quarta-feira, 4 de novembro de 2015

PMDB aproveita o vácuo do governo



Vicente Nunes
Correio Braziliense


Os investidores estão vendo o impeachment da presidente Dilma Rousseff como um fato cada vez mais distante. Mas isso não impediu o mercado financeiro de se apegar, com todas as forças, ao programa de governo apresentado pelo PMDB, que critica o desequilíbrio fiscal e a indexação da economia — quase 60% do Orçamento da União são corrigidos pela inflação passada.


As medidas propostas pelo partido do vice-presidente Michel Temer são forte contraponto à inação do Palácio do Planalto para tirar o país do atoleiro e vistas como uma âncora em caso de os ventos voltarem a soprar contra a petista.


Durante o período mais crítico para Dilma, em que o mandato dela ficou realmente ameaçado, os investidores levantaram muitas dúvidas do que seria um governo de Temer, caso ele acabasse ocupando a Presidência da República. O PMDB é um partido de histórico ruim, com a imagem atrelada ao fisiologismo e à corrupção. Mas, ao propor iniciativas como a reforma da Previdência Social, fixando idade mínima para a aposentadoria, e mudanças na exploração do petróleo, a legenda acaba se aproximando do mercado.



A visão dos investidores é de que Dilma perdeu a capacidade de reconquistar a confiança no país. Como poucos acreditam que ela terá o mandato interrompido, projetam números cada vez piores para a economia. O pessimismo é tanto que nem a perspectiva de permanência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no governo até o fim de 2018 anima os especialistas a preverem uma reação consistente da atividade nos próximos anos.


AMBIGUIDADE
A razão é simples: Dilma continua dando sinais de ambiguidade em relação ao ajuste do governo. Ao mesmo tempo em que diz ser necessário arrumar as contas públicas, prega, de forma veemente, o aumento de gastos.


A presidente, por sinal, sentiu o baque do programa apresentado pelo partido de Temer. Mesmo não indo ao lançamento da pedra fundamental de uma empresa no interior de Mato Grosso do Sul, por causa da saúde da mãe, a petista obrigou a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, do PMDB, a ler seu discurso, no qual atacou a legenda do vice: “Não estamos prisioneiros da agenda de ajustes. Temos uma agenda consistente de estímulo ao desenvolvimento”, disse Dilma.


O discurso da presidente é esvaziado pelos fatos. Nada do que o governo propõe é levado adiante, seja porque os projetos não são viáveis, seja porque impera a incompetência. O caso mais gritante é o ajuste fiscal. A promessa de arrumar as finanças do país se transformou em um contundente fracasso, que praticamente tirou do Banco Central a capacidade de controlar a inflação.

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