quinta-feira, 19 de julho de 2018

Temporada de baleias no Brasil começa com muitos encalhes; Causas vão da falta de alimento na Antártida a emalhamento em redes

Temporada de baleias no Brasil começa com muitos encalhes; Causas vão da falta de alimento na Antártida a emalhamento em redes


Baleia Jubarte
Foto: Projeto Baleia Jubarte

Tanto Pesquisadores como frequentadores do litoral têm observado, nos últimos anos, uma tendência de crescimento do número de encalhes de baleias-jubarte no Brasil, durante seu período de reprodução, que abrange o inverno e a primavera. Apenas neste ano, já foram 21 ocorrências, das quais 9 na Bahia, e a estimativa dos pesquisadores do Projeto Baleia Jubarte, que conta com o patrocínio da Petrobras, é que esse número possa chegar a aproximadamente 100 animais até novembro. Isso é função, principalmente, de uma boa notícia: a população da espécie que vem se reproduzir em nossas águas está quase recuperada da matança, realizada pelos baleeiros até a segunda metade do século XX, e que quase a levou à extinção.

De uma população que na virada do século era de apenas cerca de 3.000 baleias, os pesquisadores do Projeto estimam que hoje ela já seja cerca de 20.000 animais, o que é motivo para celebrar. E mais baleias vivas quer dizer, necessariamente, mais baleias mortas de causas naturais, o que não afeta por si só a viabilidade da população “brasileira”. Por outro lado, vários desses encalhes e mortes de jubartes estão acontecendo devido a impactos humanos, e isso pode comprometer a viabilidade desta população se eles não forem identificados e mitigados.

Dentre os principais problemas estão o emalhamento em redes de pesca e a colisão com embarcações. Mas como saber o verdadeiro impacto dessas causas? Essa é a importância de se estudar os encalhes, e para isso o Projeto Baleia Jubarte mantém uma equipe especializada no assunto que sempre que possível vai ao local dos eventos, realiza necropsias das baleias e procura determinar a causa das mortes. Segundo o pesquisador Hernani Ramos integrante da equipe de resgate de mamíferos marinhos, “um número importante de animais encontrados mortos nas praias apresenta marcas de emalhamento em redes de pesca. Há também o risco de traumas com grandes embarcações, principalmente onde as rotas de navios que demandam portos cruzam as áreas de concentração das jubartes, e mesmo o ruído de determinadas atividades, como prospecção sísmica, podem trazer problemas”.

Outras atividades humanas de maior abrangência também podem impactar as jubartes. Por exemplo, é possível que haja uma correlação entre o maior número de encalhes detectado este ano – e em alguns anos anteriores – com uma menor produção de krill (o principal alimento das jubartes do Hemisfério Sul) na região antártica. O quanto essa diminuição de produtividade pode estar sendo causada pelas mudanças climáticas induzidas pela humanidade é ainda motivo de estudos, mas certamente causa preocupação, porque pode comprometer a recuperação futura das populações de baleias.

Ainda segundo Ramos, são raros os casos em que as baleias encalham vivas nas praias. Quando acontecem encalhes de animais vivos, o grande desafio é mover criaturas tão pesadas sem feri-las ainda mais. E ele faz um alerta: “É importante frisar que tentar o desencalhe de uma baleia viva é uma ação que envolve muitos riscos, tanto de ferimentos provocados involuntariamente pelo animal como a aquisição de doenças ao entrar em contato com o mesmo e com o spray de sua respiração. Por isso, essas tentativas devem sempre ser realizadas sob orientação especializada”.

Em suma, apesar de números elevados e da tristeza causada por ver animais majestosos mortos no nosso litoral, os encalhes de jubartes nessa temporada ainda não constituem uma ameaça para a recuperação da espécie em nossas águas. Mas é preciso estarmos vigilantes e seguirmos monitorando esses eventos, para assegurar que as atividades humanas não sejam responsáveis por mais mortes e que possamos garantir a existência das baleias no mar brasileiro em uma convivência harmônica com as pessoas.

Como ajudar ao constatar um encalhe: O Programa de Resgate do Projeto Baleia Jubarte atua no litoral da Bahia e do Espírito Santo e conta com telefones de emergência, que recebem, inclusive, ligações a cobrar.

Caravelas: (73) 3297-1340* e (73) 98802-1874**
Praia do Forte: (71) 3676-1463* e (71) 981542131**
* Horário comercial (segunda a sexta) ** 24 horas/WhatsApp

Sobre o Projeto Baleia Jubarte
Atuando há 30 anos na pesquisa e conservação das baleias-jubarte e do ambiente marinho no Brasil, o Projeto Baleia Jubarte, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, integra a Rede Biomar juntamente com outros projetos patrocinados pela empresa (Projeto Albatroz, Coral Vivo, Golfinho Rotador e Tamar), que atuam de forma integrada na conservação da biodiversidade marinha do Brasil. O Projeto Baleia Jubarte é administrado pelo Instituto Baleia Jubarte a partir de suas sedes na Praia do Forte e em Caravelas, Bahia. Mais informações sobre as atividades podem ser obtidas em www.facebook.com/projetobaleiajubarte e em www.baleiajubarte.org.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/07/2018

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