quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Senado debate mudanças climáticas e políticas ambientais brasileiras

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Senado debate mudanças climáticas e políticas ambientais brasileiras

15.09.2022 • Notícias
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Debate foi realizada a pedido do senador Fábio Contarato (TV Senado/Reprodução)

Por Lucas Guaraldo*

Durante a sessão de debates temáticos, realizada no dia 13 de setembro, ambientalistas, pesquisadores e ativistas apontam as fragilidades no cumprimento das metas da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), firmada na COP26, e divulgaram dados a respeito das emissões de gases do efeito estufa e desmatamento no Brasil. 

A reunião foi realizada a pedido do senador Fábio Contarato (PT-ES), membro da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, e tem por objetivo guiar as propostas do Brasil na COP 27, que ocorre entre os dias 6 e 18 de novembro de 2021, em Sharm el-Sheikh, no Egito, e que debaterá a implementação de políticas de redução das emissões e transição energética. 

Para o debate foram convidados o coordenador do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa)  do Observatório do Clima e do MapBiomas, Tasso Azevedo, a advogada especializada em mudanças climáticas e diretora-executiva da rede Laclima, Caroline Prolo e a diretora Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), Mônica Sodré, a coordenadora de políticas climáticas, Mariana Marçal e a Coordenadora de Baixo Carbono e Resiliência do ICLEI Brasil, Leta Vieira, dentre outros. 

Durante a abertura da sessão, Contarato criticou as NDCs brasileiras e o progresso feito nos acordos firmados durante a COP 26, criticando a atuação do Governo Federal e alertando para as consequências internacionais da falta de fiscalização ambiental no Brasil

“A NDC brasileira, pactuada na COP26, relatou forte retrocesso na política ambiental brasileira, com frustração das metas apresentadas, descrição vaga e imprecisa dos caminhos para se chegar nas metas propostas e clara ausência de indicadores que atestam o seu cumprimento. A estratégia do governo é desmontar a estrutura de fiscalização ambiental e dourar a pílula em face das pressões internacionais que ameaçam, inclusive, setores tradicionais da exportação brasileira”, alertou o senador. 

Os desafios brasileiros

De acordo com dados da SEEG Brasil (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de maiores emissores, atrás apenas de EUA, China, Índia e Rússia. Além disso, no caso do Brasil, a maior parte das emissões vem da transição do uso da terra, como o desmatamento e transformações de florestas em pastagem e lavoura. 

Para Azevedo, a perda de cobertura vegetal nativa no Brasil nos últimos 37 anos tem sido preocupante e tem limitado a capacidade das matas brasileiras de reter o carbono que liberamos na atmosfera. 

“Perdemos 84,7 milhões de hectares de vegetação nativa desde 1985. Perdemos uma área equivalente a 20 vezes o Estado do Rio de Janeiro. Essa perda tem dois reflexos. De um lado, ela resulta na emissão de bilhões e bilhões de toneladas de gases do efeito estufa e do outro, reduzimos drasticamente a nossa área de captura de carbono”, afirmou o coordenador do SEEG. 

Além disso, o fogo tem prejudicado a capacidade de regeneração brasileira. Segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), após índices de desmatamento recorde em agosto, a primeira semana de setembro já registrou 20.261 focos de incêndio, superando os focos registrados em todo o mês de setembro de  2021. 

Durante o debate no Senado, houve um alerta para a extensão e a escala dos incêndios florestais brasileiros e para a relação do fogo com o uso indevido do território e com o desmatamento.  Nos últimos 36 anos, o Brasil queimou quase 20% (1.672.142 km2) de seu território pelo menos uma vez e metade disso pegou fogo mais de uma vez. Isso faz com que os incêndios florestais gigantes que vemos na Califórnia ou na Europa pareçam coisas muito pequenas.

