quinta-feira, 2 de março de 2017

A natureza também dá samba

((o))eco
As escolas de samba levam para a avenida os mais variados temas que vão desde homenagens a artistas, escritores, ambientalistas a temas gerais envolvendo a humanidade. A natureza, o meio ambiente não poderiam ficar de fora e desde muito cedo, são abordados pelas escolas. Para não sairmos do tema ambiental neste carnaval, seguem abaixo 11 enredos apresentados ao longo dos anos pelas escolas de samba. Lembra de mais? Então, comente!



 https://youtu.be/LCdG9ff7eK8

Mangueira (1970) - “Um Cântico à Natureza”
Com o samba-enredo composto por Aílton, Dilmo e Nei, a Estação Primeira de Mangueira ocupou o 3º lugar homenageando a natureza.
Brilhou no céu o sol oh! que beleza
Vem contemplar a natureza
Vem abrasar a imensidão, imensidão...
Onde na pesca ou na plantação
Pedras preciosas ou mineração
Rios cachoeiras e cascatas
Frutos pássaros e matas
Enobrecem a nação

Oh! lugar... oh! lugar...
Tudo que se planta dá
Terra igual a esta não há
Imenso torrão de natureza incomum
Onde envaidece qualquer um
Praia e flores
Inspiram amores
E o petróleo te deu mais vida
Solo de vultos imortais
Direi teu e não esquecerão jamais
Oh! pátria querida
De natureza tão sutil
Tens belezas mil |
Isto é Brasil... isto é Brasil... isto é Brasil...


 https://youtu.be/v5gUtkEhUJQ

Salgueiro (1979) - “ O Reino encantado da mãe natureza contra o reino do mal”
Nesse ano, o Salgueiro apostou as suas fichas na defesa ecológica, em que o reino do mal seria a poluição. O enredo foi dividido em quatro partes: A Mãe Natureza, o Mal, A Guerra, O Ressurgimento da Natureza Violentada pelo Mal.
Oh! Doce Mãe Natureza
Seus lindos campos
Verdes matas e seu imenso mar
Oh! que beleza... no infinito
O Sol ardente sempre a brilhar
E o revoar da passarada
Bailando neste céu sem fim
Na primavera...
As lindas flores (bis)
Desabrocham no jardim
Mas surgiu o rei do mal
Com a chegada do progresso
Abalando a estrutura mundial
Poluindo nossa terra
Aniquilando o que Deus abençoou
E quem sofre é a Nação
Nesta batalha
Onde não há vencedor
E a Natureza
Com seu cenário multicor (bis)
Refloresce novamente
Com todo seu esplendor



 https://youtu.be/gk1Hl_ajRgg

Portela (1981) - “Das maravilhas do mar fez-se o esplendor de uma noite"
De autoria de David Corrêa e Jorge Macedo, as maravilhas do mar levaram a Portela ao terceiro lugar do carnaval de 1981 com o famoso refrão "E lá vou eu, pela imensidão do mar".
Deixa me encantar, com tudo teu, e revelar, lalaiá lá
O que vai acontecer nesta noite de esplendor
O mar subiu na linha do horizonte, desaguando como fonte
Ao vento a ilusão desce
O mar, ô o mar, por onde andei mareou, mareou
Rolou na dança das ondas, no verso do cantador
Dança que tá na roda, roda de brincar
Prosa na boca do tempo e vem marear (Eis o cortejo...)
Eis o cortejo irreal, com as maravilhas do mar
Fazendo o meu carnaval, é a vida a brincar
A luz raiou pra clarear a poesia
Num sentimento que desperta na folia ( Amor, amor ... )
Amor, sorria, ô ô ô, um novo dia despertou
E lá vou eu, pela imensidão do mar
Nessa onda que corta a avenida de espuma, me arrasta a sambar (E lá vou eu... )
E lá vou eu, pela imensidão do mar
Nessa onda que corta a avenida de espuma, me arrasta a sambar



