Ar contaminado é o que faz mais vítimas, diz estudo com dados globais de 2015
CESAR BAIMA
A poluição ambiental matou 9 milhões de pessoas em 2015, respondendo por aproximadamente uma em cada seis mortes (16%) registradas em todo mundo naquele ano. A estimativa é do primeiro relatório de uma comissão internacional de pesquisadores, que se dedicou a avaliar os impactos do problema na saúde e na economia nos últimos dois anos, publicado ontem na prestigiada revista médica “The Lancet”. Segundo o estudo, a sujeira no ar, na água e no solo limita o bem-estar da população, causando prejuízos com doenças e mortes prematuras da ordem de U$ 4,9 trilhões anuais (cerca de R$ 15,6 trilhões), ou 6,2% do PIB do planeta.
O levantamento foi feito a partir de dados da série de estudos “Fardo Global das Doenças” (GBD, na sigla em inglês), que usa uma metodologia desenvolvida por cientistas do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington (EUA). O objetivo era contabilizar diversos aspectos que afetam a saúde mundial desde 1990.
O ar contaminado, seja nas ruas ou dentro de casa, é o tipo de poluição que mais mata no planeta, com 6,5 milhões de vítimas em 2015. A poluição atmosférica já foi associada ao desenvolvimento de males como doença obstrutiva crônica pulmonar, câncer de pulmão, infartos e derrames.
ÁGUA IMPRÓPRIA MATA COM DIARREIA
Já a água suja foi ligada a 1,8 milhão de mortes, principalmente por doenças gastrointestinais, como diarreia, e provocadas por parasitas. Em seguida vem a poluição no ambiente de trabalho, com a exposição a toxinas e compostos carcinogênicos (causadores de câncer) respondendo por 800 mil mortes, incluindo casos de pneumoconiose em mineradores de carvão, câncer na bexiga em trabalhadores no setor de tingimento, e asbestose, câncer de pulmão, mesotelioma e outros tipos de câncer em trabalhadores expostos a asbesto (amianto).
Por fim, a poluição do solo por metais pesados e compostos químicos e a contaminação do ambiente em geral por chumbo mataram 500 mil pessoas cada em 2015. Os cientistas alertam, porém, que com muitos poluentes ainda por serem identificados e estudados, o número verdadeiro de vítimas do problema pode ser bem maior.
— A poluição é muito mais que um desafio ambiental. É uma ameaça grave e disseminada que afeta muitos aspectos da saúde e merece a total atenção dos líderes políticos internacionais, sociedade civil, profissionais de saúde e pessoas ao redor do mundo — destaca Philip Landrigan, professor da Escola Icahn de Medicina do Hospital Monte Sinai, nos EUA, e colíder da comissão responsável pelo levantamento. — Apesar de seus grandes impactos na saúde, na economia e no meio ambiente, a poluição ainda é negligenciada nas políticas internacionais de assistência e na agenda da saúde global, com algumas estratégias de controle muito pouco financiadas. Nosso objetivo é elevar a consciência global sobre o problema e mobilizar as políticas necessárias para combatê-la ao prover as estimativas mais acuradas sobre poluição e saúde disponíveis.
Os pesquisadores também usaram dados do GBD para analisar os impactos da poluição na saúde em cada país. Grande parte das mortes ligadas ao problema (92%) ocorre em países de renda baixa e média, em especial os que estão passando por um rápido processo de desenvolvimento e industrialização, como Índia e China. Nestas nações, que lideram o ranking em número absoluto de vítimas devido às suas grandes populações, a poluição é apontada como responsável por cerca de um em cada quatro óbitos. Nos países desenvolvidos, também as classes mais pobres são as mais atingidas.
— Poluição, pobreza, má saúde e injustiça social estão profundamente interligadas — afirma Karti Sandilya, da Pure Earth, organização americana sem fins lucrativos dedicada à limpeza de áreas poluídas e um dos coautores do relatório. — A poluição e as doenças a ela relacionadas afetam mais os mais podres e desprovidos, e as vítimas são em geral os vulneráveis e os sem voz. Como resultado, a poluição é uma ameaça a direitos humanos fundamentais, como os direitos à vida, à saúde e ao bemestar, assim como à proteção das crianças.