quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A São Paulo de Haddad sem retoques nem maquiagem ideológica

4/12/2014 às 21:06


Vale a pena ler o artigo do vereador Andrea Matarazzo, publicado na Folha desta quinta. O retrato que faz cidade de São Paulo, sob a gestão Fernando Haddad, surge sem retoques.
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Fernando Haddad é um homem de sorte. Em sua primeira campanha, foi eleito prefeito da maior cidade do país prometendo muito, contando com a popularidade de seu padrinho político e com o desgaste de seu antecessor. No cargo, contou com a complacência dos que antes eram rigorosos fiscais. Com sua gestão ideológica, conseguiu o apoio de ONGs e grupos que atazanavam os mandatários anteriores.


Deu sorte mais uma vez ao governar em um período de seca histórica –a falta de chuvas encobriu sua inexperiência e o livrou do desgaste das enchentes. Quando parecia que as finanças estavam no fundo do poço, ganhou da União a aprovação da renegociação da dívida, que lhe dará fôlego para fazer obras que possam levantar sua popularidade.


Sorte do prefeito, azar dos munícipes. São Paulo nunca esteve tão abandonada. Trancado em seu gabinete, o prefeito não vê os problemas que se acumulam. Ruas esburacadas, mato crescendo, semáforos a piscar em amarelo a cada garoa, lixo acumulado. A cidade não tem zeladoria. Essa é a realidade que a pintura de faixas vermelhas no chão não consegue esconder.


A última surpresa com que os paulistanos foram brindados foi a volta da cracolândia. Por ingenuidade ou incompetência, o prefeito imaginou que dar hospedagem e subempregos aos dependentes químicos pudesse tirá-los do vício.


Impossível dar certo pretender que os dependentes vivam e trabalhem no ambiente do tráfico. Haddad restabeleceu a cracolândia de 2004, quando os hotéis eram utilizados pelo tráfico para hospedar usuários de drogas. Hoje é o poder público que o faz.


É uma ironia o prefeito reclamar em sua conta no Twitter da falta de policiamento quando a cada intervenção da Polícia Militar no local ele é o primeiro a vociferar contra o governo do Estado.


Haddad jogou por terra todos os avanços que os antecessores promoveram no centro. A região está abandonada. Marcos da cidade, como o Pateo do Collegio, a Catedral da Sé e a Sala São Paulo, são ilhas cercadas de sujeira de dia e, à noite, transformam-se em grandes dormitórios da população de rua, hoje abandonada pela prefeitura.


Refém dos movimentos sociais desde as manifestações de 2013, Haddad deixou alguns dos prédios mais simbólicos do centro se transformarem em ocupações irregulares. Agora ele irá destinar um quinto das unidades do Minha Casa, Minha Vida aos invasores do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.


Não que eles não tenham direito à moradia. Mas ao privilegiar os militantes de um movimento protegido por seu governo, Haddad acaba com o critério da impessoalidade e incentiva as invasões.


Na periferia, a situação também é de descaso. Do R$ 1,3 bilhão previsto para o programa Mananciais, que visa urbanizar favelas nas regiões mais carentes, a prefeitura empenhou apenas 8,1%.


As subprefeituras foram sucateadas. O Orçamento foi reduzido em 8,3% e cada um dos 32 subprefeitos terá, em média, apenas R$ 35 milhões para investir em obras essenciais, como a limpeza de córregos e a pavimentação de ruas. Dos 79 projetos de combate às enchentes, apenas 27 foram levados adiante.


O paulistano fica entre a cruz e a caldeirinha: se não chover, ele tem um problema; se chover, a cidade será inundada. A gestão é tão deficiente que a crítica vem até de aliados, como a ex-prefeita que estuda trocar de partido para enfrentá-lo nas eleições de 2016.


O prefeito, a partir do próximo ano, terá uma folga no Orçamento. Isso graças ao abusivo aumento do IPTU que ele impôs a todos os paulistanos sem se preocupar com as consequências para o bolso do cidadão e a um projeto feito sob medida pela presidente da República para tentar recuperar sua popularidade na maior cidade do país, onde foi derrotada por Aécio Neves.


Esse projeto busca resolver um problema causado pelo próprio PT, já que o serviço da dívida só aumentou porque a ex-prefeita Marta Suplicy não cumpriu o contrato. Mais dinheiro, porém, ajudará um prefeito que não consegue tirar nenhum projeto do papel? Para azar de nós, paulistanos, a resposta é não. A cidade, com Haddad no comando, não tem como melhorar. É muita promessa e pouca ação.


Por Reinaldo Azevedo

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