quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Lei Antifumo: para cumprir, bares até perdem clientes

Em bar do DF, fumante que insistiu foi ?"convidado a se retirar".

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Com a  vigência da Lei Antifumo, os hábitos do fumante brasiliense precisam ser modificados, uma vez que fica proibido fumar em locais fechados, sejam eles públicos ou privados. A punição em caso de descumprimento vai para os estabelecimentos comerciais que desrespeitarem a regra, que  podem ser multados e até perder a licença de funcionamento. E para não serem prejudicados, vale até perder um cliente.


A legislação federal,   aprovada em 2011, mas regulamentada somente neste ano, veda o consumo de cigarrilhas, charutos, cachimbos, narguilés e outros produtos em locais de uso coletivo – como corredores de condomínios, restaurantes e clubes –, mesmo que o ambiente esteja parcialmente fechado por uma divisória, parede, teto ou toldo.


A lei ainda extingue os fumódromos e acaba com a possibilidade de propaganda comercial de cigarros até mesmo nos pontos de venda. Ficará permitida a exposição dos produtos sempre acompanhada de mensagens sobre os males provocados pelo fumo. Os fabricantes terão, ainda, que aumentar os espaços para os avisos sobre os danos causados pelo tabaco, que deverão aparecer em 100% da face posterior das embalagens e de uma de suas laterais.


Na capital, o primeiro dia de aplicação da nova lei, ontem, registrou discussão entre gerente de bar e clientes,  além de muita reclamação de fumantes. Na QRWS 101 do Sudoeste, dois frequentadores de um bar foram expulsos do local porque se recusaram a obedecer a determinação da casa de não permitir mais o consumo de cigarro nas dependências e imediações do estabelecimento.
De acordo com o gerente  Afrânio Cordeiro, 45% dos frequentadores do bar são fumantes. Ele vê muita confusão durante o período de adaptação à nova lei. "Os próximos dois meses serão de resistência", estima. "O que fazer quando um cliente quiser fumar à força?", questiona.


Dois passos à direita
Contrariado, o servidor público Leandro Fiúza (foto), 34,  foi para o estacionamento fumar. "Acho   uma estupidez, porque já estou na calçada", reclamou. A mesa dele estava posicionada fora do bar. Mesmo assim, sofreu restrição porque a lei prevê que  os locais cobertos por toldos  são  de uso coletivo e devem ser preservados.


Assunto causa polêmica
Mas nem todos reclamaram da nova legislação. Para um garçom do bar do Sudoeste, que pediu anonimato, a Lei Antifumo “foi  a melhor decisão que o governo tomou nos últimos anos". "Quer fumar? Vai para outro lugar. Não aqui", disse. Para ele, os estabelecimentos também deveriam ser proibidos de vender cigarro.

Já o colega dele, Tiago Campos, não acredita que a norma deva resistir ao tempo. E comparou-a com a Lei Seca. "No começo é assim. A Lei Seca, hoje, ninguém obedece. Já estou cansado de ver as pessoas bebendo aqui e saindo dirigindo", delatou o funcionário.

Narguilé
A restrição ao tabagismo será pior para o proprietário de outro estabelecimento que também situa-se na QRWS 101 do Sudoeste. Localizado no subsolo do prédio, entre dois bares, o local se tornou referência por servir narguilé aos clientes. De acordo com Abbas Diab, a fiscalização permitiu o consumo na área aberta, desde que não seja instalado o toldo. "Quando chover, vou ter de fechar o bar", lamentou o comerciante.

Conscientização
Para a estudante Beatriz Britto, de 26 anos,  o Brasil está dando um passo importante na conscientização dos malefícios do cigarro, mas ainda falta muito para que todos se sensibilizem quanto a essa questão.

"Achei a Lei Antifumo boa, com muita divulgação e incentivos, mas ainda há muita brecha para interpretações diferentes. Nós que não fumamos temos que suportar o cheiro horrível do cigarro ou nos retirarmos do local. Não está certo o não fumante precisar sair do local para o fumante continuar", conclui.

Livre arbítrio
Já o arquiteto Bruno Lins Amaral, mesmo não fumante, acha a decisão radical. "Eu acho que fere um pouco o livre arbítrio. Acredito que proibir   fumar em locais públicos,  frequentados por crianças, por exemplo, é legal. Porém, chegar ao ponto de forçar os estabelecimentos a proibir, acho demais. Achei a lei muito restritiva e abrangente", aponta.

Hábito mais intenso
Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad) e pela Universidade Federal de São Paulo revelou que  até 2012, 15,6% da população brasileira era composta por fumantes, totalizando 20 milhões de pessoas.
 
Embora a taxa seja 20% mais baixa do que a de seis anos, o estudo mostrou que o hábito se intensificou, pois se em 2006 fumava-se em média 12,9 cigarros por dia, em 2012 o número pulou para 14,1. Em contrapartida, 90% entrevistados alegaram estar dispostos a largar o vício, mas 67,8% consideram esta uma missão difícil.
 
Redução
 
Em abril deste ano, o Ministério da Saúde divulgou pesquisa que indica a redução de fumantes nos últimos oito anos. Dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostram que a parcela de brasileiros maiores de 18 anos que fuma caiu de 15,7%, em 2006, para 11,3%, em 2013.
 
A frequência maior de fumantes permanece entre os homens, com 14,4% contra 8,6% entre as mulheres. A frequência das pessoas que fumam 20 ou mais cigarros também caiu, passando de 4,6% em 2006 para 3,4% no ano passado.
 
Ajuda Digital
 
1. Embarcando na onda, diversos aplicativos para ajudar no difícil abandono do vício têm se tornado aliados dos dependentes. Entre eles está o Kwit, onde os ex-fumantes têm estatísticas como o tempo que já passou sem fumar, o dinheiro que poupou e o número de cigarros que não fu mou. Conforme os dias vão passando, os usuários vão subindo de nível até se tornar o Kwitter Final. Quando sentir vontade, os ex-fumantes podem agitar o celular para receber um cartão de motivação.
 
2. Outro aplicativo popular é o Brasil sem Cigarro, que, assim como o Kwit, faz as contas de quantos cigarros foram fumados, quanto se gastou com o item e quantas horas os usuários desperdiçaram fumando. Em seguida, pode-se escolher quando vai abandonar o vício e receber dicas diárias do médico Dráuzio Varella para se preparar para o grande dia e enfrentar as primeiras semanas sem a droga. Ali, os ex-fumantes poderão gravar vídeos de incentivos a parentes e amigos, e ainda, tem um espaço para desabafar sobre as dificuldades na luta contra a dependência da nicotina.
 
Saiba mais
 
Segundo dados do Ministério da Saúde, são mais de 50 doenças relacionadas ao consumo de cigarro. A pasta informa   que estatísticas revelam que os fumantes, comparados aos não fumantes, apresentam um risco dez vezes maior de adoecer de câncer de pulmão, cinco vezes maior de sofrer infarto, cinco vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar e duas vezes maior de sofrer derrame cerebral.
 
As pessoas passam 80% do seu tempo em ambientes fechados. Ao fim do dia, em um ambiente poluído, os não fumantes podem ter respirado o equivalente a dez cigarros.
 
 
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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