domingo, 25 de maio de 2014

GOOOOOL!!!




“(...) O ódio político não é um sentimento, uma paixão, nem mesmo ódio. É uma pura, vil, obtusa palavra de ordem.” 
Nelson Rodrigues – Os idiotas da objetividade

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Vania L Cintra

Há uns dez dias, mais ou menos, eu deixava, em minhatrincheira.com.br, um texto intitulado “A vitória da propaganda”. Nele, eu dizia que “porões” se transformara “em palavra-ícone, muitas vezes até chique para ser usada em rodas ‘intelectualizadas’, ... à qual podem ser atribuídos efeitos mágicos, fazendo-a capaz de substituir vários parágrafos ou até páginas e páginas de bons argumentos ou fatos... que seduz aficionados de emoções radicais e roteiros cinematográficos... que hipnotiza todo mundo ... tão usada, sem se desgastar, que muita gente de pouca idade ou de pouco siso suporá que, antes de 1988, o País inteiro seria nada mais que uma cadeia de ‘porões’ interligados, uma ‘rede’ de ‘porões’. A palavra faz a festa. E embriaga e paralisa todo mundo, física e intelectualmente”.

Em sua crônica, Josias de Souza, a pretexto de falar de futebol e de criticar o tenebroso discurso de Lula da Silva e a atual tenebrosa “perversidade da desconexão entre gastos e prioridades”, pontifica: “Ao injetar política num evento que deveria ser apenas esportivo, Lula ressuscita outro período tenebroso da história nacional. Uma fase em que o torcedor torcia com uma ponta de sentimento de culpa, sabendo que o triunfo da seleção faria a festa do general de plantão no Planalto. O paradoxo foi levado às fronteiras do paroxismo em 1970, ano em que o sucesso da seleção de Pelé nos gramados do México ajudou a ditadura a abafar os gritos que soavam nos porões do Brasil.”

GOOOOOL!!!  Chutou do meio do campo e a bola foi parar dentro da rede! Pronto! Ganhou o dia!

Todo e qualquer amante do futebol será sempre um torcedor do time de sua preferência. Nem sempre, mas em geral, o torcedor é um fanático. O fanático é sempre ridículo porque é irracional. No futebol, não vê erros dos jogadores de seu time, não vê impedimentos, não vê faltas nem golpes baixos, não vê mão na bola. Em sua imaginação de torcedor, a bola deve rolar redonda, sem se desgastar, sempre no campo adversário. Por ser fanático, não percebendo o quão ridículo é, o torcedor utilizará qualquer argumento sacado do raso de seu cérebro para mais alimentar o seu fanatismo, fanatismo que traz problemas a ele mesmo, talvez especialmente problemas emocionais.

No jogo político, porém, o fanático, além de ridículo, faz danos não apenas a si próprio como aos demais. Não vê perversidade, não vê mentira, não vê lixo, não vê manipulação, não vê desonestidade nos argumentos dos arautos da fé de sua facção. E vai tocando a bola. Por isso foi que Josias de Souza não pôde deixar de falar nos “porões”. Porque é fanático. E, assim como acontece com os cronistas esportivos comentando um jogo de futebol, antes, durante ou depois dele, nem mesmo um bom estilo jornalístico conseguirá esconder seu fanatismo e evitar-lhe o ridículo.

Exceto o abismo que separa a seriedade do Governo Médici da farra solta que caracteriza os Governos Lula/Rousseff, haveria algo a ver entre o primeiro e os atuais ídolos da arquibancada? Há nada. Absolutamente nada. Quem torceu envergonhado em 1970, torceu envergonhado porque resolveu torcer envergonhado. Ou resolveu dizer que torcia envergonhado.

Naquela Copa, só ouvi aqueles que Nelson Rodrigues tão bem definiu como “cretinos fundamentais” e como “idiotas da objetividade” afirmando que não torciam pelo nosso tricampeonato ou que por ele torciam envergonhados – alguns saltaram fora do País e, lá de fora, amparados pela Anistia Internacional, torceram desavergonhadamente contra ele e contra nós, outros ficaram treinando como verter lágrimas de crocodilo para exibi-las quando os “heróis da resistência” retornassem anistiados, pois quem não chora não mama. 

Tenho que reconhecer, porém, que alguma coisa de muito óbvio e de muito sensato Josias de Souza conseguiu escrever hoje e com essa alguma coisa concordo em gênero, número e grau: “Os verdadeiros ‘fantasmas do passado’ são feitos de oportunismo e empulhação. Os amantes do futebol não merecem semelhante agressão.”

Falou e disse!

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