Objetivos para a COP 27

Enfrentar os desafios no cumprimento das NDCs brasileira, além de recuperar parte do papel propositivo do Brasil nas negociações ambientais globais, protegeria as exportações brasileiras de embargos, como o da União Europeia, evitaria perdas em safras agrícolas e crises energéticas causadas pela seca e abriria uma série de oportunidades de desenvolvimento sustentável para o país. 

A necessidade do Brasil retomar o caminho da preservação ambiental foi apontado como um dos principais caminhos que podem ser explorados durante as reuniões da COP 27. 

Segundo Mariana Marçal, a COP 27 representa mais uma oportunidade de negociação de apoio internacional e que o Brasil não pode vacilar na apresentação de propostas e de resultados. 

“O Brasil seja pela União, seja pelos Estado, não pode mais ir a uma COP sem demonstrar, sem apresentar com clareza, o que tem feito para implementar as ações em nível local para a redução de emissões de gases. Os financiadores estão atentos, a comunidade internacional está atenta e os brasileiro têm demonstrado que estão atentos”, alertou a pesquisadora e ambientalista. 

Estagiário sob supervisão de Natália Moura*


Calor e seca aumentam no Cerrado com o avanço do desmatamento

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Calor e seca aumentam no Cerrado com o avanço do desmatamento

08.09.2022 • Notícias
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Os efeitos do desmatamento podem se estender para outras regiões que dependem do Cerrado para a provisão de água. Foto: Thomas Bauer.

Por Sara R. Leal*

A conversão de áreas nativas do Cerrado para pastagens e agricultura já tornou o clima na região quase 1°C mais quente e 10% mais seco. Os dados foram divulgados hoje, 8 de setembro, em artigo publicado na revista científica Global Change Biology. O estudo abordou impactos históricos e futuros da expansão agrícola sobre o clima regional do Cerrado, um hotspot global de biodiversidade.

O trabalho foi liderado por pesquisadores da UnB (Universidade de Brasília), em colaboração com outras universidades e instituições de pesquisa tais como o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia) e o Woodwell Climate Research Center.

Os resultados mostraram que não só a perda de florestas impacta o clima, mas também a perda de vegetação savânica – a mais abundante no bioma e uma das mais ameaçadas – e campestre. Essas duas últimas formações vegetais são menos representadas em estudos climáticos, apesar de exercerem funções importantes para a regulação do clima.

O estudo destaca que a conservação do Cerrado e sua biodiversidade tem importância vital para a estabilidade climática e hidrológica local e regional. Os efeitos do desmatamento podem se estender para outras regiões que dependem do Cerrado para a provisão de água, como o Pantanal e a bacia do rio São Francisco, que abastece boa parte do Nordeste.

Para a modelagem, o artigo utilizou os dados históricos de cobertura e uso da terra do MapBiomas, onde o IPAM é a instituição responsável pelo mapeamento pelos tipos de vegetação nativa do Cerrado, entre eles formações florestais, savânicas, campestres e áreas úmidas. Em agosto foi lançada a Coleção 7, revelando que de 1985 a 2021, no bioma, a vegetação savânica perdeu 25% da cobertura original, 15% das formações florestais e 20% das campestres.

“Ainda temos 53% da vegetação nativa remanescente no Cerrado, mas o desmatamento no bioma ainda segue e tem crescido nos últimos três anos, precisamos inserir o bioma nas políticas climáticas e de combate ao desmatamento para garantir nossa resiliência climática”, afirma a pesquisadora no IPAM e coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo.

As políticas ambientais adotadas hoje irão definir o futuro climático da região

Considerando possíveis reflexos das políticas ambientais, os pesquisadores modelaram três cenários futuros para o clima do Cerrado. O primeiro, chamado “Colapso do Cerrado”, modelou o clima com a continuação do desmatamento legal e ilegal na região até 2050, sem políticas de controle.

Um segundo cenário intermediário avaliou apenas o desmatamento permitido por lei – em um total de 28 milhões de hectares. Um terceiro cenário, mais positivo, modelou o que aconteceria com o clima da região sob uma política de desmatamento zero combinada com a recuperação de 5 milhões de hectares de áreas em propriedades privadas degradadas ilegalmente, que por lei teriam que ser preservadas.