https://youtu.be/Z3fNE0_MSe4 


Mocidade Independente de Padre Miguel (1991) - “Chuê, Chuá, as águas vão rolar”
A água está presente no nosso organismo, água é fonte da vida. As águas rolaram em 1991 para a Mocidade Independente de Padre Miguel, tanto que deram a ela o campeonato de 1991.
Naveguei, naveguei, no afã de encontrar
Um jeito novo de fazer meu povo delirar
Uma overdose de alegria
Num dilúvio de felicidade (iluminado)
Iluminado encontrei
O verde e branco mar da Mocidade
Aieieu mamãe oxum
Iemanjá mamãe sereia
Salve as águas de oxalá
Uma estrela me clareia
É no chuê chuê
É no chuê chuá
Não quero nem saber
As águas vão rolar
É no chuê chuê
É no chuê chuá
Pois a tristeza já deixei pra lá
Na vida sou a fonte de energia
Sou chuva, cachoeira, rio e mar
Sou gota de orvalho, sou encanto
E qualquer sede eu posso saciar
Quem dera, um mar de rosas nesta vida
Lavando as mentes poluídas
Taí o nosso carnaval
Eu tô em todas, eu tô no ar, eu tô aí
Eu tô até na liquidez do abacaxi
(naveguei)

https://youtu.be/sU3fpr5cCio
  Lins Imperial (1991) - “Chico Mendes, o arauto da natureza”
No domingo do dia 10 de fevereiro de 1991, a Lins Imperial  desfilou no grupo especial homenageando o seringueiro e ambientalista Chico Mendes.
Quanta maldade é ver
O homem destruir
O que hoje encanta
A Sapucaí
Amazônia
Que verde encantador
Fauna tão linda
Um verdadeiro festival de cor
Terra rica em frutos e pesca
Chico foi o mensageiro
Em defesa da floresta
Os invasores, por ambição
Mataram Chico
Dando seqüência à destruição
Kararaô
O grito forte do índio ecoou
Kararaô
A natureza inteira despertou
Voa pássaro da paz
Voa livre e vai mostrar (mostrar, mostrar)
Que essa área verde existe
Para o mundo respirar, lá, lá, laiá
Para o mundo respirar

 https://youtu.be/TXj6yUVTm_0

Beija-Flor (2004) - “Manôa, Manaus, Amazônia, Terra Santa: Alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz”
Com enredo sobre a Amazônia, a Beija-Flor se consagrou bicampeã do Carnaval 2004 no Rio de Janeiro, a escola apresentou a água dos rios da região como o verdadeiro tesouro da Amazônia e alertou para a destruição da floresta.
A ambição cruzou o mar
Trazida pelo invasor
A Espanha veio explorar
Pilhar e semear a dor
Amazônia Terra Santa
Dos igarapés, mananciais
Alimenta o corpo, equilibra a alma
Transmite a paz
Brilhou o Eldorado no coração da mata as guerreiras
Belezas naturais, riquezas minerais
O reino de Tupã ergue a bandeira

Êh! Manôa
Minha canoa vai cruzar o Rio Mar
Verde paraíso é onde
Iara me seduz com seu cantar
Força, mistério e magia
Fruto da energia o meu guaraná
A lágrima que o trovão derramou
A terra guardou semente no olhar
Maués, Anauê, cultura milenar
Anauê, Manaus, Mamirauá
Viva a Paris Tropical
Água que lava minh´alma
Ao matar a sede da população
Caboclo ê a homenagem hoje é
A todo povo da floresta um canto de fé
Se Deus me deu vou preservar
Meus filhos vão se orgulhar
A Amazônia é Brasil, é luz do criador
Avante com a tribo Beija-Flor

