Publicado em agosto 10, 2015 por
Redação
“Para a definição de uma política sustentável, a agenda
climática é um dos componentes, mas é preciso ter vontade política e
compromissos de longo prazo; é algo que escapa um pouco da ciência
climática”, afirma o meteorologista.
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Foto: estadão.com.br |
Se os participantes da
Conferência das Partes – COP-21, que acontece no mês de dezembro em
Paris, conseguirem preparar as bases para um novo protocolo, que substituirá o
Protocolo de Kyoto, a COP poderá ser considerada um “sucesso”, diz
José Marengo à
IHU On-Line.
Apesar de reconhecer os avanços das Conferências do Clima, seja para
discutir as questões climáticas, seja para estimar metas de redução de
gás carbônico,
Marengo é categórico: “Não sei se os membros irão assinar ou não um novo acordo, duvido”. Entretanto, lembra que “o
Protocolo de Kyoto foi criado dentro de uma COP, mas foi
assinado depois, em outro evento, na cidade de
Kyoto”.
As
metas brasileiras para a COP-21, frisa, deveriam levar em conta alguns setores estratégicos, como o de energia, adaptando a
matriz energética
para absorver mais fontes renováveis. “O Brasil, agora, já se comporta
como país desenvolvido, e a maior poluição já não vem da queima de
biomassa, mas sim do uso de
combustíveis fósseis de desenvolvimento, ou seja, o
Brasil
também tem que adaptar sua matriz de energia e ter uma combinação de
combustíveis fósseis — porque é praticamente impossível eliminar
combustíveis fósseis — com biodiesel, energia solar, fotovoltaica,
eólica, portanto,
energias renováveis. No caso da
energia elétrica, por exemplo, a matriz é limpa, mas o problema é que
quando falta água passam a funcionar as termoelétricas, que consomem
muito carvão”, pondera.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone,
Marengo também comenta as principais previsões dos possíveisimpactos que as
mudanças climáticas
poderão causar tanto no Brasil quanto na América do Sul e na América
Central. “Na América Central tem um agravante, que são os furacões,
porque toda a América Central é afetada pelos dois lados – Pacífico e
Atlântico – por furacões. Em um planeta mais quente, os modelos mostram
que haveria menos furacões no futuro, porém muito intensos, e esses
países não estão
preparados para resistir aos impactos
de um furacão de categoria cinco, por exemplo. (…) Essas são áreas que
não estão preparadas e que estão muito expostas e vulneráveis, e se não
conseguirem
reduzir essa vulnerabilidade com adaptação, poderão ser facilmente afetadas”, explica.
José Marengo possui graduação em Física e
Meteorologia, é mestre em Engenharia de Recursos de Água e Terra, pela
Universidad Nacional Agraria, no Peru, e doutor em Meteorologia pela
University of Wisconsin nos EUA. Fez pós-doutorado em modelagem
climática na NASA-GISS e Columbia University em Nova York e na Florida
State University na Florida, EUA.
Foi coordenador científico da previsão climática do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. Atualmente é pesquisador titular
e Chefe de Pesquisa no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais – CEMADEN ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação MCTI, onde trabalha com eventos extremos e desastres
naturais. É professor na pós-graduação do INPE e é membro de vários
painéis internacionais das Nações Unidas. Também é membro de grupos de
trabalho no Brasil e no exterior sobre mudanças de clima e mudanças
globais.
Confira a entrevista.
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Foto: ecodesenvolvimento.org |
IHU On-Line – Como devemos entender o conceito de mudanças
climáticas? Trata-se somente de um processo de aquecimento do planeta ou
inclui outros fenômenos?
José Marengo – Na verdade, na meteorologia usamos dois termos. O primeiro é
variabilidade climática, ou seja, no verão é quente e no inverno é frio, hoje é quente e amanhã entra uma frente fria, ou o fenômeno do
El Niño
e todos aqueles fenômenos que nós observamos em dias, horas e anos, que
são o que chamamos de variabilidade climática.
