sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Globo – Poluição ambiental provoca uma em cada seis mortes no mundo

 Ar contaminado é o que faz mais vítimas, diz estudo com dados globais de 2015

CESAR BAIMA

A poluição ambiental matou 9 milhões de pessoas em 2015, respondendo por aproximadamente uma em cada seis mortes (16%) registradas em todo mundo naquele ano. A estimativa é do primeiro relatório de uma comissão internacional de pesquisadores, que se dedicou a avaliar os impactos do problema na saúde e na economia nos últimos dois anos, publicado ontem na prestigiada revista médica “The Lancet”. Segundo o estudo, a sujeira no ar, na água e no solo limita o bem-estar da população, causando prejuízos com doenças e mortes prematuras da ordem de U$ 4,9 trilhões anuais (cerca de R$ 15,6 trilhões), ou 6,2% do PIB do planeta.


O levantamento foi feito a partir de dados da série de estudos “Fardo Global das Doenças” (GBD, na sigla em inglês), que usa uma metodologia desenvolvida por cientistas do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington (EUA). O objetivo era contabilizar diversos aspectos que afetam a saúde mundial desde 1990.


O ar contaminado, seja nas ruas ou dentro de casa, é o tipo de poluição que mais mata no planeta, com 6,5 milhões de vítimas em 2015. A poluição atmosférica já foi associada ao desenvolvimento de males como doença obstrutiva crônica pulmonar, câncer de pulmão, infartos e derrames.


ÁGUA IMPRÓPRIA MATA COM DIARREIA
Já a água suja foi ligada a 1,8 milhão de mortes, principalmente por doenças gastrointestinais, como diarreia, e provocadas por parasitas. Em seguida vem a poluição no ambiente de trabalho, com a exposição a toxinas e compostos carcinogênicos (causadores de câncer) respondendo por 800 mil mortes, incluindo casos de pneumoconiose em mineradores de carvão, câncer na bexiga em trabalhadores no setor de tingimento, e asbestose, câncer de pulmão, mesotelioma e outros tipos de câncer em trabalhadores expostos a asbesto (amianto).


Por fim, a poluição do solo por metais pesados e compostos químicos e a contaminação do ambiente em geral por chumbo mataram 500 mil pessoas cada em 2015. Os cientistas alertam, porém, que com muitos poluentes ainda por serem identificados e estudados, o número verdadeiro de vítimas do problema pode ser bem maior.


— A poluição é muito mais que um desafio ambiental. É uma ameaça grave e disseminada que afeta muitos aspectos da saúde e merece a total atenção dos líderes políticos internacionais, sociedade civil, profissionais de saúde e pessoas ao redor do mundo — destaca Philip Landrigan, professor da Escola Icahn de Medicina do Hospital Monte Sinai, nos EUA, e colíder da comissão responsável pelo levantamento. — Apesar de seus grandes impactos na saúde, na economia e no meio ambiente, a poluição ainda é negligenciada nas políticas internacionais de assistência e na agenda da saúde global, com algumas estratégias de controle muito pouco financiadas. Nosso objetivo é elevar a consciência global sobre o problema e mobilizar as políticas necessárias para combatê-la ao prover as estimativas mais acuradas sobre poluição e saúde disponíveis.


Os pesquisadores também usaram dados do GBD para analisar os impactos da poluição na saúde em cada país. Grande parte das mortes ligadas ao problema (92%) ocorre em países de renda baixa e média, em especial os que estão passando por um rápido processo de desenvolvimento e industrialização, como Índia e China. Nestas nações, que lideram o ranking em número absoluto de vítimas devido às suas grandes populações, a poluição é apontada como responsável por cerca de um em cada quatro óbitos. Nos países desenvolvidos, também as classes mais pobres são as mais atingidas.


— Poluição, pobreza, má saúde e injustiça social estão profundamente interligadas — afirma Karti Sandilya, da Pure Earth, organização americana sem fins lucrativos dedicada à limpeza de áreas poluídas e um dos coautores do relatório. — A poluição e as doenças a ela relacionadas afetam mais os mais podres e desprovidos, e as vítimas são em geral os vulneráveis e os sem voz. Como resultado, a poluição é uma ameaça a direitos humanos fundamentais, como os direitos à vida, à saúde e ao bemestar, assim como à proteção das crianças.

