Minas Gerais diz que “o impulso rasquache nas artes plásticas praticadas nos Estados Unidos pelos chamados latinos nas últimas décadas do século XX, é aparentado ao que move poetas como Douglas Diegues na América do Sul”.


Vale lembrar que o rasquache transformou-se num estilo de arte após enfrentar críticas à sua conotação inicial negativa associada, no México, às classes baixas.


O portunhol ainda é concebido como uma língua de negociação e de intercâmbio entre territórios culturais, enquanto o portunhol selvagem aponta para o fato de que toda língua se encontra em uma terra de ninguém.

“Ele é uma língua de sobrevivência, de precariedades. Não reconhece territórios, gramáticas nem normas e não se restringe aos vocabulários português e espanhol. É uma língua-moradora-de-rua”, aponta a professora Myriam.


E por outro lado, essas manifestações ajudam a pensar criticamente sobre algumas das transformações históricas do mundo contemporâneo, como as migrações e a proliferação de fronteiras”, completa a pesquisadora Maria Eugenia.


Como disse o poeta Manuel de Barros - próximo às vanguardas europeias de inícios do século XX-: “eszribo la lengua que aprendi primero”. A da integração.

 

 

ARMADILHAS DO IDIOMA

Cuidado com o portunhol




Fortes semelhanças entre o português e o espanhol geram muitas vezes palavras definidas como sendo do "portunhol". Veja aqui a lista que estamos preparando.

Por Marcia Carmo


Aguinaldo: No Brasil, é um nome próprio masculino. Na Argentina, sinônimo do 13º salário. Fica divertido para um brasileiro quando aqui trabalhadores erguem faixas dizendo: "Queremos aguinaldo" ou "Nosso aguinaldo está atrasado" ou ainda "Queremos aguinaldo completo".

Bañero: Significa salva-vidas. Na praia, se estiver se afogando e precisar da ajuda de um salva vidas, grite então 'banhero' e para ir realmente ao banheiro, pergunte por 'baño' (leia-se banho). Exemplo: 'Donde está el baño?' ('Onde fica o banheiro?'). E a palavra "salva-vidas" o que significa em espanhol? Em espanhol é  o nosso 'pneu' (aquela excesso em torno da cintura).

Borracho: em espanhol é alguém que bebeu demais. E em português também é ébrio. Mas para nós brasileiros é mais comum, hoje, o uso de "bebado" ou "bebum". Soube de argentinos que riram quando leram a nossa 'borracharia' no Brasil. Imaginaram ser lugar de encontro de 'borrachos'. Em tempo: para eles, a nossa 'borracharia' é 'taller' (leia-se tajer) ou ainda 'taller mecánico' (leia-se tajer mecânico). 

Borrachera: bebedeira, borracheira. Mas como no caso do "borracho", que está no dicionário Aurélio, como nos alertou uma leitora da Colômbia, é muito mais comum usarmos bebedeira quando alguém bebe demais no Brasil. No popular, "encheu a cara". 

Chimento: parece o nosso 'cimento', mas é 'bisbilhotice'

Chisme: fofoca

Corpiño: (leia-se 'corpinho') Não é como falamos no Brasil uma pessoa esbelta. Mas 'sutiã'. Um amigo brasileiro disse em Buenos Aires para uma garçonete bonitona. "Você tem trinta anos, mas com 'corpinho' de vinte". E ela, argentina, pensou que ele se referia ao tamanho de seu busto e não ao seu corpo perfeito.

Cubiertas: se você pedir uma "cubierta" porque está sentindo frio, ninguém vai entender nada. 
Cubierta é pneu de automóvel. 

Cubiertos: não é uma coberta ou cobertor. São talheres. E a nossa coberta? Para eles, é 'frazada'.

Embarazada: grávida

Equipo: Time de futebol.

Esposas: algemas

Exquisito: essa palavra nos confunde porque trata-se de um "falso amigo" - mesma palavra e signficado totalmente diferente nos dois idiomas. Em português, "esquisito" é sinônimo de algo estranho, excêntrico. Em espanhol, o adjetivo é empregado para definir uma pessoa ou um prato, por exemplo. Delicioso e gostoso à mesa. E pessoa com grana ou influente, como indica o título do livro do escritor argentino Adolfo Bioy Casares - "Diccionario del argentino exquisito".

Fuego: em português é 'fogo'. Mas essa é só uma das palavras que ajudam a fortalecer a inevitável existência do portunhol. É ampla a lista para as palavras nas quais temos apenas que trocar 'o' por 'ue'. Outro exemplo, a nossa 'roda' para eles é 'rueda'.

