quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Por conluio com madeireiras, três servidores do Ibama são presos


Por Daniele Bragança
Foto: Sam Beebe/Flickr.
Foto: Sam Beebe/Flickr.

Três servidores do Ibama foram presos nesta terça-feira (31), no Pará, acusados de receberem propinas de madeireiros que deveriam fiscalizar.  A operação, batizada de Concisor, que significa cortar o mal, contou com o apoio do próprio Ibama.

Segundo a Polícia Federal, os servidores acusados repassavam informações privilegiadas de operações de fiscalização em troca de propina. A operação ocorreu nas cidades de Marabá, Parauapebas, Breu Branco, Canaã dos Carajás e Eldorado dos Carajás.

Foram 15 mandados judiciais cumpridos, sendo quatro mandados de prisão, cinco mandados de busca e apreensão e seis de conduções coercitivas, bem como ordens judiciais de afastamento de servidores da função pública. Participaram da ação cerca de 60 policiais federais.

Os investigados vão responder por corrupção passiva, ativa e concussão. Se condenados, podem pegar penas de prisão de até oito anos de reclusão, além de multa.  Em nota, o Ibama informou que todos os servidores acusados "serão submetidos a Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na Corregedoria do Instituto".

Segundo o jornalista Matheus Leitão, que tem um blog no G1, a PF gravou uma conversa por telefone entre um servidor do Ibama e um madeireiro, que o avisa do começo de uma operação “vinda de fora”. No áudio, o servidor pede 200 reais ao madeireiro.

2020 é última chance de salvar o clima, diz ONU

2020 é última chance de salvar o clima, diz ONU

Por Claudio Angelo, do Observatório do Clima
Derretimento das geleiras na Islândia: Foto: Creative Commons
Derretimento das geleiras na Islândia: Foto: Creative Commons.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente publicou nesta terça-feira (31) seu relatório anual sobre o tamanho da dívida climática da humanidade. A boa notícia é que, aplicando tecnologias já existentes hoje, o mundo conseguiria chegar a 2030 com grande folga dentro da meta de estabilizar o aquecimento global em menos de 2oC, como recomenda o Acordo de Paris. A má notícia é que um plano global para aplicar essas tecnologias em larga escala precisa começar a ser executado daqui a dois anos – e até agora não há o menor sinal de que isso esteja no horizonte.

O relatório, chamado Emissions Gap Report, se destina a medir o tamanho do buraco (“gap”, em inglês) existente entre a ambição das metas climáticas colocadas na mesa pelos países e a trajetória de emissões necessária para evitar que a temperatura da Terra atinja níveis catastróficos neste século.

Há oito anos ele é publicado sempre às vésperas das conferências do clima da ONU, que acontecem entre novembro e dezembro. E há oito anos a mensagem é a mesma: o buraco é imenso e, se todos não começarem a correr, não será possível fechá-lo.

A edição de 2017 mostra que, para ter uma chance maior do que 66% de manter o aquecimento em menos de 2oC sem arrebentar a economia global, a humanidade precisa chegar a 2030 emitindo no máximo 42 bilhões de toneladas de gás carbônico (CO2) e outros gases de efeito estufa. Em 2016 nós emitimos 51,9 bilhões, o que nos deixa um “buraco” de, no mínimo, 11 bilhões de toneladas de CO2 equivalente em 2030. E isso se todas as metas nacionais (NDCs) do Acordo de Paris forem cumpridas com régua e compasso. Não parece ser o caso, dado, por exemplo, que os EUA estão dando para trás no seu compromisso.

Para ter mais de 50% de chance de estabilizar o clima em 1,5oC, o “centro da meta” do Acordo de Paris – temperatura acima da qual as geleiras polares poderiam entrar em colapso rápido, condenando as nações insulares ao afogamento –, o nível de emissão necessário em 2030 é menor: 36 bilhões de toneladas. O buraco, portanto, é de pelo menos 16 bilhões.

Para dar ideia do que isso significa, reduzir 11 bilhões de toneladas de CO2 para ficar nos 2oC equivaleria a zerar emissões de “dois EUA” em 12 anos. Tentar cumprir a meta de 1,5oC equivaleria a zerar emissões de uma China e um Brasil. A atual trajetória de emissões põe a Terra no rumo de um aquecimento de 3,2oC no fim deste século, segundo o Pnuma.

“Já em 2016, os primeiros artigos científicos apontavam que com os compromissos das NDCs ainda ficaríamos em torno de 3oC. Ainda é preciso considerar que muitas propostas, como a brasileira, não têm ainda detalhamento que assegure que o está lá efetivamente poderá ser alcançado”, disse ao OC a ecóloga Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília, coautora do relatório. “Ou seja, já partimos devendo e sem muita certeza de que os países irão entregar o que está nas NDCs.”