Dez coisas que valem mais que a ciência brasileira


10 - outubro - 2017

De hidrelétrica parada a filme de pirata, veja aqui exemplos deprimentes de coisas que recebem mais dinheiro do que o orçamento anual do Ministério da Ciência e Tecnologia

Protesto da campanha Conhecimento Sem Cortes em Brasília (Foto: Facebook)
Protesto da campanha Conhecimento Sem Cortes em Brasília (Foto: Facebook)

DO OC – Nesta terça-feira (10), a comunidade científica brasileira compareceu em peso ao Congresso Nacional para denunciar a pindaíba na qual se encontram universidades e institutos de pesquisa. Uma petição com mais de 84 mil assinaturas foi entregue pela campanha Conhecimento Sem Cortes ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O motivo mais imediato de preocupação é a proposta de Orçamento da União para 2018: se mantida, ela deixará o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações com apenas R$ 2,7 bilhões – o menor valor neste século. Isso significa que a pesquisa nacional para por falta de verba no começo do segundo semestre do ano que vem.



Em pleno século 21, quando as empresas mais valiosas do mundo são todas baseadas na economia do conhecimento e a energia renovável desponta como mola-mestra da indústria global, é surreal que cientistas precisem ir até Brasília brigar por dinheiro para investir em pesquisa e aumentar o PIB. Mas mais doído ainda é ver no que o país tem gasto o dinheiro suado dos nossos impostos ultimamente. A Lava Jato tem nos mostrado isso todos os dias.


O OC fez umas contas de padaria e listou aqui dez coisas que valem mais do que todo o investimento federal em pesquisa. Algumas financiariam a ciência nacional por vários meses. Outras por vários anos.


1 – Neymar: 4 meses de ciência brasileira

 

Foto: Photo For Class/CC
Foto: Photo For Class/CC

O craque do Barcelona foi vendido ao Paris St-Germain por R$ 820 milhões, na transação mais cara da história do futebol. Metade dessa bolada cobriria o rombo do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e evitaria corte de bolsas e suspensão de editais no ano que vem. OK, a alegria que Neymar nos dá não tem preço, mas será que ele vale sozinho 30% de toda a ciência brasileira?

2 – Belo Monte: 11 anos de ciência brasileira

 

 

Foto: Carol Quintanilha/Greenpeace
Foto: Carol Quintanilha/Greenpeace

Orçada em R$ 30 bilhões, a polêmica hidrelétrica do Xingu tem potência nominal de 11 gigawatts, mas só vai gerar menos de metade disso ao longo do ano, porque na época da seca a usina não consegue funcionar. Considerando uma vida útil de 30 anos para uma hidrelétrica (R$ 1 bi por ano), ela passará metade desse tempo parada (15 anos). Ou seja, o custo de Belo Monte desligada equivale a mais de cinco vezes o orçamento anual da ciência brasileira.

3 – Estádios da Copa: 3 anos de ciência brasileira

 

 

Foto: Portal da Copa
Foto: Portal da Copa

Quem não se encantou com os monumentos ao dinheiro público mal gasto que são os estádios da Copa de 2014? O Mané Garrincha, em Brasília (R$ 1,6 bi) levou dois ex-governadores para a cadeia. A Arena da Amazônia, em Manaus, custou R$ 660 milhões e dá prejuízo de R$ 5,5 milhões por ano. No total, os 12 estádios custaram mais de R$ 8 bilhões. Imagina a goleada que o Brasil daria com essa grana em universidades e laboratórios?


4 – WhatsApp: 25 anos de ciência brasileira

Reprodução
Reprodução

O Facebook comprou o aplicativo de mensagens WhatsApp em 2014 por US$ 22 bilhões. Com o dólar a valores de hoje, daria para pagar um quarto de século do orçamento projetado para o MCTIC em 2018. Prova de que investir em ciência dá retorno, Jan Koum, criador do aplicativo, é engenheiro formado numa universidade pública dos EUA. Por lá nunca faltou dinheiro para bolsas.

5 – Oprah Winfrey: 4 anos de ciência brasileira


O patrimônio da estrela de TV mais bem-paga do mundo foi estimado em US$ 3,1 bilhões pela revista Forbes. Em valores de hoje, daria R$ 9,7 bilhões, mais do que o orçamento do Ministério da Ciência do Brasil em seu ápice, no começo da década.


6 – Aporte do BNDES na JBS: 3 anos de ciência brasileira

Foto: Reprodução de TV
Foto: Reprodução de TV

Os probos Joesley e Wesley Batista, que compraram mais de 1.800 políticos no Brasil, revelaram em sua delação premiada ter desembolsado cerca de R$ 400 milhões em propinas nos últimos anos. Para expandir seu império de crimes, contaram com um sócio poderoso: o Estado brasileiro. O BNDES aportou R$ 5,6 bilhões na JBS, mais R$ 2,5 bilhões na Bertin, depois comprada pelos Batista. Se o governo gosta tanto assim do agronegócio, em vez de comprar participação num frigorífico, poderia ter turbinado a Embrapa, principal responsável pelo sucesso do agro brasileiro. Apenas a tecnologia de fixação biológica de nitrogênio desenvolvida pelos cientistas brasileiros economiza R$ 15 bilhões por ano ao país.

