sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Biodiversidade é estratégica para o desenvolvimento do Brasil – Negligenciar resultados científicos em políticas públicas custa dinheiro e vidas, dizem especialistas



Biodiversidade é estratégica para o desenvolvimento do Brasil – Negligenciar resultados científicos em políticas públicas custa dinheiro e vidas, dizem especialistas


Por Elton Alisson – Agência FAPESP – 

A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, como o fornecimento de água, ar puro e de alimentos, são fundamentais para a construção de um futuro próspero e sustentável para a população brasileira, com maior geração de emprego e renda e redução das desigualdades sociais e econômicas.

Essas metas só serão possíveis de serem alcançadas, contudo, se a contribuição da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos para alavancar o desenvolvimento econômico e social do país for reconhecida e incentivada e se forem feitos investimentos em sua conservação e restauração.

As conclusões são de um grupo de pesquisadores autores do Sumário para Tomadores de Decisão do 1º Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade & Serviços Ecossistêmicos. O documento, elaborado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na sigla em inglês), apoiada pelo Programa BIOTA-FAPESP, foi lançado no dia 8 de novembro em um evento no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

“Avaliamos que o Brasil só tem a ganhar do ponto de vista econômico se sair do atual sistema de substituição de vegetação nativa por áreas agrícolas. É muito mais vantajoso para o país ter paisagens multifuncionais, com áreas agrícolas e de conservação, que permitem que os ecossistemas funcionem de forma muito melhor, mantendo serviços ecossistêmicos essenciais, como o de recarga de aquíferos e de retirada de carbono da atmosfera”, disse Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação da BPBES e do Programa BIOTA-FAPESP, à Agência FAPESP.

Os pesquisadores avaliam que no Brasil a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos são percebidos como obstáculos para o desenvolvimento econômico. Na realidade, porém, eles são os elementos fundamentais para o enfrentamento de crises socioeconômicas e ambientais, nacionais e globais, pois trazem novas oportunidades de desenvolvimento. Por isso, precisam estar incorporados às políticas de desenvolvimento do país.

A biodiversidade conservada gera oportunidades de negócios para indústrias como a de turismo, de cosméticos, de fármacos e a alimentícia. Já a concentração de pobreza em municípios com grande cobertura vegetal nativa remanescente pode se tornar uma grande oportunidade de conciliar conservação da natureza com desenvolvimento humano, indicam.

Cerca de 40% da cobertura vegetal do Brasil está contida em 400 municípios, que representam 7% do total de municípios no país e onde vivem 13% da população brasileira economicamente mais carente. Em outros municípios similares a remoção da cobertura vegetal e a transformação dessas áreas em plantações agrícolas ou pastagens não se traduziriam na melhoria das condições de vida da população dessas regiões. Estudos mostraram que, historicamente, a substituição da floresta por atividades agropastoris no Brasil nas últimas décadas não resultou em um aumento significativo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos moradores previamente instalados nessas regiões, ponderam os pesquisadores.

“Isso ocorre porque essas pessoas não são beneficiadas pela implantação da atividade agropecuária nessas áreas onde havia cobertura vegetal. Elas acabam engrossando o êxodo rural, ao serem empurradas para a periferia das grandes cidades, onde vão viver em condições muito piores do que as que tinham no campo”, disse Joly.

Por meio da ampliação significativa de políticas de geração de renda a partir da natureza conservada – como a Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade, aplicada a produtos florestais não madeireiros extraídos, em sua maioria, por populações tradicionais e agricultores familiares – seria possível manter essas pessoas assentadas nessas regiões de floresta e melhorar suas condições de vida, estimam os pesquisadores.

“É preciso possibilitar a exploração de forma sustentável de produtos florestais pelas comunidades locais de modo que a floresta possibilite melhorar suas condições de vida, e não substituir a floresta por um sistema de produção que não irá beneficiar a população local”, disse Joly.

Janela de tempo limitada
Na opinião dos pesquisadores, o aproveitamento das oportunidades de uso sustentável da biodiversidade brasileira para promover o desenvolvimento econômico e social do país tem janela de tempo limitada e enfrenta obstáculos críticos. Alguns deles são assegurar o cumprimento de leis existentes por meio de mecanismos regulatórios e de incentivo em consonância com os compromissos globais de sustentabilidade assumidos pelo país.

Entre os acordos internacionais assumidos pelo Brasil estão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as Metas de Aichi – voltadas à redução da perda da biodiversidade do planeta no período de 2011-2020 – e o Acordo Climático de Paris, aprovado em 2015.

“O cumprimento das metas apresentadas pelo Brasil no Acordo de Paris, por exemplo, permitiria ao Brasil diminuir ou zerar o desmatamento, que é de suma importância para o país. A floresta vale muito mais em pé no médio e longo prazo do que ser transformada em um campo de soja, que será produtivo por algum tempo e só beneficiará o proprietário ou um grupo de pessoas, sem dar retorno para a sociedade, como um todo, ou para a população que vivia ali”, disse Joly.

Internamente, o Brasil dispõe de uma ampla variedade de instrumentos de política e opções de governança socioambiental. A ineficiência no controle, na gestão ou o baixo incentivo ao cumprimento das regras implicam riscos à consolidação de um futuro sustentável do país, apontam os pesquisadores.

