quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A intensa vida sexual das plantas

28 de Fevereiro de 2014


Vegetais competem por oportunidades de acasalamento e ‘escolhem’ seus parceiros sexuais. Entendam como essas estratégias reprodutivas evoluíram ao longo do tempo, gerando flores de cores, formas e cheiros variados. 

               
Em se tratando de sexo, as plantas são escandalosamente liberais. Muitas só fazem sexo consigo mesmas. Outras fazem sexo simultaneamente com vários vizinhos ou com parceiros casuais que vivem a centenas de quilômetros de distância. Em algumas plantas, é possível reconhecer claramente machos ou fêmeas, mas na maioria dos vegetais os indivíduos exercem tanto o papel feminino quanto o masculino.

Algumas plantas, sem nenhum pudor, trocam de sexo durante a vida. Outras são ‘conservadoras’ e se recusam a fazer sexo com indivíduos aparentados, e há ainda as que nunca fazem sexo. Muitas espécies ostentam órgãos sexuais exageradamente avantajados e coloridos, e fazem questão de exibi-los. Mas também é verdade que algumas plantas têm aparelhos sexuais minúsculos ou ocultos.

A evolução dessa grande diversidade reprodutiva deve-se a intensas disputas sexuais entre os indivíduos. Esses embates vêm sendo confirmados, mas por muito tempo foram desconhecidos – até pelo maior evolucionista de todos, Charles Darwin (1809-1882) – ou contestados. Pesquisas mais recentes constataram não apenas que a seleção sexual é uma força importante na evolução e diversificação das plantas superiores, mas também que a variedade é essencial para o funcionamento de comunidades vegetais na natureza e para atividades humanas, como a agricultura, a jardinagem e as indústrias de madeira, alimentos e medicamentos.

A chave do enigma 
Ao elaborar sua teoria da evolução por meio da seleção natural, Darwin enfrentou uma grande dificuldade teórica: como explicar que, além de apresentar diferenças em seus aparelhos reprodutivos (características sexuais primárias), machos e fêmeas exibem óbvias diferenças em outros aspectos de seu corpo e em seu comportamento, chamadas de características sexuais secundárias?

Por que os leões são maiores que as leoas? Por que pavões machos exibem plumas longas e ornamentadas, enquanto as fêmeas dessas aves são basicamente cinzentas? Por que os alces irlandeses machos, extintos na última Era glacial, exibiam galhadas de até 3,5 m, inexistentes em fêmeas? Por que os sapos machos cantam e as fêmeas se calam?

Para Darwin, a seleção natural, por agir de modo semelhante nos dois sexos, não podia explicar a evolução das características sexuais secundárias. Afinal, machos e fêmeas em geral vivem no mesmo lugar e sob o mesmo clima, comem a mesma comida e são atacados pelos mesmos predadores e parasitas.

O conceito de ‘seleção sexual’ foi a chave encontrada por Darwin para resolver o enigma. Segundo ele, a seleção sexual seria a “vantagem que certos indivíduos têm sobre outros indivíduos do mesmo sexo e espécie exclusivamente em relação à reprodução”. Esse conceito, embora proposto por Darwin em 1859, no livro A origem das espécies por meio da seleção natural, só seria discutido a fundo por ele em 1871, no livro A origem do homem e a seleção sexual.

Darwin reconheceu dois principais mecanismos de seleção sexual: ‘competição entre machos’ e ‘escolha pelas fêmeas’. Na competição entre machos, estes lutam entre si, em combates diretos (às vezes mortais) ou por meio de ritualizações (exibições físicas, rituais de cortejo e outras), para ter acesso a mais e melhores oportunidades de acasalar. Na escolha pelas fêmeas, estas comparam a qualidade dos machos disponíveis, com base no aspecto físico ou no comportamento, e escolhem os aparentemente mais fortes ou mais saudáveis como parceiros reprodutivos.

Esses mecanismos foram descritos a partir de comportamentos de disputas, brigas, cantos, danças, discriminação, gostos e escolhas que pareciam, a princípio, exigir um mínimo de movimentação, capacidade mental e percepção. Assim, embora o conceito de seleção sexual tenha sido um avanço extraordinário para a teoria da evolução, ele ficou restrito ao reino animal. Um século se passou até que a biologia conseguisse aplicar o conceito de seleção sexual às plantas.

Guerra do sexo 
Em 1979, um artigo pioneiro – ‘Seleção sexual em plantas’ – foi publicado pela ecóloga norte-americana Mary F. Willson, apontando evidências científicas de que tanto a competição entre machos quanto a escolha pelas fêmeas são importantes forças evolutivas também para as plantas, e que a imensa diversidade de flores decorre desses processos. 

O trabalho quebrou a visão ingênua de que plantas da mesma espécie colaboram entre si para reproduzir e competem apenas com as de outras espécies pelos polinizadores.