7 – Um navio-sonda do pré-sal: 6 meses de ciência brasileira

 

 

Navio-sonda
Foto: Petrobras

Todo mundo se lembra da Sete Brasil, a empresa que está no coração do escândalo da Lava Jato devido às suas encomendas de navios-sonda superfaturados para explorar o pré-sal (cuja descoberta só foi possível por causa de investimentos pretéritos em ciência). Um único desses navios saiu pela pechincha de R$ 1,35 bilhão, o que daria para bancar seis meses do orçamento proposto para o MCTIC em 2018. Ingratidão é isso aí.


8 – Refinaria Abreu e Lima: 24 anos de ciência brasileira

Foto: Blogo do Planalto
Foto: Blogo do Planalto

Mais uma custosa ode às energias do passado, que andam de mãos dadas com a corrupção, a Rnest, megaprojeto dos governos do PT-PMDB em Pernambuco, foi iniciada em 2007 e até hoje não está concluída. Seu custo total foi estimado em mais de R$ 66 bilhões. Se essa grana tivesse sido investida em pesquisa de energias renováveis, talvez antes de a Abreu e Lima ficar pronta o Brasil não precisasse mais refinar petróleo.


9 – Dívida de Eike Batista: quase 2 anos de ciência brasileira

Eike enrolado
Eike enrolado

OK, desse número nós não temos inveja. Mas o ex-bilionário petroleiro (por que será que há tanto escândalo envolvendo combustíveis fósseis?), que chegou a ser o oitavo homem mais rico do mundo, terminou seu império com uma dívida de US$ 1,4 bilhão.

10 – Filmes da franquia Piratas do Caribe: 1 ano de ciência brasileira

 

Os quatro blockbusters da Disney estrelados por Johnny Depp custaram somados cerca de US$ 900 milhões. Com esse dinheiro daria para pagar todo o orçamento do MCTIC em 2017 e ainda sobrariam algumas dezenas de milhões de reais de troco. Os cientistas brasileiros, pelo visto, deveriam seguir a recomendação do capitão Jack Sparrow: “Feche os olhos e finja que é um sonho ruim. É como eu me viro”.

Dez coisas que daria para fazer pelo meio ambiente com a grana do Geddel




Por Observatório do Clima
domingo, 10 setembro 2017 16:48
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Uau, R$ 51 milhões. Em cash. O Brasil inteiro viu e se escandalizou com as imagens das malas e caixas de dinheiro descobertas pela Polícia Federal num apartamento em Salvador que o ex-ministro teria Geddel Vieira Lima teria “pegado emprestado” de um amigo para guardar “as coisas de seu finado pai”. Todo mundo sabe também do trabalho que deu para a polícia contar a bolada – a maior quantidade de dinheiro vivo já apreendida no país.

Em tempos de Lava Jato e cifras astronômicas de corrupção (quem não se lembra de Pedro Barusco, aquele gerente da Petrobras que ficou de devolver, só ele, R$ 300 milhões?), fica até difícil dimensionar o que são R$ 51 milhões.

Bem, é muito dinheiro. Que daria para usar em muita coisa. Nós compilamos abaixo algumas sugestões do que fazer com essa bufunfa apenas na área ambiental. O Geddel pode até não se sensibilizar, mas quem sabe a PF se empolga.

1 – Monitorar o desmatamento durante dez anos

O Brasil é referência internacional em sensoriamento remoto de florestas, graças aos programas Prodes e Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A criação do Deter, que vigia a floresta em tempo real e orienta a fiscalização, foi um dos instrumentos que permitiram reduzir a taxa de desmatamento na Amazônia. Todo o trabalho de monitoramento do Inpe custa R$ 5 milhões por ano. Tem que manter isso, viu? Os R$ 51 milhões do Geddel manteriam por uma década.