Apesar da redução nas taxas anuais de perda de hábitats por desmatamento em biomas brasileiros na última década, especialmente na Amazônia, a conversão dos ecossistemas naturais continua elevada, em especial no Cerrado (236 mil km² entre 2000 e 2015) e na Caatinga (conversão de 45% da cobertura original). Mesmo na Mata Atlântica, a área desmatada – cerca de 29 mil hectares de 2015 a 2016 – supera substancialmente a área restaurada no bioma no mesmo intervalo de tempo.

Nos últimos anos a perda florestal no país excedeu em pelo menos três vezes todas as promessas de restauração feitas no período, compararam os autores do sumário.

Nos biomas mais degradados, o cumprimento da Lei de Proteção à Vegetação Nativa (o Novo Código Florestal) deve propiciar a recomposição da vegetação nativa – pela implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do Programa de Regularização Ambiental (PRA) – com benefícios para a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, incluindo produção e conservação de água e sequestro de carbono.

A estimativa é a de que o cumprimento da lei gere cerca de 20 milhões de hectares de área restaurada, possibilitando outros ganhos aos proprietários de terra, como maior produtividade e geração de novos negócios e empregos verdes, estimam os pesquisadores.

“Há uma série de gargalos que fizeram com que a implantação do novo Código Florestal não avançasse da maneira como gostaríamos e foram perdidos aspectos importantes durante sua discussão, como a largura das áreas de proteção permanente”, disse Joly.

“Mas se conseguirmos implementar o que foi aprovado, de fato, o país ainda terá condições de atingir o que estamos propondo nesse diagnóstico e cumprir seus compromissos internacionais”, disse.

Protocolo de Nagoya
O Sumário para Tomadores de Decisão do 1º Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade & Serviços Ecossistêmicos está sendo lançado a pouco menos de uma semana da realização da 14ª Convenção da Diversidade Biológica (COP 14), que ocorrerá no Egito de 17 a 29 de novembro.

Como o Brasil não ratificou o Protocolo de Nagoya – que entrou em vigor há quatro anos e tem o objetivo de promover a repartição justa e equitativa de benefícios advindos da utilização de recursos genéticos, contribuindo para a conservação e uso sustentável da biodiversidade –, o país não poderá opinar nas decisões tomadas a esse respeito na COP 14.

“A não adesão do Brasil ao Protocolo de Nagoya é irracional porque, quando o país resolver eventualmente ratificá-lo, questões importantes para o país, como a repartição de benefícios de áreas transfronteiriças, já terão sido decididas de forma que podem não ser as mais interessantes para nós”, avaliou Joly.

“O Brasil é o país com a maior biodiversidade mundial e o que tem mais a ganhar em relação à repartição de benefícios. Não ratificar o Protocolo de Nagoya por achar que pode perder alguma coisa em áreas transfronteiriças ou na questão de recursos genéticos que são economicamente importantes, e cuja maioria está fora do Protocolo, é de uma miopia extrema”, avaliou.

O Sumário para Tomadores de Decisão do 1º Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade & Serviços Ecossistêmicos pode ser acessado em www.bpbes.net.br/produtos.
(#Envolverde)

Camada de ozônio pode se recuperar por completo até 2060



Camada de ozônio pode se recuperar por completo até 2060


A importância dela para a existência humana é algo que você escuta desde a aula de ciências: sem a proteção da camada de ozônio, uma película de gases que envolve a Terra a 18 km de altura, a vida que levamos hoje simplesmente não seria possível. Se essa barreira invisível sumisse, abrindo passagem para todo raio ultravioleta ultrapassar a atmosfera, um simples banho de Sol de cinco minutos já seria suficiente para tostar nossa pele – algo que ameaçaria animais, tornaria o solo infértil e extinguiria variedades inteiras de plantas, por tabela.

O famigerado “buraco”, que a cada dia diminuía a proteção de ozônio do planeta, se tornou uma preocupação ambiental tão grave quanto o aumento da temperatura dos oceanos. Em 1974, com uma descoberta que arremataria o Nobel de Química anos mais tarde, os gases CFC (clorofluorcarbonetos) assumiram o posto de grandes vilões a serem combatidos. Eliminados para o ar com o borrifo de aerossóis ou pelo funcionamento de ar-condicionados e geladeiras, tais gases eram nocivos à proteção natural da atmosfera. Isso porque os átomos de cloro, presentes nos CFCs, quando em contato com o ozônio (O3) quebram suas moléculas.

Estava dado o ultimato. Se não quiséssemos virar camarões já a partir das décadas seguintes, tínhamos de frear a utilização de gases do tipo. O chamado Acordo de Montreal, assinado em 24 países em 1987, foi a primeira grande medida que limitou a aplicação dos CFCs. Isso fez a indústria de eletrodomésticos passar a pesquisar alternativas. Em 2010, o uso de químicos do tipo acabou completamente banido – com exceção da China, outro poluidor de peso.

E foi importante que tenha acontecido exatamente assim. Se o tratado climático não tivesse vingado, o rombo na película protetora poderia ser de 40% até 2013, projetavam os cientistas em um levantamento feito há três anos.

Na linha do que sinalizou uma pesquisa publicada na revista científica Nature em 2016, um relatório elaborado pela ONU (Organização das Nações Unidas) afirma que a camada de ozônio está se recuperando, e já não corre tanto risco.

Agora, dá até para fazer projeções mais otimistas: os dados estimam que, se não tirarmos o pé das medidas que já vêm dando certo, podemos recuperar por completo a camada de ozônio até a década de 2060. Em certas áreas, como as polares, é possível que a recuperação aconteça até antes. Acredita-se que zonas como o Ártico e latitudes médias possam chegar lá ainda em 2030.