Os resultados mostraram calor severo e seca até meados do século, se o desmatamento continuar. O aumento de temperatura foi de 0,7°C no pior cenário e de 0,3°C no cenário intermediário. A estimativa é referente apenas ao desmatamento na região e não inclui o aquecimento global esperado de mais de 1°C durante o período.

Já a política de desmatamento zero e restauração de áreas desmatadas ilegalmente é um passo no sentido oposto, para evitar o agravamento da crise climática. Porém, não é suficiente para contrabalançar as grandes transformações em curso.

Para Ariane Rodrigues, pesquisadora da Universidade de Brasília e primeira autora do estudo, é urgente colocar em prática metas mais ambiciosas de conservação, restauração e uso sustentável dos ecossistemas do Cerrado. “Os nossos resultados mostram que seguir o curso atual pode trazer consequências desastrosas para o clima, o regime de chuvas, a produção de alimentos e a biodiversidade, se estendendo além dos limites do bioma. Daí a importância de incluir o Cerrado em acordos climáticos internacionais e negociações para eliminar o desmatamento das cadeias de produção agrícola”, afirmou.

 

*Jornalista no IPAM, sara.pereira@ipam.org.br

OCUPAÇÃO DE APPS ÀS MARGENS DE RIOS E CÓRREGOS DOBROU ENTRE 1985 E 2020

 



MAPBIOMAS
OCUPAÇÃO DE APPS ÀS MARGENS DE RIOS E CÓRREGOS DOBROU ENTRE 1985 E 2020 

Apesar disso, mais de 70% dessas áreas ainda estão preservadas

Pelo Código Florestal, as faixas às margens de rios, córregos e nascentes são áreas de preservação permanente (APPs). Sua extensão é determinada pelas características dos cursos d’água, tais como a sua largura, sendo que o mínimo é de 30 metros para os rios mais estreitos podendo chegar até a 500 metros para os rios mais largos . Para saber o quanto essas APPs estão (ou não) conservadas em ambientes urbanos, o MapBiomas analisou imagens de satélite entre 1985 e 2020. Os resultados mostram que nesse período dobrou a área urbanizada nessa faixa que, por lei, deve seguir regulamentos específicos para a sua ocupação. As áreas cobertas por construções e infraestruturas a pelo menos 30 metros dos corpos hídricos (como rios e córregos) dentro de cidades passaram de 61,6 mil hectares em 1985 para 121 mil hectares em 2020.

“Este é um dado que por si só é preocupante, já que a proximidade de construções e infraestruturas urbanas pode comprometer  a qualidade e aumenta a vazão da água, contribuindo para enchentes na estação chuvosa”, lembra Julio Cesar Pedrassoli, coordenador da equipe de infraestrutura urbana do MapBiomas e que participou da elaboração da nota técnica “Análise da ocupação urbana em torno de corpos hídricos no Brasil.  “Com o agravamento da crise climática, que está afetando a regularidade e o volume das chuvas, a preservação das áreas sem construções no entorno de corpos hídricos torna-se crítica para a segurança das pessoas e para a qualidade ambiental”, completa Edimilson Rodrigues, um dos autores do estudo.

As faixas marginais de 30 m de corpos hídricos urbanos ocupam 422 mil hectares no Brasil. Desse total, 71% ainda não estavam urbanizados em 2020. Esses 300,2 mil hectares remanescentes de vegetação, ou não cobertos por áreas construídas, ainda podem ser preservados. Atualmente essa tarefa é das prefeituras que, desde o final de dezembro do ano passado receberam o poder de regulamentar as faixas de restrição à beira de rios, córregos, lagos e lagoas nos seus limites urbanos. Essa atribuição é resultante da alteração do Código Florestal pela Lei 14.285, de 2021, que permite a regularização de edifícios às margens de cursos e corpos d'água em áreas urbanas.

