terça-feira, 16 de março de 2021

Tubarão de águas profundas é um dos maiores animais do mundo que brilham no escuro

 


Tubarão de águas profundas é um dos maiores animais do mundo que brilham no escuro

NOVO ESTUDO DESCOBRE TRÊS ESPÉCIES BIOLUMINESCENTES DE TUBARÕES DE ÁGUAS PROFUNDAS, INCLUINDO O TUBARÃO-PIPA DE 1,8 METRO DE COMPRIMENTO.

Tubarão-lanterna-barriga-preta bioluminescente, observado de baixo para cima. Esses animais possuem células brilhantes em seu lado inferior que escondem sua silhueta dos predadores à espreita abaixo deles, produzindo luz suficiente para se camuflar com o ambiente.
FOTO DE JÉRÔME MALLEFET

Pesquisadores de tubarões que atuavam na costa leste da Nova Zelândia fizeram uma descoberta reluzente. Em um novo estudo publicado no periódico Frontiers in Marine Science, cientistas descobriram três espécies bioluminescentes de tubarão de águas profundas que produzem uma luz azul esverdeada suave com células especializadas na pele.

Uma das espécies, o tubarão-pipa, pode alcançar quase dois metros de comprimento, o que o torna o maior vertebrado bioluminescente conhecido. A lula-gigante, que pode alcançar um comprimento ainda maior, também é conhecida por emitir luz.

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A bioluminescência havia sido documentada anteriormente em apenas uma dezena de espécies de tubarões e, por isso, essa descoberta aumenta significativamente nossos conhecimentos sobre a prevalência do fenômeno nesses e em outros animais marinhos, afirma Jérôme Mallefet, pesquisador associado da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica e autor principal do novo estudo.

A expedição envolveu a captura de um pequeno número de tubarões-lanterna-barriga-preta, tubarões-lanterna-do-sul e tubarões-pipa da zona crepuscular do oceano, região escassamente iluminada que se estende por uma profundidade entre 200 e 1000 metros.

Quando Mallefet capturou um tubarão-pipa e observou-o se iluminar a bordo do navio de pesquisa, ficou surpreso. “Quase chorei quando vi… foi tão emocionante”, conta ele.

As duas outras espécies são um pouco menores do que o tubarão-pipa e todas são capturadas acidentalmente de vez em quando por pescadores. Nenhuma é considerada vulnerável à extinção, mas pouco se sabe sobre seu estilo de vida e biologia.

Diva Amon, bióloga de águas profundas e exploradora emergente da National Geographic, que não participou do estudo, afirma que ficou “pasma” com a descoberta. “Essas descobertas nos lembram do quanto ainda não sabemos nem entendemos sobre águas profundas e seus habitantes”, ressalta ela.

Seis de maio de 2010 — Os motivos misteriosos da emissão de luz por animais nas profundezas do mar e a quantidade de animais que possuem tal habilidade, conhecida como bioluminescência, continuam a intrigar os cientistas que estudam a evolução desse brilho natural.

Brilho no escuro

Em janeiro de 2020, Mallefet e uma equipe de cientistas da Universidade Católica de Lovaina e do Instituto Nacional de Pesquisa Hídrica e Atmosférica da Nova Zelândia passaram um mês a bordo de uma traineira em alto mar. Depois de capturar tubarões vivos com redes, os pesquisadores colocaram os animais em um tanque de água do mar, levaram-nos a uma sala escura e aguardaram para observar sinais de bioluminescência.

Devido ao estresse ou talvez à timidez, apenas alguns tubarões-pipa, tubarões-lanterna-barriga-preta e tubarões-lanterna-do-sul exibiram seu brilho azul-esverdeado aos pesquisadores, e foi coletada para análise uma amostra da pele daqueles que apresentaram o fenômeno.

A maioria dos organismos bioluminescentes, como vaga-lumes, dispõe de células ou órgãos especializados que contêm certas substâncias químicas, incluindo um composto denominado luciferina, que interage com o oxigênio e emite luz. Algumas criaturas luminosas, como o peixe abissal da ordem dos Lophiiformes, adquirem seu brilho ao servir como hospedeiros de colônias de bactérias bioluminescentes.