Hincha: (leia-se 'incha') torcedor.

Hinchada: (leia-se 'inchada') torcida e, como no Brasil, também alguém com alguma parte do corpo machucada. 

Gran barata: Não é uma barata (cucaracha) grande. Mas uma baita liquidação (liquidación) em alguma loja.

Groso: (leia-se grosso). Para nós, brasileiros trata-se de uma pessoa sem classe, um bruto. Para os argentinos, o adjetivo é sinônimo de alguém "poderoso" ou "genial". Assim, uma mulher "grosa" é poderosa. 

Mala: em português é o que usamos para levar roupas e outros objetos em uma viagem. A palavra é também associada a uma pessoa chata, insuportável. Na Argentina, mala é uma pessoa má. 'Una mala persona'. E o que para nós brasileiros é 'um mala', para eles é alguém 'pesado' (chato). Para eles, argentinos, quando alguém é chato demais é, então, 'muy pesado' - sinônimo do nosso 'muito mala'.

Mestizas- gemeas.  O Aécio tem filhas mestizas isso é gêmeas.


Pan dulce: é como os argentinos (e outros do idioma espanhol) chamam o que para nós é o panetone.

Pelado:para nós, brasileiros, é uma pessoa sem roupa - pelado, pelada. Para nossos vizinhos, é sinônimo de 'careca'. E para eles quando alguém tira a roupa toda está 'desnudo' ou 'desnuda'. No Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras, 'pelada' é também um jogo de futebol entre amigos. 'Vamos jogar uma pelada'.

Picada: para os brasileiros, a palavra é logo associada a 'picada de mosquito'. Para os argentinos, ela pode ser uma 'picada' de automóveis - quer dizer, para nós brasileiros, 'um pega'. Para nossos vizinhos, 'picada' é também sinônimo de pedir uma entrada de queijos e outros frios para acompanhar um vinho ou uma cerveja em um bar ou restaurantes. Poderia ser quase o nosso, 'vamos beliscar' alguma coisa. 

Presunto: palavra comum para nós brasileiros, na hora de preparar o sanduíche, presunto é "jamón" (leia-se ramón) em espanhol. Causa surpresa quando vemos nos jornais ou na tela da TV quando escrevem aqui na Argentina: "Presunto violador" preso pela polícia. Quer dizer, suposto violador. Para nós brasileiros, uma pessoa também pode "virar presunto" (cadáver). Mas a frase é pouco elegante.

Propina: gorjeta. E o que para nós brasileiros é propina, para eles é "coima".

Saco: casaco. Para um brasileiro costuma ser, no mínimo, estranho ouvir quando eles perguntam se "ese saco es suyo" (leia-se: esse saco é sujo?). Quer dizer, se o casaco é seu. É comum que pensem outra coisa, mais maldosa. Mas é só mais uma das armadilhas do portunhol. 

Sorbete: (leia-se sorvete). Significa canudo. E nosso sorvete é "helado".

Suciedad: aos nossos ouvidos brasileiros a palavra pode ser confundida com "sociedade". Mas em espanhol sociedade é também sociedade. E "suciedad" significa algo muito menos nobre: sujeira.

Tarado:  em português, a palavra é empregada para definir um homem louco por sexo e, neste sentido, perigoso e sem escrúpulos. Em espanhol, um tarado é simplesmente um bobo, imbecil ou idiota. 

Taza: xícara.

Vaga: no Brasil, é uma vaga na garagem, no estacionamento (playa) ou para matricular o filho na escola. Mas para os argentinos, é uma pessoa preguiçosa. 

Vaso: copo


E por quê o português e o espanhol são tão parecidos?


Entrevista: Camila do Valle, do Rio de Janeiro, com doutorado em lusofonia, estudiosa do portunhol, ex-presidente da Fundação Centro de Estudos Brasileiros, em Buenos Aires:


“Até o século XIII era um só idioma (na Península Ibérica). Mas o maior fantasma de Portugal sempre foi a Espanha, que era o reino de Castela. Portugal tinha muito medo de ter que submeter a sua coroa à coroa de Castela. Para se diferenciar da Espanha, Portugal começou a fortalecer toda a sua história, que foi escrita do jeito que as pessoas falavam dentro daquela fronteira de Portugal. Foram contratados cronistas dos reis para escrever um idioma como aquele povo falava. Eles começaram a produzir uma diferenciação da língua entre o português e o que era falado na Espanha. A língua foi chamada de galego português”.


Vem daí o portunhol?