Quase um quinto (19,8%) das áreas urbanizadas a 30 m no entorno de rios e córregos urbanos estão concentradas em apenas 20 municípios. “Isso significa que uma atuação mais rigorosa dessas prefeituras pode preservar ou até mesmo recuperar essas APPs, elevando a resiliência do ambiente urbano a enchentes e melhorando a condição de vida das pessoas”, explica Julio. Desses 20 municípios, 11 são capitais, incluindo as líderes desse ranking: São Paulo (3,73 mil ha), Rio de Janeiro (3,40 mil ha), Fortaleza (1,41 mil ha), Manaus (1,38 mil ha) e Curitiba (1,27 mil ha).  

O MapBiomas também calculou os estados com maior ocupação urbana no entorno de rios e lagos. Três estados do Sudeste estão entre os cinco primeiros colocados: São Paulo (12,94 mil ha), Rio de Janeiro (7,28 mil ha), Minas Gerais (6,68 mil ha), Santa Catarina (4,94 mil ha) e Ceará (4,19 mil ha).  “ Todos têm registrado episódios dramáticos de enchentes com enormes prejuízos humanos e financeiros, o que reforça a importância de recuperação e preservação das APPs hídricas”, reforça Júlio.

A nota técnica do MapBiomas avaliou Áreas de Preservação Permanente nos perímetros urbanos aprofundando-se em um conjunto de 17 municípios na Amazônia Legal (Rio Branco/AC, Cuiabá/MT, Belém/PA, Boa Vista/RR, Palmas/TO e Manaus/AM) e na Bacia do Paraná (Brasília/DF, Campinas/SP, Campo Grande/MS, Curitiba/PR, Goiânia/GO, Londrina/PR, Ribeirão Preto/SP, Santo André/SP, São Bernardo do Campo/SP, São Paulo/SP e Sorocaba/SP).  

Nesse universo, os resultados são mais favoráveis: nele, 82% das APPs hídricas urbanas não estão ocupadas por construções ou infraestrutura, o que representa 48.924 ha cobertos por vegetação ou água em 2020.  Ou seja, mesmo as cidades com ocupação urbana densa ainda possuem cobertura vegetal em APPs hídricas. A taxa de cobertura vegetal em APPs hídricas em áreas de urbanização densa nesse conjunto de 17 municípios é liderada por Goiânia (74,93%), Campo Grande (65,43%), Belém (52,77%), Curitiba (52,25%) e Cuiabá (51,26%).  No outro extremo, as menores taxas foram encontradas em São Bernardo do Campo (13,06%), Manaus (16,48%), Santo André (17,01%), Boa Vista (17,28%) e Campinas (22,37%). 

Porém, quando a análise olha para os estados como um todo, a situação é diferente: dos 27 estados brasileiros, apenas seis têm área coberta por construções e infraestruturas inferior às áreas preservadas na margem de 30 m no entorno de rios e lagos. São eles: Roraima (0,12 mil ha de área urbanizada vs. 0,29 mil ha de áreas não cobertas por construções e infraestruturas), Mato Grosso do Sul (0,38 mil ha vs 0,50 mil ha), Goiás (1,15 mil ha vs 1,16 mil ha), Paraná (2,25 mil ha vs 2,78 mil ha), Rio Grande do Sul (3,11 mil ha vs 3,18 mil ha) e Espírito Santo (3,89 mil ha vs 4,08 mil ha).

"Quando os estados como um todo são analisados, a situação fica mais amena. Isso porque são em municípios específicos, como São Paulo, Manaus, Rio de Janeiro, e as demais capitais,  que o problema da ocupação é mais grave", explica Edimilson. 

