quinta-feira, 13 de março de 2014

Vale a pena ler de novo:Operação Sentinela



FINANÇAS

 

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Nº edição: 379 | 08.DEZ.04 - 10:00 |

Corrupção e prisão no TCU

 

Time do primeiro escalão manobrava licitações, desviava e recebia propina 

 

 

Por Hugo Studart

Uma operação de guerra da Polícia Federal tomou de assalto o órgão encarregado de combater a corrupção dentro do governo, o Tribunal de Contas da União (TCU). 

Objetivo: caçar corruptos instalados nos mais altos escalões da sua burocracia. 

Às seis horas da manhã da quinta-feira 2, 80 agentes federais com metralhadoras e capuzes foram mobilizados para, em meia hora de buscas e apreensões, concluírem a chamada Operação Sentinela. 

Foram presos em suas casas quatro funcionários do alto escalão do TCU e seis empresários ligados a esquemas de fraudes em licitações. 

Na sede do tribunal foram apreendidos computadores e 30 caixas com documentos. 

O secretário-geral de Administração do TCU, Antonio José Ferreira Trindade, foi um dos primeiros a ser preso, acusado de interferir em compras na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

Ele ocupa o cargo há pelo menos uma década.

Os juízes do tribunal foram os últimos a saber da ação da polícia. Às 7h30, depois do furacão causado pela passagem dos agentes federais, o presidente do TCU, Valmir Campelo, convocou uma reunião com os demais seis ministros para avaliar os estragos. 

Essa reunião durou cinco horas e meia. “É lamentável”, limitou-se a dizer ao final. 

“Da mesma forma que investigamos os órgãos externos, faremos aqui dentro.” 

A surpresa ficou por conta da prisão do empresário Enio Brant, diretor-comercial da Confederal, empresa de prestação de serviços para diversos órgãos do governo nas áreas de segurança e limpeza. 

Ela tem como um dos sócios o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. 

Em nota oficial, o ministro informou estar afastado da Confederal desde 1998. 

Sua mulher, Mônica Andrade, é a responsável pelas finanças da empresa, assinando todos os seus cheques.

DINHEIRO teve acesso, com exclusividade, ao despacho do juiz Clovis Barbosa de Siqueira, da 10a Vara Federal, que determinou a ação policial. 

Ali fica claro quem é quem e como se dava o esquema. 

O chefe do grupo é Robério Bandeira de Negreiros, dono da Brasfort, empresa que presta serviços de segurança e conservação para a Aneel nos últimos cinco anos. 

Seu contato no TCU era o secretário-geral Trindade. Foi Trindade quem alterou o parecer submetido ao plenário do TCU para favorecer o colega, que ganhou as licitações de R$ 9,7 milhões. 

O despacho do juiz ainda mostra a participação de Leila Fonseca Vasconcelos, chefe do Controle Interno do tribunal. Ela também foi presa. Segundo o despacho, “os telefonemas demonstram grande intimidade entre os dois”. 

Outra figurona presa pela PF foi Vera Lucia de Pinho Borges, presidente da Comissão de Licitação do TCU. 

Pelo relato do juiz Siqueira, Vera teria falado algumas vezes com Negreiros sobre a concorrência. Pelo teor das conversas, “ela foi pressionada por Trindade para acatar as pretensões da Brasfort”. 

A empresa queria maquiar a licitação, apresentando um falso capital social de R$ 400 mil para impedir a participação da Juiz de Fora, sua concorrente no processo. 

O quarto servidor do TCU preso foi Fernando César Almeida. 

“Ele foi designado por Trindade para controlar as vistorias das empresas interessadas na licitação”, afirma o despacho. 

Almeida ainda teria “fornecido a Robério Negreiros todas as informações que lhe eram interessantes sobre as concorrentes”. 

O grupo de servidores do TCU teria levado R$ 100 mil pelo trabalho. O que se sabe até agora, porém, pode ser apenas a ponta de um iceberg de corrupção.

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