segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

5,25 trilhões de pedaços de plástico são encontrados nos oceanos, diz estudo




John Schwartz


  • Marcus Eriksen/The New York Times
    Detritos de plástico cobrem encosta de uma praia em Açores, Portugal Detritos de plástico cobrem encosta de uma praia em Açores, Portugal
Não é nenhum segredo que os oceanos do mundo estão nadando com detritos de plástico - as primeiras massas flutuantes de lixo foram descobertas na década de 90. Mas os pesquisadores estão começando a ter uma ideia melhor do tamanho e da extensão do problema.


Um estudo publicado nesta última semana na revista PLOS One estima que 5,25 trilhões pedaços de plástico, grandes e pequenos, pesando ao todo 269 mil toneladas, pode ser encontrado nos oceanos do mundo, mesmo nos confins mais remotos.


Os navios que participam da pesquisa percorreram os mares coletando pequenos pedaços de plástico com redes, e os valores mundiais foram estimados a partir das amostras usando modelos computadorizados. A maior fonte de plástico em termos de peso vem de boias e redes de pesca descartadas, diz Marcus Eriksen, líder da iniciativa e cofundador do Instituto 5 Gyres, uma organização sem fins lucrativos que combina a investigação científica com o ativismo contra a poluição.


Eriksen sugeriu que um programa internacional que pague as embarcações de pesca pelas redes recuperadas pode ajudar a resolver esse problema. Mas isso não faria nada para resolver a questão das garrafas, escovas de dentes, bolsas, brinquedos e outros detritos que flutuam pelos mares e se reúnem em "giros", onde as correntes convergem. Os pedaços de lixo colidem uns contra os outros por causa das correntes e da ação das ondas, e da luz solar os torna frágeis, transformando estes ferros-velhos flutuantes em "trituradores" que produzem pedaços de plásticos cada vez menores e que se espalham por toda parte, diz ele.


Quando as equipes de pesquisa procuraram por pedaços de plástico do tamanho de grãos de areia, contudo, ficaram surpresas ao encontrar um número bem menor de amostras do que esperavam --um centésimo das partículas que os seus modelos previam. Isso, disse Eriksen, sugere que os pedaços menores podem ser varridos mais para o fundo do mar ou consumidos por organismos marinhos.


O resultado foi semelhante ao de um artigo publicado no início deste ano na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, que encontrou uma quantidade surpreendentemente baixa de pequenos detritos de plástico. Os pesquisadores estimaram que até 35 mil toneladas de escombros menores estão espalhadas por todos os oceanos do mundo, mas esperavam encontrar milhões de toneladas.


Andrés Cózar, um pesquisador da Universidade de Cadiz que liderou o estudo, disse em um e-mail que ele e Eriksen chegaram a conclusões um pouco diferentes sobre a quantidade de plástico flutuante, mas "é evidente que há muito plástico no oceano." Com tantos restos de materiais que são algo relativamente recente para o planeta, diz ele, "o atual modelo de gestão de materiais plásticos é (econômica e ecologicamente) insustentável".
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Com ajuda de pescadores, projeto retira 20 toneladas de lixo do rio Tietê

Limpeza das margens da represa Barra Bonita, em Botucatu, no interior paulista. Um projeto conseguiu a retirada de 20 toneladas de lixo das margens, com renda dividida entre os pescadores Igor Medeiros/ Prefeitura de Botucatu
O fato de que os plásticos pequenos estão desaparecendo não é uma boa notícia. Na verdade, isso pode ser bem mais problemático do que as manchas feias que os plásticos provocam. Os plásticos atraem toxinas e ficam recobertos de poluentes como o PCB [bifenil policlorado]. Pesquisadores temem que os peixes e outros organismos que consomem os plásticos possam reabsorver as toxinas, e passá-las para outros predadores quando são comidos.


"Os plásticos são como um coquetel de substâncias contaminantes que flutuam ao redor do habitat aquático", diz Chelsea M. Rochman, ecóloga marinha da Universidade da Califórnia, em Davis. "Estes contaminantes podem se acumular na cadeia alimentar."


Os estudos do oceano fornecem uma contribuição importante para a compreensão do problema do lixo flutuante, diz Nancy Wallace, diretora do programa de detritos marinhos da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA.


As pesquisas futuras devem ir além da superfície para testar onde os pedaços menores de plástico podem ter ido parar -- nas profundezas abissais do oceano, ao longo da costa ou assentados no fundo dos mares. "É prematuro dizer que há menos plástico no oceano do que pensávamos", disse ela. "Pode ser que haja menos apenas onde estamos olhando."


Eriksen diz que a extensão do problema torna impraticável a coleta de lixo flutuante. Seu grupo tem tido algum sucesso com campanhas para fazer com que os fabricantes de produtos de saúde e beleza parem de usar pequenos grânulos de plástico em seus produtos de esfoliação.


Para ele, deve-se cobrar que os fabricantes de outros produtos também mudem suas práticas. "Temos que impor algum ônus sobre os produtores", disse ele. "Se você fabrica, aceite de volta, ou certifique-se de que o oceano pode assimilar isso de uma forma ambientalmente inofensiva."


Wallace concordou, dizendo: "a menos que possamos parar o fluxo - fechar a torneira desses pedaços de detritos que vão para o mar o tempo todo - não vamos conseguir erradicar o problema"


O Conselho Americano de Química, que fala em nome das indústrias de plásticos, divulgou uma declaração dizendo que seus membros "concordam plenamente que os plásticos espalhados de qualquer tipo não pertencem ao ambiente marinho", e citou os esforços da indústria para combater o problema, incluindo uma declaração de 2011 das Associações Mundiais de Plásticos para a Solução do Lixo Marinho, que levou à criação de 185 projetos ao redor do mundo.
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Pesquisas mostram efeitos do meio ambiente à saúde



CÂNCER: a agência especializada em câncer que integra a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou em outubro de 2013 que a poluição do ar é uma das principais causas ambientais de morte por câncer. Por meio de uma avaliação do Programa de Monografias da Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês) foram encontradas evidências suficientes de que a exposição ao ar poluído causa câncer de pulmão e aumenta o risco de câncer de bexiga. Estudos indicam que nos últimos anos os níveis de exposição aumentaram significativamente em algumas partes do mundo, particularmente nos países muito populosos e com rápido processo de industrialização Dado Ruvic/Reuters


Tradutor: Eloise De Vylder

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