quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Alvos de Bolsonaro, Noruega e Alemanha reflorestam mais que desmatam


Alvos de Bolsonaro, Noruega e Alemanha reflorestam mais que desmatam



Nacho Doce/Reuters

RESUMO DA NOTÍCIA

  • Desde 2014, o governo norueguês vem replantando anualmente, em média, 25 milhões de m³, contra 10 milhões de m³ de cortes. Isso assegura um crescimento por de 15 milhões m³ de suas florestas.
  • Alemanha desmatou 58 mil hectares de florestas entre 2002 e 2012, de acordo com relatório de 2017 do Ministério de Agricultura alemão, e replantou 108 mil hectares no mesmo período, ou seja, 86% a mais.
Ao contrário de declarações dadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) nos últimos dias, países como Noruega e Alemanha têm mais ações de reflorestamento que de desmate em suas coberturas vegetais.



A informação foi publicada neste sábado (17) pelo portal UOL, dias depois de Bolsonaro desdenhar o recuo de ambos os países em contribuir financeiramente com o Brasil em ações de proteção à Amazônia. Os governos alemão e norueguês contribuíam com cerca de R$ 300 milhões para ações nesse sentido, mas, face às notícias de má gestão ambiental no atual governo, com aumento vultoso do desmatamento na região amazônica, resolveram cortar os repasses.

 

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"A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte? [...] Não tem nada a oferecer para nós", reagiu Bolsonaro , nessa sexta (16), à decisão do país de suspender R$ 134 milhões em repasses para o Fundo Amazônia. Sobre a Alemanha, criticou a preservação das florestas alemãs e alegou que o Brasil não precisa do dinheiro que era enviado até uma semana atrás.

A Noruega tem um território 26 vezes menor que o brasileiro, com 38% dele coberto por florestas, ou seja, 122 mil km². O dado significa 964 milhões de m³ (metros cúbicos) de árvores preservadas, medição adotada pelo governo para mensurar a retenção de carbono.

De acordo com reportagem do portal, desde 2014, o governo norueguês vem replantando anualmente, em média, 25 milhões de m³, contra 10 milhões de m³ de cortes. Isso assegura um crescimento por de 15 milhões m³ de suas florestas.

Com isso, como o corte anual de madeira é de aproximadamente metade do que cresce a cada ano, a diferença basta para compensar cerca de 60% das emissões anuais do país em gases de efeito estufa. No século 19, entretanto, o país era um dos principais fornecedores de madeira para o resto da Europa. Atualmente, por outro lado, há três vezes mais floresta em pé que há cem anos.

Ao jornal local DN, o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, disse neste sábado que o planeta não conseguirá atingir suas metas climáticas globais sem a Amazônia.
"O que o Brasil tem feito mostra que eles não estão preocupados em parar o desmatamento. Em julho, ele triplicou em relação ao ano passado", afirmou.

Alemanha refloresta quase o dobro do que derruba

Sobre a Alemanha, que decidiu suspender semana no último final de semana um repasse de R$ 150 milhões ao Brasil para combater o desmatamento na Amazônia, Bolsonarosugeriu, em tom de deboche: "Eu queria até mandar um recado para a senhora querida Angela Merkel [...] Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, ok? Lá está precisando muito mais do que aqui", declarou.
A Alemanha, porém, desmatou 58 mil hectares de florestas entre 2002 e 2012, de acordo com relatório de 2017 do Ministério de Agricultura alemão, e replantou 108 mil hectares no mesmo período, ou seja, 86% a mais.

Hoje, os alemães possuem 11,4 milhões de hectares de florestas, em torno de 32% de seu território. Em 1990, eram 10,7 milhões de hectares de mata -- 6,5% a mais agora, portanto.

A despeito das providências, o país ainda é forte poluidor graças a sua principal matriz energética, o carvão, a base de aproximadamente 30% da energia produzida no país. O governo alemão estima acabar com esse tipo de energia até 2038, porém, ainda que, para ambientalistas locais, esse prazo seja "tardio". Eles pressionam para que a mudança da matriz ocorra antes.

"Não se ajuda a floresta tropical com declarações de efeito para a mídia", ironizou uma porta-voz do Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento à imprensa local após a crítica de Bolsonaro. "Quem quiser preservar a excepcional função climática da floresta tropical tem que intensificar as medidas, e não encerrá-las."

Esta semana, o instituto de pesquisa Imazon publicou um relatório em que revela crescimento de 66% no desmatamento da Amazônia Legal em julho deste ano em comparação ao mesmo mês em 2018.
A organização não está relacionada ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), cuja divulgação de dados sobre desmatamento culminou na exoneração do diretor do órgão, Ricardo Galvão.

Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia tem 5 milhões de km², 60% deles no Brasil (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins). Ela ocupa 49% do território nacional, mas já teve 20% da área desmatada, equivalente a 1 milhão de km², ao longo da história.

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