https://youtu.be/eM44lFWv9D8

Império Serrano (2005) - “Um grito que ecoa no ar. Homem/Natureza - o perfeito equilíbrio”
Com o enredo que homenageou a natureza, o Império Serrano garantiu a permanência no grupo especial para o ano seguinte. O enredo é sobre o homem e a preservação do seu habitat e um grito de alerta pela preservação do mundo que sofre com a ganância.
Meu grito ecoa pelo ar
Faço um alerta ao mundo
O homem com a sua ambição
Trouxe a tecnologia
Fez mal uso da razão
De mãos dadas com a ganância
Tem tudo que lhe deu o criador ôô
De graça com amor
No seu futuro pode semear a dor
No meu verde das matas tem magia
Equilíbrio perfeito que irradia oi (bis)
As minhas águas cristalinas
São poluídas no seu dia a dia
Choro, com esta tal evolução
Ressentida estou ao ver minha devastação
O homem com sua sapiência
Transformou tudo em ciência
Reciclando a minha natureza
Mexeu com lixo,
Domou os ventos,
Usou o átomo sem consciência
Causou tristeza, degradação
Coloca em risco toda a civilização
E assim num grande gesto de amor
Já tem gente a refletir
E por mim vive a lutar
Um fio de esperança a reluzir
Basta reciclar os seus conceitos
Na reforma ser perfeito
Produzir sem maltratar
Sou a mãe Terra
Só o seu amor vai me salvar
Clamando numa só voz, vem meu Império
A gente tem que pensar, é caso sério (bis)
Pra natureza sorrir, o homem tem que mudar
E aprender a preservar

Mangueira (2006) - “Das águas do São Francisco, nasce um rio de esperança”
A Estação Primeira alcançou o 4º lugar homenageando na avenida o rio São Francisco. Uma carranca na comissão de frente com malabaristas que transformavam a tradicional imagem nordestina num barco para "navegar" o Velho Chico, numa coreografia assinada por Carlinhos de Jesus. Os moradores que habitam à beira do rio também foram lembrados pela escola de samba, com adereços como vasos, peixes e frutas, que são fonte econômica das populações ribeirinhas.
O sertanejo sonhou
Banhou de fé o coração
E transbordou em verde-e-rosa
A esperança do sertão
Vou navegar
Com a minha Estação Primeira
Nas águas da "integração", chegou Mangueira
Opará rio-mar, o nativo batizou
Quem chamou de São Francisco foi navegador
Na serra, ele nasce pequenino
Ilumina o destino, vai cumprir sua missão
Se expande pra mostrar sua grandeza
Gigante pela própria natureza
A carranca na mangueira vai passar
Minha bandeira tem que respeitar
Ninguém desbanca minha embarcação
Porque o samba é minha oração
Beleza o bailar da piracema
Cachoeiras, um poema à preservação
Lendas ilustrando a história
Memórias do valente Lampião
Mercado flutuante, um constante vai-e-vem
Violeiro, sanfoneiro, que saudade do meu bem
O sabor desse tempero, eu quero provar
Graças à irrigação, o chão virou pomar
E tem frutas de primeira pra saborear
Um brinde à exportação, um vinho pra comemorar
O velho Chico! É pra se orgulhar

Portela (2008) - “Reconstruindo a Natureza, Recriando a Vida: o Sonho Vira Realidade”
Com enredo homenageando a natureza, sua riqueza incitando o homem a viver em harmonia e em comunhão com ela, a Portela ficou em quarto lugar no carnaval de 2008 com samba-enredo composto por Diogo Nogueira, Ary do Cavaco, Celsinho de Andrade, Ciraninho e Júnior Scafura.
Eu sou a água, sou a terra, sou o ar
Sou Portela
Um sonho real, um grito de alerta
A natureza que encanta a passarela
Segue os passos do criador
Vai minha Águia Gerreira
Leva essa mensagem de amor
De Oswaldo Cruz e Madureira
Água, fonte eterna da vida
Terra, templo da evolução
O homem surgiu, brincou de criar
Descobriu tanta riqueza
É preciso progredir sem destruir
Viver em comunhão com a natureza
É o rio que corre a caminho do mar
A flor que se abre na primavera
Do ventre a esperança que vem renovar
O sonho de uma nova era
É hora de darmos aos mãos
Lutarmos pro mundo mudar
O líder de cada nação
Precisa parar pra pensar
A palavra é união
Pra reconstruir o nosso lar
Brasil, teu verde é o símbolo da vida
Renova a tua energia
Meu coração é o meu país
O sol vai brilhar e anunciar
Um futuro mais feliz