          

A competição evolutivamente importante ocorre entre indivíduos geneticamente diferentes da mesma espécie e, em particular, entre os do mesmo sexo. As outras espécies apenas modificam a arena ecológica onde ocorre o embate evolutivo.

Quando chega a estação reprodutiva de determinada espécie de árvore, há um conflito aberto por sucesso reprodutivo. Alguns indivíduos, porque são maiores, mais vigorosos e com adaptações que favorecem seu sucesso reprodutivo, conseguirão aumentar a frequência de seus genes na próxima geração. Os menos favorecidos tenderão a ser eliminados pela seleção sexual. Ou seja, a ‘guerra do sexo’ é intensa mesmo entre espécies que não se movem e não têm um comportamento evidente, como as plantas.


Laísa Mangelli

Comissão do Senado aprova projeto que torna vaquejada manifestação da cultura nacional








A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou na terça-feira (1º) projeto de lei que torna a vaquejada patrimônio cultural imaterial e manifestação da cultura nacional. A proposta é uma tentativa de reverter decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerar a prática inconstitucional, por estar ligada a maus-tratos de animais.



Durante a discussão do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 24/2016, do deputado Capitão Augusto (PR-SP), o senador Roberto Muniz (PP-BA) defendeu a vaquejada e disse que a prática é diferente das touradas, por exemplo, em que não há “carinho” entre o homem e os animais, segundo ele.




Brasília - Manifestantes protestam contra decisão do Supremo Tribunal Federal de proibir a vaquejada no país (José Cruz/Agência Brasil)
Manifestantes protestam contra decisão do Supremo Tribunal Federal de proibir a vaquejada no país. Foto: José Cruz/Agência Brasil
 
“Diferente de outros esportes, em outros países, como a tourada, onde a luta era entre o toureiro verso o touro, do ser humano verso o seu animal, na verdade esse esporte [vaquejada] nasce de uma necessidade e do carinho que o vaqueiro tem pelo animal”, disse.(!!!!!)

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Segundo Muniz, esse “carinho” é demonstrado durante a vaquejada. “Ele derruba e traz o animal com muito carinho”, disse o senador.

(Vejam  na foto o "carinho" com o qual o animal é tratado!!!)

Sobre as acusações de maus-tratos nos eventos, o senador disse que o bem-estar dos animais também está comprometido em outras situações e que isso não justifica a decisão judicial. “Colocar um animal pet dentro de um apartamento ou dentro de uma gaiola de 50 centímetros quadrados é cuidar do bem-estar do animal?”, questionou.

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Pata quebrada.Resultado da forma "carinhosa" com a qual o animal é tratado pelo homem.

O PLC aprovado hoje pela comissão do Senado transformar as práticas de montarias, provas de laço, apartação, bulldog, provas de rédeas, provas dos Três Tambores, Team Penning e Work Penning, paleteadas e outras provas típicas, como Queima do Alho e concurso do berrante, em expressões artístico culturais, e as eleva à condição de manifestações da cultura nacional e de patrimônio cultural imaterial.

Para mais informações sobre a crueldade das vaquejadas abra o link por favor:

:http://www.ogritodobicho.com/2016/05/apos-vaquejada-animais-sao-flagrados.html




Da Agência Brasil, in EcoDebate, 03/11/2016

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A translação do oceano no Leblon e a erosão do litoral brasileiro,



 artigo de José Eustáquio Diniz Alves



calçadão do Leblon após ressaca

[EcoDebate] O último fim de semana de outubro de 2016, no Brasil, foi marcado pelo segundo turno das eleições municipais, mas também pela ressaca que atingiu várias cidades e regiões do país. Isto mostra que o aquecimento global e o aumento do nível do mar já são uma realidade inquestionável. Somos a primeira geração a sentir os efeitos do crescente aumento da acumulação de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera e, talvez, a última geração que ainda terá alguma chance de evitar uma catástrofe climática.



O que aconteceu no último fim de semana de outubro foi apenas um alerta. Foi um sinal de que os “céticos do clima” estão equivocados e que o Brasil precisa se preparar para o avanço das águas salgadas sobre as construções humanas. A cidade do Rio de Janeiro é a maior aglomeração urbana do litoral brasileiro e conta com uma população superior a 6 milhões de habitantes. Duas pessoas morreram quando um trecho da ciclovia Tim Maia foi derrubado pela fúria das ondas, no feriado de Tiradentes, no 21 de abril de 2016.



Em 2016 aconteceram diversas translações do mar sobre as praias da cidade, como a invasão do mar na avenida Atlântica, em Copacabana, pouco antes das Olimpíadas. Mas nenhuma translação teve o impacto da ressaca que destruiu um trecho do calçadão do Leblon e invadiu a avenida Delfim Moreira, levando areia e entulho até a calçada dos prédios, gerando prejuízos nas garagens dos edifícios de um dos bairros mais ricos da cidade. A estrutura do Mirante do Leblon foi atingida e danificada, enquanto outros trechos correm o risco de afundar devido à erosão.