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Em apenas dez dias, segundo incêndio atinge o Parque Nacional de Brasília: 10% da unidade de conservação já foi queimada

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Em apenas dez dias, segundo incêndio atinge o Parque Nacional de Brasília: 10% da unidade de conservação já foi queimada

Em apenas dez dias, segundo incêndio atinge o Parque Nacional de Brasília: 10% da unidade de conservação já foi queimada

Distrito Federal enfrenta uma das piores secas de sua história. Há 130 dias não chove na região da capital federal e na quarta-feira (14/09) foi registrado o quarto dia seguido com recorde de calor, que chegou a 35,2ºC. A umidade do ar ficou em 11%. O resultado disso é não apenas a péssima qualidade do ar e o aumento de problemas de saúde entre a população, mas também, os riscos maiores de queimadas. É o que vem acontecendo no Parque Nacional de Brasília, que em apenas dois dias, já enfrenta o segundo incêndio.

O primeiro deles ocorreu no começo de setembro nessa que é uma importante Unidade de Conservação (UC) do Cerrado brasileiro. No incêndio que atingiu o parque há dez dias, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) foram destruídos 4 mil hectares de vegetação.

O fogo acabou sendo controlado pelos brigadistas e equipes do Corpo de Bombeiros, mas esta semana o parque voltou a queimar. Uma aeronave está sobrevoando o local para monitorar as áreas do incêndio e ajudar as equipes em terra a combater as chamas.

De acordo com o ICMBio, a área sendo destruída agora é maior que a devastada anteriormente e 10% do parque já foi queimado.

Imagem divulgada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal

O Parque Nacional de Brasília foi criado em 1961, um ano após a inauguração da capital, e abrange uma área de pouco mais de 40 mil hectares. Essa unidade de conservação abriga diversas espécies ameaçadas de extinção da fauna brasileira, entre elas, o tico-tico-do-mato (Coryphaspiza melanotis), o gato-maracajá (Leopardus pardalis mitis), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o tatu-canastra (Priodontes maximus).

Outras regiões do Brasil também estão sofrendo com a falta de chuvas e os incêndios florestais. O Parque Estadual Cristalino I e II, entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo, ao norte do Mato Grosso, já perdeu mais de 5 mil hectares. O fogo começou em meados de agosto, numa área de 800 hectares e rapidamente se alastrou (leia mais aqui).

E enquanto importantes hotspots da biodiversidade brasileira queimam, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tinha usado até o início de setembro somente 37% do orçamento para prevenção e controle de incêndios em 2022, denunciou o Observatório do Clima.

*Com informações dos sites do ICMBio, Correio Braziliense e G1.

Leia também:
Em apenas oito dias, focos de queimadas na Amazônia já são 21% maiores do que em todo o mês de setembro de 2021, alerta Inpe
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Foto de abertura: Wilson Dias/Agência Brasil/Fotos Públicas

A descoberta sobre poluição do ar que pode revolucionar combate ao câncer

 


A descoberta sobre poluição do ar que pode revolucionar combate ao câncer

GETTY IMAGES

Pesquisadores dizem ter descoberto como a poluição do ar leva ao câncer, em uma descoberta que transforma completamente nossa compreensão de como surgem tumores.

A equipe do Francis Crick Institute, em Londres, mostrou que, em vez de causar danos, a poluição do ar estava despertando células velhas danificadas.

Um dos maiores especialistas do mundo no assunto, o professor Charles Swanton disse que o avanço marca uma “nova era”.

E agora pode ser possível desenvolver drogas que impeçam a formação de cânceres.

As descobertas podem explicar como centenas de substâncias cancerígenas agem no corpo.

A visão clássica do câncer começa com uma célula saudável. Ela adquire mais e mais mutações em seu código genético, ou DNA, até atingir um ponto de inflexão. Então ela se torna um câncer e cresce descontroladamente.

Mas há problemas com essa ideia: mutações cancerígenas são encontradas em tecidos aparentemente saudáveis, e muitas substâncias conhecidas por causar câncer – incluindo a poluição do ar – não parecem danificar o DNA das pessoas.

Então qual o problema?