Algo que pode jogar água no chope, contudo, é o aumento da emissão de gases de efeito estufa. Como aponta o relatório, tal fator pode alterar a circulação de massas de ar atmosféricas, e causar uma distribuição desigual do ozônio. Com o aquecimento global, é possível que haja menor concentração de ozônio em regiões tropicais (o que inclui o Brasil), no Ártico e nas áreas de latitudes médias – onde a camada de ozônio já é menos densa.

Alegria de terráqueo costuma mesmo durar pouco. O que, no caso, pode até ser um bom sinal. Pelo menos assim, não relaxamos com o ambiente – e jogamos pela janela o que demorou algumas décadas para começarmos a consertar.

Ambiente Brasil – Fonte: Super Interessante
(#Envolverde)

Niède Guidon: “Inauguro o Museu da Natureza e vou descansar”



Niède Guidon: “Inauguro o Museu da Natureza e vou descansar”


Por Marcos Pivetta – Revista Pesquisa Fapesp – 

Há quatro décadas na serra da Capivara, a arqueóloga afirma que deixa o Piauí depois da abertura do novo espaço de exposições
A arqueóloga no Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato, distante 
30 quilômetros do futuro Museu da Natureza Léo Ramos Chaves
Museu da Natureza deve ser a última grande contribuição de Niède Guidon para o Parque Nacional da Serra da Capivara, unidade de conservação criada no sul do Piauí em 1979 que abrange cerca de 130 mil hectares e é administrada pela Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), em parceria com o Instituto Chico Mendes (ICMBio) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

 Há 40 anos, a atuação da arqueóloga, que mora em São Raimundo Nonato (PI) e chefia a fundação, tem sido importante para a consolidação do parque e a preservação e o estudo de seus 1.200 sítios com pinturas rupestres e material arqueológico e paleontológico. Aos 85 anos, com a locomoção limitada devido às sequelas de uma febre chikungunya contraída em 2016, Niède não consegue mais explorar os sítios pré-históricos que tanto ama. Diz que, depois de 18 de dezembro, quando inaugura o novo museu (o segundo que abre na região), deixa o comando da fundação.

Provavelmente volta para a França, onde trabalhou por duas décadas e país do qual também tem a cidadania. Os amigos duvidam de que a promessa de deixar o Piauí, feita em outras ocasiões, será cumprida.

Por que construir outro museu?
Quando fizemos o Museu do Homem Americano, havia também uma parte dedicada aos fósseis, aos levantamentos geológicos e à natureza da região. Mas a coleção humana cresceu tanto que tivemos que retirar a parte da natureza. Como não tínhamos onde mostrar esses fósseis, inclusive marinhos, de quando aqui era mar, fizemos o projeto do Museu da Natureza. Isso foi mais ou menos entre 2002 e 2003.

Com a troca de governo, a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que apoiava o projeto, mudou e não houve avanços. Em 2009, o projeto foi retomado e em 2013 aprovado pelo banco, mas o dinheiro só foi liberado em 2017 sem nenhuma correção monetária. Tivemos então de fazer adaptações no projeto para não estourar o orçamento. No novo museu vamos mostrar toda a região e destacar as mudanças climáticas e os eventos geológicos que ocorreram aqui. Até 9 mil anos atrás, tínhamos a floresta amazônica na parte alta da serra da Capivara e aqui na planície era Mata Atlântica. Era o ponto de encontro dos dois biomas. Com as mudanças climáticas, a floresta desapareceu e a Caatinga se instalou. Ainda hoje há espécies animais e vegetais desses dois biomas que sobreviveram aqui.


Como o novo museu vai se sustentar?
Vamos inaugurá-lo e depois vamos ver como mantê-lo. O museu é para ser autossustentável. Os governos deveriam estimular o turismo na região, fomentar a construção de hotéis de 4 e 5 estrelas. É caro e difícil chegar aqui. Não é fácil ir para Petrolina pegar o avião. Conseguimos que fosse inaugurado o aeroporto da serra da Capivara, mas ele não opera voos comerciais.


A senhora vai deixar o comando da Fumdham?
Depois da inauguração do museu, saio. Vou voltar para a França, mas não sei para onde. Gosto de cidades pequenas, bonitas. Tenho direito de descansar. Vou reclamar meu direito de não fazer nada. Comecei a trabalhar com 18 anos.

Como está a situação da fundação e do parque?
Quando vim para São Raimundo Nonato, começamos a preparar o parque para receber turistas. Não sabia como fazer isso. Então fui visitar vários projetos de preservação de patrimônio no mundo todo. O parque tem hoje mais de 450 quilômetros (km) de estradas. A cada 10 km em torno do parque montamos guaritas de proteção, com funcionários que se comunicavam por um sistema de rádio. O Ibama [hoje sucedido pelo ICMBio] na ocasião não mantinha ninguém aqui. Eles nomeavam o chefe de parque e pronto.

Mas de onde veio o dinheiro para a estruturação do parque?
As primeiras obras de infraestrutura foram financiadas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que, em 1995, liberou mais de US$ 1,5 milhão. Depois, o mecanismo de compensação ambiental e os patrocínios por meio da Lei Rouanet nos permitiram ampliar a infraestrutura e fazer o parque funcionar. Na compensação ambiental as empresas que causavam impactos na natureza eram obrigadas a dar uma porcentagem dos seus lucros como uma espécie de indenização para instituições que cuidavam do meio ambiente.