Portela  (2017) - “Quem Nunca Sentiu o Corpo Arrepiar ao Ver Esse Rio Passar…”
O carnavalesco Paulo Barros promete levar novidades para a avenida “Será um mergulho poético nas águas doces do nosso planeta. Vamos falar dos aspectos culturais, religiosos e dos costumes de alguns rios, como o São Francisco” , afirmou o carnavalesco.
O perfume da flor é seu
Um olhar marejou sou eu
Quem nunca sentiu o corpo arrepiar
Ao ver esse rio passar
Vem conhecer esse amor
A levar corações através dos carnavais
Vem beber dessa fonte
Onde nascem poemas em mananciais
Reluz o seu manto azul e branco
Mais lindo que o céu e o mar
Semente de Paulo, Caetano e Rufino
Segue seu destino e vai desaguar
A jangada vai chegar na aldeia
Alumia meu caminho, candeia
Onde mora o mistério, tem sedução
Mitos e lendas do ribeirão
Cantam pastoras e lavadeiras pra esquecer a dor
Tristeza foi embora, a correnteza levou
Já não dá mais pra voltar (ô aiá)
Deixa o pranto curar (ôaiá)
Vai inspiração, voa em liberdade
Pelas curvas da saudade
Oh mãmãe orayeyeo
Vem me banhar de axé orayeyeo
É água de benzer
Água pra clarear
Onde canta um sabiá
Salve a velha guarda
Os frutos da jaqueira
Oswaldo cruz e madureira
Navega a barqueada aos pés da santa em louvação
Para mostrar que na portela
O samba é religião

Imperatriz Leopoldinense (2017) - “Xingu, o clamor que vem da Floresta”
A escola de Ramos além de exaltar o povo indígena também colocará na avenida grandes dilemas enfrentados por todos como a construção da hidrelétrica de Belo Monte, o desmatamento e o uso de agrotóxicos.

Salve o verde do Xingu… a esperança
a semente do amanhã… herança
o clamor da natureza
a nossa voz vai ecoar… preservar!
Brilhou… a coroa na luz do luar!
nos troncos a eternidade… a reza e a magia do pajé!
na aldeia com flautas e maracás
Kuarup é festa, louvor em rituais
na floresta… harmonia, a vida a brotar
sinfonia de cores e cantos no ar
o paraíso fez aqui o seu lugar
jardim sagrado o caraíba descobriu
sangra o coração do meu Brasil
o belo monstro rouba as terras dos seus filhos
devora as matas e seca os rios
tanta riqueza que a cobiça destruiu
Sou o filho esquecido do mundo
minha cor é vermelha de dor
o meu canto é bravo e forte
mas é hino de paz e amor
Sou guerreiro imortal derradeiro
deste chão o senhor verdadeiro
semente eu sou a primeira
da pura alma brasileira
Jamais se curvar, lutar e aprender
escuta menino, Raoni ensinou
liberdade é o nosso destino
memória sagrada, razão de viver
“andar aonde ninguém andou”
“chegar aonde ninguém chegou”
lembrar a coragem e o amor dos irmãos
e outros heróis guardiões
aventuras de fé e paixão
o sonho de integrar uma nação
kararaô… kararaô… o índio luta pela sua terra
da Imperatriz vem o seu grito de guerra!







Desmatamento encurrala chuva na Amazônia


Por Claudio Angelo, do Observatório do Clima
Desmatamento em Rondônia visto pelo satélite Landsat. Imagem: Google Earth.
Desmatamento em Rondônia visto pelo satélite Landsat. Imagem: Google Earth.



Há tempos os cientistas intuem que o desmatamento altera o padrão de chuva na Amazônia. Um quarteto de pesquisadores dos Estados Unidos acaba de mostrar de que forma isso acontece. Em estudo publicado nesta segunda-feira (20), eles mostram que, em grandes áreas desmatadas, chove mais de um lado e menos do outro, de acordo com a direção do vento. Essa mudança pode ter consequências sérias para o clima da Terra – e para a agropecuária na região Norte.


O grupo liderado pela física indiana Jaya Khanna, da Universidade Princeton (hoje na Universidade do Texas em Austin), chegou a essa conclusão após analisar 30 anos de dados de um lugar pródigo em grandes áreas desmatadas: o Estado de Rondônia, que já perdeu mais de 50% de suas florestas.