Obviamente esses eventos
da variabilidade terminam e nós voltamos ao que chamamos de
normalidade. Já o termo
mudança é usado para um tipo de comportamento que caminha em uma direção por longo prazo, ou seja,
gradativamente a temperatura aumenta em todo o mundo, e isso tem impactos nas chuvas, na temperatura e na precipitação, tendo também consequências na população.
Atualmente temos um processo de
aquecimento global que está gerando uma mudança climática. Claro que mudança climática, no contexto do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC,
é uma escala que corresponde à vida dos seres humanos num contexto de
200, 300 anos. No passado já aconteceu esse tipo de fenômeno, por
exemplo, no período geológico, que chamamos de
Holoceno, quando há 11 mil anos o eixo da Terra mudou e, como consequência, tivemos uma mudança climática, grandes áreas da
América do Sul, que agora estão mais quentes, passaram a ser muito frias.
Naquela época essa mudança foi um processo natural, não teve
interferência humana, através do desmatamento ou do uso de combustíveis
fósseis, mas essa foi também considerada uma
mudança climática.
Do mesmo modo, quando um meteoro impactou a Terra na península de
Iucatã e esse impacto produziu fogos e queimadas em todo o mundo, essa
camada de fumaça bloqueou a radiação solar e permitiu que a terra
entrasse na
Era do Gelo; isso também gerou uma mudança climática.
Essa mudança climática é algo de
longo prazo,
que dura, em alguns casos, centenas de milhares de anos e que pode ter
uma causa natural. Então, são duas coisas diferentes: não
necessariamente toda mudança climática é aquecimento; já houve períodos
de resfriamento também.
IHU On-Line – Além da intervenção humana, há outros fenômenos climáticos que contribuem para esse processo de aquecimento?
José Marengo – O que nós podemos dizer é que o
aquecimento global é um processo natural.
É claro que com milhares de anos, você não percebe naturalmente de um
ano para o outro se o planeta esquentou ou não. Além de ser um processo
natural, estamos em uma era interglacial, ou seja, de interglaciações,
relativamente mais quente. Na escala geológica, 200, 300 anos não são
nada se comparados com milhões de anos. Então, uma das coisas que se
observa nos últimos 150 anos, mais ou menos, é que além deste processo
natural, existe uma interferência humana, geralmente na forma de
emissões de gases de efeito estufa – GEE,
e associadas à queima de combustíveis fósseis.
Portanto, é como se o
homem estivesse contribuindo mais para um processo natural que já está
acontecendo. Ou seja, podemos dizer que a causa da mudança climática é a
combinação de fatores naturais com fatores antropogênicos, só que fica muito difícil dizer, em porcentagem, qual é mais importante.
O que o
IPCC demonstra, com técnicas estatísticas, é
que o efeito humano não pode ser desconsiderado, não pode ser ignorado;
ele é importante e significativo. Mas o
IPCC não diz
que 100% do aquecimento advém da atividade humana. Esse é um ponto, por
exemplo, que os geólogos questionam, porque o ser humano não esquenta o
planeta, o ser humano ajuda em um processo natural que leva a um
maior aquecimento do planeta. Mas o ser humano, sozinho, não esquenta o planeta.
IHU On-Line – Quais medidas podem ser adotadas para conter as mudanças climáticas? Elas podem conter esse quadro?
José Marengo – Essa é um pouco a ideia, pois quando o
processo é natural e gradativo, demora muitos anos para sentirmos os
seus efeitos. Então, a ideia é um pouco “manter a naturalidade” do
processo natural e tentar
reduzir a interferência. Como
reduzir a interferência? Primeiro, por um lado, atacar a fonte, que são
os combustíveis fósseis. Para isso é necessário reduzir as emissões de
gás carbônico, como alguns países estão propondo. Mas, por outro lado,
existe muito dióxido de carbono na atmosfera, que está aí e que está
esquentando, com o qual ainda temos de fazer alguma coisa.
