domingo, 23 de novembro de 2014

Dilma perde o timing

Estado de São Paulo

Julia Duailibi
20 novembro 2014 | 23:58 



Os desdobramentos do escândalo do Petrolão levam o governo a se preparar para uma crise com potencial de estrago ainda maior que a do mensalão. Parlamentares, entre os quais políticos da base aliada, como petistas e peemedebistas, executivos de empreiteiras e integrantes da estatal não devem escapar das denúncias de desvios. Não há como a crise não chegar ao Palácio do Planalto.



Ciente disso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro com Dilma Rousseff, na Granja do Torto, na terça-feira, traçou o plano inicial ao sugerir a ela que anunciasse logo medidas na área econômica, leia-se, a sua nova equipe. Seria uma tentativa de emplacar uma agenda positiva, num governo que se tornou especialista em más notícias.



Na contramão do que pregou na campanha eleitoral, Dilma parece estar convencida a deixar de lado os experimentos heterodoxos do final de seu primeiro mandato. Todo mundo sabia que viriam “medidas amargas”, apesar de o PT dizer que estava tudo bem e que os adversários é que fariam as maldades.



Na tentativa de criar a agenda positiva, convidou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, para ser o novo ministro da Fazenda, mas ele não aceitou a missão. Também teria definido a manutenção de Alexandre Tombini no Banco Central, com a orientação de perseguir a meta de inflação de 4,5%.


Além disso, a presidente decidiu cortar gastos e anunciar um pacote fiscal para 2015, com superávit em torno de 2%, segundo o ministro Guido Mantega (Fazenda). Um pacote ortodoxo para amenizar o impacto negativo na imagem do governo com o estrago nas contas de 2014, que podem terminar no vermelho.



Previsto inicialmente para esta sexta-feira, o anúncio do novo ministro da Fazenda – e dos novos integrantes da equipe econômica – já vem tarde. Deve ficar agora para a semana que vem, depois da morte do ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos. Dilma deveria ter feito a escolha e o consequente anúncio logo após a eleição, quando havia uma grande demanda por boas notícias, principalmente no mercado. Teria criado um ambiente mais positivo em relação ao seu governo.


Com o processo decisório sobre o ministério se arrastando por quase três semanas, o palácio tenta agora usar o anúncio como cortina de fumaça nas apurações da Lava Jato. Mas não vai funcionar. O escândalo do Petrolão e os seus desdobramentos vão ofuscar qualquer a agenda positiva proposta pelo governo.


Dilma perdeu o timing.

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