2 – Pagar até 12 anos de pesquisas em biodiversidade
 

Um artigo científico que acaba de ser publicado por pesquisadores brasileiros no periódico Perspectives in Ecology and Conservation alerta para o fato de que os cortes no orçamento da ciência brasileira ameaçam o PPBio, o maior programa de pesquisas em biodiversidade do país, que envolve 626 cientistas de 93 instituições. Sem o PPBio, o Brasil pode não cumprir suas metas nacionais de biodiversidade para 2020 e pode ter dificuldades para cumprir sua meta no Acordo de Paris de restaurar 12 milhões de hectares de florestas – já que isso depende de conhecimento sobre as áreas mais adequadas à restauração. Segundo a ecóloga Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília, o PPBio custa R$ 10,8 milhões por edital, e cada edital cobre de 36 a 48 meses de execução. Ou seja, a bolada do bunker de Salvador pagaria o trabalho desses 626 pesquisadores por 9 a 12 anos.


3 –  Zerar o desmatamento em pelo menos 150 mil hectares durante 15 anos
Segundo uma ferramenta desenvolvida por pesquisadores da UFRJ, um programa de pagamento por serviços ambientais poderia bancar fazendeiros para não desmatar, pagando o chamado custo de oportunidade da terra, ou a expectativa de ganho anual de um proprietário caso ele cortasse um hectare de floresta. Na caatinga e na Amazônia o custo de oportunidade é mais baixo em vários municípios. Um programa que pagasse R$ 51 milhões por 15 anos nessas regiões poderia proteger 150 mil hectares – uma área maior que a da cidade do Rio de Janeiro.


4 – Proteger 10% do território nacional durante dois meses

Parece incrível, mas o Instituto Chico Mendes, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, protege um décimo do território brasileiro. Esta é a extensão das 327 unidades de conservação federais, de Fernando de Noronha (foto) a Foz do Iguaçu, do Parque Nacional de São Joaquim ao Parque do Tumucumaque. E faz isso com pouquíssimo dinheiro: o orçamento do órgão em 2017, excluindo salários, foi de R$ 302 milhões. Isso antes do corte de 43% no orçamento geral do ministério.

5 – Pagar um ano de fiscalização do Ibama

A retomada das ações de fiscalização do Ibama neste ano impediu que o desmatamento em 2017 subisse pelo terceiro ano consecutivo na Amazônia. E isso só aconteceu porque o governo conseguiu R$ 53 milhões do Fundo Amazônia (dinheiro de doação da Noruega), a serem aplicados em 2017 e 2018 na fiscalização, cujo orçamento em 2017 foi de R$ 52,1 milhões. O dinheiro do Geddel pagaria um ano de trabalho do Ibama. Ou evitaria que o governo passasse o chapéu para os noruegueses, complementando os recursos do Ibama por 15 meses.

6 – Custear 11% do orçamento do Ministério do Meio Ambiente

Todas as políticas ambientais federais em 2017 precisarão ser implementadas com R$ 446,5 milhões. Esse é o valor do orçamento discricionário do MMA (Ministério do Meio Ambiente) após os cortes impostos por Michel Temer em abril. As caixas e malas de dinheiro encontradas pela PF em Salvador equivalem a 11% desse total. Lá no MMA isso faz falta, viu, Geddel?
 

7 –  Financiar o maior instituto de pesquisas da Amazônia por 3,5 anos

O Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) é um dos maiores polos geradores de conhecimento sobre a maior floresta tropical do mundo. Tem nove pesquisadores entre os mais citados do país e é responsável por programas como a torre ATTO, de 325 metros, estrutura construída mais alta do Brasil. O orçamento anual do Inpa é de R$ 14 milhões. Se Geddel doasse seu dinheiro à ciência, bancaria as pesquisas amazônicas por três anos e meio.

8 –  Instalar 17 mil painéis fotovoltaicos em casas populares

Investir em energia limpa é uma das missões dos países signatários do Acordo de Paris – e está cada vez mais acessível à população. Em vários países, essa fonte já é a forma mais barata de gerar eletricidade. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, R$ 51 milhões seriam o suficiente para beneficiar cerca de 60 mil pessoas com 17 mil painéis solares em telhados. Não custa lembrar que o Brasil é um dos países com metas mais modestas de instalação de energia fotovoltaica no mundo.

9 – Recuperar mais de 3.000 nascentes de rios

O investimento para recuperar uma nascente pode variar de R$ 1 mil a pouco mais de R$ 15 mil, dependendo do nível de degradação e do lugar do país, de acordo com a Bioflora, uma empresa de restauração de florestas nativas. O reflorestamento estimula o desenvolvimento regional sustentável, neutraliza carbono e pode triplicar a renda de pequenos agricultores.

10 – Reflorestar área equivalente a 5.000 campos de futebol na Mata Atlântica

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo investiu ao longo da última década cerca de R$ 13 milhões na restauração ambiental de uma área de mil hectares dentro do Parque Estadual Serra do Mar (PESM). A área de Mata Atlântica recebeu cerca de 1,5 milhão de mudas.