Os tubarões bioluminescentes emitem luz de células especializadas na pele, conhecidas como fotócitos, mas como ocorre exatamente esse processo é um mistério há muito tempo. Quando Mallefet e sua equipe analisaram as amostras de pele coletadas, não encontraram nenhum traço de luciferina ou bactérias bioluminescentes.

No entanto confirmaram que, assim como outros tubarões bioluminescentes, essas três espécies controlam suas emissões de luz por meio de hormônios, ativando a luminescência por meio de melatonina, substância química que ajuda a regular ciclos diurnos e induzir o sono em mamíferos. Embora os pesquisadores tenham conseguido determinar como os tubarões bioluminescentes controlam seu brilho, mais estudos são necessários para entender os mecanismos químicos responsáveis por esse fenômeno.

Por que emitir luz?

Em águas profundas, onde cientistas estimam que três quartos de todas as criaturas são bioluminescentes, ter a capacidade de emitir luz pode ser extremamente vantajoso. Os animais do fundo do mar usam a bioluminescência para fazer de tudo, desde atrair presas até dissuadir predadores. A bioluminescência pode até mesmo ajudar na camuflagem de animais de águas profundas.

Na zona crepuscular do oceano, que recebe quantidades mínimas de luz solar, os animais bioluminescentes podem esconder sua silhueta dos predadores à espreita abaixo deles, produzindo luz suficiente para se camuflar com o ambiente: um truque conhecido como contrailuminação. Todas as três espécies analisadas nesse estudo apresentavam concentrações elevadas de fotócitos em sua parte inferior, o que sugere que esses tubarões podem se esconder de predadores — que se acredita serem, basicamente, tubarões maiores — exatamente dessa maneira.

Entretanto os tubarões também continham fotócitos em outras partes do corpo e, portanto, a contrailuminação pode ser apenas um dos diversos meios pelos quais a bioluminescência é utilizada por esses animais. Por exemplo, os pesquisadores encontraram concentrações densas de fotócitos nas nadadeiras dorsais dos tubarões-pipa. O motivo disso é desconhecido, mas Mallefet especula que possa ser um recurso de comunicação entre tubarões-pipa.

A constatação de que essas três espécies emitem luz “não é uma surpresa”, afirma David Ebert, diretor do Centro de Pesquisa de Tubarões do Pacífico dos Laboratórios Marítimos de Moss Landing na Califórnia, mas ainda assim é impressionante.

Isso porque os pesquisadores acreditam que muito mais espécies de tubarões provavelmente são capazes de emitir luz — Mallefet estima que talvez 10% das 540 espécies conhecidas de tubarões sejam bioluminescentes. Já Ebert acredita que até mesmo essa seja uma estimativa conservadora. Com os avanços futuros no campo de pesquisas sobre tubarões em águas profundas, “acredito que esse número aumentará ainda mais”, afirma ele.

Tanto Ebert quanto Mallefet torcem para que os tubarões de águas profundas recebam mais atenção futuramente, já que as criaturas e seu habitat são pouco estudados e estão ameaçados.

“Os tubarões são muito famosos por serem predadores ferozes graças ao filme ‘Tubarão’”, afirma Mallefet, “mas pouca gente sabe que os tubarões podem brilhar no escuro”.

Fonte: National Geographic Brasil

Pele de cobra artificial é nova arma contra o atrito

 

Pele de cobra artificial é nova arma contra o atrito

Redação do Site Inovação Tecnológica - 05/03/2021

Pele de cobra artificial acaba com o atrito
O material artificial (embaixo) reproduz com grande fidelidade a pele das cobras (em cima).
[Imagem: Pixabay]

Escamas contra a fricção

Pesquisadores desenvolveram uma técnica que permite fabricar peles artificiais com escamas, inspiradas nas peles das cobras.

O objetivo é lutar contra um dos maiores inimigos de todas as máquinas e motores: o atrito.

"O corpo de uma cobra é macio o suficiente para que ela possa se torcer em todos os tipos de formas. Ela também pode se mover muito rápido se necessário, em parte porque sua pele tem fricção tão baixa," explica o professor Yifu Ding, da Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA.