Muitas empresas, inclusive a Vale, a Chesf, nos davam compensações ambientais todos os anos. A Petrobras fazia doações todo ano também. Mas, posteriormente, foi criado um fundo de compensação ambiental, em 2008 se não estou errada, e o dinheiro passou a ir para Brasília, administrado pela Caixa Econômica Federal, em vez de ir diretamente para as instituições. Recentemente, o mecanismo mudou novamente e agora o fundo é gerenciado diretamente pelo ICMBio.  Nunca mais vimos o dinheiro da compensação ambiental. Depois a Petrobras entrou em crise e também parou de nos ajudar. Então as coisas começaram a ficar difíceis. Não temos uma verba fixa. Até agora e, esporadicamente, recebemos recursos do Iphan, do ICMBio, de emendas parlamentares e de doações particulares.


Nos últimos anos o governo do Piauí tem nos apoiado dentro de suas possibilidades. Assim o parque tem sido mantido. Mas estamos sempre pedindo dinheiro para o ICMBio. Chegamos a ter 270 pessoas trabalhando para a Fumdham. Mas, nos últimos anos, só estamos demitindo. Hoje temos cerca de 70 funcionários, mas 50 estão de aviso prévio. Se não chegar verba, não sei de onde tirar dinheiro para pagar as indenizações trabalhistas. O dinheiro viria de uma ação que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Piauí abriu contra a União argumentando que ela é obrigada a manter os patrimônios da humanidade.

Quanto dinheiro a Fumdham precisa para manter suas atividades? 
A verba para o Museu do Homem Americano vem do Iphan e a do parque do ICMBio. Hoje temos 15 pessoas trabalhando no parque e outras 15 nos laboratórios de pesquisa. Os pesquisadores normalmente recebem por meio de sua ligação com projetos científicos ou são funcionários de universidades ou instituições do Brasil ou do exterior. Para manter um bom número de funcionários e as estradas do parque, precisaríamos de uns R$ 500 mil por mês. Tínhamos uma equipe de conservação das pinturas rupestres que chegava a 12 pessoas. Elas iam todo dia ao parque e visitavam os sítios para fazer trabalhos de manutenção, como tirar cupim ou uma casa de abelhas ou consertar algo. Agora temos apenas três.

Se a senhora sair, quem vai ficar em seu lugar na Fumdham?
Em princípio, a [bióloga] Marcia Chame, da Fiocruz do Rio de Janeiro. Ela foi indicada pela Fumdham para me substituir. Com a inauguração do Museu da Natureza, ela passa a ser diretora-presidente. Ela é uma excelente pesquisadora. Trabalha conosco desde os anos 1980. Depois será preciso convocar uma eleição e escolher uma nova diretoria. (#Envolverde)

Comissão Interamericana de Direitos Humanos pede reparação aos impactados por Belo Monte



Comissão Interamericana de Direitos Humanos pede reparação aos impactados por Belo Monte


Por ISA (Instituto Socioambiental) – 
A Comissão destacou o caso do povo Juruna, da Terra Indígena Paquiçamba (PA), que vive próximo à barragem e sofre graves consequências da implantação do empreendimento

No encerramento de sua visita ao país, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) chamou a atenção das autoridades e da sociedade em geral para visibilizar, atender e solucionar urgentemente a situação de repetida violação dos direitos humanos dos povos indígenas. A CIDH também destacou o caso do povo Juruna, afetado pela implementação da usina hidrelétrica (UHE) Belo Monte, no Pará.

No Brasil, os povos indígenas “sofrem episódios frequentes de violência e falta de atenção por parte dos serviços públicos, além de enfrentar dificuldades e obstáculos crescentes na demarcação de suas terras”, disse Antônia Urrejola Noguera, relatora da CIDH para o Brasil, ao apresentar as conclusões preliminares.

“O Brasil tem sido um dos maiores violadores dos direitos humanos dos povos indígenas. Nessa audiência com a CIDH, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) levou esses casos e a preocupação com o cenário político atual, onde o discurso de ódio e racismo tem sido cada vez maior, inclusive pela via institucional” relatou Luiz Eloy Terena, assessor jurídico da Apib.

No último dia 7 de novembro, a delegação da CIDH visitou a aldeia Mïratu, na Terra Indígena Paquiçamba, do povo Juruna, uma das comunidades indígenas afetadas pela barragem de Belo Monte. É a primeira vez que a Comissão foi ao local.
Bel e Gilliarde Juruna apresentam os impactos de Belo Monte sobre seu território e modo de vida|Pedro Prado-Farpa-CIDH
Ali, a CIDH ouviu os depoimentos de indígenas e ribeirinhos que lutam para manter seu modo de vida tradicional apesar da morte de milhares de peixes, da contaminação do Xingu, do despejo forçado de suas terras sem um remanejamento para perto do rio e o desenvolvimento de projetos produtivos inadequados. As lideranças relataram que esses impactos afetam de maneira diferenciada à mulheres e crianças. A Comissão também ouviu representantes da cidade de Altamira.

“Nós ressaltamos a importância da visita histórica da Comissão à TI Paquiçamba,e o reconhecimento dos impactos negativos que Belo Monte causou nos direitos humanos dos habitantes do Xingu”, disse Astrid Puentes, codiretora da Associação Interamericana para a Defesa do meio ambiente (AIDA). “Corresponde agora ao governo do Brasil adotar decisões e recomendações da CIDH, cumprindo com normas de direito e à proteção das pessoas de seu país”, complementou.

