Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Gabriela Bratz Lamb
Diversas
teorias já foram concebidas a fim de se tentar elucidar a maneira que a moda se
estabelece e se modifica em uma sociedade. Ainda há pessoas que acreditam,
entretanto, na mais ultrapassada e rebatida dessas teorias: a teoria da
conspiração.
Essa
teoria defende que as pessoas, como regra, são totalmente manipuladas e
passivas a tal ponto de adotarem qualquer moda que lhes for oferecida. A
mudança da moda - por esta perspectiva - aduz que as alternâncias são de
autoria dos comerciantes ávidos por lucro, dos estilistas, e da classe
dominante que deseja a manutenção do poder. É um absurdo, entretanto, supor que
isso seja verdade, visto que isso implicaria na aceitação da teoria de que
somos apenas marionetes, como supõem autores marxistas e filósofos da Escola de
Frankfurt.
A
história demonstra claramente que, na verdade, foi o Estado quem se esforçou sempre
em controlar a moda, a fim de controlar a individualidade. No século XIV, na
Itália, hoje referência na moda, leis sumptuárias regulavam as vestimentas,
determinando o que cada classe poderia utilizar como pano e cor. Em Milão, por
exemplo, uma dessas leis proibia que vendedores usassem roupas de seda, e
camponeses de adornarem-se com metais como ouro ou prata também. À mesma época,
solteiras, viúvas e mulheres casadas tinham que seguir determinado traje, e
prostitutas, em Pádua, por exemplo, deveriam usar capuz vermelho.
A
Revolução Industrial e a invenção de uma máquina de fiar de simples operação
permitiram, entretanto, que camponeses e artesãos revolucionassem os meios de
produção, iniciando-se assim uma transgressão das regras sumptuárias, visto que
não parecia mais possível o controle da produção de vestimentas. Infelizmente,
anos depois o capitalismo ainda não parecia ser aceito por muitos que tinham o
controle da produção, e em 1831 uma fábrica de máquinas de costura – a primeira
máquina moderna – foi queimada por costureiros parisienses por considerarem
estas concorrentes muito perigosas.
Foi
apenas em 1856, nos Estados Unidos, que surgiu a primeira máquina de costura na
sua forma mais moderna, vendida por Isaac Singer em um sistema de vendas de
prestações, que permitiu fácil acesso da mesma em todo o mundo. Com a liberdade
para que todas as classes pudessem confeccionar em casa as suas roupas,
criou-se, então, a possibilidade de todos expressarem individualidade.
A
moda se popularizou com o barateamento da produção, devido à tecnologia
empregada, e hoje está ao alcance de todos. A moda não é mais única, é
influenciada por diversas manifestações, criada como um leque, horizontalmente,
não mais de cima para baixo. Os grupos influenciam, criam, e modificam a moda
constantemente. A moda é anárquica.
Ao
vestirmo-nos estamos expressando toda a nossa individualidade, estamos
propositalmente escondendo o que não gostamos, mostrando o que gostamos.
Ressaltamos o nosso melhor. A moda fortalece o ego e exalta o indivíduo. Por
este motivo, pela exaltação do eu, por ser filha de uma sociedade aberta, que a
moda sofreu sanções em numerosos períodos históricos.
Isso
se verificou na extinta União Soviética, por exemplo, que contava com “casas de
moda” estatais, que produziam artigos conforme as regras ditadas pelo comando
comunista. Por óbvio, o que havia eram roupas de corte reto, com pouca cor, sem
possibilidade de expressão da população – o que não podemos chamar de
moda.
O
mesmo ocorreu na Alemanha Oriental, porém, muitos contavam com a possibilidade
de costurar suas próprias roupas quando gozavam de tecidos. Dessa forma, muitos
jovens passaram a protestar contra o regime através da moda, e assim a arte da
costura passou a ser tradição no âmbito familiar.
Hoje
ainda encontramos tais impedimentos à individualidade em países fechados, como,
por exemplo, a Coreia do Norte. De acordo com as regras impostas, fica proibido
saias curtas, calça jeans e roupas com palavras em inglês. Além das
vestimentas, em 2005, o país declarou guerra aos homens de cabelo comprido,
obrigando-os a adotar cortes de no máximo cinco centímetros de comprimento,
alegando que o cabelo atrapalharia a atividade cerebral. A sociedade fechada
inibiu as qualidades únicas de cada ser, fez deste um não pensante.
A
sociedade que a moda vigora é a aberta, é aquela que explora – positivamente –
a individualidade, que permite a criatividade, exalta o ser. A moda nesse tipo
de sociedade não segue ordem, passou a não ser mais controlada, a ser anárquica
e livre. Isso é moda.
Gabriela
Bratz Lamb é Acadêmica de Direito (UniRitter) e Especialista do Instituto
Liberal.
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