A mais recente atualização da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) foi divulgada nesta sexta-feira (10/10), durante um congresso da organização que acontece em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.
Infelizmente, as notícias não são boas. A lista agora inclui 172.620 espécies de animais e plantas, das quais 48.646 estão ameaçadas de extinção.
Dez espécies foram declaradas oficialmente extintas, entre elas, o maçarico-de-bico-fino (Numenius tenuirostris), o musaranho-da-ilha-natal (Crocidura trichura) e um caracol-cone (Conus lugubris). Fazem parte ainda dessa categoria, de animais que nunca mais serão observados na natureza, mas apenas em coleções de museus ou livros de biologia, três mamíferos australianos, a marga (Perameles myosuros), o bandicoot-listrado-do-sudeste (Perameles notina) e o bandicoot-barrado-de-nullarbor (Perameles papillon) - que não tinham sido analisados antes pela IUCN, mas agora foram e já estão extintos.
Os especialistas da organização também alertam que o desmatamento está levando centenas de espécies de aves à extinção. 61% delas têm populações em declínio, em comparação a 44% em 2016. As regiões onde elas enfrentam as maiores ameaças são África Oriental, América Central e Madagascar, onde pássaros como o belíssimo e endêmico pardal-de-schlegel, em destaque acima, apresentam quedas em seus números.
"O fato de três em cada cinco espécies de aves do mundo apresentarem populações em declínio demonstra a gravidade da crise da biodiversidade e a urgência de os governos adotarem medidas com as quais se comprometeram em diversas convenções e acordos”, diz Ian Burfield, coordenador global de Ciências da BirdLife e da autoridade da Lista Vermelha de Aves.
Mudanças climáticas ameaçam sobrevivência da foca ártica
O novo levantamento da IUCN chama a atenção para o impacto das mudanças climáticas sobre diversas espécies. Estudos apontam que o aquecimento global está em um ritmo quatro vezes mais rápido no Ártico do que em outras área do planeta, reduzindo drasticamente a extensão e a duração da cobertura de gelo marinho, essencial para a sobrevivência de animais marinhos, que precisam dele no seu processo de reprodução e cuidado com filhotes.
A Lista Vermelha mostra que a foca-de-capuz (Cystophora cristata) passou de vulnerável à extinção para ameaçada, ou seja, piorou sua classificação, enquanto a foca-barbuda (Erignathus barbatus) e a foca-da-groenlândia (Pagophilus groenlandicus), que até então tinham condições consideradas como 'menos preocupante', agora são tidas como 'quase ameaçada.'
“A cada ano, em Svalbard [arquipélago situado entre a Noruega e o Polo Norte], o recuo do gelo marinho revela o quão ameaçadas as focas do Ártico se tornaram, dificultando sua reprodução, descanso e alimentação. Sua situação é um lembrete claro de que as mudanças climáticas não são um problema distante – elas vêm se desenvolvendo há décadas e estão tendo impactos aqui e agora. Proteger as focas do Ártico vai além dessas espécies; trata-se de salvaguardar o delicado equilíbrio do Ártico, que é essencial para todos nós”, alerta Kit Kovacs, copresidente do Grupo de Especialistas em Pinípedes da Comissão de Sobrevivência de Espécies da UICN e líder do Programa de Svalbard no Instituto Polar Norueguês.

Um filhote de foca-barbuda, uma das espécies ameaçadas pelas mudanças climáticas
Foto: Kit Kovacs
Há boas notícias e exemplos de sucesso na conservação
Pelo menos uma espécie foi mencionada pela IUCN como um exemplo de que é possível reverter o declínio populacional daquelas que estão ameaçadas. É o caso da tartaruga-verde (Chelonia mydas), que passou da condição de 'ameaçada' para 'menos preocupante.
Encontradas em águas tropicais e subtropicais no mundo todo, de acordo com a organização, a população global de tartarugas-verdes aumentou aproximadamente 28% desde a década de 1970.
O relatório cita como esforços de conservação, para proteger os ninhos das fêmeas nas praias, em lugares como a Ilha de Ascensão, México, Havaí e Brasil, foram bem-sucedidos.
"A lista destaca tanto os desafios urgentes quanto as poderosas possibilidades que temos pela frente. Enquanto espécies como as focas do Ártico e muitas aves enfrentam ameaças crescentes, a recuperação da tartaruga-verde nos lembra que a conservação funciona quando agimos com determinação e unidade. Ao nos prepararmos para a COP do Clima em Belém, governos e comunidades têm uma oportunidade crucial para acelerar ações que protejam a biodiversidade, estabilizem nosso clima e construam um futuro onde as pessoas e a natureza prosperem juntas”, destaca Grethel Aguilar, diretora geral da IUCN.

Programas de conservação, incluindo os realizados no Brasil, ajudaram a tartaruga-verde
a apresentar um aumento da população global
Foto: Nicolas Pilcher
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Foto de abertura: Bradley Hacker