Durante a visita as pessoas se mostraram particularmente preocupadas com a implementação, no próximo ano, do plano de manejo para o fluxo do rio Xingu, chamado de Hidrograma de Consenso. O hidrograma não prevê um fluxo de água suficiente que garanta a sobrevivência das comunidades indígenas e ribeirinhas da região, e pode levar à extinção diversas espécies de plantas e animais.
“Os comissionários tiveram a oportunidade de confirmar a gravidade dos impactos e a urgência de revisar os critérios para definir a vazão residual que o rio Xingu deve manter na região da Volta Grande para garantir a subsitência física e cultura dos ribeirinhos e indígenas”, comenta Biviany Rojas, advogada do ISA.

Em 2011, as comunidades do indígenas e ribeirinhas do Xingu, representadas pela AIDA, Sociedade Paraense para a Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), Movimento Xingu Vivo para Sempre, Prelazia do Xingu, Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Justiça Global, apresentaram uma denúncia contra o Brasil pelo caso. No mesmo ano, a Comissão concedeu medidas urgentes de protecção aos povos indígenas afetados.

O caso foi iniciado formalmente em dezembro de 2015 e, em maio deste ano, as organizações apresentaram os argumentos finais. Com base nesse documento e nos argumentos do estado brasileiro, a Comissão publicará um relatório no qual concluirá se houve ou não violações aos direitos humanos, podendo emitir recomendações de reparação que deverão ser cumpridas pelo Brasil.

(#Envolverde)

Startup canadense cria linha de casacos com caxemira vegana

ALTERNATIVA

Startup canadense cria linha de casacos com caxemira vegana

A startup canadense Manon lançou recentemente uma linha de casacos baseada em caxemira vegana. De acordo com a fundadora Katharine Bozek, foram necessários três anos de pesquisa e investimento de...


15/11/2018 às 22:00
Por David Arioch
Divulgação
A startup canadense Manon lançou recentemente uma linha de casacos baseada em caxemira vegana. De acordo com a fundadora Katharine Bozek, foram necessários três anos de pesquisa e investimento de 100 mil dólares para desenvolver a nova coleção de nove casacos com cortes clássicos.
Usando uma mistura de fibras sintéticas e naturais, a Manon criou uma versão muito semelhante à caxemira de origem animal.
“Muitas pessoas têm dito: ‘Uau, eu nunca pensei que seria assim e o sentiria assim. Honestamente, é o casaco mais quente já tive e você realmente tem que ver e sentir o tecido para apreciá-lo”, disse Katharine ao VegNews.
Atualmente a startup está levantando fundos para produzir os casacos em maior escala e baratear os custos de produção para oferecê-los a preços mais acessíveis.
Fonte: Vegazeta 

Tendências negligenciadas na precipitação anual revelam riscos subestimados em todo o mundo



Uma reanálise das tendências anuais mundiais de precipitação demonstra que o risco para os sistemas humanos e ambientais tem sido subestimado.

Como resultado, pesquisadores encontraram que mais de 38% da população global e mais de 44% da área terrestre experimentaram tendências de precipitação negligenciadas.
University of Maine*

chuva
Chuva. Foto: EBC

Abordagens de análise de tendências convencionais examinam mudanças na precipitação média anual ao longo do tempo, e erroneamente assumem que mudanças na alta e baixa precipitação seguem o mesmo caminho, de acordo com Anne Lausier, doutoranda em engenharia civil e ambiental da UMaine e bolsista de pesquisa de pós-graduação da National Science Foundation. Shaleen Jain, professor associado de engenharia civil e ambiental.
O registo histórico da precipitação anual é resumido pela função de distribuição de probabilidade (PDF), onde a frequência com que a precipitação ocorre dentro de um determinado intervalo ocorre e a probabilidade de excedência (não-excedência) acima (abaixo) de um dado limite pode ser facilmente estimada .
Em seu artigo, “Overlooked Trends in Observed Global Annual Precipitation Reveal Underestimated Risks”, publicado na revista Scientific Reports, Lausier e Jain apresentam uma tipologia de tendência inovadora usando regressão quantílica e oferecem uma análise abrangente das tendências negligenciadas em todo o mundo.
Sua tipologia de tendência, em vez de se concentrar apenas nas tendências de média e mediana, estende as análises para as caudas superior e inferior do PDF para avaliar a influência combinada do risco e da variabilidade em vários limiares.
As tendências mais negligenciadas incluem um aumento do risco de condições extremas de umidade e aumento da variabilidade encontrados em partes do centro-oeste dos Estados Unidos, norte do Canadá, centro-sul da Ásia e Indonésia – regiões que abrigam quase 860 milhões de pessoas.
Por outro lado, a nova análise abrangente encontrou 840 milhões de pessoas expostas a um risco reduzido de condições de chuva, particularmente na África Austral, América do Sul e partes do norte da Ásia, indicando uma diminuição na incidência de totais anuais elevados.
Estima-se que 630 milhões de pessoas são afetadas por um risco aumentado de condições de seca em partes do sul da Europa, oeste dos EUA, sul do Canadá e norte da África.
Mais de 40% das áreas agrícolas de sequeiro do mundo estão expostas a tendências negligenciadas, incluindo partes da África meridional e ocidental e do centro-oeste dos EUA.
“A adaptação humana à mudança climática requer a compreensão da probabilidade de sofrer impactos prejudiciais”, escrevem Lausier e Jain. “Miscaracterização de riscos para sistemas humanos e ambientais pode subestimar a urgência da adaptação climática ou levar a estratégias inadequadas. Nossos resultados mostram que a população significativa e as áreas de terra na escala global correspondem às mudanças no risco e na variabilidade da precipitação, e são descaracterizadas pelas abordagens convencionais. ”
“Estimativas de risco não confiáveis ou errôneas são uma preocupação especial para contextos e comunidades mais vulneráveis”, dizem os pesquisadores. “Nossos resultados ressaltam como as tendências negligenciadas em termos de extensão espacial, regionalidade e severidade têm implicações para uma série de sistemas humanos e ambientais. A aplicação de nossa abordagem em futuros estudos climáticos permitirá a avaliação de riscos em metas de adaptação mais adequadas ”.
Referência:
Overlooked Trends in Observed Global Annual Precipitation Reveal Underestimated Risks
Anne M. Lausier & Shaleen Jain
Scientific Reportsvolume 8, Article number: 16746 (2018)
https://doi.org/10.1038/s41598-018-34993-5

