segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Governo foi alertado pelo Ministério Público três dias antes de “dia do fogo”

Documentos mostram que Ibama foi avisado sobre plano de incendiar a floresta no dia 7 de agosto


No último dia 7, três dias antes do incêndio que se alastrou pela região de Novo Progresso, no Pará, o Ministério Público Federal (MPF) do Pará enviou um ofício ao Ibama, órgão do Ministério do Meio Ambiente, para comunicar que produtores rurais pretendiam realizar uma queimada no município como forma de manifestação. Veja no fim do texto uma das páginas de documentação que a reportagem teve acesso.

No dia 10 de agosto, como apurou Globo Rural, mais de 70 pessoas – de Altamira e Novo Progresso --  entre sindicalistas, produtores rurais, comerciantes e grileiros, combinaram através de um grupo de whatsApp incendiar as margens da BR-163, rodovia que liga essa região do Pará aos portos fluviais do Rio Tapajós e ao Estado de Mato Grosso.
"Devido aos diversos ataques sofridos e à ausência do apoio da Polícia Militar do Pará” as ações de fiscalização estavam prejudicadas por “envolverem riscos relacionados à segurança das equipes em campo""
IBAMA
A intenção deles era mostrar ao presidente Jair Bolsonaro que apoiam suas ideias de “afrouxar” a fiscalização do Ibama e quem sabe conseguir o perdão das multas pelas infrações cometidas ao Meio Ambiente.

O documento do Ministério Público que alertou o governo sobre o dia do fogo, ao qual a revista Globo Rural teve acesso, também cobrava um plano de contingência do Ibama em caso de “confirmação do referido evento”. O plano de realizar as queimadas, agendado para o dia 10, foi divulgado pelo jornal Folha do Progresso, de Novo Progresso.

A resposta do Ibama ao MPF, datada do dia 12, informa que "a Coordenação de Operações de Fiscalização e o Núcleo de Inteligência da Superintendência do Pará haviam sido comunicadas sobre a iminência dos incidentes e ressalta que devido aos diversos ataques sofridos e à ausência do apoio da Polícia Militar do Pará” as ações de fiscalização estavam prejudicadas por “envolverem riscos relacionados à segurança das equipes em campo”.
O documento, assinado por Roberto Victor Lacava e Silva, gerente executivo substituto do Ibama, também destaca que já haviam sido “expedidos ofícios solicitando o apoio da Força Nacional de Segurança”. O Ibama afirma ainda que não havia tido resposta sobre o pedido.
O MPF do Pará relata que funcionários do Ibama vinham sofrendo ataques por parte de madeireiros e grileiros, sem contar com proteção policial.
No domingo à tarde, no Twitter, Sergio Moro, ministro da confirmou que a Polícia Federal vai investigar o conluio entre agricultores, sindicalistas e grileiros para incendiar as margens da BR-163, como relatado em reportagem do site da revista Globo Rural.
“Sim, fui contatado hoje mesmo pelo PR @jairbolsonaro sobre o fato e solicitando apuração rigorosa. A Polícia Federal vai, com sua expertise, apurar o fato. Incêndios criminosos na Amazônia serão severamente punidos.”

Uma das páginas de ofício enviado pelo MPF ao Ibama(Foto: Ed.Globo)
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