A única solução, segundo o relatório, é partir para um aumento imediato da ambição das NDCs – já em 2020, quando as metas começam a rodar. O Acordo de Paris prevê esse aumento, mas a negociação internacional é famosa por ter um grau de pressa bem menor que o da atmosfera. A primeira conversa sobre o assunto, o chamado “diálogo facilitativo”, está prevista para o ano que vem. E uma revisão das NDCs só está programada para ocorrer a partir de 2023. Vários países, como China e União Europeia, têm suas metas iniciais (fracas) para 2030, quando em tese a humanidade já reveria ter fechado o buraco de emissões. A matemática da atmosfera é, portanto, clara: ou bem se aumenta a ambição coletiva antes do prazo oficial, ou bem tostamos o planeta.

“Perder a opção de revisar as NDCs em 2020 tornaria praticamente impossível fechar o buraco de emissões”, afirmou o Pnuma.

Ferramentas técnicas para isso existem. Pela primeira vez, o relatório do Pnuma trouxe um cardápio de tecnologias que poderiam ser aplicadas a custos baixos (ou negativos) para reduzir emissões. Apenas seis delas – energia eólica, solar, eficiência energética, carros de passeio eficientes, reflorestamento e fim do desmatamento – seriam capazes de reduzir de 15 bilhões a 22 bilhões de toneladas de CO2 equivalente até 2030. É mais do que o mundo precisa para fechar o “gap”.

O problema é que entre saber o que precisa ser feito e fazê-lo há um fosso mais difícil de transpor do que o de emissões de carbono. Alguns países desenvolvidos, como os da UE, vêm pressionando pelo aumento da ambição coletiva para 2020. No entanto, emergentes como o Brasil insistem, não sem razão, em que não há conversa sobre ambição de corte de emissões sem uma conversa simultânea sobre ambição do financiamento climático.

E no topo de um diálogo que já não era simples de equilibrar sentou-se um elefante: o Partido Republicano dos EUA com Donald Trump. O presidente americano cortou os aportes de seu país ao Fundo Verde do Clima e prometeu tirar os EUA do Acordo de Paris, ampliando a percepção no mundo em desenvolvimento de que alguém chegou ao banquete antes, comeu toda a lagosta e agora quer empurrar a conta.
A 23a Conferência do Clima da ONU, que começa na próxima segunda-feira (6) em Bonn, na Alemanha, será um termômetro do impacto da retirada dos EUA sobre a confiança internacional. Diplomatas esperam que Fiji, anfitriã da conferência, apresente um plano para o diálogo facilitativo de 2018. Será um teste para a determinação do mundo em acertar as contas com a atmosfera.

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Alimentos apresentam agrotóxicos acima do permitido em SP e DF

Alimentos apresentam agrotóxicos acima do permitido em SP e DF

Por Daniele Bragança
Banana prata foi um dos alimentos testados a pedido do Greenpeace. Foto: Wikipédia.
Banana prata foi um dos alimentos testados a pedido do Greenpeace. Foto: Wikipédia.


O Greenpeace foi nos maiores centros de comercialização de legumes e verduras da cidade de São Paulo e de Brasília para avaliar como anda a alimentação do brasileiro. A análise, feito pelo Laboratório de Resíduos de Pesticidas do Instituto Biológico de São Paulo, mostrou o que qualquer um que acompanha os testes feitos pela Anvisa já sabem: as verduras e frutas na mesa do brasileiro contêm resíduos de agrotóxicos acima do limite máximo permitido e uso de pesticidas vetados pela legislação.

Foram analisadas 50 amostras de mamão formosa, tomate, couve, pimentão-verde, laranja-pera, banana-prata, banana-nanica, café, arroz integral, arroz branco, feijão preto e feijão carioca. Desse total, 60% continham resíduos de agrotóxicos e 36% apresentaram algum tipo de irregularidade, como agrotóxicos banidos do país, proibidos para a cultura específica ou acima do Limite Máximo de Resíduos permitido (LMR).

Das 23 substâncias diferentes encontradas, 10 estão proibidas em pelo menos uma dessas quatro regiões: Austrália, Canadá, Estados Unidos e Europa.

A avaliação faz parte de um dossiê lançado nesta terça-feira (31) pela ONG chamado “ Segura este abacaxi”, que traz uma análise da agricultura brasileira. Segundo a ONG, um modelo de agricultura baseado em agroecologia “pode aumentar a produtividade agrícola e a segurança alimentar; melhorar a renda de agricultores familiares; e conter e inverter a tendência de perda de biodiversidade e outros impactos gerados pela agricultura industrial”.