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/11/2018
"Tendências negligenciadas na precipitação anual revelam riscos subestimados em todo o mundo," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/11/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/11/14/tendencias-negligenciadas-na-precipitacao-anual-revelam-riscos-subestimados-em-todo-o-mundo/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Deslizamento de encosta com vítimas em Niterói: um caso para a justiça, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos


Deslizamento de encosta com vítimas em Niterói: um caso para a justiça, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos


Equipes trabalham na remoção de entulho em área onde ocorreu deslizamento de encosta no Morro da Boa Esperança
Equipes trabalham na remoção de entulho em área onde ocorreu deslizamento de encosta no Morro da Boa Esperança – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Deslizamento de encosta

[EcoDebate] Em que pesem os meritórios avanços do meio técnico brasileiro no domínio do conhecimento técnico-científico relativo a deslizamentos de solos e rochas e à elaboração e disponibilização para as administrações públicas de enorme quantidade de eficientes produtos normativos e cartográficos, voltados a uma pronta e correta gestão do problema áreas de risco, muito pouco avançou-se frente ao objetivo real de se reduzir a probabilidade de ocorrência de novas e devastadoras tragédias associadas a deslizamentos de encostas e enchentes.
O fato é que todo esse suporte técnico colocado à disposição das autoridades públicas federais, estaduais e municipais mostra-se extremamente subutilizado, considerando as medidas práticas e efetivas que dele teriam que naturalmente decorrer nos municípios envolvidos. Por consequência, as áreas de risco, ao invés de se reduzirem, continuam se multiplicando, e as tragédias, como seria de se esperar, repetem-se e se potencializam. Ou seja, a maior dificuldade para uma efetiva redução dos acidentes associados a áreas de risco reside hoje na órbita das administrações públicas, mais precisamente na órbita da operacionalização das determinações já produzidas pela área técnica.
Esse último evento em Niterói, com um número considerável de vítimas, ilustra tragicamente essa constatação e aponta perspectivas sombrias para o novo período chuvoso que se inicia.
Importante aqui considerar que todas as questões práticas e de campo, sejam de caráter emergencial, corretivo ou preventivo, dizem respeito à área de atuação municipal. Não há dúvida, hoje o gargalo crítico que vem impedindo que os programas de gestão de riscos geológico-geotécnicos-hidrológicos colham melhores resultados está na questão municipal.
Municípios de pequeno porte demandam direto apoio estadual e federal. Porém, municípios de médio e grande teriam que ter avançado muito mais na implementação das medidas necessárias, dadas as melhores condições políticas, técnicas e financeiras de que dispõem ou às quais tem mais fácil acesso. Há nesse cenário um indisfarçável fator de irresponsabilidade pública no exercício do poder municipal, o que sugere como pertinente e indispensável uma intervenção do Ministério Público para uma boa solução do problema.
Somente por esse caminho, que inclui a responsabilização criminal de responsáveis, haveremos de reduzir a possibilidade de novas e estúpidas tragédias que sistematicamente tem levado a morte e a desgraça a tantas famílias brasileiras de baixa renda que, por contingências sociais e culturais, são mais comumente levadas a ocupar áreas de risco.
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
  • Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas
  • Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”
  • Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente
  • Colaborador e Articulista do EcoDebate
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/11/2018
"Deslizamento de encosta com vítimas em Niterói: um caso para a justiça, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/11/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/11/16/deslizamento-de-encosta-com-vitimas-em-niteroi-um-caso-para-a-justica-artigo-de-alvaro-rodrigues-dos-santos/.

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Amazônia: Nova regra de reserva legal pode levar ao aumento do desmatamento de até 15 milhões de hectares de floresta


Amazônia: Nova regra de reserva legal pode levar ao aumento do desmatamento de até 15 milhões de hectares de floresta


desmatamento

Amazônia – Até 15 milhões de hectares de floresta correm o risco de perder sua proteção em razão de artigo que permite aos estados amazônicos reduzirem as reservas legais em terras privadas de 80% para 50% se mais de 65% de seus territórios estiverem protegidos por unidades de conservação ou terras indígenas, aponta estudo