Analisando informações de satélite e cruzando-as com medições feitas em campo e modelos de computador, Khanna e colegas mostraram que o sudeste de Rondônia está em média 25% mais seco nos meses de “verão” amazônico (a estação seca), enquanto o noroeste deve um aumento equivalente nas chuvas nestas últimas três décadas. O trabalho está na edição on-line do periódico Nature Climate Change.


Segundo os pesquisadores, a devastação foi tão extensa que alterou o próprio mecanismo de precipitação no Estado: no lugar da chuva amazônica tradicional, na qual a umidade é inicialmente trazida do Atlântico e a chuva é reciclada pela evaporação que ocorre nas próprias árvores, instaura-se um novo regime, no qual a precipitação é empurrada pelo vento por sobre a área desmatada e a floresta na sua borda.


O resultado é que a barlavento (“vento abaixo”, ou seja, no sentido do deslocamento do vento) chove mais, enquanto a sotavento (“vento acima”) fica mais seco.


“É um mecanismo semelhante, mas não equivalente, ao que acontece quando o mar bate num rochedo na praia”, diz Khanna. Segundo ela, a diferença de altura entre os dois tipos de vegetação – a floresta alta e o pasto baixo – faz com que o ar suba, o que causa o aumento da nebulosidade e da precipitação no noroeste do Estado na estação seca. “O oposto, o afundamento do ar e uma redução nas nuvens e na precipitação, é esperado no sudeste – algo similar, mas não equivalente, a uma cachoeira.”


O curioso é que nem sempre foi assim. No passado, quando predominavam pequenos desmatamentos (de cerca de 1 km) em Rondônia, a quantidade de precipitação aumentou. Isso tem a ver com o calor irradiado pelas clareiras, que subia por convecção e, no alto, se encontrava com a umidade evaporada dos remanescentes florestais. Isso favorecia a condensação.


Até hoje essa dinâmica é percebida em locais da Amazônia onde dominam os pequenos desmatamentos.


Quando as porções desmatadas cresceram para 200 quilômetros de extensão ou mais, no entanto, a situação mudou. A “bomba d’água” representada pelas árvores deixou de existir. No palavreado dos cientistas, a circulação deixou de ser “termodinâmica” (ou seja, induzida pela evaporação) para ser “dinâmica”. “Mesmo que essa chuva seja deslocada para outro lugar, você está encurralando a chuva”, diz Ane Alencar, pesquisadora do Ipam (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia).


“Os modelos de computador já mostravam que desmatamentos grandes reduziam a chuva. O pulo do gato deste estudo é que ele propõe um mecanismo pelo qual isso acontece”, diz o físico Paulo Artaxo, da USP. Ele é autor de comentário ao estudo na mesma edição da Nature Climate Change.


Segundo Artaxo, o trabalho de Khanna e colegas é “muito relevante”, porque permitirá agora entender exatamente o que acontece em outras regiões da Amazônia que já sofreram desmatamento extenso, como Mato Grosso. De agora em diante, diz, será possível alimentar modelos computacionais com esse processo para prever o que acontecerá localmente em várias situações de desmatamento.


“Entender o mecanismo desses processos é chave para Brasil”, diz Artaxo. “Por exemplo: o meio-oeste brasileiro vai ter a mesma produtividade de soja?”


O cientista da USP e seu colega americano Jeffrey Chambers, da Universidade da Califórnia em Berkeley, também mostram-se preocupados com o que acontecerá com o carbono das florestas que sobraram na metade seca dessa equação. No limite, ele pode acabar na atmosfera, agravando o aquecimento global. “O sistema não é linear. Se num lugar que tem 2.000 milímetros de chuva você passar a ter 3.000 o fluxo de carbono não muda. Mas, se na área seca a precipitação cair abaixo de um limiar, você mata a floresta.”


“O aumento de 25% [na chuva] no noroeste (ou queda no sudeste) da Rondônia desmatada pode ter consequências para a vegetação nessas regiões, seja pasto ou floresta, e pode resultar em mudanças na vegetação dominante e no tipo e frequência dos incêndios no sudeste”, diz Khanna. “Isso deve ser investigado em estudos futuros.”


