segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O Globo – Preservar florestas é uma emergência, alertam especialistas

O Globo – Preservar florestas é uma emergência, alertam especialistas


ANA LUCIA AZEVEDO

Florestas em pé evitam catástrofes climáticas, como secas e enchentes, e garantem a segurança hídrica e alimentar. Mas, além de regular os ciclos climático e hidrológico, as florestas contêm mais CO2 que as reservas de petróleo, gás e carvão. Mantê-las vivas, por isso, é a forma mais eficiente de reduzir as emissões, capturar o carbono na atmosfera e evitar que a temperatura média do planeta suba mais do que 1,5 grau Celsius até o fim do século.

Essa é a principal mensagem do documento apresentado ontem por 40 dos maiores especialistas do mundo em clima e florestas, às vésperas do lançamento do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), na próxima segunda-feira, na Coreia do Sul. O relatório do IPCC sobre impactos da mudança do clima não trará boas notícias sobre o agravamento de inundações e secas, especialmente essas últimas.

No documento de ontem, os cientistas explicam por que preservar as florestas é uma emergência e pode mitigar os problemas trazidos pelas alterações no clima. As florestas, diferentemente do que se costuma imaginar, contêm uma quantidade colossal de carbono. Além disso, removem quase 30% de todo o CO2 que o ser humano lança na atmosfera.

— Elas não têm recebido a devida atenção, embora possam se tornar o principal mecanismo de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas nos próximos 50 anos.

A atenção do mundo agora se voltará para elas — salienta o climatologista brasileiro Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP e um dos mais respeitados especialistas do mundo sobre a relação entre o clima e as florestas tropicais.

BRASIL NA ‘LIDERANÇA’
Chamado “Cinco razões por que o clima da Terra depende das florestas”, o documento foi redigido por especialistas de Brasil, Estados Unidos, França, Reino Unido e Áustria. Mas é especialmente importante para o Brasil. Aqui estão a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo; a Mata Atlântica, a mais devastada; e o Cerrado, maior fronteira agrícola da Terra e, ao mesmo tempo, berço de nove das 12 maiores bacias hidrográficas do país.

Preservar florestas pode soar inicialmente apenas como obrigação, mas para o Brasil pode ser uma oportunidade, destaca Nobre. O Brasil é líder na produção agropecuária, o maior fator de destruição de florestas. Mas Nobre e os demais especialistas dizem que a ciência mostra que pode ser diferente.

— O Brasil tem todas as condições de liderar esse processo de mitigação sem reduzir a produção. Não é trivial, mas é possível. Como brasileiro, gostaria de ver o Brasil na liderança — afirma.

Ele cita estudos da Embrapa que mostram ser possível reduzir em 25% a área ocupada pela agropecuária e ainda assim aumentar em 35% a produtividade. Há terra de sobra a restaurar.

Pesquisas da mesma Embrapa já revelaram que o país tem 30% de seu território degradados por pastagens sem uso, principalmente na Mata Atlântica. O plano nacional de restauração brasileiro prevê a recuperação de 12 milhões de hectares de vegetação nativa. Principalmente na Mata Atlântica. Financiar a restauração não é simples, mas Nobre diz que existem opções atraentes para os produtores.

O Plano Safra, por exemplo, subsidia cerca de US$ 10 bilhões para o produtor com dinheiro no contribuinte sem exigir contrapartidas ambientais, frisa. Mas existe o Plano ABC, de agricultura de baixo carbono, com experiências positivas de aumento da produção com integração de lavoura, pecuária, floresta e, agora, processos industriais.

Planos como o ABC estimulam a produção sem devastar florestas. Uma sugestão é incluir o Plano Safra dentro do ABC, diz o pesquisador.

Entre seus pontos, o documento destaca que depende das florestas a oferta de água, da qual a atividade agropecuária é a maior consumidora, com cerca de 70% da demanda.

—A mensagem é: sem florestas, não há clima, não há água nem comida —frisa.
O veredicto acentuou o debate na Argentina e dentro de aliança governista Mudemos sobre como a Justiça trata casos de ex-presidentes e como estes continuam participando da política, apesar de denúncias graves.

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