Por Elton Alisson, Agência FAPESP
Até 15 milhões de hectares de floresta tropical na Amazônia correm o risco de perder sua proteção e serem desmatados em razão de um artigo no novo Código Florestal brasileiro. O alerta foi feito por pesquisadores da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), da KTH Royal Institute of Technology e da Chalmers University of Technology, da Suécia, em artigo publicado terça-feira (13/11) na revista Nature Sustainability. O estudo é resultado de um projeto apoiado pela FAPESP.
“Os 15 milhões de hectares que podem ficar desprotegidos por essa regra no novo Código Florestal equivalem a, aproximadamente e em número, todo o déficit de reserva legal que precisa ser compensado ou restaurado no Brasil e está coberta principalmente por floresta tropical”, disse Gerd Sparovek, professor da Esalq-USP e um dos autores do estudo, à Agência FAPESP.
“A eventual perda dessas áreas para atividades agrícolas pode anular os esforços para regularização de reservas legais no Brasil e resultar em enormes perdas de biodiversidade, no comprometimento de serviços ambientais valiosos para a socidade – como fornecimento de água – e no aumento de emissões de gases de efeito estufa”, disse Sparovek.
O pesquisador explica que o antigo Código Florestal brasileiro, vigente até 2012, estabelecia que os proprietários de terrras privadas, situadas nos estados localizados na região amazônica, podiam utilizar até 20% delas, reservando os 80% restantes como reservas legais para a preservação da natureza.
O novo Código Florestal, revisado em 2012, ganhou o artigo 15, parágrafo 5, inserido a pedido do Estado do Amapá, que permite aos estados amazônicos reduzirem esse requisito de reserva legal de 80% para 50% se mais de 65% de seus territórios estiverem protegidos por unidades de conservação ou terras indígenas.
Se esse artigo for implementado, entre 7 e 15 milhões de hectares de área de floresta ficariam desprotegidos e sujeitos ao desmatamento legal. Isso porque outros estados da região, como Amazonas, Roraima e Acre, têm cerca de 80 milhões de hectares de terras públicas ainda não designadas.
A eventual destinação dessas áreas públicas para unidades de conservação ou terras indígenas também pode permitir a esses estados reduzir a proteção de propriedades privadas. Com isso, seriam abertas grandes áreas para o desmatamento legal e para expansão agrícola, apontam os pesquisadores.
“A remoção da proteção legal não significa automaticamente que essas florestas serão desmatadas. Mas é importante prestar atenção no contexto político atual, que sugere um enfraquecimento dos mecanismos de prevenção do desmatamento”, disse Flávio Luiz Mazzaro de Freitas, doutorando no KTH Royal Institute of Technology e primeiro autor do estudo.
Modelagem de cenários
Os pesquisadores avaliaram os possíveis impactos da redução da exigência de reserva legal de 80% para 50% na proteção de áreas de florestas em terras públicas e privadas na Amazônia por meio de uma base georreferenciada da malha fundiária brasileira.
A malha abrange todo o território nacional e combina bases de dados oficiais, como as das áreas protegidas nacionais e estaduais – como áreas de conservação, terras indígenas e militares –, além das bases de imóveis e de assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e os polígonos de imóveis do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Por meio dessa base georreferenciada, abrigada no cluster computacional Euler, no Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP –, os pesquisadores modelaram a implementação do artigo 12, parágrafo 5 do novo Código Florestal em dois cenários diferentes de destinação de terras atualmente não designadas na região amazônica.
No primeiro cenário, mais conservador, a proteção da natureza teria prioridade alta. No segundo, que seria o pior, o novo artigo seria plenamente implementado.
O potencial de redução da proteção florestal nessas duas situações foi quantificado e avaliado os riscos de conversão legal de terras não mais protegidas para o uso agrícola, usando medidas de adequação, além dos potenciais impactos dessa conversão de terra em termos de emissões de carbono e proteção da biodiversidade.
As análises dos dados indicaram que, nos dois cenários, os estados do Amapá, Roraima e Amazonas se qualificaram para reduzir suas reservas legais em terras privadas.
Na situação mais conservadora, 97% do território não destinado dos estados do Amazonas e do Amapá seriam designados unidades de conservação ou terras indígenas. Nesse cenário, o novo artigo do Código Florestal eliminaria a proteção de 6,5 milhões de hectares de floresta preservada, sendo 4,6 milhões de hectares no Amazonas, 1,4 milhão de hectares em Roraima e meio milhão de hectares no Amapá. E quando as unidades de conservação e as terras indígenas dentro desses estados atingissem o limite de 65% e a nova regra do Código Florestal fosse implementada, a área de floresta desprotegida mais que dobraria.
Os pesquisadores também estimaram que, no cenário mais conservador, cerca de metade das áreas de floresta que passariam a ficar desprotegidas (3,14 milhões de hectares) estaria situada em propriedades rurais registradas, 1,9 milhão de hectares em assentamentos e 600 milhões de hectares em áreas a serem intituladas.
Na pior situação, a maior parte da redução ocorreria em territórios atualmente não designados, onde as propriedades com titularidade teriam suas reservas legais reduzidas em mais de 8 milhões de hectares, previram.
“A criação de unidades de conservação, de proteção da natureza ou de terras indígenas nesses estados pode resultar em um efeito secundário, que é o aumentar a possibilidade de expandir o desmatamento. Isso é uma esquizofrenia”, disse Sparovek.
Os pesquisadores sugerem que medidas legais adotadas no contexto do Programa de Regularização Ambiental (PRA) dos estados podem ajudar a reduzir o risco de desmatamento extensivo.
Motivos econômicos também podem colaborar para reduzir os riscos de desmatamento, já que existe um forte compromisso internacional para evitar a compra de produtos originários de zonas de desmatamento. As exportações agrícolas brasileiras podem ser fortemente afetadas no caso de aumento do desmatamento na região amazônica, ressalvam.
“Esperamos que as constatações feitos no estudo tragam mais clareza sobre a possibilidade de aumento de desmatamento legal na Amazônia e contribuam para a elaboração de ações e estratégias públicas e privadas que visem mitigar possíveis danos ambientais e sociais desse processo”, disse Freitas.
O artigo Potential increase of legal deforestation in Brazilian Amazon after Forest Act revision (doi: 10.1038/s41893-018-0171-4), de Flavio L. M. Freitas, Gerd Sparovek, Göran Berndes, U. Martin Persson, Oskar Englund, Alberto Barretto e Ulla Mörtberg, pode ser lido na revista Nature Sustainability em www.nature.com/articles/s41893-018-0171-4 .

