quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Mamutes mortos salvam elefantes vivos

Por Eduardo Pegurier
Apelidado de mamute de Yukagir, encontrado em 2002 na Sibéria, esse fóssil mostra a cabeça de
 um mamute-lanoso em excepcional estado de conservação. 

 Foto: Wikimedia Commons


Há estimativas de que 10 milhões de carcaças de mamutes-lanosos (Mammuthus primigenius) jazem no subsolo da Sibéria. E debaixo do permafrost – solo permanentemente congelado – da região, mantiveram suas presas de marfim prontas para serem exploradas e comercializadas. Para a sorte dos seus primos, os elefantes modernos.

Essa é a conclusão de dois economistas da universidade de Calgary, no Canadá. Naima Farah e John Boyce publicaram um estudo preliminar mostrando que a exportação russa de marfim dos mamutes-lanosos, espécie extinta há cerca de 4 mil anos, está reduzindo a caça ilegal de elefantes em cerca de 50 mil animais por ano e, junto, derrubando o preço do marfim em 100 dólares por quilo. Se de fato existirem milhões de carcaças de mamute com presas preservadas, elas seriam capazes de suprir o mercado de marfim por centenas de anos nos níveis atuais.


Entre 2010 e 2012, as vendas de marfim extraído dos mamutes mortos chegaram a 80 toneladas por ano, algo como 20% do total do mercado, que, de resto, é quase todo criminoso, pois o comércio de marfim foi banido pelo CITES em 1989 -- embora existam exceções que representam pequenas quantidades, como o comércio de troféus de caça, peças de marfim particulares e marfim confiscado pelo governo. O CITES é o acordo internacional que busca evitar o comércio de animais sob risco de extinção.


A contribuição do marfim sob a tundra ártica pode aumentar a chance de os elefantes modernos não serem extintos como o foram seus primos peludos. Mas os números não são animadores. Entre 1930 e 1940, estima-se que a população de elefantes africanos era de 3 a 5 milhões de animais. No final da década de 70, o número era de 1,3 milhão de elefantes, que caiu para a metade, cerca de 600 mil em 1989, quando finalmente o comércio de marfim foi banido.


Pela quantidade de marfim ilegal apreendido por governos, os especialistas derivam outros números, como o cálculo de que as apreensões não passam de 11% do mercado total. Estima-se também que o abate ilegal de elefantes é da ordem de 35 mil animais por ano, algo em torno de 5% da população que resta.


Sem a venda do marfim extraído do primo extinto, o estudo calcula que seriam mortos 85 mil elefantes africanos, um número que provavelmente levaria a espécie ao colapso e a extinção.


No caso do mamute-lanoso, até 1950, acreditava-se que mudanças climáticas teriam sido a causa da sua extinção. De lá para cá essa hipótese foi paulatinamente desacreditada.

Cobertos por um manto de pelos, dotados de uma grossa camada de gordura e presas enormes, de até 5 metros, esses animais sobreviveram a períodos de glaciação e períodos de temperatura amena.

Hoje, é amplamente aceito que foram os seres humanos que os caçaram até o seu fim, assim como mastodontes, tigres-dente-de-sabre e versões gigantes de preguiças, castores e tatus. Boa parte da chamada megafauna que existia nas américas entre 10.000 e 13.000 anos atrás desapareceu num ritmo e padrão que coincide com a chegada e a expansão dos humanos na região.

A ironia do novo estudo é concluir que os restos de mamutes que extinguimos há milhares de anos talvez salvem o elefante, o qual nos encaminhamos para dar o mesmo fim.

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