Como fabricar escamas e montá-las uma por uma está fora de questão para qualquer aplicação prática, Ding e seus alunos desenvolveram uma técnica alternativa que eles batizaram de polimerização interfacial sólido-líquido (ou SLIP: Solid-Liquid Interfacial Polymerization).

O processo consiste em aplicar uma fina camada de material polimerizável sobre um substrato qualquer, como borracha ou materiais elásticos, chamados elastômeros. Essa camada endurece para formar uma estrutura muito parecida com as escamas de uma cobra, permitindo transformar uma superfície pegajosa em uma superfície fortemente escorregadia.

Pele de cobra artificial acaba com o atrito
Esquema do processo de polimerização interfacial sólido-líquido.
[Imagem: Mengyuan Wang et al. - 10.1021/acsami.0c18316]

Pele de cobra artificial

As escamas das cobras são formadas por diversas camadas, começando por queratina, que é dura e quebradiça, e transicionando gradualmente para materiais cada vez mais macios e flexíveis.

Essa combinação de duro em cima e macio embaixo ajuda as cobras a manter o atrito baixo sem perder a flexibilidade. Era essa característica que a equipe queria imitar.

Eles fizeram isto misturando pequenas moléculas em uma película de líquido e, em seguida, usando luz para fazer com que essas moléculas saiam da suspensão, de forma parecida com ervilhas se depositando no fundo de uma tigela de sopa. Uma vez lá, esses blocos de construção se infiltram no polímero PDMS e formam uma camada híbrida muito parecida com a pele das cobras.

"Nada adere a ela. Você pode tocá-la e seu dedo escorregará," conta Ding.

O objetivo agora é desenvolver o processo para que seja possível aplicar a pele de cobra sobre as juntas de robôs e máquinas de pequeno porte, que não exijam muito esforço mecânico do material polimérico.

Bibliografia:

Artigo: Snakeskin-Inspired Elastomers with Extremely Low Coefficient of Friction under Dry Conditions
Autores: Mengyuan Wang, Sujan K. Ghosh, Christopher M. Stafford, Adrienne K. Blevins, Sijia Huang, Jaylene Martinez, Rong Long, Christopher N. Bowman, Jason P. Killgore, Min Zou, Yifu Ding
Revista: Applied Materials & Interfaces
Vol.: 12, 51, 57450-57460
DOI: 10.1021/acsami.0c18316

Vigas de plástico superam vigas de concreto e de aço

 

Vigas de plástico superam vigas de concreto e de aço

Redação do Site Inovação Tecnológica - 12/03/2021

Vigas de plástico superam vigas de concreto e de aço
As vigas são fabricadas em pequenas peças, que são montadas no local da construção.
[Imagem: UPV]

Vigas impressas em 3D

Engenheiros da Universidade Politécnica de Valência, na Espanha, criaram uma nova técnica para fabricar vigas que promete revolucionar a engenharia civil, a arquitetura e o setor de construção como um todo.

As vigas são fabricadas em pequenos blocos, facilmente transportáveis, que são posteriormente montados no local de uso, como se fossem blocos de Lego.

Em lugar dos bem-conhecidos aço e concreto, as vigas são fabricadas de plástico por meio de impressoras 3D.

As vigas são reforçadas com elementos que garantem a rigidez da estrutura, sem usar nenhum componente metálico.

Vigas de plástico na construção civil

As vantagens da técnica, segundo seus idealizadores, são várias: As vigas pesam até 80% menos que vigas de concreto ou metálicas, o que significa que não são necessários guindastes ou caminhões pesados para transportá-las e instalá-las; economizam tempo e dinheiro em mão de obra e materiais; e podem ser impressas e montadas na obra, o que facilita sua instalação em qualquer lugar, por mais difícil que seja o acesso.

Além disso, o processo utiliza plástico reciclado como matéria-prima, dando uma nova vida a este produto e contribuindo para uma construção mais sustentável.