Os pesquisadores produziram evidências de uma ideia diferente. O dano já está no DNA de nossa célula, captado à medida que crescemos e envelhecemos, mas algo precisa puxar o gatilho que realmente o torna canceroso.

A descoberta veio de investigar por que não-fumantes têm câncer de pulmão. A esmagadora maioria dos cânceres de pulmão é causada pelo tabagismo, mas, ainda assim, um em cada dez casos no Reino Unido se deve à poluição do ar.

Os cientistas do Francis Crick se concentraram em uma forma de poluição chamada material particulado 2,5 (conhecido como PM2,5), que é muito menor que o diâmetro de um fio de cabelo humano.

Por meio de uma série de experimentos detalhados em humanos e animais, eles mostraram que:

• Locais com níveis mais altos de poluição do ar tiveram mais cânceres de pulmão não causados pelo fumo

• Respirar PM2,5 leva à liberação de um alarme químico (interleucina-1-beta) nos pulmões

• Isso causa inflamação e ativa as células nos pulmões para ajudar a reparar qualquer dano

• Mas cerca de uma em cada 600.000 células nos pulmões de uma pessoa de 50 anos já contém mutações potencialmente cancerígenas

• Elas são adquiridas à medida que envelhecemos, mas parecem completamente saudáveis ​​até serem ativadas pelo alarme químico e se tornarem cancerosas

Crucialmente, os pesquisadores foram capazes de impedir a formação de câncer em camundongos expostos à poluição do ar usando uma droga que bloqueia o sinal de alarme.

Os resultados são um avanço duplo, tanto para a compreensão do impacto da poluição do ar quanto para os fundamentos de como temos câncer.

Emilia Lim, uma das pesquisadoras do Francis Crick Institute, disse que as pessoas que nunca fumaram, mas desenvolveram câncer de pulmão, muitas vezes não tinham ideia do motivo.

“Dar a eles algumas pistas sobre como isso pode funcionar é muito, muito importante”, disse ela.

“É superimportante – 99% das pessoas no mundo vivem em lugares onde a poluição do ar excede as diretrizes da OMS, então isso realmente afeta a todos nós.”

Descobertas podem levar a uma nova compreensão de como os cânceres se formam – GETTY IMAGES

Repensando o câncer

Mas os resultados também mostraram que as mutações sozinhas nem sempre são suficientes para causar câncer. Elas podem precisar de um elemento extra.

O professor Swanton disse que essa foi a descoberta mais emocionante que seu laboratório encontrou, pois “realmente repensa nossa compreensão de como os tumores são iniciados”. Ele disse que isso levaria a uma “nova era” de prevenção do câncer molecular.

A ideia de tomar uma pílula para bloquear o câncer se você mora em uma área altamente poluída não é completamente fantasiosa.

Os médicos já testaram um medicamento interleucina-1-beta em doenças cardiovasculares e descobriram, por completo acidente, que ele reduz o risco de câncer de pulmão.

As últimas descobertas estão sendo apresentadas aos cientistas em uma conferência da Sociedade Europeia de Oncologia Médica.

Falando à BBC da conferência, o professor Swanton disse: “A poluição é um belo exemplo, mas haverá outros 200 exemplos disso nos próximos 10 anos”.

E ele disse que precisávamos repensar até como fumar causa câncer – é apenas o dano conhecido ao DNA causado pelos produtos químicos do tabaco ou a fumaça também causa inflamação?

Curiosamente, a ideia de que o DNA mutante não é suficiente e os cânceres precisam de outro gatilho para crescer foi proposta pela primeira vez pelo cientista Isaac Berenblum em 1947.

“Filosoficamente, é fascinante. Esses incríveis biólogos fizeram esse trabalho há 75 anos e ele foi amplamente ignorado”, disse Lim.

Michelle Mitchell, executiva-chefe da Cancer Research UK, enfatizou que “o tabagismo continua sendo a maior causa de câncer de pulmão”.

