quinta-feira, 1 de maio de 2014

A DÍVIDA E A PROMISSÓRIA


 



Vinte e dois anos depois vem a última e definitiva decisão do Supremo Tribunal Federal no julgamento de Fernando Collor: absolvição plena.
O ex-presidente discursou esta semana no Senado, cobrando a humilhação e o prejuízo a que foi submetido. Indagou quem lhe devolverá o mandato. A Câmara, que o afastou temporariamente? O Senado, que o condenou?
Só que tem um detalhe: foi ele mesmo que renunciou, imaginando livrar-se do processo que os senadores entenderam devesse continuar.
O atual senador por Alagoas manterá, no fundo da alma, o propósito de retornar ao palácio do Planalto, mas agora só através de nova eleição. Não dá para descontar a promissória, apesar da dívida vencida.
Tantos anos depois, a gente fica lembrando os motivos que levaram o Congresso a promover o impeachment afinal frustrado pela renúncia. Inexperiência do jovem presidente? 
Arrogância? Ligações perigosas com o PC Farias? A verdade é que faltou diálogo entre Collor e a maioria dos parlamentares. Assim como faltaram ministros de primeiro nível para aconselhá-lo. Só quando não adiantava mais foi composto um ministério de excepcional densidade. Se o ex-presidente vai arriscar uma segunda candidatura, no futuro, nem ele saberá. Os tempos são outros.
Perder a presidência da República, no Brasil, tem sido uma constante para muitos de seus ocupantes. Deodoro da Fonseca foi o primeiro, ao renunciar. Afonso Pena e mais tarde Costa e Silva morreram no exercício do mandato. Washington Luiz, deposto, Julio Prestes, impedido de assumir. Getúlio Vargas, deposto uma vez, matando-se na outra. Carlos Luz e Café Filho, depostos. Jânio Quadros, outra renúncia. João Goulart, outra deposição. Tancredo Neves, doente horas antes de tomar posse. Finalmente Fernando Collor, mais uma renúncia.
Tomara que tantos dramas, tragédias e farsas nunca mais se repitam, registrando-se não haver no planeta uma só república que não tenha enfrentado percalços semelhantes, mesmo em situações variadas. Nos Estados Unidos, quatro presidentes foram assassinados. Na América Latina, muitos mais, nem se falando da Africa, Asia e mesmo da Europa.


Vale, por hoje, tirar uma lição: o poder é imperscrutável especialmente por quem o exerce.
01 de maio de 2014
Carlos Chagas

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