Outras 30 espécies surgiram pela força da regeneração da natureza.
Na floresta também apareceram animais como capivara, jacu e onça parda.
O Parque São Marcelo fica no município de Mogi-Guaçu, na região de Campinas, a 170 km de São Paulo. Há dez anos, a questão era plantar uma floresta. No lugar havia a plantação de mudas de espécies arbóreas. Em outra área degradada, pertencente à uma empresa de papel e celulose, tinham sido plantadas mudas para surgir uma nova mata.
“A minha experiência de áreas que eu já vi anteriormente é de 10 a 15 anos para você ter uma mata bem formada a partir de um plantio semelhante a este”, disse o agrônomo do agrônomo diretor do Instituto de Botânica de São Paulo, Luiz Mauro Barbosa, em entrevista concedida em 2004.
A palavra do agrônomo foi pega como um desafio. Depois de pouco mais de 10 anos, o Globo Rural foi conferir. “Hoje você está numa sombra de uma mata. Há dez anos, nós estávamos ao lado das mudas”, diz Barbosa.
Muitos projetos de fazer uma mata virgem fracassaram por não levar em conta duas situações: plantio de mudas no mínimo de 80 espécies diferentes, para garantir a diversidade; e dentre as mudas têm de haver as espécies primárias e as secundárias. Primárias são plantas de ciclo curto, mas de rápido crescimento. Elas vão proteger com sombra as espécies secundárias ou definitivas. As secundárias crescem lentamente, mas seu ciclo de vida é longo, contando-se às vezes por séculos.
Na mata virgem, as árvores secundárias estão quase sempre isoladas. Elas não formam colônias. Essa é uma forma de defesa. No caso de uma doença, morre um pé aqui, outro ali, sem afetar a diversidade. Nas matas plantadas, procura-se imitar a natureza. No caso da Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, foram plantadas 101 espécies diferentes de árvores, entre primárias e secundárias. Do alto é possível observar como a reserva já está bem formada.
Outro aspecto importante para a formação de uma mata é a serrapilheira, uma camada de folhas, brotos e pedaços de galhos que se deposita no solo e vai formando uma cama de matéria orgânica. Quanto maior essa camada, mais nutrientes há no solo.
A bióloga Regina Tomoko, que trabalha com o chamado sub-bosque, examinou se na floresta plantada em Mogi-Guaçu já existe presença do sub-bosque, ou seja, plantas de pequeno porte que não foram plantadas e surgiram por si. São arbustos, trepadeiras, bromélias, cipós, parasitas que aparecem em qualquer trecho de uma mata consolidada
“No espaço de alguns metros quadrados a gente já pode identificar alguns indivíduos principalmente que fazem parte do sub-bosque desse reflorestamento. Eu já posso citar uma espécie de subarbusto, que é o piper, o piper arduncum, uma espécie da mesma família da pimenta. A gente tem outro arbustinho aqui que é da família do café, que é a psicótrea, que vulgarmente também é chamado de cafezinho, que faz parte do sub-bosque da floresta”, diz a bióloga.
Quando a noite chega, é hora de uma caçada. Será que essa mata feita à mão está atraindo a fauna? As redes foram armadas no entardecer e os morcegos que enxergam pouco foram caindo. O professor Ariovaldo Pereira, que faz a pesquisa, tem a luva e o jeito de pegar morcego sem perigo. “É um morcego frugívoro, conhecido como morcego do figo. É um morcego relativamente comum, inclusive em ambientes urbanos, e é o morcego mais comum da área em que a gente se encontra aqui”, diz.
Trata-se de um morcego que se alimenta de frutas. A espécie é fica distante do vampiro, que chupa sangue e transmite raiva. Foram pegos também alguns morcegos insetívoros, também inofensivos.
Segundo o mateiro João Machado, nascido e criado pela região, foram plantadas em torno de 300 mil mudas em toda área e foram encontrados vários tipos de animais dentro da RPPN, como veado, capivara, gambá, jacu e mutum. “A gente já tem relato de pessoas que passaram na pista e avisaram que tinham visto uma onça parda. Então tem vários tipos de animais, tem os répteis, as serpentes”, conta.
O lago também ganhou mais água depois que a floresta encorpou. O agrônomo diretor do Instituto de Botânica de São Paulo Luiz Mauro Barbosa relembra que a árvore é mortal: completa seu ciclo, fenece e surge outra em seu lugar. Já a floresta é perene, a menos que haja contra ela uma violência.
Quanto à mata plantada, a cada ano estará cada vez mais vigorosa, com árvores mais altas, troncos mais grossos e com mais galhos, ramos, folhas e frutos. Mas isto não significa que seja necessário esperar cem anos para vê-la em seu esplendor. Na verdade, precisa de menos. Com vontade e meios, o ser humano pode plantar o que muitas pessoas chamam de mata virgem e, com alguns anos à frente, descansar na sua sombra ou ficar ali ouvindo o canto dos passarinhos. Pode curtir a sensação de que contribuiu com a natureza para sempre.
Segundo um levantamento do Instituto de Botânica de São Paulo, além das 101 espécies de árvores plantadas na área, foram catalogadas outras 30 que surgiram pela força da regeneração da natureza.