Mas ela acrescentou: “A ciência, que leva anos de trabalho meticuloso, está mudando nosso pensamento sobre como o câncer se desenvolve. Agora temos uma compreensão muito melhor das forças motrizes por trás do câncer de pulmão”.

Fonte: BBC

Liberar mineração na Amazônia devastaria 183 km² de floresta

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Liberar mineração na Amazônia devastaria 183 km² de floresta

CIENTISTAS BRASILEIROS MAPEARAM 242 DEPÓSITOS MINERAIS NA RESERVA NACIONAL DE COBRE E ASSOCIADOS (RENCA) PARA ESTIMAR IMPACTO DA CRIAÇÃO DE NOVAS MINAS NA REGIÃO

Garimpo e mineraçãona Amazônia (Foto: Chico Batata/Greenpeace)

Um modelo desenvolvido por pesquisadores brasileiros mostrou que a abertura de áreas protegidas na Amazônia para projetos de mineração levaria à devastação de 183 quilômetros quadrados (km²) de floresta resultante diretamente das novas minas e à perda de mais 7.626 km² derivada dos impactos diretos e indiretos para a construção de infraestrutura.

Os cientistas mapearam 242 depósitos minerais na Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca). O desmatamento representaria 16,6% dos 47 mil km² da área total da Renca, localizada entre os Estados do Amapá e Pará.

Esse cenário exigiria 1.463 km de novas estradas que facilitassem o acesso à região, causando desmatamento indireto (estimado em 40 vezes maior que a devastação direta da mineração) e fragmentação da paisagem, com uma importante perda de biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos da floresta.

O resultado do estudo foi publicado na revista científica Nature Sustainability em meio a discussões de projetos de lei no Congresso Nacional que preveem a autorização de mineração em áreas protegidas, incluindo Terras Indígenas (TIs). Além disso, o desmatamento na Amazônia vem registrando altas taxas, tendo ficado em 8.590,33 km², entre agosto de 2021 e julho de 2022, a terceira maior desde 2015, de acordos com dados do Deter, ferramenta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O trabalho modelou cinco cenários de expansão da mineração por 30 anos na Renca. Atualmente, nove Unidades de Conservação cobrem 90% da área da reserva, sendo duas TIs, três áreas de proteção integral e quatro de uso sustentável. A mineração não é permitida legalmente dentro desse território e das áreas protegidas que estão na Renca.

Em 2017, o então presidente Michel Temer tentou acabar com a proteção da reserva com o argumento de exploração comercial, mas voltou atrás após pressão de organizações não governamentais (ONGs) e sociedade civil.

“Uma das inovações da pesquisa foi a modelagem de impactos futuros de possíveis áreas novas para a mineração e da infraestrutura necessária para chegar até elas, como a construção de estradas. Acreditamos que as discussões e propostas de reduzir áreas protegidas devem considerar o impacto na floresta, em sua biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos. Por isso, a necessidade de ter um planejamento estratégico para esses casos”, disse à Agência FAPESP a engenheira ambiental Juliana Siqueira-Gay.

Ela é a primeira autora do artigo, que é parte de sua tese de doutorado defendida na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Por seu trabalho, foi escolhida pela Associação Internacional de Avaliação de Impacto (IAIA, na sigla em inglês) para receber o Prêmio IAIA Juventude de 2022, voltado para o reconhecimento de conquistas na área da avaliação de impacto ambiental por membros da associação com menos de 35 anos. Recentemente, a pesquisadora recebeu menção honrosa do Prêmio Capes de Tese, instituição que financiou sua bolsa de estudos.

Para o professor da USP Luis Enrique Sánchez, orientador de Siqueira-Gay e coautor do artigo, o trabalho pode contribuir na tomada de decisões.

“A pesquisa mostra que antes de mudar regras para reduzir áreas de conservação, ou abrir Terras Indígenas para produção mineral ou ainda suspender o decreto da Renca é preciso avaliar os impactos por meio de estudos ambientais com caráter estratégico, e não caso a caso. Essas decisões podem ter implicações em escala regional. Mostramos que avaliações de impacto de políticas governamentais precisam ser feitas”, completa Sánchez, que recebe apoio da FAPESP.