"Nosso objetivo era propor uma alternativa às atuais vigas de concreto armado. Elas são feitas com perfis construídos ao longo do comprimento da peça, que exigem instalação cara e são de difícil transporte," contou o professor José Ramón Albiol, coordenador da equipe.

Vigas de plástico superam vigas de concreto e de aço
O segredo da resistência das vigas de plástico reciclado está em sua estrutura alveolar.
[Imagem: UPV]
Estrutura alveolar

A base do sistema está na estrutura interna dos perfis poliméricos.

"É uma estrutura alveolar, que permite diminuir a quantidade de plástico utilizado - e, portanto, seu peso - mantendo a rigidez estrutural," explicou Albiol.

Essa estrutura alveolar foi inspirada nos ossos humanos ao redor da epífise, onde há uma camada de osso esponjoso com disposição trabecular - a estrutura alveolar - e uma camada externa mais espessa de osso compacto.

"É isso que transferimos para estas vigas revolucionárias, especificamente para os seus perfis. É um sistema natural muito inteligente e a sua reprodução nestas vigas tira proveito dele, com um baixo peso estrutural e capacidade mecânica muito elevadas," completou Albiol.

Cinquenta anos do Parque Nacional da Serra da Bocaina, uma joia da Mata Atlântica

 

Cinquenta anos do Parque Nacional da Serra da Bocaina, uma joia da Mata Atlântica

Localizado entre as duas maiores cidades do país, o parque é conhecido por suas cachoeiras e trilhas

2 de fevereiro de 2021

Completar cinquenta anos é uma ocasião especial para diversas tradições. Por exemplo, a celebração do Jubileu para os cristãos, um tempo de paz, reconciliação e repouso da terra ao quinquagésimo ano. 

Diego Igawa

Independente das crenças, alguns lugares são especiais para encontrar um sentimento de paz e conexão com a natureza. O Parque Nacional da Serra da Bocaina com certeza é um desses lugares e completa cinquenta anos de existência no dia 4 de fevereiro de 2021. 

Criado pelo Decreto Federal n. 68.172/1971, o Parque Nacional da Serra da Bocaina é uma das Unidades de Conservação mais emblemáticas e relevantes de toda a Mata Atlântica. Gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), abrange  mais de 100 mil hectares de área protegida entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro e se estende pelos municípios de Ubatuba, Cunha, São José do Barreiro, Areias, Paraty e Angra dos Reis.  

Quem já viajou para algum desses municípios – muitos deles são importantes destinos turísticos brasileiros – já deve ter passado por alguma área do parque, mesmo sem saber. Além disso, todos esses municípios possuem áreas incluídas no sítio do Patrimônio Mundial Misto da Humanidade, reconhecido em julho de 2019 pelComitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) devido ao seu excepcional valor universal.  

Além de estar em um importante centro de endemismo para a Mata Atlântica (ou seja, áreas com grande diversificação de espécies que ocorrem apenas naquela região), a grande biodiversidade do parque também se deve à bela paisagem e diferentes ecossistemas que ele abrange, do nível do mar até mais de 2.000 metros de altitude, desde ambientes marinhos e vegetação costeira, passando por floresta ombrófila densa, floresta ombrófila mista altomontana até campos de altitude. Ou seja, o Parque Nacional da Serra da Bocaina representa bem o que é a Mata Atlântica, com sua grande riqueza de espécies e diversidade de ambientes. 

A água é um dos benefícios proporcionados pelo parque, que protege rios importantes para o abastecimento de toda a região, como as bacias do rio Mambucaba e do rio Bracuí, e rios importantes para outras cidades, como o rio Paraitinga, tributário do Paraíba do Sul. 

Diego Igawa

Serra da Bocaina também faz parte da história e cultura do país. Pelo parque passa o antigo caminho do ouro, estrada construída sobre antigas trilhas indígenas e utilizada pelos tropeiros para escoar as riquezas de Minas Gerais até portos no litoral fluminense. A biodiversidade também anda junto da diversidade de culturas caipira, caiçara, indígena e quilombola que existem na região. 

