sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O impeachment e a direita que grita lobo

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Quase todos os dias eu vejo pessoas trazendo motivos para pedir o impeachment de Dilma Rousseff.


As afirmações geralmente são feitas seguinte esse padrão: “Você acha que (x) não é realmente um motivo suficiente? E que tal (y), você também acha que isso não é um motivo suficiente? E se eu lhe disser que o governo fez (z), o que também é motivo para impeachment. Precisamos pedir impeachment”.


Vá substituindo (x), (y) e (z) por vários motivos encontrados por aí, inclusive
  • mudança no horário das eleições
  • apuração secreta
  • Foro de São Paulo
  • financiamento BNDES/Cuba
  • e a lista vai seguindo
É evidente que muitas dessas pessoas estão partindo de uma ideia pré-concebida: “é preciso fazer um impeachment”. A partir daí, a mente busca motivos que, entendem, seriam suficientes para pedir impeachment.


Até eu reconheço que caí nessa onda e escrevi um texto há três semanas intitulado Pátria Grande? Este sim um motivo para impeachment. Reconheço que me equivoquei no título, um tanto exagerado e descabido. Mas considero mais um recurso estético do que um pedido real, pois nem investi esforços nesse tipo de demanda futuramente. O duro é que tem gente que leva esse tipo de abordagem a sério e realmente acredita que seus motivos devem gerar um impeachment.


Quase todas as demandas por impeachment estão erradas. Deveriam ser demandas por investigações. As quais, se confirmadas, em alguns casos podem até evoluir para um processo de impeachment. Infelizmente, para todas essas questões não temos nem sequer investigações iniciadas pela PF, ou sequer ações judiciais. No caso do Petrolão, ainda aguardamos provas, as quais, quando surgirem, aí sim poderão resultar em um pedido válido de impeachment.


Também temos o caso do Foro de São Paulo, o qual, segundo alguns, deveria ser motivo para o PT ser fechado. Motivo: o partido estaria “subordinado ao Foro de São Paulo”. O duro é se o PT questionar: “Você pode provar a subordinação?”. Alguns diriam existir atas, que não são suficientes para comprovar subordinação.


Quer dizer, está na hora de deixarmos essa questão de impeachment de lado (até por que não está dando em nada mesmo, e ninguém vai meter a mão nessa cumbuca sem evidências fortes) e focarmos em demandas para as quais temos evidências cabais, como a luta para derrubar o decreto 8243 no Senado e a desmoralização dos truques para censurar a mídia, iniciativa novamente retomada pelo governo com ataques cada vez mais fortes. Ontem tivemos um discurso do petista do PMDB, Roberto Requião, onde ele usou mais do que 10 rotinas fraudulentas. Sinal de que vão pegar pesado.


Enquanto isso, os pedidos de impeachment com base em “busca de motivos” ficam facilitando a vida do governo ao chamar seus proponentes de golpistas.


Desse jeito parece aquela história do menino que gritava lobo e todas as vezes a população do vilarejo ia socorrê-lo, até notar que não existia lobo algum. No dia em que apareceu um lobo de verdade e o garoto gritou por ajuda, ninguém acreditou.


Ficar pedindo impeachment sem surgir um motivo real (e provas contundentes mesmo) vão claramente banalizar esse tipo de pedido. Uma pena, pois há expectativas de que surjam evidências interessantes na Operação Lava Jato. Aí sim teríamos o tiro certeiro: pedir impeachment diante de um motivo suficiente para que vários políticos abracem a ideia. Isso se prestarem atenção, pois por enquanto essa parte da direita está gritando lobo levianamente…

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