O professor cita um outro estudo, publicado na revista One Earth, em 2020, pelo grupo e com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tratando especificamente de Terras Indígenas. À época, eles calcularam que a mineração nessas áreas poderia aumentar em 20% o impacto sobre a floresta e gerar perdas de até US$ 5 bilhões em serviços ecossistêmicos, como regulação de chuvas e produção de alimentos.

Cenários

O grupo desenvolveu modelos espaciais de mudança de uso da terra para simular a expansão das minas e da infraestrutura associada para acessá-las, incluindo a área da Renca e arredores, em um total de cerca de 250 mil km² (o que corresponde a 5% do território da Amazônia Legal).

Foram montados cinco cenários relevantes para a política de permissão de mineração e aumento de outras atividades humanas na Renca. Em um deles, o decreto da reserva permanece ativo e nenhuma área de preservação muda.

Nos outros quatro, o decreto é suspenso, mas são colocados pontos para cada um: 1) muda a legislação sobre Terras Indígenas, permitindo mineração e construção de estradas de acesso; 2) modifica o plano de gestão das áreas de uso sustentável para permitir a atividade; 3) permite mineração em TIs e áreas de uso sustentável; e 4) suspende exigências em todas as Unidades de Conservação da Renca.

Em nenhuma das modelagens houve um resultado desejável de conservação, sendo que todas em alguma medida apresentaram aumento do desmatamento, perda de áreas altamente biodiversas e crescimento da fragmentação da paisagem. Em alguns casos uma rede rodoviária longa e cara seria necessária, criando uma pressão adicional para abrir ainda mais as áreas de proteção e gerando mais fragmentação florestal.

Os pesquisadores não tratam especificamente de minas de ouro, mas citam que a região é conhecida por abrigar diversas jazidas, já ocupadas por garimpo ilegal. “Dado o crescimento atual dessas atividades ilegais na Amazônia devido ao preço do ouro e apoio político, abrir a região para exploração, mineração e infraestrutura induziria uma maior ocupação informal em busca de jazidas de ouro”, escrevem os pesquisadores.

Segundo Sánchez, no contexto atual da Floresta Amazônica, em que há baixa governança, as pressões sobre a área aumentam. “As vias de acesso, como estradas, são portas de entrada e facilitam outras atividades, sejam legais ou ilegais. Quando há baixa governança, o impacto da mineração se multiplica”, afirma o professor.

Relatório divulgado no ano passado pelo MapBiomas, uma rede colaborativa formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia que mapeia cobertura e uso do solo no Brasil, calculou que a área minerada no país cresceu seis vezes entre 1985 e 2020. O dado, que resultou da análise de imagens de satélite com o auxílio de inteligência artificial, aponta salto de 310 km² para 2.060 km² no período, sendo parte dessa expansão na Amazônia (em 2020, três a cada quatro hectares minerados estavam na região, sendo a maior parte relativo a garimpos).

“Nas modelagens, usamos depósitos minerais sem dividir por tipos de minério, então não tratamos de forma diferenciada uma possível mineração de ouro, por exemplo. Sabemos que já há muitas jazidas na região e não dá para negligenciar que a construção de novas estradas facilitaria ainda mais o acesso”, explica Siqueira-Gay, que atualmente trabalha com o tema da mineração e desmatamento no Instituto Escolhas, uma associação sem fins econômicos que produz estudos e análises sobre sustentabilidade.

A pesquisadora cita também a transição energética, que deve nos próximos anos pressionar uma mudança no perfil da demanda por minérios de transição para abastecer indústrias, como a solar, a eólica e a de carros elétricos. “A importância da proteção da paisagem é um tema que continuará sendo discutido. Essa abertura de novas áreas dialoga com o trabalho que fizemos.”

Fonte: Galileu