As florestas, geralmente a vegetação em geral, funcionam como
sumidouros de carbono através do processo de fotossíntese, ou seja, absorvem carbono. Por isso, aquelas ideias de
reduzir o desmatamento,
aumentar as florestas através de um programa mundial de
reflorestamento, são alternativas para poder reduzir os problemas
humanos.
Ou aquelas soluções de bioengenharia de pegar todo o CO² e
injetar no fundo do planeta para poder deixar a atmosfera mais limpa.
Essas são formas que nós humanos estamos adotando para tentar reduzir a
nossa culpa,
limpando a atmosfera e deixando o aquecimento, que obviamente vai continuar, nos menores índices possíveis.
Com aquecimento, por exemplo, de
2ºC ou menos, é possível a
adaptação,
e os impactos nos ecossistemas poderão ser muito menores. Mas com um
aquecimento muito grande, ainda que o ser humano possa se adaptar com
diferentes tecnologias — ar-condicionado, energias alternativas —, os
ecossistemas naturais não têm essa facilidade de adaptação e poderemos perder muita biodiversidade.
“No Brasil, este inverno, com certeza, será um dos mais quentes a nível mundial”
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IHU On-Line – Como o senhor avalia, por outro lado, estudos
de alguns pesquisadores que afirmam que o mundo entrará num processo de
esfriamento daqui a 30 anos? Como esse tipo de estudo se relaciona com
os do IPPC na discussão sobre mudanças climáticas?
José Marengo – O resfriamento é considerado no
contexto de mudanças climáticas. Mas se observamos as séries de
temperatura, quando falamos em aquecimento gradativo, é possível ver uma
tendência de aquecimento. Houve, entretanto, hiatos de
resfriamento observados durante cinco anos, e todo mundo achou que o
aquecimento havia acabado e tínhamos entrado em uma era fria, mas isso
não se cumpriu. Nós estamos, novamente, na tendência de aquecimento.
No
Brasil, este inverno, com certeza, será um dos mais quentes a nível mundial. Os seis primeiros meses de 2015 aparecem como os
mais quentes do registro histórico.
Acredito que é pouco provável que esta tendência se reverta e que
dentro dos próximos 20 ou 30 anos tenhamos um resfriamento. O
resfriamento pode acontecer na nossa escala geológica, no futuro, daqui a
milhares de anos, quando o
Planeta Terra passar por uma nova mudança geológica.
IHU On-Line – Como estão os estudos sobre os impactos das
mudanças climáticas na flora e na fauna da Amazônia? Já é possível
vislumbrar se há impactos decorrentes das mudanças climáticas na região
ou prever possíveis impactos?
José Marengo – Os modelos preveem os
possíveis impactos.
Um modelo é uma representação matemática da realidade e nem sempre é
algo que acontecerá, mas é algo que pode acontecer. Por exemplo, os
primeiros estudos feitos entre pesquisadores ingleses e brasileiros, a
partir do ano 2000, mostravam que o aumento de temperatura acima de
3,5ºC ou 4ºC e um aumento na concentração de CO² poderia gerar um
colapso da floresta Amazônica.
Atualmente, a
floresta Amazônica
funciona como um sumidouro de carbono, ou seja, absorve carbono.
Contudo, imagine que vamos a uma festa e começamos a comer sem parar,
mas de repente não é possível comer mais e começamos a vomitar. Na
floresta seria assim, ou seja, ela absorve CO², mas chega a um
limite de saturação
e depois começa a emitir CO². Nesse momento, quando se passa de um
sumidouro para uma fonte, acontece o que os modelos chamam de um
colapso da floresta Amazônica.
Ou seja, o que é uma floresta pode passar a ser outro tipo de
vegetação, uma floresta secundária ou algum tipo de Savana, o que alguns
chamam de um
processo de “savanização” da Amazônia; isso é algo que fisicamente pode acontecer.
No entanto, não temos muitas evidências de que isto, por exemplo, já está acontecendo na
Amazônia;
muitos estudos não mostram isso. As chuvas, por exemplo, não estão
diminuindo significativamente na Amazônia; é possível ver que temos
extremos e enchentes,
então, por enquanto, não há indicadores de que a floresta está ficando
mais seca.