BOA NOTÍCIA (EM TERMOS)
A velocidade do desmatamento caiu 82% no bimestre dezembro de 2016-janeiro de 2017, em comparação com o mesmo período anterior. O dado é do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), que lançou nesta segunda-feira seu boletim de alertas de desmatamento. Foram 42 quilômetros quadrados desmatados, contra 227 em dezembro de 2015 e janeiro de 2016.


No acumulado desde agosto, início do período em que se mede a devastação (agosto de um ano a julho do ano seguinte), ainda estamos com problemas: neste ano já fora perdidos 1.261 quilômetros quadrados de floresta, 5% a mais que no mesmo período de 2015/2016.


Lembrando que no biênio 2015/2016 a devastação já foi 29% maior que no ano anterior.

Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.

Shell avisou sobre aquecimento em 1991


Por Do Observatório do Clima
Protesto do Greenpeace na Suécia contra as ambições árticas da Shell. Foto: Greenpeace.
Protesto do Greenpeace na Suécia contra as ambições árticas da Shell. Foto: Greenpeace.



As mudanças climáticas globais estão acontecendo “a uma velocidade mais rápida do que em qualquer momento desde a Era do Gelo”, aumentarão “a frequência de padrões de tempo anormal” e tornarão ilhas tropicais “inabitáveis”. As conclusões não são de cientistas, mas de uma empresa de petróleo – a anglo-holandesa Shell. E não são de hoje: elas datam de 1991, quando a multinacional produziu um minidocumentário sobre o assunto. Título: Clima de Preocupação.


O filme foi redescoberto pelo site jornalístico holandês The Correspondent e compartilhado com o jornal britânico The Guardian, que publicou reportagem a respeito na última terça-feira (28).


O documentário mostra que a Shell não tinha dúvidas sobre a ameaça da mudança do clima 25 anos atrás. Ele fala, inclusive, que embora houvesse incertezas sobre a dimensão dos impactos, os cenários de aquecimento que descrevia estavam embasados “por um amplo consenso de cientistas” – referência ao primeiro relatório do IPCC, o painel do clima da ONU, publicado em 1990.


Mesmo com o conhecimento do problema, a Shell foi uma das empresas que mais se esforçaram para minar a meta de evitar as mudanças climáticas perigosas neste quarto de século: até 1998, participou de uma organização de empresas que fez lobby para disseminar o negacionismo climático; é uma das principais investidoras no petróleo ultrapesado (e ultrasujo) das areias betuminosas canadenses; e, até 2016, liderava os investimentos em busca de petróleo no Ártico.


“Vejo como até hoje eles defendem teimosamente o uso de gás natural durante as próximas várias décadas, apesar de evidências claras de que os combustíveis fósseis precisam ser eliminados completamente”, disse ao Guardian Jeremy Leggett, o geólogo que cunhou a expressão “bolha de carbono” para se referir aos combustíveis fósseis que terão de ser deixados no subsolo se a humanidade quiser cumprir as metas do Acordo de Paris. “Eu sinceramente acho que essa empresa é culpada de uma forma moderna de crime contra a humanidade.”


A Shell não é a primeira companhia a concluir uma coisa sobre as mudanças do clima e agir no sentido oposto. Muito mais grave foi o caso da americana Exxon, que desde a década de 1970 sabia dos riscos representados pelas mudanças do clima – segundo conclusões dos próprios cientistas da empresa. Mesmo assim, a petroleira foi a maior financiadora de ataques espúrios à ciência e aos cientistas do clima durante décadas. Hoje ela é alvo de inquérito na Justiça dos EUA por ter enganado o público.


O ex-presidente da Exxon, Rex Tillerson, é hoje secretário de Estado dos EUA, responsável pelas posições do país nas negociações internacionais de clima.

Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.

