Monitoramento pioneiro identifica extensão das áreas queimadas no Pantanal Duda Menegassi
Monitoramento pioneiro identifica extensão das áreas queimadas no Pantanal
Duda Menegassi domingo, 16 agosto 2020 14:28
Queimada no Pantanal. Foto: Governo do Mato Grosso do Sul.
Entre 12 de junho e 14 de agosto, as queimadas já consumiram cerca de
1.552.000 hectares no Pantanal brasileiro, o equivalente a mais de 1,5
milhão de campos de futebol. Os dados são do Laboratório de Aplicações
de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) que desenvolveu um monitoramento pioneiro para calcular a
extensão atingida pelo fogo no bioma em tempo quase real. O objetivo do
sistema, batizado de ALARMES (Alerta de Área Queimada com Monitoramento
Estimado por Satélite) é auxiliar as equipes que atuam no combate aos
incêndios florestais, em especial as brigadas do PrevFogo do Ibama,
parceiras da iniciativa.
A principal técnica de monitoramento de queimada feita por satélite é
através da identificação de focos ativos de calor, como faz o Programa
de Queimadas do INPE. Esse método localiza pontos de fogo de forma
rápida, mas não funciona para calcular a extensão da área atingida pelas
chamas.
“É muito comum a detecção de fogo ativo. Enquanto o satélite está lá
em cima, ele passa e se está pegando fogo ele detecta. E essa informação
dos focos de calor é dada alguns minutos ou horas depois que o satélite
passa, é muito rápido, é o monitoramento em tempo quase real. Depois
que o fogo acaba ou passa por uma região, é que a gente vai conseguir
monitorar a extensão que queimou. Porque quando a gente está falando de
foco de calor, o satélite vê um ponto, não a área e quantos hectares
queimaram. Isso é muito mais complicado de fazer. O que se faz há muito
tempo é você detectar a área queimada depois que passa algum tempo, o
que em geral demora 1, 2 até 3 meses. Isso é o que a maioria dos centros
fazem e essa informação vai ser útil, mas a gente perde essa
temporalidade e pros gestores é muito difícil esperar esse tempo todo
para ter essa informação. Fica uma lacuna. Porque eles precisam
gerenciar o incidente e qual a real situação, o tamanho da área
atingida, a magnitude do evento. Em geral isso é muito custoso para
eles, porque eles precisam de veículo aéreo, contingente para monitorar a
área, para sobrevoar, ver a extensão” explica a professora do
Departamento de Meteorologia do Instituto de Geociências da UFRJ, Renata
Libonati, que é uma das coordenadoras do LASA.
O que o ALARMES faz é justamente calcular através de imagens de
satélite a extensão dessa área queimada. “O nosso produto consegue num
curto espaço de tempo, de um dia para o outro, fornecer a área queimada
dos dias passados. Em tempo quase real. O satélite passou ontem, eu pego
essa imagem, já processo e no dia seguinte eu já tenho a estimativa da
área que queimou. Essa é a grande diferença”, pontua Renata.
Ela esclarece ainda que pela rapidez com que a informação é
processada, há limitações no processo. “Por eu estar dando uma
informação muito rápido, ela é menos precisa do que uma informação
processada por semanas-meses. Mas, por outro lado, pro tipo de uso que
esse dado vai ter, que é assistir os gestores no gerenciamento da
resposta ao incidente, eles não querem uma precisão tão grande. De
repente em vez de 100 hectares, eu digo que são 90, mas por outro lado
eu estou dizendo para eles o que acabou de acontecer e eles podem usar
isso para melhor aplicar os recursos, para aplicar rapidamente autos de
infração de multa considerando o total da área queimada, melhorar as
estatísticas de combate e direcionar as equipes”, acrescenta.
Mapa de Confiabilidade – monitoramento ALARMES. Fonte: LASA/UFRJ
A Nota Técnica
divulgada pelo Laboratório traz um mapa com o avanço do fogo no período
e também um mapeamento de confiabilidade das detecções feitas pelo
sistema de monitoramento. Quanto mais vermelho a área, mais confiável é
aquela informação; e quanto mais para o azul, menor a certeza. “No geral
os pontos mais azuis estão nas bordas das cicatrizes. A cada rodada do
modelo, ele vai atualizando essa informação, então esses lugares que
estão azuis agora, amanhã já vão estar com uma cor mais pro amarelo e
depois pro vermelho. Porque no geral essas bordas são as regiões que
ainda estão queimando. Fica difícil monitorar quanto queimou quando
ainda está queimando.
Quando o fogo já se extinguiu, a detecção é
melhor”, esclarece a pesquisadora.
A ferramenta ainda é considerada um protótipo e está em fase de
validação no campo – um retorno que tem sido animador para as equipes. O
sistema foi financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) e pelo PrevFogo. A metodologia foi
desenvolvida no âmbito da tese de doutorado de Miguel Mota Pinto, da
Universidade de Lisboa, através do projeto Andura, parceiro do
Laboratório da UFRJ na iniciativa.
O Laboratório está produzindo uma plataforma online onde esses dados
do monitoramento poderão ficar disponíveis para consulta online. De
acordo com a pesquisadora, a expectativa da equipe é conseguir lançar a
plataforma virtual até o final de agosto. Enquanto isso, as equipes têm
desenvolvido relatórios semanais para atualizar a situação do fogo no
bioma.
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