Ex-ministra sustenta ser possível
montar um governo sem corrupção, destaca o pouco dinheiro para a
campanha e ironiza declaração de Lula sobre eventual guinada do
ex-governador de Pernambuco à direita
Ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Eliana Calmon
deixou a magistratura no final de 2013 para se filiar ao PSB, partido
do presidenciável Eduardo Campos, e concorrer a uma vaga no Senado nas
eleições deste ano pela Bahia. Ela ganhou notoriedade quando se tornou a
primeira mulher a ingressar na corte, em 1999. Em 2011, no posto de
corregedora nacional de Justiça, apontou a existência de “bandidos de
toga” e, por isso, virou alvo de críticas de magistrados.
Calmon diz que “ética na política” não está sendo o mote de sua
campanha. Eleitora de Lula e Dilma Rousseff, ela argumenta que o PT já
usou “inclusão social” e “ética” como temas. “Foi nisso que eles
[petistas] se perderam”, afirmou a ex-ministra em entrevista ao Congresso em Foco,
antes do início da solenidade que selou a chapa do ex-governador de
Pernambuco Eduardo Campos e da ex-senadora Marina Silva à presidência da
República, na última segunda-feira (14).
“Eles [petistas] até conseguiram algumas vitórias na inclusão social.
Mas deixaram a desejar em relação à ética na política. Então, o meu
mote é o mesmo da campanha de Eduardo, que é ‘queremos mais’. Queremos
mais, mais inclusão social. E, para isso, temos de combater a corrupção,
o que requer princípios e ética”, disse Calmon. E arrematou: “A ideia é
não darmos continuidade ao caminho em que o PT se perdeu”.
Eliana Calmon afirmou que é, sim, possível construir um governo sem
corrupção. Segundo ela, a “nova política” prometida pela coligação
PSB-Rede-PPS-PPL começa nas eleições, com poucos recursos. Veja os
principais trechos da conversa com o site.
Congresso em Foco – Eduardo Campos e Marina Silva pregam uma
“nova política”. Qual a diferença entre a “nova política” e o que
consideram “velha política”?
Eliana Calmon – A nova política é
uma política onde nós temos efetivamente princípios e ética, onde vamos
fazer as políticas sociais sem troca de favores. A ideia é não darmos
continuidade ao caminho em que o PT se perdeu. Para sustentabilidade da
governança, em nome da governabilidade, eles foram cedendo às elites que
dominavam esse país e lamentavelmente não tiveram forças para recuar. E
lamentavelmente se perderam naquilo que sempre condenamos, a velha
política. Na nova política, vamos dar prosseguimento às políticas
públicas iniciadas pelo PT, mas sem as transações e concessões que foram
feitas, diz o PT, em nome da governabilidade.
No PSB, há políticos de perfil conservador, como o deputado
federal Paulo Bornhausen [ex-DEM e ex-PSD] e o ex-senador Heráclito
Fortes [ex-DEM]. Eles também fazem parte da “nova política”?
Eles têm de fazer parte. Se eles têm cabeça para assumir essa nova
política, eu não sei. Mas nós temos essa nova política como linha
mestra. E essa união de Marina com Eduardo fortaleceu exatamente essa
linha de nova política.
Por exemplo, vamos partir para uma eleição com
poucos recursos, com pouco dinheiro, usando o que a sociedade tem de
mais expressivo, que é exatamente a participação popular. Isso é uma
nova forma de fazer política. E Marina tem experiências bem-sucedidas
nessa nova política.
Na sua avaliação, o Brasil realmente está cansado da
polarização PT e PSDB. Como convencer o eleitorado de que há outra
alternativa?
O eleitorado está, sim, cansado da polarização. No momento em que
partirmos para mostrar os novos caminhos, acredito que o eleitorado
abraçará a causa, que é uma causa da cidadania.
As últimas pesquisas de intenção de voto apontaram estagnação
dos pré-candidatos à sucessão presidencial Aécio Neves (PSDB) e Eduardo
Campos. Qual a sua avaliação sobre isso?
Só a presidente Dilma faz política. Não podemos fazer até a
convenção. Marina e Eduardo aparecem de forma morna porque ainda não
podem fazer política. A presidente faz política há mais de um ano, está
com a máquina nas mãos. Todo dia está distribuindo políticas públicas,
benesses. Então, tudo isso favorece esse imobilismo. A população está
aguardando, não decidiu de que lado vai ficar.
Eduardo Campos guinou para a direita, como dito pelo ex-presidente Lula?
[Risos] Quem guinou para a direita? Eduardo Campos ou o PT? Quem está
com José Sarney? Quem está com Renan Calheiros? Quem está com toda essa
direita direitíssima que se abriga no PMDB? Eduardo Campos?
O PSB e a Rede Sustentabilidade [partido que Marina Silva
tentou criar] têm divergências em alguns estados para formação das
alianças. Como evitar que isso eventualmente atrapalhe a campanha
presidencial?
Não atrapalha. Estamos costurando isso em nível regional de tal forma
que permaneça a união em nível nacional e nós nos decidamos dentro da
regional.
Como a senhora, que veio do Judiciário, está avaliando as denúncias de irregularidades envolvendo a Petrobras?
Preocupadíssima com o destino da estatal. Parece que já sabemos o
suficiente para dizer o seguinte: é lamentável que a maior empresa
brasileira esteja quebrada.
Em recente entrevista, Eduardo Campos declarou que pretende montar um governo sem corruptos, sem corrupção. Isso é possível?
É sim. Essa é a nossa proposta, a partir da própria eleição, estamos
com poucos recursos, mas querendo fazer política com as forças vivas da
sociedade. Pouco dinheiro, mas com a força da sociedade. O PT já usou o
mote “inclusão social” e “ética”.
E foi exatamente nisso que eles
[petistas] se perderam. Eles até conseguiram algumas vitórias na
inclusão social. Mas deixaram a desejar em relação à ética na política.
Então, o meu mote é o mesmo da campanha de Eduardo, que é ‘queremos
mais’. Queremos mais, mais inclusão social. E, para isso, temos de
combater a corrupção, o que requer princípios e ética.
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