Nova Edição do Minicurso em Princípios do Manejo Integrado de Formigas Cortadeiras no DF


A Vida Em Sauveiro

~ É dedicado a informações e atividades sobre o pequeno grande mundo das saúvas



Inscrições abertas para o Minicurso na Ecovila Aldeia do Altiplano, em Brasília

Com o objetivo de aperfeiçoar os conhecimentos sobre a biologia das formigas cortadeiras do Cerrado e as técnicas de manejo integrado de infestações em propriedades rurais, o minicurso será realizado nos dias 11 e 12 de março em duas propriedades no Altiplano Leste.
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O minicurso terá duração de 12 horas de aulas práticas e teóricas, com o seguinte conteúdo básico:
  • Biologia e ecologia das formigas cortadeiras
  • Importância do controle de formigas cortadeiras
  • Identificação dos principais grupos e gêneros de formigas cortadeiras locais
  • Métodos de localização e dimensionamento de formigueiros
  • Métodos de monitoramento, prevenção e controle de infestações
  • Técnicas e práticas de prevenção de danos e de controle de colônias

O minicurso é realizado com o apoio da ONG Mutirão Agroflorestal e do grupo do CSA Brasília. O CSA significa Comunidade que Sustenta a Agricultura, um modelo onde a agricultura é apoiada pela comunidade. O agricultor deixa de vender seus produtos através de intermediários e conta com a participação das pessoas para o financiamento e escoamento da sua produção.


CSA é uma tecnologia social que apresenta alternativas para apoiar a produção local de alimentos orgânicos, promovendo espaços de interação entre as pessoas na cidade e no campo. Quem escolhe fazer parte de uma CSA, deixa de ser um consumidor e se torna um co-agricultor. Passa a colaborar para o desenvolvimento sustentável da região, valorizando a produção local, conhecendo de perto de onde vem o seu próprio alimento e podendo também participar da produção.


A Vida em Sauveiro se orgulha da parceria com o CSA Brasília e a Mutirão Agroflorestal, desejando a todos um ótimo evento.
Inscrições através do link     goo.gl/XC9qGv

Liberar a caça é também problema de segurança pública

Por Rafael Feltran-Barbieri
Javali ao longe. Foto: Carlos Affonso/Flickr.
Javali ao longe. Foto: Carlos Affonso/Flickr.


Quando o Código Florestal de 1965 foi substituído em 2012 pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa sob o argumento de que agora teríamos diretrizes mais claras para novos desmatamentos e restauração florestal, não se conteve a mensagem de que há sempre a possibilidade de mudar as regras no meio do jogo, em favor de quem deliberadamente usa a transgressão como estratégia. Não à toa, desde então, os desmatamentos vêm crescendo vertiginosamente, impulsionados pela expectativa da apropriação de nova poupança fundiária, corroborada pelas ações oficiais que enxergam que a harmonização dos conflitos e regularização especulativa poder é advir da dissolução de Terras Indígenas e redução das Unidades de Conservação.


Paisagens assim modeladas pela falta de planejamento territorial vão então se tornando cada vez mais fragmentadas pela pecuária extensiva, ou pela agricultura que protege os silos de grãos com cercas-vivas de eucalipto para amenizar o calor produzido pela imensidão devastada a sua volta. O mosaico árido resultante empurra onças furtivas a se arriscarem contra o gado para fugirem da inanição, e herbívoros igualmente famintos vão de encontro com as monoculturas tóxicas, por serem a única fonte de alimento que resta.


Nesse cenário forjado pelo oportunismo e acordos políticos ensimesmados, a solução para a intolerável presença da fauna refugiada dos desmatamentos é a liberação da caça, segundo o Projeto de Lei 6268/16. Pelo projeto, a erradicação das “pragas” ou seu controle populacional só poderia advir de um plano de manejo aprovado pelos órgãos ambientais. Mas a imprudência dessa proposta não pode ser levada a sério, se foi justamente a negligência e imperícia – para não falar da completa ausência ou incompetência – dos planos de manejo que criaram a situação de praguejamento das pastagens e lavouras.


A fragilidade dos criadouros de javali e javaporco, espécies exóticas que figuram no cerne da discussão, ou o desequilíbrio populacional das capivaras são exemplos patentes.



