terça-feira, 15 de março de 2016

Velho Chico e seus infortúnios ambientais ganham voz no horário nobre

ECO

Por Sabrina Barbosa

As filmagens de "O Velho Chico não terão dificuldades em retratar a majestade deste rio. Fotos: Caiuá Franco/TV Globo
As filmagens de "O Velho Chico não terão dificuldades em retratar a majestade deste rio. 
Fotos: Caiuá Franco/TV Globo


A última grande obra na qual o Rio São Francisco foi uma espécie de cenário-personagem foi em “Grande Sertão Veredas”, do escritor mineiro João Guimarães Rosa. No livro, há um misto de amor, paixão e devoção pelo rio. O mítico e o geográfico se entrelaçam e o rio São Francisco é tratado como personagem que alicerça o enredo.


Sessenta anos depois das inquietações de Riobaldo e do seu amor por Diadorim, a Rede Globo de Televisão estreia no seu horário nobre das 21h, a novela “Velho Chico”. O “São Francisco” será, pela primeira vez, cenário de uma novela, e nos 9 meses em que estiver no ar, espera-se que haja um efeito positivo e um aumento do interesse da sociedade pela região.


“O Velho Chico” é uma história de amor, uma saga familiar que atravessa gerações. A novela é sobre o romance entre herdeiros de famílias rivais, que se entrelaça à trajetória de disputas por terras ao longo do rio São Francisco. A primeira parte da história se desenrola na década de 60, na fictícia Grotas do São Francisco, no nordeste brasileiro.


O coronel Jacinto, interpretado por Tarcísio Meira, dono de quase todo o local, comanda a política, assim como a economia. Porém, como a sua ambição é infinita, ele quer tomar as terras do capitão Rosa, interpretado por Rodrigo Lombardi. Dono da fazenda Piatã, o capitão não cede à pressão do "todo-poderoso", e a briga dos dois atravessa gerações, permanecendo até os dias atuais. Com o falecimento do coronel Jacinto, o seu filho, Afrânio (Rodrigo Santoro) assume o lugar do pai, dando continuidade à rivalidade entre as famílias.

Velho Chico
Chico Diaz que interpreta um sofrido retirante.


Velho Chico
Gravações e locações da novela.



"As expectativas são grandes, pois a última novela que destacou um bioma no seu enredo foi “Pantanal”, um marco na teledramaturgia brasileira e apresentou para o Brasil o bioma pantaneiro com belíssimas imagens"
O personagem Afrânio (Rodrigo Santoro/Antônio Fagundes) tem dois filhos: Maria Tereza (Isabella Aguiar/Júlia Dalavia/Camila Pitanga) e Martin (Davi Caetano/Lee Taylor). Já moça, Maria Tereza acaba se apaixonando por Santo (Rogerinho Costa/Renato Góes/Domingos Montagner), filho dos retirantes Belmiro (Chico Diaz) e Piedade (Cyria Coentro), acolhidos pelo capitão Rosa como parte da família.
Essa parte da teledramaturgia parece ser a mais interessante, pois Afrânio, já envelhecido, vira o maior apoiador da transposição do rio São Francisco, entrando em conflito, até mesmo com os seus dois filhos contrários às suas ideias.


A novela será voltada para a porção do médio e do baixo rio São Francisco, uma área que abrange parte do Cerrado e da Caatinga brasileira. A primeira fase está sendo gravada nos seguintes locais: Alagoas, em Olho d’água do Casado, Piranhas e Povoado Caboclo. A locação do Rio Grande do Norte é em Baraúna e na Bahia, em Raso da Catarina, São Francisco do Conde e Cachoeira.
As expectativas são grandes, uma vez que a última novela que destacou um bioma no seu enredo foi “Pantanal” (1990), da extinta Rede Manchete, um marco na teledramaturgia brasileira e apresentou para o Brasil o bioma pantaneiro com belíssimas imagens.


Para realizar uma obra cujo cenário é um rio grandioso que atravessa 5 estados do Brasil, a emissora selou uma parceria inédita com a organização ambiental Conservação Internacional (CI-Brasil), que fará a colaboração técnica de conteúdo para a novela. "Por séculos foi graças ao rio São Francisco que a vida humana pôde prosperar às suas margens.



Mas as atividades humanas ganharam escalas e proporções que nem o próprio velho Chico tem sido capaz de suportar. A novela 'Velho Chico' vai transmitir mensagens que podem despertar a sociedade brasileira para a busca de um planeta mais saudável e capaz de nos prover os recursos que precisamos para viver. Está em nossas próprias mãos", diz Rodrigo Medeiros, vice-presidente da CI-Brasil.


Rios morrem de sede
Desde o império se planeja desviar a foz do rio São Francisco da Bahia até o Rio Grande do Norte e mitigar o flagelo das secas que periodicamente assolam o sertão nordestino.


A obra, polêmica, começou a sair do papel em 2007, vendida como a salvação de 12 milhões de pessoas atingidas pela seca. Após consumir 6,5 bilhões de reais do orçamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), a obra ainda não aliviou a seca de ninguém. Ao contrário, o próprio São Francisco foi atingido em cheio por ela, na cabeceira do seu leito.


A nascente do São Francisco, localizada no município de São Roque de Minas, na região da Serra da Canastra, secou por dois meses em 2014. Maltratado ao longo de seu percurso e sofrendo com uma seca extrema na sua parte mais preservada, 2014 foi o ano em que os ambientalistas se perguntaram se o maior rio de ponta a ponta brasileiro poderia morrer de sede.
 

Um comentário:

Anônimo disse...

Post estranho.... Falando bem de telenovela?
Sendo que nesse mesmo blog ha outra postagem falando dos perigos das novelas, que usam temas que colocam um certo valor da sociedade em questão que a esquerda queira mudar.
Pois bem a novela passou e desagradou muito aos nordestinos em vários aspectos, segundo eles, a novela prestou um "desserviço" a região.
Concordo plenamente com a postagem "Mecanismo de engenharia social no Brasil funciona entre a Globo e o governo" mas sinceramente não compreendo porque ajudar a promover esse produto com um post como este (Velho Chico e seus infortúnios ambientais ganham voz no horário nobre). Lembrando que o autor dessa obra é o mesmo do Rei do Gado, que tanto propagandeou o MST.