Por essas e outras características, o Parque Nacional da Serra da Bocaina é uma joia da Mata Atlântica entre as duas maiores cidades do país, praticamente equidistante entre São Paulo e Rio de Janeiro, e deve ser valorizado como tal. Assim que o país superar a pandemia que continua tirando a vida de muitas pessoas, vale a pena uma viagem para conhecer esse patrimônio com atrativos como a Cachoeira do Santo Isidro, o Caminho de Mambucaba, a Pedra da Macela e as piscinas naturais em Trindade. 

E, mesmo durante a pandemia, o trabalho das equipes do ICMBio foi intenso, inclusive no combate à caça. Essa atividade ilegal ainda ameaça a biodiversidade da Bocaina e ranchos de caça foram identificados e desmontados em operações conjuntas com a Polícia Federal no final de 2020. 

 Parceria de sucesso  

A Fundação SOS Mata Atlântica apoia Unidades de Conservação na região desde 1998. Em 2017, firmamos um Acordo de Cooperação com o ICMBio para apoiar a gestão do Parque Nacional da Serra da Bocaina, especialmente nas atividades de ordenamento do uso público, controle, fiscalização e atividades de pesquisa e educação ambiental. Este apoio possibilitou a aquisição de equipamentos, materiais e serviços para diversas ações, como a manutenção de trilhas, renovação da sinalização, operações para monitoramento e orientação de turistas, ações de voluntariado, articulação e proteção, além da manutenção da infraestrutura do parque. 

Conheça o trabalho da ONG no apoio a áreas protegidas 

Diego Igawa

Todos os recursos utilizados nessa parceria são provenientes de doações de pessoas físicas. A SOS Mata Atlântica possui fundos de apoio às Unidades de Conservação da Mata Atlântica e marinhas e, por meio do engajamento de pessoas físicas e empresas privadas, faz a gestão e direciona sua aplicação para fins públicos,  em apoio à implementação dessas áreas, de seus Conselhos e demais atividades em prol da proteção e uso público desses patrimônios naturais.  

Parabéns ao Parque Nacional da Serra da Bocaina pelo seu aniversário e jubileu de ouro e a todos os gestores, técnicos, voluntários, comunidades locais, apoiadores e parceiros que se dedicaram ao longo dessas cinco décadas para a conservação dessa área.  

Esperamos que essa data marque novos tempos para um parque já maduro, mas que ainda possui uma série de projetos para serem implementadosE, assim que superarmos a pandemia, esperamos poder celebrar esse marco com a contemplação em algum mirante do parque, um banho em uma de suas cachoeiras ou um mergulho no mar aos pés da Bocaina. 

Quer ajudar a Fundação a continuar este trabalho? Clique aqui e faça uma doação

Crédito: Fundação SOS Mata Atlântica

Grandes propriedades apresentam maiores áreas de déficit ambiental em municípios da Mata Atlântica

 


Grandes propriedades apresentam maiores áreas de déficit ambiental em municípios da Mata Atlântica

Gestores de 117 municípios podem utilizar dados para a tomada de decisão quanto ao uso e conservação do bioma

30 de julho de 2020

A Fundação SOS Mata Atlântica e o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) lançam o sumário executivo “Resumo Fundiário, Uso do Solo e de Remanescentes Florestais de 117 Municípios da Mata Atlântica“, como parte de um relatório mais abrangente que reúne uma série de estudos sobre conservação, uso e ocupação do solo no bioma. O objetivo da iniciativa é oferecer conhecimento sobre a situação atual dos municípios para auxiliar gestores públicos na tomada de decisão de políticas públicas ambientais. Além de estatísticas, o relatório traz mapas de todos os municípios analisados. O lançamento do estudo ocorreu durante webinar que você pode ver como foi. Clique aqui e assista.

Acesse o sumário executivo
Para solicitar o relatório completo entre em contato com info@sosma.org.br

Segundo o estudo, nos municípios analisados, as grandes propriedades – que correspondem a 3% do total, apresentam as maiores áreas de déficit de Área de Preservação Permanente (APP), com 46,6%, e de Reserva Legal, com 69,6%. Enquanto o ativo de vegetação natural em pequenas e médias soma 55,6%. Ao relacionar por tamanho das propriedades rurais (pequenas, médias e grandes), as grandes propriedades representam 48%, totalizando 5.659.506 hectares da área. Além disso, foi possível identificar uma predominância de vegetação natural nos municípios, com 6.326.971 de hectares, ou 37.7% do total, seguido da classe de agricultura com 5.167.435 de hectares, ou 30.8% do total.