“Claro. A língua é o uso e há muita chance de o portunhol de fato começar a se desenvolver, porque existe este histórico que vem do século treze e de idiomas que têm raízes próximas. Se formos mais atrás ainda, vamos parar no latim. Sendo que o português veio do latim vulgar, vulgo, vulgar, no sentido do povo. Era o povo que falava esse latim errado gramaticalmente e que se tornou o português. No século treze, por exemplo, ‘fror’ era a forma correta de falar ‘flor’. Mas como as pessoas não sabiam falar “fror” e falavam “flor” erradamente o que se estabeleceu, depois, foi “flor”. O idioma é vivo, democrático. E o portunhol algo a ser levado a sério”.


VIZINHOS

Mito derrubado: brasileiros e argentinos nem sempre se entendem em portunhol


Giselle Sousa Días, enviada especial do Clarín a Florianópolis

Muitas palavras soam parecidas, mas significam outra coisa e no Brasil elas são chamadas de “falsos amigos”. Chaves para evitar cair no ridículo.


Quando a pessoa chega ao Brasil deve saber que o portunhol às vezes ajuda e que outras vezes pode deixá-la a ver navios ou fazendo um papelão.


Se você for comprar um biquíni não peça “um novo corpiño” (leia-se corpinho) porque seu corpinho*, embora esteja um pouco flácido e barrigudo, não está tão mal.


Se você, argentino, contar sua melhor piada e te responderem “que engraçado” não olhe para o cabelo (com uma espécie de creme): eles estão te dizendo apenas que algo tem "graça", é “gracioso”.

 
Se você quiser xavecar com classe, não comece a frase dizendo “presuntamente” (em português “supostamente”) porque aqui presunto é o salgado usado no sanduiche.


O verão começou, os argentinos chegaram e aí começa o mito: esse que diz que todo mundo se entende falando portunhol.



Essas palavras que soam parecidas, mas significam coisas diferentes e às vezes opostas, são chamadas aqui de “falsos amigos”. Elas provocam tantas confusões - às vezes engraçadas e outras trágicas - que motivaram Claudio Budnikar, um argentino de San Antonio de Padua, que mora em Florianópolis há 11 anos, a criar o Hispano-luso (está no facebook): uma espécie de dicionário que tenta esclarecer quais são as palavras e frases que costumam gerar confusões.


“Vou pondo lá todas as confusões que eu vou escutando na rua. Tem algumas engraçadas: uma vez, uma garota brasileira disse na frente de um grupinho de argentinos que se sentia embaraçada (em espanhol, embarazada é grávida) por uma situação que não queria explicar.


Os argentinos, que não sabiam que aqui embaraçada significa envergonhada, começaram a rir e lhe disseram: ‘Não precisa explicar, nós sabemos qual é a situação que leva à gravidez’. E houve outras trágicas, como a do turista argentino que entrou desesperado em um bar porque um amigo estava se afogando e gritava: ‘Un banhero, un banhero!’.


E os clientes, pensando que ele estava fazendo nas calças, lhe mostravam a porta do banheiro: o toalete”. Mas ele estava buscando um salva-vidas (que na Argentina é chamado de bañero).


Aqui em Florianopólis a gente escuta os argentinos inventando muito: que a cartinha (carta, menu), que o vacinho (vaso, copo), que o tenedorcinho (tenedor, garfo). Ninguém pede o cardápio para o garçom, nem o copo nem o garfo. Muitos garçons sabem e muitos outros não: salsa é aquela que se dança e não a que vem com a comida, portanto se você pedir raviólis com salsa, você está pedindo massa e que mudem a música. (Aos brasileiros, salsa em espanhol é molho).


Antes de vir, então, anote: se você for comer fora e o garçom disser alguma coisa sobre a cadeira não fique traumatizado, ele está te oferecendo um assento. E se a alegria grudar em você e você quiser ser muito amável e disser “a comida está exquisita” (deliciosa)”, você está dizendo na cara da pessoa que deu a vida por te atender bem: “garçom, a comida está esquisita”.


Além disso, os brasileiros não dizem “apellido”, mas “sobrenome”, portanto se você chegar ao hotel e tiver que preencher uma ficha não coloque: el colorado (o ruivo), el lechón (gordinho) ou el narigueta (narigudo). Dificilmente isso coincida com o seu documento.
Se te acusarem de “surdo” (canhoto), o é que eles estão dizendo que você é surdo.


Aquele cartaz de “borracharia” (os argentinos lembram de borrachera) não é a entrada do bar: é a entrada para uma borracharia para os automóveis.

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