Tivemos anos de seca, obviamente, como 2005 e 2010, com
muitas queimadas, mas depois de uma seca veio uma enchente, então meio
que equilibrou. Mas esta possibilidade pode existir, ainda que o grau de
incerteza seja muito alto.
IHU On-Line – Que dados permitem estimar que a Amazônia poderia virar Savana em 35 anos?
José Marengo – Trata-se de uma estimativa possível, mas não é um fato comprovado. O
relatório do IPCC mostrou que o nível do mar, no futuro, pode chegar a 60 centímetros, mas se a
Groenlândia
derreter totalmente, o nível do mar pode chegar a subir metros em
algumas áreas e poderá acabar com toda a fauna costeira de água doce no
Brasil.
Nesse caso, a
Groenlândia desapareceria. O mesmo caso aconteceria na
Amazônia: se a Amazônia virasse um Cerrado, haveria um
colapso em toda a fauna e flora,
porque a temperatura seria maior, áreas de água doce seriam invadidas
por água salgada, espécies animais poderiam migrar para outras áreas e
outras espécies poderiam entrar na
Amazônia, a vegetação entraria em colapso e seria substituída por outro tipo de vegetação. Tudo isso é como uma reação em cadeia.
Nós estamos assumindo esse tipo de cenário possível de, por exemplo, daqui a 35 anos a
Amazônia virar uma Savana
ou a floresta colapsar. Mas, como todo o tipo de projeção tem certas
condições que são assumidas, novamente, todos esses são possíveis
cenários, porém não significa que isso é o que acontecerá com certeza.
IHU On-Line – E o que poderia acontecer com o Cerrado, que hoje é um bioma que está sendo bastante degradado?
José Marengo – O Cerrado
correspondente a uma área onde os modelos não funcionam bem e têm certo
grau de dificuldade. Onde os modelos funcionam melhor é no Sul, Norte e
Nordeste do Brasil. Mas o que se mostra para o futuro é que, assumindo
que teremos uma temperatura maior e reduções na precipitação, de fato
isso pode dar lugar a um ar mais seco, a um aumento na frequência de
queimadas, ou seja, o ecossistema seria muito impactado negativamente.
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“É pouco provável que esta tendência se reverta e que dentro dos próximos 20 ou 30 anos tenhamos um resfriamento”
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IHU On-Line – Os pesquisadores de clima sempre alertam para o
fato de que os países mais pobres serão os mais impactados pelas
mudanças climáticas. O senhor pode nos falar sobre impactos e possíveis
impactos tanto na América do Sul quanto na América Central?
José Marengo – Normalmente se fala isso porque os
países pobres são aqueles que estão mais expostos e vulneráveis. O
primeiro caso que vemos é o do Nordeste, que é relativamente mais pobre e
exposto, e tem histórico de secas — temos atualmente uma seca e
provavelmente essa seria uma das primeiras regiões mais impactadas.
Nesse sentido, a seca aumentaria, a migração do pessoal do Nordeste para outras áreas aumentaria, gerando um problema social, a
Caatinga
poderia ser afetada em algumas áreas, porque hoje o clima ali é
semiárido — chove apenas metade do ano —, mas poderia passar a ser um
clima árido, e com isso o bioma entraria em um processo de
desertificação.
A
Amazônia é mais ou menos similar: os ecossistemas
seriam afetados e a população ribeirinha também. Mas, talvez, os
impactos poderiam ser maiores em áreas que não são tão pobres, como São
Paulo, Rio de Janeiro, Sudeste em geral e Sul, onde nós já temos uma
mostra do que pode acontecer — veja a seca do Sudeste e os extremos de
chuvas intensas e tornados que acontecem na região Sul. Nessas áreas o
clima pode virar
mais extremo.