“A Mata Atlântica foi o bioma mais impactado pelas anistias do novo Código Florestal,  com um uma redução de 27%, uma área maior que a do estado do Sergipe. A falta de planejamento territorial contribui para uma gestão ineficiente dos recursos, causando, por exemplo, supressão de vegetação nativa, escassez hídrica e degradação do solo. E isso ocasiona a perda de serviços ecossistêmicos fundamentais e contribui para as mudanças climáticas, já cada vez mais acentuadas. Por isso, queremos colaborar com conhecimento para o melhor gerenciamento por partes dos gestores públicos locais“, afirma Rafael Bitante Fernandes, gerente de Restauração Florestal da Fundação SOS Mata Atlântica.

O impacto ao meio ambiente também é visto como prejudicial à economia e à imagem do Brasil. Recentemente, um grupo de investidores que detém uma carteira de US$ 4,1 trilhões  direcionou suas preocupações ambientais às embaixadas brasileiras em oito países. Empresários brasileiros também se uniram para pedir o combate ao desmatamento em todos os biomas do país.

Transparência, rastreabilidade, compromissos e ações em sinergia com meio ambiente são pilares cada vez mais estratégicos no mundo dos negócios, o que para o poder público e iniciativa privada podem ser uma grande oportunidade. Uma política pública ainda pouco utilizada e que vai ao encontro a isso são os Planos Municipais da Mata Atlântica (PMMAs), e esse relatório traz subsídios concretos para colocar isso em prática.

“Com os  Planos Municipais de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA), por exemplo, os gestores podem usar estes dados para apontar o que fazer, como e onde priorizar ações de uso e conservação“, reforça Rafael Bitante Fernandes.

A realização deste estudo se baseou em quatro critérios: remanescente de vegetação nativa; desmatamento; adequação do Código Florestal e uso do solo. Para a definição dos municípios analisados, foi feita uma análise multicritério em que foram escolhidas variáveis como desmatamento após 2008, déficit total, área de vegetação nativa, área de agronegócio, entre outras.

“O contexto atual reforça aquilo que já vínhamos demonstrando há décadas: não há dicotomia entre produção e conservação, pelo contrário. Não só é possível como, cada vez mais, urgente e obrigatório levar em conta os dados científicos disponíveis para a tomada de decisões de políticas públicas”, acredita Luis Fernando Guedes Pinto, Gerente de Políticas Públicas, engenheiro agrônomo e pesquisador do Imaflora. “Quem se propuser a utilizar tais dados para construir políticas de regeneração estará dando um sinal positivo para investidores, eleitores e a sociedade em geral.”

Para obter tais dados, os pesquisadores analisaram diversas pesquisas e metodologias, como o estudo “Números detalhados do novo Código Florestal e suas implicações para os PRAs“, do Imaflora; bases de dados governamentais públicas; o Atlas da Agropecuária brasileira; a base vetorial de hidrografia da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS); o MapBiomas e o Atlas da Mata Atlântica.

Em vista das eleições municipais no segundo semestre deste ano, o estudo traz importantes contribuições para que os atuais e futuros gestores destas cidades possam incluir a agenda ambiental como tema estratégico em seus planos.

“Assim como os órgãos estaduais de meio ambiente, a esfera municipal é crucial neste momento de pandemia e diante das fragilidades de políticas federais. Os órgãos municipais podem exercer cada vez mais um papel preponderante e protagonista na construção de uma agenda positiva e estratégica no campo da conservação e recuperação da Mata Atlântica. Principalmente para que sejam ativo essencial para o enfrentamento dos impactos do clima, na gestão da água, nas áreas protegidas, na sustentabilidade das atividades econômicas, na qualidade de vida e bem-estar da população“, conclui Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.

Crédito: Fundação SOS Mata Atlântica