terça-feira, 10 de março de 2015

A loucura continua!Para as Olimpiadas tem verba, para os hospitais não.E os filhos dos pobres continuam morrendo!

Criança que precisava de leito não resistiu. Fila não para.

Ontem, o JBr. mostrou a luta da mãe de Clarice, que morreu, para conseguir fazer uma cesariana - para a qual tinha indicação médica, já que o parto era de alto risco por ela ser hipertensa
 
Ludmila Rocha e Manuela Rolim

redacao@jornaldebrasilia.com.br 
A pequena Clarice, que aguardou durante um dia e meio por um leito em uma UTI neonatal, morreu às 9h28 de ontem. Após uma transferência de alto risco para o Hospital Regional de Taguatinga (HRT), às 23h de domingo, a criança apresentou piora  e não resistiu. A família   está indignada e promete processar o GDF por negligência.

Ontem, o JBr. mostrou a luta da mãe para conseguir fazer uma cesariana - para a qual tinha indicação médica, já que o parto era de alto risco por ela ser hipertensa. Porém, só após apresentar um quadro de sangramento é que a mulher teria conseguido   a cirurgia na   sexta-feira, no Hospital Regional de Samambaia (HRS). Antes, ela passou por outros seis hospitais.

O caso de Clarice não é isolado. Ontem pela manhã, dez bebês estavam na fila do Sistema de Regulação, à espera de um leito em UTI neonatal. "Este número muda constantemente ao longo do dia", informa a Secretaria de Saúde.

De acordo com a mãe de Clarice, a auxiliar administrativa Loiane Cristina Santos Pereira,   30, assim que o médico que faria o parto fez o exame de toque, ele teria comentado com colegas que “algo além de sangue saiu em sua mão”. “Eu já cheguei em estado tão grave   que entrei às 9h e às 10h10 já havia sido atendida, algo muito raro na rede pública”, lembra ela.

A época provável para o nascimento, indicada pela médica que fez o pré-natal, no entanto, era o final de fevereiro. “Ela   disse que eu não poderia passar de 38 semanas, mas quando eu finalmente dei à  luz  estava com 40 semanas e quatro dias”, diz.

Assim que o neném nasceu, a mãe diz ter ouvido  do   médico que  a filha havia aspirado líquido meconial –   as primeiras fezes do bebê, normalmente misturadas ao líquido amniótico na barriga da mãe.

Gestante fez pré-natal
De acordo com a coordenadora geral de saúde de Taguatinga,   Eliene Alcemo Berg, o registro médico da paciente mostra que ela fez o pré-natal adequadamente, nos hospitais de Samambaia e Taguatinga, desde    julho de 2014.  Segundo a médica, por ser hipertensa, Loiane já tomava remédios para o controle da pressão arterial antes de engravidar e precisou substituir a medicação em função da gestação.

Em relação ao atendimento à paciente, Berg ressalta que ela foi avaliada no início da noite de sexta- feira, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), por uma das médicas de plantão: “Ela constatou que, naquele momento, a paciente não apresentava risco e não havia indicação de sofrimento fetal”.
A médica esclarece que, em função de o HRT ser especializado em atendimento a parturientes de alto risco e pelo fato de a gestante não apresentar risco, optou-se pela transferência para Samambaia.

Berg diz não ter o registro do tempo gestacional de Loiane no momento do primeiro atendimento no HRT, mas diz que “até 40 semanas é o tempo normal. Mas ela era uma   candidata a cesárea pelo quadro clínico” por já ter feito parto cesáreo.

 Depoimentos que não batem
Questionada sobre o sangramento da paciente, a médica Eliene Alcemo Bergque afirma que, segundo o registro feito no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), “ela não apresentava sangramento no momento em que chegou à unidade”.