Na
América Central tem um agravante, que são os
furacões, porque toda a América Central é afetada pelos dois lados —
Pacífico e Atlântico — por furacões. Em um planeta mais quente, os
modelos mostram que haveria menos furacões no futuro, porém
muito intensos,
e esses países não estão preparados para resistir aos impactos de um
furacão de categoria cinco, por exemplo. Agora, Estados Unidos também
não, é só lembrar do
Katrina, que matou mais de mil pessoas em
New Orleans.
Mas o furacão
Andrew, se não me engano, matou 10 mil pessoas em
Honduras,
consequência das enxurradas e deslizamento de terras. Então, essas são
áreas que não estão preparadas e que estão muito expostas e vulneráveis,
e se não conseguirem
reduzir essa vulnerabilidade com adaptação,
poderão ser facilmente afetadas. Contudo, para adaptação precisa
dinheiro e, por conta disso, os países mais pobres serão os mais
afetados e impactados, porque eles não têm dinheiro para a adaptação.
IHU On-Line – O senhor tem falado sobre a necessidade de os
governos definirem novos cortes de emissões de gases de efeito estufa.
No que se refere ao Brasil, que tipos de cortes poderiam ser feitos, em
quais setores, e que metas o Brasil deveria assumir para a COP-21,
considerando que o país ainda não divulgou quais serão suas metas?
José Marengo – Como você falou, não sei exatamente quais serão as metas. Mas entre os setores que são mais importantes, o primeiro deles é o
desmatamento
— o ideal seria reduzir a taxa a zero, coisa que é pouco provável e
pouco possível, mas pelo menos é preciso reduzir as taxas o máximo
possível.
O
Brasil, agora, já se comporta como país
desenvolvido, e a maior poluição já não vem da queima de biomassa, mas
sim do uso de combustíveis fósseis de desenvolvimento, ou seja, o Brasil
também tem que
adaptar sua matriz de energia e ter uma
combinação de combustíveis fósseis — porque é praticamente impossível
eliminar combustíveis fósseis — com biodiesel, energia solar,
fotovoltaica, eólica, portanto, energias renováveis. No caso da energia
elétrica, por exemplo, a matriz é limpa, mas o problema é que quando
falta água passam a funcionar as termoelétricas, que consomem muito
carvão.
O
Brasil tem que mostrar metas que sejam
significativas e possíveis, porque muitos países da América Latina veem o
Brasil como líder. Desse modo, basicamente o que o Brasil faz, será
seguido por outros países, isso é importante porque todo mundo tem de
reduzir emissões. Nesse sentido, não adianta o Brasil reduzir suas
emissões e
China e Estados Unidos continuarem
aumentando. O planeta é global, o clima é mundial, o que acontece na
China, no longo prazo, pode afetar o que acontece no Brasil em termos de
clima.
IHU On-Line – Nesse sentido, o que pode ser feito em termos
de política de favorecimento para o uso de combustíveis alternativos? Se
formos comparar o preço da gasolina e do etanol, embora o etanol seja
ecologicamente melhor e mais barato em relação à gasolina, o rendimento é
menor e, do ponto de vista econômico, que é o que as pessoas levam em
conta nesse caso, não vale a pena usar etanol.
José Marengo – Sim, é verdade. No momento eu uso
mais gasolina do que etanol. Mas uma das coisas que devem ser pensadas
também, é que nesse momento, por exemplo, comparado com a situação que
foi definida em
Copenhague ou um pouco antes, quando
todos os países se comprometeram com planos e políticas ambientais, veio
a crise econômica mundial e a agenda ambiental passou para segundo
plano.
O
Brasil, por exemplo, vive uma
crise econômica que está piorando, e quando isso acontece, os países, primeiro, tentam resolver a crise econômica e política, e a
agenda ambiental
tende a ficar em segundo plano. É lógico, é preciso primeiro anteder
necessidades da população, ainda que o estabelecimento de metas possa
ajudar a população nos próximos 10 anos, mas primeiro tem que trabalhar
com a população.
