sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Delcídio Amaral jogou seu mandato na lata de lixo da história



Delcídio Amaral já era, mas Lula ainda continua na fila


Pedro do Coutto
Agindo torpemente, da forma como agiu, o ainda senador Delcídio Amaral – manchete das edições de O Globo, Folha de São Paulo e de O Estado de São Paulo de ontem – jogou seu mandato na lata de lixo da história e infringiu todos os dispositivos constitucionais relacionados no artigo 55 sobre os limites do decoro parlamentar.


Tentativa de suborno de acusados de corrupção para que não o acusassem e também ao banqueiro André Esteves, utilização indevida, com fins criminosos, dos nomes de ministros do Supremo Tribunal Federal, além, para ficar só nestes exemplos, de planejar rota de fuga para o exterior do réu Nestor Cerveró, para que desistisse da delação premiada que propôs ao Procurador Geral da República, Rodrigo Janot. Teve, como é do conhecimento geral, a prisão preventiva decretada pelo STF e confirmada pelo Senado por maciça margem de votos.

Esqueceu seu compromisso político e comprometeu ainda mais o governo Dilma Rousseff, do qual era líder naquela Casa do Congresso. Por reflexo direto, piorou acentuadamente a posição, já por si extremamente difícil, do deputado Eduardo Cunha na presidência da Câmara.

Claro, porque o artigo 55 estabelece que perderá o mandato o deputado ou senador cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar. Que deixar de comparecer a um terço das sessões legislativas. E que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado. Ora, tornou-se inevitável a condenação de Delcídio Amaral.

E também impossível a revogação de sua prisão preventiva. Assim, como poderá ele exercer o mandato que ele próprio desmoralizou? Não poderá livrar-se da prisão na qual ele próprio se encarcerou.

E O BANQUEIRO?        
Delcídio levou consigo o banqueiro André Esteves, personagem da típica embriaguez do sucesso, que acreditou que sua competência e talento na área financeira pudessem se estender ao plano da política. Erro fatal. Uma coisa nada tem a ver com outra.


O brilho esportivo de alguém, por exemplo, não pode ser usado como garantia de êxito no espaço do pensamento. Assim como a cultura não assegura ao intelectual sua projeção no terreno da política. E, numa sequência, todos nós podemos destacar um número enorme de exemplos. Uma coisa é a teoria. Outra é a prática, até porque a teoria, na prática, é outra, como dizia o velho senador Benedito Valadares, que foi também governador de Minas Gerais. Cada um na sua praia.

André Esteves acreditou que o dinheiro compra tudo e todos. Enganou-se. E tal engano vai lhe custar muito caro. Não só em matéria de dinheiro. Mas no campo moral.

E CUNHA?
Delcídio, em seu mergulho na lama, agravou a posição de Eduardo Cunha. Por quê? Simplesmente porque deixou ressaltado que a falta de decoro é motivo suficiente para a cassação do mandato.


Eduardo Cunha desenhava sua estratégia com base na separação entre a presidência da Casa e o mandato parlamentar. Daí o empenho em adiar ao máximo a votação do relatório do Conselho de Ética. Ele sempre soube da impossibilidade de permanecer presidente. Mas jogava com a perda desse posto para preservar o mandato de deputado.

O caso Delcídio deixou claro que tais situações são inseparáveis. Falta de decoro arrasta consigo o mandato. Dessa forma, Amaral e Cunha vão, juntos, para o lixo da história parlamentar brasileira. Sem dúvida.

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