segunda-feira, 12 de maio de 2014

CAMINHO DA ROÇA---Dora Kramer, O Estadão


Falta um mês para a convenção do PMDB, marcada para 10 de junho. Se nas próximas quatro semanas a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer não conseguirem dar um jeito na situação, a derrota da renovação da aliança com o PT é dada como certa.

Não é coisa que se fale em voz alta no partido onde o clima é de conspiração contra. Das 27 seções regionais só reina a paz em colégios eleitorais de pouco peso, como Alagoas, Maranhão, Rondônia e Amapá. Nos demais há problema, variando apenas a gravidade.

Se a votação fosse hoje, a única dúvida seria se a rejeição seria feita de modo aberto, por aclamação dos representantes dos diretórios regionais, ou se o resultado se expressaria na urna, sob a proteção do voto secreto dos delegados.

Michel Temer tem ciência da perda de apoio crescente da renovação da aliança, certamente divide essa preocupação com o governo e trabalha para que o previsto resultado adverso não se confirme. Há chance? Sempre há, mas são pequenas, porque PT e PMDB não conseguiram se entender nas eleições estaduais e a queda da presidente das pesquisas contribuiu para que a dissidência caminhe para se transformar em maioria.

Junto a isso, há a percepção dos políticos junto às suas bases de que existe um cansaço generalizado com o governo. Não necessariamente com a presidente em particular, mas um ambiente de desagrado com o PT em geral. Ainda assim, há uma avaliação de que, se algumas questões regionais importantes fossem resolvidas, o PMDB poderia continuar na coligação mesmo só formalmente.

Para o governo já seria bom: não perderia cerca de cinco minutos do tempo no horário eleitoral nem teria o desgaste de uma sinalização politicamente muito ruim. Quais seriam as questões regionais capazes de salvar a parceria? Ceará e Rio de Janeiro. Operações difíceis, pois o que o PMDB quer é que no Ceará Dilma abandone os irmãos Ciro e Cid Gomes para apoiar o senador Eunício Oliveira e no Rio retire a candidatura de Lindbergh Farias em favor do governador Luiz Fernando Pezão.

Tal cenário de dificuldades seria inimaginável há um ou dois meses. Não obstante a insatisfação crescente no principal parceiro do governo, que em março explodiu numa crise abafada embora não dizimada no Congresso, mesmo os mais rebeldes não vislumbravam a possibilidade de o partido se recusar a renovar a aliança.

No máximo consideravam que o PMDB iria formalmente para a coligação e, na prática, cada seção regional agiria como bem entendesse, apoiando a candidatura Dilma, aliando-se implícita ou explicitamente à oposição ou simplesmente se omitindo quanto à eleição presidencial. Cada estado cuidaria de suas próprias candidaturas aos governos, ao Senado e à Câmara, a fim de que o PMDB preservasse a força oriunda do poder local, com reflexo direto na cena nacional por meio da influência no Congresso.

Hoje a percepção é a de que o compromisso da aliança teria tudo para favorecer o PT sem render benefícios ao PMDB.

Histórico. Caso venha a romper aliança com Dilma, não seria a primeira vez que o PMDB participaria de um governo sem integrar a coligação eleitoral. Em 1998, o partido ocupava ministérios no governo Fernando Henrique Cardoso e, ainda assim, decidiu por não apoiar formalmente a reeleição. Nem por isso FH perdeu.

Calma no Brasil. O país está violento, intolerante, raivoso, necessitando urgentemente de um poder moderador/pacificador, cuja tarefa se inicia pela retomada de valores como legalidade, compromisso com a verdade, probidade, civilidade e respeito ao contraditório.

O acirramento de ânimos pode ser eficaz na luta política, mas acaba contaminando a sociedade quando a dinâmica do conflito e do vale-tudo sem regras nem limites é incorporada como prática cotidiana no exercício do poder.


12 de maio de 2014

 

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