Já no Hospital Regional de Samambaia (HRS), a criança teria nascido bem. “Ela chorou  e foi entregue ao setor de pediatria e reumatologia sem nenhuma intercorrência. Apenas duas horas depois do nascimento, é que a menina apresentou um quadro de insuficiência respiratória”, ressalta Berg.

Segundo a médica, a criança foi imediatamente atendida e entrou na lista de espera para conseguir uma vaga na UTI neonatal, que o hospital de Samambaia não possui. “Quanto retornou ao HRT, ela já não chegou bem. Não respondeu a nada do que foi feito. Segundo o relatório da equipe médica, com base na evolução clínica e nos exames radiológicos, a hipótese é de cardiopatia congênita (anormalidade na estrutura ou nas funções do coração)”, explica.

Parto
Berg acrescenta que se o caso for mesmo de cardiopatia congênita, não há relação com o parto. “O exame de raios X não evidencia que a bebê tenha ingerido líquido meconial. Mostrou apenas um  aumento na área cardíaca”, conclui.

Assistência individual
O defensor público  Ramiro Santana, que atua na área da Saúde, confirma que as ações individuais devem ser encaminhadas sempre para a defensoria. "O MP cuida do coletivo, enquanto nós acompanhamos caso a caso", informa. Para isso, Ramiro explica que a Defensoria Pública conta com a ajuda de 25 núcleos de atendimento em todo o DF, incluindo os especializados em saúde, idosos, mulheres e execução penal.

 "O núcleo específico da saúde tem um plantão que atua quando existe qualquer situação de emergência. Os casos mais comuns, inclusive, são os que envolvem leitos de UTI", afirma.
Ramiro completa que, nos casos de urgência, a defensoria entra em ação no mesmo dia, o que não significa que o atendimento também será imediato.  Segundo ele, o núcleo especializado em saúde já agilizou pelo menos 250 ações referentes aos leitos de UTI neste ano.

Caso Loiane
A Secretaria de Saúde afirmou que  Loiane  deu entrada no Hospital de Samambaia na última sexta-feira, às 21h01, onde passou por uma cesariana. Segundo o órgão, o bebê ficou internado na unidade, aguardando uma vaga na UTI neonatal. A pasta disse por causa do estado do bebê, ele não poderia ser transportado para outro hospital. Segundo a pasta, o DF possui  84 leitos de UTI Neonatal. "São 69 nos hospitais, quatro no Hospital Universitário e 11 na rede contratada”, explicou o órgão.

Falta de leitos não é o maior problema
A família chegou a procurar o  Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). Mas o órgão não entra com ações individuais pelo fato de   a Defensoria Pública já estar implementada no DF. Portanto, o órgão apenas encaminha as ações, mas continua acompanhando o problema de uma maneira mais global, explica Marisa Isar, da 2ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) do MPDFT.

 "O MP defende a sociedade como um todo e alerta para a falta de uma política pública para leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). É necessário uma regulação e uma fiscalização em relação à ocupação dos leitos. Isso porque o problema não acontece apenas por falta de leitos, mas também pela má administração dos que já existem", diz.

Posição
 Marisa ressalta ainda que o DF está entre os que mais possuem leitos de UTI no País. "Considerando um sistema ideal, claro, a população não deveria sentir a necessidade de recorrer à Justiça, tendo em vista que os serviços deveriam funcionar perfeitamente", afirma a promotora, lembrando que o Tribunal de Contas vêm investigando as falhas na rede pública de saúde.

"O relatório divulgado pelo TCDF mostrou que pacientes ocupavam leitos de maneira ociosa. Resumindo, é fato que não há leito para todo mundo, mas estamos falando de vidas que estão sendo perdidas por falta de organização e administração", completa.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília


Comentário

Riquelme

Se não tem leito pra todo mundo, que então se planeje e criem vagas. O que o governo faz é só criar imposto e mesmo assim a população massacrada com tanta corrupção, presencia essa falta de organização e administração. É muito triste ver a foto da reportagem e se sentir impotente diante de um cenário absurdo desses.

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