Tudo isto aconteceu no sábado (dia 29 de outubro). Mas o mais impressionante é que a vulnerabilidade do litoral carioca sequer foi mencionada por qualquer dos dois candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, que protagonizaram um debate repleto de denúncias e ataques pessoais na sexta-feira (dia 28/10).



Ou seja, as praias cariocas estão sendo invadidas pelo mar e a maior parte das construções costeiras podem ficar submersas – gerando enormes prejuízos materiais – porém, a campanha eleitoral esteve dominada pela guerra de desqualificação mútua das candidaturas. 



Não surpreende, pois, o alto número de votos nulos, brancos e abstenções. Parece que os políticos, quer seja de esquerda ou de direita, não estão preparados para os grandes desafios e riscos pelos quais passam as metrópoles brasileiras diante das mudanças climáticas.



calçadão do Leblon após ressaca

No mesmo dia 29 de outubro, a cidade de Santos, no estado de São Paulo, sofreu mais uma vez os efeitos da ressaca, com ondas de 3 metros avançando sobre a cidade. Na Ponta da Praia cairiam muretas e pedras dos mosaicos portugueses da calçada se soltaram. A travessia de balsas entre Santos e Guarujá chegou a ficar paralisada por duas horas por conta da agitação da maré.



A orla da Ponta da Praia ficou cheia d’água e também gerou prejuízos no lado da calçada dos prédios. Segundo o jornal A Tribuna, mais de 20 toneladas de areia e entulho foram removidas. Houve bloqueio de tráfego na avenida da praia (Av. Saldanha da Gama), entre o Canal 6 e Av. Capitão João Salermo. Os desastres estão virando rotina em Santos.



No Rio Grande do Sul, a ressaca causou transtornos para a população que vive no litoral gaúcho. No município de Santa Vitória do Palmar, mais de 100 casas foram atingidas pela força do mar. A cidade ficou sem abastecimento de água e luz. Um vídeo feito por um morador mostra o momento em que uma casa foi destruída (ver no link abaixo). De acordo com a Defesa Civil, dezenas casas foram destruídas, e outras 30 correm risco de desabar.



Estes são alguns exemplos de destruição provocada pelo aumento do nível do mar, em apenas um fim de semana. A tendência é que estes acontecimentos vão se multiplicar nas próximas décadas. Toda a costa brasileira está ameaçada.



O litoral brasileiro foi o ponto de encontro de duas civilizações e se tornou a “cabeça de ponte” fundamental para a colonização portuguesa no continente americano. Como disse frei Vicente de Salvador: “os portugueses arranharam a costa brasileira feito caranguejo”. A maior parte da população e da economia brasileira está localizada nas áreas litorâneas.


Durante cinco séculos, o Brasil explorou as riquezas existentes entre as ondas e as baixadas costeiras. Aproveitou a fertilidade do oceano e dos deltas dos rios para construir cidades e para espalhar a presença humana ao longo e às custas da Mata Atlântica. Mas, agora no século XXI, o litoral está submergindo em decorrência do avanço do mar provocado pelo aquecimento global.


Da chegada de Pedro Álvares Cabral até agora, os benefícios dos ecossistemas costeiros superaram os custos do processo civilizatório. Mas as indicações apontam que esta relação está se invertendo e os custos podem superar os benefícios nas próximas décadas. A natureza degradada pode não suportar mais o peso do modelo “extrai recursos, produz bens e serviços e descarta lixo, poluição e resíduos sólidos” (fluxo metabólico entrópico). O aumento da concentração de dióxido de carbono está provocando a acidificação das águas e do solo, o que reduz a vida marinha e terrestre e provoca extinção de espécies.



O efeito estufa degela o Ártico, a Groenlândia, a Antártica e os glaciares e os fluxos do derretimento do gelo caem nas águas quentes dos oceanos e eleva o nível dos mares, que, por sua vez, avançam inexoravelmente sobre as áreas mais baixas dos continentes.


O afundamento do litoral brasileiro e a inundação das partes baixas das cidades litorâneas vão gerar um grande dano à economia brasileira e ao padrão de vida da população. O choque climático pode agravar o choque social e gerar uma espiral descendente para o futuro do desenvolvimento brasileiro.


Referências:
G1. Após ressaca, trecho de calçadão no Leblon corre risco de afundar; O Globo, 29/10/2016
A Tribuna. Novo episódio de ressaca é esperado para domingo, Santos, 29/10/2016
G1. Ciclone extratropical se afasta do RS, mas alerta de ressaca segue no litoral, 29/10/2016
ALVES, JED. A crise do capital no século XXI: choque ambiental e choque marxista. Salvador, Revista Dialética Edição 7, vol 6, ano 5, junho de 2015

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 03/11/2016