sexta-feira, 12 de março de 2021

Gravadores ajudam a registrar presença de aves e anfíbios em área de reflorestamento da Mata Atlântica

 


Gravadores ajudam a registrar presença de aves e anfíbios em área de reflorestamento da Mata Atlântica

Gravadores ajudam a registrar presença de aves e anfíbios em área de reflorestamento da Mata Atlântica

Há mais de 20 anos, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) realiza um grande projeto de reflorestamento na Mata Atlântica, na região do Pontal do Paranapanema, no extremo oeste de São Paulo. Nessas últimas duas décadas já foram plantadas 2,4 milhões de árvores, de espécies nativas, em um grande corredor, com 1.200 hectares, que une duas Unidades de Conservação (UC’s), o Parque Estadual Morro do Diabo e a Estação Ecológica Mico-leão-preto.

Para avaliar o impacto da restauração florestal e como consequência, o restabelecimento do habitat natural e a presença de espécies de plantas e animais, os pesquisadores do IPÊ monitoram a área desde 2015. Além de observar como a vida selvagem está reagindo ao reflorestamento, eles também analisam o valor econômico dos serviços ecossistêmicos prestados por essas áreas (melhora da água, do clima, dispersão de sementes, qualidade do solo). 

Entre as estratégias utilizadas para avaliar os resultados do projeto* de reflorestamento e a “funcionalidade” do corredor restaurado está a instalação de gravadores para captar a vocalização de aves e anfíbios e assim, descobrir quais animais podem ser encontrados nessa área.

“O uso de gravadores traz diversos benefícios sobre se ter pesquisadores em campo, anotando manualmente o registro das vocalizações”, explica a bióloga Simone Tenório, pesquisadora do IPÊ, envolvida no monitoramento.

Gravadores ajudam a registrar presença de aves e anfíbios em área de reflorestamento da Mata Atlântica

O corredor florestal, com 12 km de extensão, liga duas unidades de conservação

Na primeira fase do projeto, entre 2015 e 2018, os gravadores eram grandes e pesados, mas agora há um novo modelo, bem menor e leve, o que facilitou seu uso em campo, já que os pesquisadores conseguem levar vários dentro de uma mochila para fazer a instalação nas árvores da floresta.

A cada dez minutos os gravadores registram um minuto de som. Após três semanas, a equipe do IPÊ volta ao corredor e coleta as informações armazenadas (gravações). “Num período de nove semanas temos um acervo de 800 mil minutos gravados”, explica Simone.

Atualmente são 90 gravadores, que de tempos em tempos, são reposicionados em novos lugares. Após a coleta das gravações, elas são transferidas para o ARBIMON, um sistema digital que torna o processo de captura, armazenamento e identificação da vocalização (sons) da fauna mais simples.

“O sistema sinaliza automaticamente a presença de alguma espécie na gravação e se o banco de dados já possui aquele cadastro prévio da vocalização, seu reconhecimento fica mais rápido”, diz a bióloga.

em um grande corredor, com 1.200 hectares, que une duas Unidades de Conservação (UC's)

Simone Tenório com um dos gravadores em mãos

Desde 2015, o levantamento tem apontado excelentes resultados, confirmando que várias espécies de aves podem ser observadas no corredor florestal. Entre aquelas que têm o importante papel de serem dispersoras de sementes estão o soldadinho (Antilophia galeata), o risadinha (Camptostoma obsoletum), a guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster) e o tico-tico-rei (Coryphospingus cucullatus), que aparece na imagem que abre este post.

“O soldadinho é uma espécie bastante sensível a distúrbios ambientais e saber que ele pode ser encontrado no corredor indica a boa qualidade da área e a capacidade de suporte para essa espécie”, afirma Simone.

Dentre os anfíbios detectados pelas gravações, foram ouvidas as vocalizações do sapo-martelo, a rã-cachorro, a pererequinha-do-brejo e a rã-assobiadora.

A pesquisadora do Instituto IPÊ destaca ainda outro ponto bastante interessante e que foi surpresa para a equipe: nos trabalhos de campo notou-se a presença de dezessete espécies vegetais, que não foram plantadas na região, como o tingui, o amendoim bravo, a aroeira pimenteira, a goiaba branca e o ingá liso.

Isso significa que essas plantas só estão ali graças à dispersão das sementes feita pelos pássaros, mais uma prova de que com o restabelecimento do equilíbrio ambiental ganham todos e cada um dos personagens desse intricado ecossistema pode cumprir seu papel.

Gravadores ajudam a registrar presença de aves e anfíbios em área de reflorestamento da Mata Atlântica

O soldadinho, uma das espécies dispersoras de sementes, observadas
na área de reflorestamento

———————————————————————————————

*O projeto “Desenvolvimento de Procedimentos Simplificados para a Valoração Econômico monetária de Serviços Ecossistêmicos e valoração não monetária de Serviços Ecossistêmicos Culturais Associados à Restauração Florestal”, realizado pelo IPÊ é uma parceria com a CTG Brasil, por meio de um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento – P&D ANEELSão parceiros ainda do projeto a FEALQ – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz da ESALQ, Universidade de Lavras e GVCes da Fundação Getúlio Vargas. 

Leia também:
As histórias de sucesso de brasileiros que apostaram na restauração florestal para melhorar de vida

Brasileiros ganham prêmio internacional com tecnologia inovadora de restauração florestal
Amazônia: o que deve ser feito para manter a floresta em pé? E como você pode ajudar?
‘Reflorestar é uma excelente ideia, mas é preciso saber onde e como fazê-lo’, alertam pesquisadores que contestam artigo da Science

Fotos: Bernard Dupont (tico-tico-rei/abertura) e Dario Sanches (soldadinho) – ambas Wikimedia Commons, e divulgação Instituto IPÊ/Laurie Hedges (aérea do corredor florestal)

    Nenhum comentário: