Charge de Aroeira (reprodução de O Dia)
Vittorio Medioli
O Tempo
Joaquim Levy herdou uma situação complicada do seu antecessor, Guido
Mantega, no fim de 2014, e devolve agora a Nelson Barbosa uma escabrosa.
Deixa para trás um milhão e meio de desempregados, fechamento de
milhares de indústrias, mercados em pânico, redução da arrecadação
pública, apesar de estrondosos índices de alíquotas de impostos.
A
inflação, com ele, passou de 6% para 10%, o dólar subiu de R$ 2,30 para
R$ 4. O PIB, de um crescimento de 0,1% para uma queda de 2,7%.
Um
conjunto de negatividades imperdoavelmente grave para uma economia
afortunada por natureza. Ainda larga um Brasil rebaixado, num patamar
ocupado por republiquetas de risco.
Investir no Brasil, que era moda,
passou a ser atividade especulativa com razoável possibilidade de levar
calote.
Levy se queixa, agora, como ao longo de sua gestão, da falta de
aprovação do ajuste fiscal. Mas muitas das medidas que pediu foram
aprovadas, embora piorassem a situação. Jogou a culpa no Congresso, mas o
que dependia dele (cortar despesas) não o fez. Faltou-lhe a CPMF, que é
o tipo de imposto mais perverso e insustentável de confisco.
Nem a
capacidade de formular algo mais tragável e politicamente correto – não
cumulativo para as atividades produtivas – foi capaz de inventar. Sobre a
CPMF, que é retida pelos bancos, sempre existiu a sombra de altas
apropriações indevidas dos bancos que nunca ninguém conseguiu
investigar.
Levy usou a CPMF como um aríete na parede do Congresso. Quebrou seu
chifre. Demonstrou falta de sensibilidade política, fixou-se no que
havia de pior e encareceria produtos básicos de consumo popular. A culpa
é dele, insistir em teses ultrapassadas e insustentáveis.
SEM SABEDORIA
Na altura galáctica de seu cargo, evidentemente, se exigem habilidade
e conhecimento, mesmo que falte sabedoria. Ele mostrou incapacidade de
pilotar em curvas, de usar acelerador e freio no momento certo e o
volante na medida precisa. Distribuiu, ainda, carga nos pontos que de
mais alívio precisam. Levy capotou por imperícia dele, insistindo no
modo errado de alcançar o equilíbrio entre receitas e despesas. Deixou
ainda menos competitivos os setores primários, aqueles que sustentam a
economia, e permitiu lucros exorbitantes aos setores financeiros e
especulativos.
Faz lembrar Zélia Cardoso, a ministra do confisco de Collor. Levy
enxerga curvas e retas, subidas e descidas, reclama do freio e do
acelerador que não sabe usar. Fosse piloto de corrida, não conseguiria
sair do boxe. Steve Jobs não era um técnico de informática, mas montou a
Apple. Churchill não era general, mas acabou fazendo da Inglaterra um
país vitorioso. FHC não era economista, e conseguiu o Plano Real.
Técnicos têm importância no boxe, não na pista onde se disputa.
Embora Levy, ao se despedir do ministério, tenha dito que o futuro
mostrará suas bondades, o presente deixa números consideravelmente
negativos e um clima de desarranjos terríveis.
Com a faca e o queijo nas
mãos, não soube agradar a ninguém, à exceção do sistema bancário, que o
emprestou ao governo. Os bancos, que no meio da devastação econômica de
2015 registraram seus melhores balanços, o acolheram de volta como
herói.
O Estado, os setores produtivos, a população em geral e os
trabalhadores foram destroçados. Registrou-se uma transferência de
saldos dos setores produtivos para o setor bancário.
COMO EXPLICAR?
Os investimentos que afluíam ao país entraram em rota de fuga. As
atividades principais das empresas produtivas passaram a ser o
fechamento de vagas, o corte de investimentos, o enxugamento e, quando
não é suficiente para a sobrevida, o fechamento das portas.
A presidente Dilma, mais em consideração aos escândalos que assolam
seu governo, se encontra em apuros pelo descontentamento da classe média
e da população castigada ao mesmo tempo pelos aumentos de tarifas que
dependem do controle do governo, pelo desemprego galopante, pela
inflação medonha, pela corrosão das rendas familiares.
Nas ações de Levy não se enxergou uma medida para cortar privilégios de categorias encasteladas que sangram o Estado.
Raras as citações ao castigo decretado, pela sua política econômica,
aos jovens e às famílias. Essa falta de consideração não é
doutrinariamente “liberalismo”, mas a velha conspiração que quebra o
Estado e o faz refém de dívidas impagáveis. Bom para os bancos, ruim
para o resto.
ESTÍMULO À INDÚSTRIA?
Dilma, ao lado de Nelson Barbosa, deverá anunciar um pacote de
medidas de estímulo à produção industrial, especialmente o plano de
substituição de veículos poluidores por outros mais econômicos,
atendendo o compromisso de diminuição de emissões de CO2 da COP21. Será
um impulso à recuperação da atividade industrial, do emprego e de uma
arrecadação saudável.
Também deverá ser anunciada a polêmica repatriação de capitais
mantidos clandestinamente por brasileiros no exterior. Interessante
seria que esses capitais, além de pagarem impostos atrasados, voltassem
sob a condição de investimentos ambientalmente corretos, promovendo a
conversão de energias fósseis para renováveis. O Brasil poderia ficar
mais acolhedor.
Para o nosso país ainda é imprescindível aumentar as atividades
econômicas, criar oportunidades de trabalho, conseguir, assim,
virtuosamente, reequilibrar as contas públicas e a solidez do Estado.
Aproveito a data para desejar aos meus leitores um feliz Natal. Que a
esperança ilumine sempre nossos corações e alimente nossas vidas.