Da Agência FAPESP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/11/2018
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Suprimento mundial de água doce pode ser mais limitado do que se pensava anteriormente

Suprimento mundial de água doce pode ser mais limitado do que se pensava anteriormente


Água doce : Os EUA têm menos água subterrânea fresca do que se pensava anteriormente, de acordo com pesquisa feita por cientistas da UC Santa Barbara

Por Harrison Tasoff*
A água subterrânea, que tem sido usada para irrigar colheitas, saciar gado e saciar a sede em geral por milhares de anos, continua a ser um recurso vital em todo o mundo.
Mas de acordo com pesquisas de Scott Jasechko e Debra Perrone, professores assistentes da UC Santa Barbara, e seus colegas da Universidade de Saskatchewan e da Universidade do Arizona, o suprimento mundial de água doce pode ser mais limitado do que se pensava anteriormente.
Suas descobertas, que aparecem na revista Environmental Research Letters documenta as profundidades nas quais a água subterrânea transita de fresco para salino. O estudo é o primeiro a comparar a profundidade dos poços de água subterrânea com a profundidade da água subterrânea salina que existe na escala continental.
Como o chá fermentado em uma chaleira, quanto mais tempo a água fica em contato com a rocha, mais provável é que os minerais da rocha se dissolvam nela. Isso cria um gradiente de salinidade, de água doce no topo, através de salobra e em condições salinas, à medida que você faz uma amostragem mais abaixo. Este último trabalho demonstra que a perfuração de poços cada vez mais profundos corre o risco de bombear água salgada em algumas regiões. “Em alguns lugares, a água subterrânea salina é mais rasa do que se pensava”, disse Jasechko, professor assistente da Escola Bren de Ciência e Gestão Ambiental da UC Santa Barbara.
“A principal lição deste trabalho é que as águas frescas são finitas”, continuou ele, “que o uso excessivo de água doce pode interromper a produção de alimentos, a fabricação e o abastecimento doméstico de água”.
Acrescentou Perrone, um professor assistente no programa de estudos ambientais do campus, “Combinar estudos top-down e bottom-up pode nos dar uma janela onde existe água subterrânea fresca e não contaminada, e onde esta janela está diminuindo, ou porque o teto está vindo para baixo ou o chão está chegando. ”
Além da salinidade, as atividades de petróleo e gás podem restringir a quantidade de água subterrânea utilizável que um aqüífero tem a oferecer. A maior parte dos poços convencionais de petróleo e gás chega muito abaixo da profundidade em que as pessoas perfuram a água. No entanto, as empresas de petróleo e gás geralmente descartam efluentes em poços de injeção, às vezes em profundidades onde existe água subterrânea.
“Em algumas bacias, os poços de injeção são instalados menos do que a transição da água doce para a água salobra”, disse Perrone. “Os resultados da nossa equipe sugerem que as comunidades estão competindo por recursos hídricos subterrâneos já limitados.”
“Devemos proteger as águas subterrâneas profundas e frescas”, disse Jasechko. “A água é abundante na Terra, mas apenas uma pequena parte é fresca e descongelada. Quanto mais aprendemos, menor e mais precioso que a fração fresca e não congelada parece ser ”.
Os próximos passos de pesquisa para a equipe envolvem a exploração de como a salinidade da água subterrânea e as profundidades dos poços variam em outras áreas do planeta onde a água subterrânea fornece águas vitais para beber e irrigar.

Profundidade para a água com TDS (a) <3000 e (b) <10 000 mg l- 1 com base nos valores médios em caixas de 100 m. (c) Distribuição de STD em relação ao percentil 50 e 95 das profundidades do poço de água, in Competition for shrinking window of low salinity groundwater
Profundidade para a água com TDS (a) <3000 e (b) <10 000 mg l- 1 com base nos valores médios em caixas de 100 m. (c) Distribuição de STD em relação ao percentil 50 e 95 das profundidades do poço de água, in Competition for shrinking window of low salinity groundwater

Referência:
OPEN ACCESS
Competition for shrinking window of low salinity groundwater
Grant Ferguson1, Jennifer C McIntosh2, Debra Perrone3 and Scott Jasechko4
Published 14 November 2018 •
Environmental Research Letters, Volume 13, Number 11
http://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/aae6d8/meta

* Tradução e edição de Henrique Cortez
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/11/2018
"Suprimento mundial de água doce pode ser mais limitado do que se pensava anteriormente," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/11/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/11/16/suprimento-mundial-de-agua-doce-pode-ser-mais-limitado-do-que-se-pensava-anteriormente/.

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