segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Oliver: ‘Pau, pedra e fim do caminho’

Augusto Nunes


VLADY OLIVER


No pontapé inicial da abjeção televisiva chamada “horário eleitoral gratuito” – que é o que ele menos é –, eu já cantava aqui mesmo uma bola que ninguém se atreveu a cortar em nome de alguma decência nessa política bronca que nos rodeia; a ausência de um discurso que realmente se destaque em meio à mesmice e capitalize a imensa vontade do brasileiro de sair do pântano moral em que chafurdamos. 


É nessa trincheira que entendo tanto a indignação demonstrada pelo comentarista Reynaldo-BH quanto as duras – e sensatas – críticas feitas por Reinaldo Azevedo ao reino encantado da nova candidata, incluída na peleja pelas portas do imponderável.


O problema é que a massa de pão sovado do que é feita essa candidata é bem capaz de crescer conforme apanha, justamente pela suposta fragilidade com que se apresenta. 


 Sinceramente? As entrelinhas dessa estratégia não me agradam. Na matemática mais cartesiana possível, quanto mais gente não se deixar levar pelo canto de sereia da fada dos cremes antirrugas, mais potenciais eleitores ganhará a tal “oposição de verdade” ao desastre anunciado que estamos vislumbrando. 


Este é justamente o problema: isso não vai acontecer. Infelizmente, vai acontecer o contrário.


Venho acompanhando o tal horário “gratuito” para saber que os dois candidatos presidenciais mais importantes parecem alheios ao país real. Disputam também um campeonato particular de populismo rombudo e absoluta falta de assunto. 


Ambos se esmeram em mostrar o desdentado mais bonito do país e prometer casa, comida e roupa lavada para todos os alegres famélicos deste rincão varonil. Nada de embates, nada de crise, nada de verdade no programa de ambos. Nada de oposição. Tudo morno e sem alma.


É compreensível que alguém que se apresente como uma espécie de “comadre protetora dos fracos e oprimidos” – uma terceira via do que já não está agradando – leve imediatamente a contenda para uma patamar ainda mais telúrico e assimétrico. 


Se há uma discussão que realmente deveria ser levada a cabo por aqui é se essa “representatividade”, que desfila como alegoria macabra em nosso horário político, realmente representa alguma coisa além de sua própria falência como modelo político e administrativo.


Fico imaginando o que seria de uma Corina Machado, por exemplo, se ela abandonasse o discurso fortemente crítico ao regime que combate (e que a tornou um ícone em seu país de origem) e abdicasse de se opor, convencida por um marqueteiro vagabundo qualquer a só falar platitudes e distribuir dentaduras país afora. Seria imediatamente acusada de vendida, entreguista, vira-casaca e parte da confraria, dizimando um capital político duramente conquistado pelo discurso e pela coragem de defendê-lo, mesmo nas condições mais adversas. Soaria falso.


Que fique bem claro: Não há oposição por aqui, meus caros. Não há em quem votar com convicção. Não há o que defender, o que significa que o texto indignado de nosso ilustre comentarista acaba mesmo virando ataque gratuito, na cabeça do eleitor não seduzido. Nesse caldo, qualquer duende, palhaço ou vigarista serve. 

Lamentavelmente, a oposição só está colhendo aquilo que vem plantando por aqui. 

Uma péssima colheita, por sinal.

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