sexta-feira, 9 de maio de 2014

Major Olímpio defende Rachel Sheherazade: “Esta jornalista está dizendo a verdade: que o crime está dominando no país, nossas leis são defasadas, menor tem licença para matar, polícia está desaparelhada, policial virou alvo preferencial dos criminosos.”

Felipe Moura Brasil  VEJA



Transcrevo o discurso do deputado e pré-candidato ao governo paulista Major Olímpio (PDT-SP) em defesa da apresentadora Rachel Sheherazade, proferido pouco antes da confirmação de que o SBT decidiu proibir seus comentários pessoais no telejornal da noite (porque estamos em plena “democracia”, é claro)… Volto em seguida com Alexandre Garcia e a crise da Polícia Federal.

“Quando um PM morre, eu só ouço o silêncio. O silêncio do Estado, o silêncio do Ministério Público, o silêncio dos direitos humanos. Nenhuma palavra ecoa: nem de conforto, nem de indignação.”


Isto é uma fala da jornalista Rachel Sheherazade do SBT. E, antes de tudo, como cidadão, depois como policial e parlamentar, [quero dizer que] essa jornalista hoje vem expressando o que está calado, deputado Jooji Hato [PMDB], no coração da esmagadora maioria dos cidadãos de bem nesse país. Que são maioria! Sofrem pela ação dos maus, mas são de bem.


E ao que me consta, os meios de comunicação estão dizendo isso o tempo todo, o SBT está sendo ameaçado de perder verbas publicitárias federais se não tirar do ar, se não tirar do jornalismo a Rachel. E o que a Rachel tem dito não tem nada de apologia ao crime e ao criminoso, como chegaram a representar na Procuradoria da República. Fazer apologia e defesa de crime e de criminoso é tentar tapar o sol com a peneira com mensalão, com Petrobras, com metrô, com CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos de São Paulo]. Isso é fazer apologia e defesa do crime e do criminoso.


Pelo amor de Deus. Se nós tentarmos amordaçar a imprensa, que é uma característica em momentos onde se tem administração na ditadura… Supressão da palavra. Censura na expressão, “porque contraria a mim, que sou um agente no time dominante”… Vergonhoso!


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Em relação às forças de segurança nesse país, a Rachel Sheherazade se transformou naturalmente na madrinha dos policiais brasileiros. [Ver, por exemplo, o vídeo que contém a imagem ao lado, a partir de 2min22seg] Porque é uma jornalista que exerce a sua profissão e coloca o seu posicionamento e, lamentavelmente, matar policiais, como mataram dois nesse fim de semana… Um investigador de polícia na Praia Grande; e um policial militar aqui em São Paulo acabou morrendo, tinha sido baleado no Guarajá…


Então o que diz a Rachel… ser objeto de censura?


Eu vi uma matéria jornalística onde dizia que o empresário Silvio Santos [estava] dizendo: “Não vou ser suscetível a pressões.” Tomara Deus que não seja mesmo. Tomara Deus que preserve e prestigie esta jornalista, que está dizendo a verdade: que o crime está dominando no país todo, que as nossas leis são defasadas, que o menor tem licença para matar, que a polícia no Brasil está desaparelhada, que o policial virou alvo preferencial do crime e dos criminosos.


Captura de Tela 2014-04-15 às 14.52.49Que [é] que essa jornalista está dizendo que é contrário aos interesses da população? Nada! É contrário a interesses de elites dominantes.


Principalmente em ano eleitoral, vão tentar dizer que nós temos a legislação mais aperfeiçoada do mundo, vão tentar dizer que na questão de segurança resolvemos tudo, controlamos o tráfico e o contrabando nas fronteiras, aparelhamos a Polícia Federal, nos estados aparelhamos a Polícia Civil e a Polícia Militar, há uma satisfação plena, acabou a onda de criminalidade… 


Como ela não diz isso, ela não se presta a esses jabás, fica com a sua profissão e a sua integridade ameaçadas.


