segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Pesquisa aponta 'segredos' de seis escolas públicas de excelência

18/12/2015 06h00 - Atualizado em 20/12/2015 10h37

Escolas foram detectadas em pesquisa da Fundação Lemann.
Entre as seis, a maioria é pequena e duas delas estão em áreas rurais.

Vanessa FajardoDo G1, em São Paulo
Escola municipal Rodrigues Alves, no Rio de Janeiro (Foto: Gabriela Portilho)Escola municipal Rodrigues Alves, no Rio de Janeiro, é um dos destaques da educação pública do Brasil (Foto: Gabriela Portilho)

Seis escolas públicas brasileiras destoam dos números ruins do cenário nacional e se destacam por suas boas práticas de ensino entre os anos finais do ensino fundamental. Formação contínua de professores, avaliações frequentes e proximidade com a comunidade estão entre os segredos para o sucesso do ensino nessas unidades.
As escolas foram detectadas em uma pesquisa feita pela Fundação Lemann, com apoio da Instituto Credit Suisse Hedging-Griffo e do Itaú BBA, cruzando dados do Censo Escolar e da Prova Brasil 2013. Foram levados em conta critérios como o índice de conhecimento considerado adequado em matemática e português, a evolução dos alunos entre o 6º e o 9º ano, entre outros indicadores.

Apesar de poucos recursos, o índice de aprendizado nestas escolas está acima da média brasileira. Entre as escolas selecionadas como cases, todas são municipais, só duas têm redes consideradas grandes, uma no Rio de Janeiro e a outra em Belo Horizonte (MG), as demais são pequenas e estão localizadas em Sobral (CE), Novo Horizonte (SP). Duas delas, além de pequenas, são da zona rural e ficam em Pedra Branca e Brejo Santo, no Ceará (veja lista com os nomes abaixo). 

Para Ernesto Martins Faria, coordenador do estudo, diz que ao divulgar o trabalho dessas unidades o objetivo é "dar protagonismo para quem está realmente fazendo a diferença" na edição do Brasil. "A mensagem que o estudo passa é que todo o aluno importa. Não dá para cair na armadilha de olhar só para o aluno mais engajado. Não se perde nenhum aluno."
Escola municipal Miguel Antonio de Lemos, em Pedra Branca (CE) (Foto: Gabriela Portilho)Escola municipal Miguel Antonio de Lemos, em Pedra Branca (CE) (Foto: Gabriela Portilho)

Envolvimento da comunidade
Para fazer com que os alunos aprendam com qualidade, uma das estratégias da escola municipal Miguel Antonio de Lemos, localizada na área rural de Pedra Branca, no Ceará, é envolver a comunidade nas decisões e vida escolar.


A unidade atende 98 alunos do 6º ao 9 ano. Lá, o acesso é feito somente por pau de arara, os ônibus não têm passagem por conta das condições das estradas. Nada disso, no entanto, impede a aprendizagem dos alunos.


"Não vivemos só de problemas. Fazemos com que os alunos aprendam e conscientizamos a comunidade. Nosso lema é fazer com que a escola seja a diferença na vida do aluno. Fui alfabetizado nessa escola e tenho uma causa de amor com ela", diz o diretor Amaral Barbosa de Lima.


Na escola Maria Leite de Araújo, também da área rural de Brejo Santo (CE), a relação estreita com a comunidade também é uma realidade. A escola é pequena, possui 79 alunos do 6º ao 9º ano. Os professores moram próximos às famílias dos alunos e as mães acompanham o desenvolvimento e acompanhamento das crianças.


Escola municipal Armando Ziller, em Belo Horizonte (Foto: Pesquisa Excelência com Equidade)Escola municipal Armando Ziller, em Belo Horizonte (Foto: Pesquisa Excelência com Equidade)

Olho na evasão
Na escola de Belo Horizonte também destacada pela pesquisa, a Armando Ziller, um dos desafios é a violência do entorno. "Temos problemas como qualquer centro urbano", afirma a vice-diretora Ivani de Paula Campos.


Para garantir o aprendizado dos alunos, a escola impõe regras e controla as faltas - se houver cinco consecutivas, ou dez alternadas, os pais são convocados. Também faz questão de trazer os pais para a escola. Frequentemente realiza sessões de cinema e bingo para os familiares dos alunos.