Então, o que nos preocupa é que países em crise comecem a
deixar seus compromissos de redução
de emissões não favoráveis, muito aquém do que deveria ser, mas que
também os países se comprometam e, devido à crise econômica, não
consigam alcançar esse acordo. Esse é um problema. Todos pensam que
desenvolvimento é ir para os Estados Unidos, em um carrão, com TV de
Plasma, ar-condicionado, chuveiro, e isso consome energia. Esse
modelo de desenvolvimento tem que ser mudado, ou seja, ser menos dependente de combustíveis fósseis.
“A ciência climática fornece as evidências para que os governos
tomem decisões para políticas ambientais. Mas aí vem a prioridade, e
qual é prioridade?”
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IHU On-Line – Quais são as alternativas para se ter desenvolvimento sustentável?
José Marengo – Essa é uma questão difícil: o famoso
desenvolvimento sustentável pode funcionar em escala pequena, em uma cidade. Tenho escutado de algumas pessoas que o
Rio de Janeiro
zerou suas emissões e, portanto, já fez a sua parte, mas as pessoas não
se dão conta de que os ventos podem levar a poluição de
São Paulo para o Rio de Janeiro, e continuará na mesma.
Por isso, para a definição de uma
política sustentável,
a agenda climática é um dos componentes, mas é preciso ter vontade
política e compromissos de longo prazo; é algo que escapa um pouco da
ciência climática.
Por exemplo, a ciência climática fornece as evidências para que os
governos tomem decisões para políticas ambientais. Mas aí vem a
prioridade, e qual é a prioridade? O meio ambiente ou a economia? Muitas
vezes a prioridade é a economia e, então, a sustentabilidade passa para
segundo plano ou para uma pequena escala. Mas a
sustentabilidade
deve ser em escala nacional, não somente na cidade ou na pequena
empresa, tem de ser em todo o país. No entanto, isso é muito difícil de
alcançar, em todo o mundo; não é impossível, mas é muito complicado.
IHU On-Line – Que avaliação faz das COPs enquanto instrumento
para tratar das questões de mudanças climáticas? Qual a expectativa
para a COP-21?
José Marengo – Sou otimista. As
COPs têm tido muitos avanços, por exemplo, chegou-se a
banir o uso dos carbonos para
evitar perdas na camada de ozônio. As COPs são a única oportunidade de
todo mundo colocar as cartas na mesa, de mostrar seus problemas, de
discutir, não existe outro ambiente onde se tome esse tipo de discussão.
Tudo bem que, talvez, em
Lima, por exemplo, na
COP-20 do ano passado, não se chegou a muitos acordos porque todo mundo guardava material para Paris, para a
COP-21, mas pelo menos se conversou sobre o problema e isso já é um avanço.
Agora, já existem compromissos pré-COPs: a
Europa está levando a discussão a sério, a
China e os Estados Unidos se
comprometeram, o Brasil também está muito ativo. Com isso, creio e
espero que saia um material dessa COP para ter um novo protocolo. Eu não
sei exatamente se assinarão um novo protocolo na COP, mas espero que
pelo menos seja estabelecido algo para que no futuro possa ser assinado.
O
Protocolo de Kyoto, por exemplo, foi criado dentro
de uma COP, mas foi assinado depois, em outro evento, na cidade de
Kyoto. Mais ou menos o que se espera é isso: preparar
avanços para o novo protocolo;
isso já é bastante. Não sei se os membros irão assinar ou não, duvido.
Mas pelo menos devem preparar avanços para um novo protocolo e grupos de
trabalho em nível mundial; isso já seria um sucesso para a
COP-21.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
José Marengo – Dizer que a comunidade científica
brasileira que trabalha questões de clima está contribuindo ativamente
com subsídios científicos para o governo, porque a
representação nas COPs
é feita pelos governos, pelo Ministério de Relações Exteriores, pelo
Itamaraty, pelo Ministério do Meio Ambiente, mas todos os políticos que
vão, levam os nossos subsídios científicos. Então estamos felizes que
nos considerem seriamente agora.
Por Patriacia Fachin
(
EcoDebate, 10/08/2015) publicado pela
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