segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Beltrame merece o Oscar! Após denúncia de VEJA, secretário exonera coronel que ele próprio premiara com vaga em sua escolta pessoal, mesmo tendo sido avisado das mensagens nazistas que hoje o “horrorizam”. O horror vem só depois do vazamento, não é mesmo?

05/01/2015


Beltrame Fábio
Coronel Fábio e o secretário Beltrame em evento no Batalhão de Choque



O secretário de Segurança do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, anunciou na manhã desta segunda-feira (5) a exoneração do coronel Fábio Souza de Almeida, comandante do Batalhão de Choque, por conta da revelação feita por VEJA desta semana de que ele postava mensagens incitando a violência, algumas com teor nazista, num grupo de Whatsapp formado por vários oficiais.




Na mesma linha do “Eu não sabia de nada” lulopetista, a declaração que pode render o Oscar de Melhor Ator a Beltrame – embora jornal nenhum vá dizê-lo – é a seguinte:


“Quando fiquei sabendo, me certifiquei dentro do inquérito se essas mensagens existiam e o exonerei hoje pela manhã. Fiquei horrorizado. Sempre fizemos tudo com respeito. E se outra pessoa tivesse sabido disso, deveria ter tomado providências, como o procedimento disciplinar que será aberto agora.”



Outra pessoa? Por que não ele próprio? Em continuação à matéria da edição impressa, Veja.com noticiou no domingo (4) que, dias antes de afastar o então tenente-coronel Fábio do comando do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o então comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel José Luís Castro, comunicou a situação a Beltrame, que não contestou a medida e ainda fez um pedido: que o tenente-coronel assumisse a chefia de sua escolta pessoal.



“Quando tomei conhecimento do fato determinei a abertura de um procedimento apuratório e a substituição do coronel Fábio no Bope. Depois estive pessoalmente na sala do secretário de Segurança e informei o que tinha ocorrido. Ele só me pediu que o transferisse para a Secretaria de Segurança”, explicou Castro. A transferência de Fábio para a Secretaria de Segurança (Seseg) foi publicada no mesmo boletim interno (número 053) que anunciava sua saída do Bope, em 24 de março de 2014.


Pergunto:

1) Se o comandante-geral da PM vai ao gabinete do secretário dizer que vai exonerar o comandante do Bope - a tropa de elite, a unidade mais importante da polícia do Rio -, o secretário não pergunta direito o motivo?


2) Se o comandante diz que há conversas graves em grupos de whatsapp com outros oficiais, o secretário não pede para ver o conteúdo?


3) A única coisa que o secretário pede é que o tenente-coronel seja transferido para chefiar sua escolta pessoal?


4) Meses depois, alega que Fábio não é indiciado em nenhum Inquérito Policial Militar, como se isto o eximisse de ter tomado providências ao ser informado das mensagens?


5) É este o secretário blindado pelos grandes jornais do Rio de Janeiro, especialmente O Globo, que precisa fazer jus ao prêmio “Faz Diferença” que lhe concedera em 2010?


Em novembro, depois de oito meses fazendo a segurança pessoal de Beltrame, Fábio ainda foi reconduzido ao comando do Batalhão de Choque, exatamente após a mudança que apeou José Luís Castro do comando da PM para a chegada do coronel Alberto Pinheiro Neto.



Fábio – que, acredite, foi também promovido “por merecimento” ao posto de coronel, o mais alto da carreira – é um dos principais homens de confiança do novo comandante, que tomou posse oficialmente nesta segunda-feira.


Este blog apurou que Pinheiro Neto pretendia afastar Fábio para “preservá-lo”, mas, para seu desgosto já no primeiro dia de cargo, o agora “horrorizado” Beltrame se antecipou na posse dos secretários e ganhou as manchetes benevolentes de sempre no site dos jornais.



Assim como as ordens para a devida investigação, o horror vem só depois do vazamento, não é mesmo?


Hollywood que fique de olho neste senhor. Para um secretário de Segurança, Beltrame tem se saído um político e tanto.


Felipe Moura Brasil ⎯ http://www.veja.com/felipemourabrasil

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