Eu quero dizer aqui com muita satisfação como brasileiro, como pai, como cidadão, e ainda como deputado nessa casa, da satisfação em cumprimentar essa jornalista por expressar o sentimento do povo brasileiro.

Voltei.

Quando o deputado Major Olímpio ironiza o discurso petista eleitoreiro de que “aparelhamos” as polícias, ele se refere a “aparelhar” não como “instrumentalizar politicamente”, como Romeu Tuma Jr. vem denunciando ter acontecido com boa parte da PF, mas como “melhorar os equipamentos”, o que obviamente não aconteceu. No Bom Dia Brasil de 11 de abril, Alexandre Garcia relacionou a taxa de homicídios com a falta de equipamentos das polícias:


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O Brasil não chega a ter 3% da população do planeta, mas tem 11% dos assassinatos. E se a gente dividir 52 mil assassinados por 365 dias, vamos ter a média de 143 mortos por dia. Campeões mundiais. Não há guerra hoje no mundo que produza isso.  


Só a capital de São Paulo teve 1.220 homicídios no ano passado. Isso equivale a três vezes o total do ano passado da França e o dobro da Espanha e da Itália. Isso só para citar países de língua latina. Isso é assustador, mas o pior de tudo é que parece que nós nos acostumamos com esse absurdo.


 Parece que as nossas vidas não têm valor. E uma das causas dessa barbaridade é a impunidade. E uma das causas da impunidade é a investigação policial ainda com métodos antiquados e carentes de meios científicos para produzir provas. Aí sobram o testemunho, que pode ser subjetivo, falho, e o flagrante. 



O resultado é uma inversão em relação aos resultados europeus. Lá, 81% dos homicídios são resolvidos. Aqui, mais de 90% permanecem insolúveis. Quer dizer: quem pretende matar intencionalmente ou de acordo com as circunstâncias sabe que tem 9 chances em 10 de não enfrentar o Código Penal, nem ir para a cadeia.


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“Elefante” mostra a raiz da impunidade

No último fim de semana, escrivães, papiloscopistas e agentes (conhecidos internamente como EPA) da Polícia Federal realizaram manifestações em todo o país exigindo “Segurança Pública Padrão FIFA”, com um elefante branco inflável como mascote.


Os órgãos que os representam são os mesmos que homenagearam Rachel Sheherazade em março: o Sindipol-DF (Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal) e a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), além do SSDPF/RJ (Sindicato dos Servidores do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro). Os problemas apontados são:


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Manifestantes homenageiam Sheherazade em Goiânia.

“Diminuição dos investimentos na instituição; perda do poder investigatório, com pesquisas revelando que 75% dos policiais já presenciaram interferências políticas nas investigações; o não reconhecimento das funções complexas de inteligência que exercem há décadas; baixa anual de efetivo (só no ano passado, 230 PFs deixaram a instituição); congelamento de salários há sete anos; falta de valorização das atividades; insatisfação total, com pesquisa nacional constatando que 86,53% dos policiais se sentem infelizes, e 90,76% subaproveitados quanto às suas funções; situação de verdadeiro apagão, o que tem gerado doenças psíquicas em, pelo menos, 30% do efetivo, e altos índices de suicídios“.


PT cala PF

Que interesse o governo Dilma tem em melhorar este cenário de caos e sordidez? Nenhum. Em primeiro lugar, porque uma população amedrontada pela criminalidade vira refém do Estado. Em segundo, porque quem investiga os crimes dos políticos é justamente a PF…


E que interesse as milícias censoras do PCdoB, do PSOL e do PT e dos autoritários e idiotas úteis de sempre têm em permitir que uma apresentadora como Rachel Sheherazade permaneça no ar, na TV aberta, denunciando todo este cenário? Nenhum, é claro. (Daqui a pouco eu cuido de um certo diretor de jornalismo também.)


“Vivemos no país da censura velada”, disse um dos manifestantes no último domingo em Goiânia, como se vê abaixo em vídeo exclusivo deste blog.
Mas esse tempo já passou. A censura está cada vez mais escancarada.


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