Escola municipal Gerardo Rodrigues, em Sobral (CE) (Foto: Gabriela Portilho)Escola municipal Gerardo Rodrigues, em Sobral (CE) (Foto: Gabriela Portilho)


Formação de professores
Na escola Gerardo Rodrigues, de Sobral (CE), o diferencial está na formação de professores. Todos os meses os docentes passam por formações sob acompanhamento de uma consultoria e uma vez por semana, se reúnem para estudar e conversar sobre os problemas dos alunos.


“Sabemos quais são os alunos que têm dificuldades e quais são elas”, afirma a Fernanda Lopes, professora de português. Fernanda lembra que outra característica da escola é trabalhar a questão da afetividade entre os alunos. “Atendemos muitas crianças carentes, inclusive no sentido afetivo”


Escola municipal Armando Ziller, em Belo Horizonte (Foto: Pesquisa Excelência com Equidade)Escola municipal Armando Ziller, em Belo Horizonte (Foto: Pesquisa Excelência com Equidade)

Avaliações frequentes
É de Novo Horizonte, em São Paulo, uma cidade agrícola, a mais de 400 km da Capital, que vem outro bom exemplo de educação pública. Na escola municipal Hebe de Almeida Leire Cardoso, o índice de aprendizado adequado entre os alunos do 9º ano em matemática e português ultrapassa a marca dos 50%.


A qualidade do ensino é mensurada por avaliações, da escola, dos professores e da secretária da educação. O professor de história Ademir Almagro explica que todas as sextas-feiras os alunos fazem uma prova. O resultado, com a média da sala, e da individual, chega já na segunda-feira. “Dá para medir como o está sendo o aprendizado de maneira imediata. Eu sei aonde eu tenho de voltar.”


Almagro diz que a escola colhe agora os frutos de um trabalho que começou há 12 anos.


“Queremos que o aluno aprenda com a sensibilidade do professor em sala de aula e com os números revelados pelas avaliações.”
Escola municipal Rodrigues Alves, no Rio de Janeiro (Foto: Gabriela Portilho)Escola municipal Rodrigues Alves, no Rio de Janeiro (Foto: Gabriela Portilho)


Turno integral
A escola municipal Rodrigues Alves, localizada na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, aderiu ao programa Ginásio Carioca, implantado pela Prefeitura do Rio em 2011. Nas unidades que fazem parte do projeto, os alunos estudam em tempo integral e têm professores de dedicação exclusiva.


No colégio Rodrigues Alves todos os alunos são acompanhados de perto, os que têm dificuldade no aprendizado participam do reforço no contraturno escolar. "A gente nunca desiste do aluno, não importa se ele veio com alguma defasagem. Está todo mundo envolvido. Nós não podemos resolver o problema do país inteiro, mas podemos fazer algo por quem está na nossa frente", diz a coordenadora pedagógica Maristela Motta.


Depois do período regular das aulas, os alunos têm atividades como xadrez, italiano, história em quadrinhos, debates sobre temas adolescentes, sessões de cinema aliadas aos projetos de leitura, entre outros. As opções mudam a cada semestre.


Maristela lembra que as dificuldades existem como em tantas outras escolas públicas do Brasil, a Rodrigues Alves, por exemplo, não possui uma quadra coberta, e muitas vezes os alunos precisam fazer aulas sob um sol de 40 graus.


No entanto, para ela, o diferencial é a "vontade de fazer" da equipe que lá atua. "É a vontade, a maneira de tratar o ser humano. Não é o que fazemos, é como fazemos, a maneira."


Veja a lista das escolas selecionadas pela pesquisa:
1) Escola Municipal Rodrigues Alves - Rio de Janeiro (RJ)
2) Escola Municipal Armando Ziller - Belo Horizonte (BH)
3) Escola Municipal Gerardo Rodrigues - Sobral (CE)
4) Escola Municipal Hebe de Almeida Leite Cardoso - Novo Horizonte (SP)
5) Escola Municipal Miguel Antonio de Lemos - Pedra Branca (CE)
6) Escola Municipal Maria Leite de Araújo - Brejo Santo (CE)
(**) As informações que estão nas imagens são do Inep Censo Escolar e Prova Brasil 


Escola municipal Maria Leite de Araújo, em Brejo Santo (CE) (Foto: Pesquisa Excelência com Equidade)Escola municipal Maria Leite de Araújo, em Brejo Santo (CE) (Foto: Pesquisa Excelência com Equidade)
 

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