quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A herança maldita de Agnelo Queiroz, governador de Brasília


Com salários em atraso, profissionais da saúde e educação prometem paralisação na reta final do mandato do petista
Gabriel Garcia


"Estamos organizando e arrumando a casa". A declaração do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), nem parece ter ecoado em dezembro de 2011.

Passados três anos, o quadro atual da capital da República continua uma bagunça: greve do transporte público, atraso nos salários dos profissionais da saúde e da educação, insegurança, mato tomando conta da cidade. Falta dinheiro para tudo.

O Centro de Ensino Fundamental 504, na cidade satélite de Samambaia, localizada a 30 quilômetros de Brasília, resume como anda a educação. Na escola, a caixa de água está furada há anos, correndo risco de desabar, os alunos, no período de chuva, precisam se esquivar das goteiras e os professores estão com salário de novembro atrasado.

Em Sobradinho, cidade a 25 quilômetros de Brasília, o hospital regional ilustra o que os pacientes vêm enfrentando em todo Distrito Federal. Foi suspenso o fornecimento de refeições para servidores e acompanhantes de pacientes e os salários estão em atraso.

Lá, os médicos estão com escala de serviço apertada. Em 26 de outubro, o governo editou decretou suspendendo o pagamento de horas-extras. Por causa da decisão, em determinados casos, um único médico fica sozinho durante um plantão de 12 horas - são necessários 4.

Com o cancelamento das horas-extras, a direção do hospital acabou remanejando profissionais dos ambulatórios para o pronto-socorro – deixando áreas descobertas, como a oncológica.

O aparelho autoclave, usado para esterilizar material cirúrgico, está quebrado há quatro meses. O procedimento está sendo realizado em Santa Maria, a 50 quilômetros do local.

Na área de transporte público, motoristas e cobradores também estão com o salário de novembro e a primeira parcela do 13º atrasados. O governo não teria repassado os recursos que cobrem custos como a meia passagem para estudante.

O governo ficou de quitar a dívida na segunda-feira (8), mas alegou “problemas operacionais”.

Nos canteiros de Brasília, o mato substituiu as lindas paisagens. No parque Olhos D’água, na Asa Norte, os frequentadores ficam pequenos diante do matagal. Nas cidades satélites, mato alto e buraco nas ruas tornaram-se parte da urbanização.

Parte do descontrole está no aumento na folha de pagamento. Na reta final do mandato, houve reajuste e contratação de servidores em ritmo superior ao que a arrecadação poderia suportar. Em janeiro, o gasto mensal de Agnelo com a folha era de R$ 580 milhões. Em novembro, era de R$ 930 milhões.

Balanço do governo do Distrito Federal divulgado em novembro mostra que a arrecadação entre janeiro e outubro foi de R$ 15,6 bilhões. Os gastos no mesmo período somaram R$ 14,5 bilhões. O valor está abaixo dos R$ 22,6 bilhões em impostos e transferências do governo federal esperados para 2014.

A equipe de transição do governador eleito, Rodrigo Rollemberg, estima que haverá defasagem de R$ 2 bilhões entre o que o governo arrecada e gasta.
Não é por acaso que o atual governador é campeão em rejeição. Agnelo Queiroz é o governador com o segundo maior índice de rejeição entre os 27 do país. Só não tem avaliação pior do que Rosalba Ciarlini, do Rio Grande do Norte.



Servidores em greve interditaram diversas vias em Brasília (Foto: Arquivo Google)Servidores em greve interditaram diversas vias em Brasília (Imagem: Arquivo Google)
 

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