quinta-feira, 8 de março de 2018

Relíquia: Manuscrito de Lúcio Costa sobre o Plano Piloto



Relíquia: Manuscrito de Lúcio Costa sobre o Plano Piloto


Por Tânia Battella



Ao contrário do que muitos dizem, Lúcio Costa sempre esteve presente na implantação de seu projeto do plano piloto de Brasília. Entre 1980 e 1985, quando respondi pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Secretaria de Viação e Obras – DAU/SVO, hoje da Secretaria de Gestão do Território e Habitação – SEGETH, formalizamos a consultoria de Lúcio Costa para assuntos relacionados a implantação e implementação de seu projeto de Brasília.

Assim, vários foram os Pareceres sobre determinadas questões, sobre as quais o autor de Brasília opinou, quer por consulta nossa, direta, do DAU/SVO, ou por outras instituições governamentais e não governamentais, cujas posições sempre nos encaminhava, ciente de que a responsabilidade da preservação de seu projeto era do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da SVO.

Guardei, com orgulho e muito carinho cópia dessas Cartas/Pareceres   manuscritas que abordam temas até hoje debatidos, como o Touring Club, a Plataforma Rodoviária, a Praça dos Três Poderes, interligação das vias L1 e W1, Setor de Hotéis de Turismo, Setor Hoteleiro, Praça do Buriti entre outros.

Considerando a oportunidade da elaboração do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB, previsto pela Lei Orgânica do DF, em andamento pelo GDF e considerando também que a SEGETH, responsável pela coordenação desse Plano não disponibilizou tais informações, e ainda pela atualidade dos temas abordados nesses Pareceres, vou relatá-los, em série, sempre disponibilizando cópia da Carta manuscrita elaborada pelo autor do projeto de Brasília.

Nesse sentido, inicio com o parecer sobre consulta formulada em maio de 1983, pela Administração da Rodoviária, sobre a utilização de paramentos e platibandas da Estação para propaganda comercial. Vale lembrar que a Estação rodoviária é projeto de arquitetura de autoria de Lúcio Costa, merecendo duplamente ser considerada sua opinião a respeito,
Sua resposta à consulta foi a seguinte:

1º. A propaganda comercial na Estação Rodoviária deve limitar-se aos numerosos boxes de negócios – cerca de 40 – existentes;
2º. É inconcebível que, na capital da República, a boa conservação da estação fique na dependência de tais artifícios; as verbas consideradas necessárias a essa manutenção devem ser incluídas no orçamento normal do DF.
 3º. A Plataforma Rodoviária é parte integrante do Eixo Monumental da cidade e, como tal, está a exigir compostura urbana compatível com essa circunstância.
Sou, pois, radicalmente contrário à proposta.    
                                             Lúcio Costa
                                                 18/v/83

Desse Parecer, claro e objetivo, além do conteúdo propriamente dito, contrário à utilização de espaços da edificação da Estação Rodoviária para propaganda comercial, vale destacar o conceito inserido sobre a própria Estação Rodoviária, como parte integrante do Eixo Monumental da cidade, assinalado por ele mesmo, na Carta/Parecer.
Assim deve, portanto, ser tratada e considerada a Estação Rodoviária: parte integrante do Eixo Monumental da cidade e, como tal, está a exigir compostura urbana compatível com essa circunstância. (este grifo é meu).

1 de Fevereiro de 2018

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