Se a experiência recente dos efeitos provocados pela mudança do Código Florestal serve de guia, então pode-se esperar que a eventual aprovação da PL 6268/16 deverá trazer uma verdadeira hecatombe. Do argumento de que agora haverá regras claras não se conterá a mensagem de que a caça está liberada, ou se afrouxará no decorrer do tempo anistiando transgressores. Proibida desde 1967, e mesmo com a insuficiência de recursos financeiros e humanos, o Ibama registra em média 2 autos de infração de caça por dia. Pesquisadores dão conta de que o ato ilícito é muito maior. Apenas na região de Campinas, 3 onças-pardas monitoradas pelo Projeto Corredor das Onças, do ICMBio foram mortas em 2016, 2 delas alvejadas sob girais, enquanto a outra foi imobilizada na mata por laços preparados para caça de paca, e sucumbiu de sede, abandonada à própria sorte quando descoberta pelos caçadores que fugiram.



Cientes da inapelável proibição, outros não se intimidam em mostrar nas redes sociais os troféus de seu comportamento indecoroso, não apenas com as leis. Correram pelo país o abate de uma onça preta a remadas, esmagando-se o crânio do animal enquanto desguardado atravessava o rio junto com seu parceiro; as montarias sobre uma onça pintada agonizante em decorrência de tiros na barriga; e os couros de outras tantas estendidas em varais, com as carcaças girando no rolete. Isso se fazem com os animais mais destemidos. Não se pode imaginar o destino cruel reservado aos mais frágeis.




Efeitos extras
A eventual liberação não trará efeitos perversos somente à fauna, senão atingirá em cheio, como uma bala perdida, também nossas comunidades humanas
Oferecer a mera possibilidade do deboche petulante se sentir ainda mais à vontade em decorrência do afrouxamento da lei, ou, de fato, proporcionar o resguardo a uma maioria bem mais racional que simplesmente abateria prontamente o animal sob o argumento de prejuízo econômico, é dar um tiro no pé.


Nenhuma regra rígida que regimente a caça será mais rígida que sua proibição, não havendo razão para se crer que o relaxamento seria, portanto, mais eficiente num ambiente carente de suporte técnico, orientação jurídica, fiscalização e monitoramento.


Pior. 



A eventual liberação não trará efeitos perversos somente à fauna, senão atingirá em cheio, como uma bala perdida, também nossas comunidades humanas. Boa parte da apreensão de armas de fogo que circulam ilegalmente nas ruas, mas principalmente no meio rural, vem de denúncias da prática ilegal de caça.



Desde que a vizinhança cogite a possibilidade de uma permissão especial para abate de animais indesejáveis, a denúncia se tornará mais rara e a averiguação pelas autoridades também, de modo que se perderá de uma só vez o controle da caça e da circulação de armas não registradas.




Mas há sempre como piorar. Posta a PL 6268/16 haverá quem entenda a necessidade de se revisar o porte de arma, dando munição para quem quer relaxar o Estatuto do Desarmamento, como quer a PL 3722/12.




E isso é tudo o que o país não precisa. Atualmente há no Brasil aproximadamente 16 milhões de armas de fogo, mais da metade ilegal, e quase 1 arma para cada 12 habitantes, 1 homicídio a cada 5 horas. O Mapa da Violência de 2016 dá conta de que nenhum lugar do planeta, nem sob guerra civil como na Síria, se mata tanta gente quanto aqui, sendo as principais zonas de emergência dos homicídios os municípios de fronteira, de turismo predatório e do arco do desmatamento, justamente onde as apreensões por caça são acima da média nacional. Por isso, proteger a fauna é também questão de segurança pública.



Da Vinci já decretara há 500 anos que haveria o dia em que o crime contra um animal seria considerado crime contra a humanidade. Talvez agora comece a fazer sentido para nós, porque a arma que mata um animal é a mesma que mata o ser humano. É a mesma que atravessa as fronteiras internacionais, as porteiras das fazendas, os bloqueios nas favelas, os muros de condomínios, os portões dos presídios e as grades das celas, onde tudo termina e recomeça, porque encarcerados, homens tratados como bichos tratam outros homens como outros homens tratam mal os bichos.