sábado, 6 de junho de 2015

Um céu de sapinhos minúsculos e coloridos na Mata Atlântica.Quantos dessa e/ou de outras espécies a Devastação Olímpica vai matar?

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Vandré Fonseca - 05/06/15 

 

No alto das montanhas da Mata Atlântica, no Sul do Brasil, vive uma variedade ainda indefinida de pequenos habitantes. 

 

 

São sapinhos do gênero Brachycephalus, com tamanhos de 0,6 a 1 cm de comprimento, cheios de cores, e exclusivos deste bioma, tão rico em diversidade quanto ameaçado. 

 

 

Sete novas espécies deste gênero acabam de ser apresentados ao mundo e pesquisadores acreditam que nos próximos anos pelo menos mais dez devem ser descritas.



O nome de uma das novas espécies, Brachycephalus mariaeterezae, homenageia Maria Tereza Jorge Pádua, na área ambiental, uma das personalidades mais destacadas do Brasil, e também colunista de ((o))eco. Outra espécie, a Brachycephalus boticario, homenageou a Fundação Grupo Boticário, um dos apoiadores da pesquisa e parceira de ((o))eco no projeto WikiParques.


Em um artigo publicado na edição desta quinta-feira (4 de junho) na revista científica on-line Peer J, de acesso livre, um grupo de brasileiros apresentou a descrição das espécies, encontradas nos estados do Paraná e Santa Catarina, entre 800 e 1.200 metros acima do nível do mar. Estas espécies se diferenciam entre elas e outras do gênero, que apresenta grande endemismo, pelas cores e rugosidade em partes do corpo. Antes desse trabalho, haviam sido descritas 21 espécies desse gênero, mais da metade nos últimos 15 anos.



Ainda desprotegidos
"Estamos trabalhando juntamente com órgãos estaduais e federais para buscar a criação de reservas para assegurar a preservação dessas espécies em longo prazo"
"Nós já conhecíamos algumas das espécies do gênero antes deste estudo. O que fizemos então foi procurar outras regiões montanhosas que apresentassem características climáticas e de vegetação parecidas", afirma Marcio Pie, que além de atuar no trabalho de campo, contribuiu com análises e na redação do paper. "Com isso, conseguimos encontrar não só as espécies do estudo, mas também outras que estão no processo de serem descritas".
Pode parecer fácil, mas não é.



A região escolhida para os estudos fica em uma região de montanhas de difícil acesso na Serra do Mar, dos 1.800 metros. De acordo com Márcio Pie, a grande dificuldade foi o cansaço. "As trilhas para os cumes levam de três a oito horas de caminhada íngreme para chegar ao topo", conta. Um esforço que teve a sua recompensa. "A parte boa é poder conciliar a pesquisa científica com uma atividade que nos deixou um pouco mais em forma", respondeu com humor às perguntas enviadas por e-mail.



Mas o céu dos sapinhos tem sofrido pressão em geral por plantações de pinus. Além disso, afirma Pie, a maior parte das espécies novas não estão em Unidades de Conservação. "Estamos trabalhando juntamente com órgãos estaduais e federais para buscar a criação de reservas para assegurar a preservação dessas espécies em longo prazo", afirma Márcio Pie. Outra ameaça é a sensibilidade dos anfíbios às mudanças climáticas.

Conheça os sapinhos


Saiba mais
Artigo: Seven new microendemic species of Brachycephalus (Anura: Brachycephalidae) from southern Brazil. Luiz F. Ribeiro, Marcos R. Bornschein, Ricardo Belmonte-Lopes, Carina R. Firkowski, Sergio A.A. Morato, Marcio R. Pie.

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