Bolsonaro diz que vai eliminar desmatamento ilegal até
2030, mas condiciona ações a recursos do exterior
Presidente brasileiro muda discurso na Cúpula do Clima,
exalta avanço de outros Governos e reafirma compromisso do país de preservar
meio ambiente, reduzindo pela metade as emissões até esse mesmo ano
São Paulo - 22 ABR 2021 -
17:11 CEST
Em uma Cúpula
do Clima marcada por compromissos ambiciosos dos Estados Unidos e
por palavras como “união”, “multilateralismo” e “descarbonização”,
o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, usou nesta quinta-feira seus três minutos
de discurso para exaltar o avanço de Governos anteriores na questão
ambiental e pedir dinheiro para a comunidade internacional com o objetivo de
proteger a Amazônia. A reunião, convocada pelo presidente
norte-americano, Joe Biden, reúne de forma virtual os líderes de 40 países.
Em sua fala, Bolsonaro também afirmou que o Brasil se compromete a reduzir suas
emissões de gás carbônico em 43% até 2030. Também reafirmou seu compromisso de
eliminar o desmatamento ilegal até o mesmo ano, o que poderia, inclusive,
reduzir as emissões em até 50%. Já a neutralidade climática deve ser alcançada
até 2050, uma antecipação de 10 anos com relação ao compromisso anterior. “O
Brasil está na vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global”, afirmou.
Porém, os 28 meses de mandato do mandatário brasileiro são marcados por retrocessos na área ambiental e pelo
desmonte de organismos de controle. Ao longo desse período, seu Governo
boicotou ações de fiscalização do Ibama na Amazônia, reduziu seu Orçamento,
estimulou o garimpo ilegal e desmoralizou o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), que faz o monitoramento de queimadas. O desmatamento da
Amazônia bateu recordes e registrou importantes aumentos em 2019 e 2020 —em
2021, o mês de março foi o pior dos últimos 10 anos. Paralelamente, seu
Governo bloqueou verbas destinadas a políticas para reduzir as
emissões de gás carbônico.
Em contradição com esse pano de fundo, o presidente
brasileiro destacou em sua fala que o Brasil conserva “84% de nosso bioma
amazônico e 12% da água doce da Terra”, evitando nos últimos 15 anos a emissão
de mais de 7,8 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera. Disse que proteger
a Amazônia é uma tarefa complexa, mas que “medidas de comando e controle são
parte da resposta”. “Apesar das limitações orçamentárias do Governo, determinei
o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados a
ações de fiscalização”, afirmou ele, em contraposição ao que, de fato, fez em
seu Governo. Ele não explicou como vai fazer essa ampliação.
Bolsonaro também recordou que mais de 23 milhões de
brasileiros vivem na Amazônia, “região mais rica do país em recursos naturais,
mas que apresenta os piores índices de desenvolvimento humano”. Resolver esse
paradoxo, segundo ele, é essencial para alcançar o desenvolvimento sustentável.
E isso deve ser feito a partir da bioeconomia, valorizando a floresta e a biodiversidade,
além de contemplar os interesses da população, incluindo indígenas e
comunidades tradicionais. Em seguida, pediu ajuda financeira para a comunidade
internacional: “Diante da magnitude dos obstáculos, inclusive
financeiros, é fundamental podermos contar com a contribuição de países,
empresas, entidades e pessoas dispostos a atuar de maneira imediata, real e
construtiva na solução desses problemas”, discursou. “Neste ano, a comunidade
internacional terá oportunidade singular de demonstrar seu comprometimento com
a construção de nosso futuro comum.” O presidente brasileiro também argumentou
que “é preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por
nossos biomas ao planeta, como forma de reconhecer o caráter econômico das
atividades de conservação.”
Sobre os desafios climáticos, Bolsonaro destacou que o
Brasil possui metas de reduzir as de emissões em 37% para 2025 e em 43% até 2030. “Nesse
sentido, determinei que nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050,
antecipando em 10 anos a sinalização anterior”, discursou. Em contraste com os
cortes orçamentários feitos em sua gestão, afirmou que o país está “na linha de frente” do combate ao aquecimento global.
Porém, enfatizou que “o Brasil participou com menos de 1% das emissões
históricas de gases de efeito estufa” e que, atualmente, responde “por menos de
3% das emissões globais anuais”.
Inclusão da Força Nacional no combate ao desmatamento
Pouco após o discurso de Bolsonaro na Cúpula, o ministro do
Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que a duplicação dos recursos para
fiscalização na Amazônia anunciada pelo presidente terá como principal objetivo
a inclusão da Força Nacional nas atividades de combate ao desmatamento. “Para escalar o
volume de equipes e batalhões ambientais que queremos com a Força Nacional são
necessários recursos, para arcar com diárias, logísticas, custos de
deslocamento”, afirmou Salles. De acordo com o ministro, a Força Nacional se
somará à Polícia Federal, Ibama, ICMBio, Forças Armadas e policias estaduais
nas ações de fiscalização.
Salles disse ainda que com recursos estrangeiros será
possível “acelerar” o processo de combate ao desmatamento. Segundo ele afirmou
em entrevista na quarta-feira, com o aporte de 1 bilhão de dólares solicitado aos Estados Unidos seria
possível ampliar em dez vezes o efetivo da Força Nacional dedicado às ações na
Amazônia.
Salles também voltou a falar na importância de
investimentos para cuidar “dos brasileiros” da Amazônia. “O cuidado com
os 23 milhões de brasileiros há décadas deixados para trás, via desenvolvimento
econômico sustentável daquela região, exige recursos para cuidar da parte
econômica e social da Amazônia”, afirmou. Ele não especificou a quem se referia
—indígenas, produtores rurais ou madeireiros.
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