terça-feira, 10 de outubro de 2017

ONG diz que animais da Amazônia sofrem com selfies de turistas


ONG diz que animais da Amazônia sofrem com selfies de turistas

Boto-cor-de-rosa é principal animal oferecido por agências para interação com os visitantes.

Por France Presse
Boto-vermelho, também conhecido como boto-cor-de-rosa, é um dos símbolos da Amazônia (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP)
  Boto-vermelho, também conhecido como boto-cor-de-rosa, é um dos símbolos da Amazônia (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP) 

Os animais da Amazônia sofrem com a atividade turística na região, que em muitos casos submete espécies como o boto-cor-de-rosa e o bicho-preguiça a longas sessões de fotos, alertam ativistas da ONG World Animal Protection. 

A organização, com sede na Inglaterra, publicou esta semana um relatório em que afirma que desde 2014 as fotos de pessoas com animais no Instagram aumentaram 292% no mundo todo. E em 40% delas, os humanos aparecem "abraçando ou interagindo de forma inadequada com um animal selvagem". 

Com frequência, os animais são capturados e maltratados antes de serem exibidos aos turistas, aponta a World Animal Protection, que se infiltrou em excursões na selva amazônica do Brasil e do Peru para registrar estas interações. 

"Atrás das câmeras, estes animais costumam ser espancados, separados de suas mães quando bebês e guardados secretamente em lugares sujos e apertados; ou são cevados reiteradamente com alimentos que podem ter um impacto negativo a longo prazo em seu organismo e comportamento", afirma o grupo. 

"Com muita frequência os turistas desconhecem completamente esta crueldade que torna os animais submissos e disponíveis", acrescenta. 

Em Manaus, capital do estado do Amazonas, 94% dos 18 passeios turísticos visitados pela World Animal Protection ofereciam a oportunidade de "segurar e tocar animais selvagens" 
 
 
Em tais pacotes, o boto-cor-de-rosa era o animal mais oferecido pelos agentes para este tipo de contato, seguido da preguiça-de-três-dedos, crocodilos, anacondas verdes e macacos. 

Roberto Cabral, coordenador das operações de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), disse em uma entrevista à AFP que manter animais em cativeiro para estes fins é ilegal no Brasil, mas que infelizmente isto "acontece". 

Porém, "no contexto geral de tráfico de animais e de caça que existe no Brasil, embora (a exploração turística de animais) seja impactante, é algo mínimo", apontou. 

"A ironia é que o turista que normalmente tira fotos com o animal é aquele turista que adora os animais e, na realidade, está contribuindo para o seu mal-estar, captura e matança", acrescentou Cabral.

Globo firma parcerias para divulgar objetivos globais de desenvolvimento sustentável

No contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Globo assume o compromisso de popularizar os objetivos globais como nova realidade do país e ajudar no cumprimento das metas até 2030


Em setembro de 2015, 193 países adotaram um compromisso com os objetivos de desenvolvimento sustentável do planeta. Trata-se de uma agenda para os próximos 15 anos que busca acabar com a pobreza, lutar contra a desigualdade e injustiça e combater as mudanças climáticas.
Globo fala sobre sua contribuição na disseminação e popularização dos ODS no Brasil em evento internacional. Na foto: Luciana Aguiar, gerente de parcerias para o setor privado do PNUD, Georgia Pessoa, gerente de Meio Ambiente da Fundação Roberto Marinho e Beatriz Azeredo, diretora de Responsabilidade Social Globo. (Foto: Divulgação)Globo fala sobre sua contribuição na disseminação e popularização dos ODS no Brasil em evento internacional. Na foto: Luciana Aguiar, gerente de parcerias para o setor privado do PNUD, Georgia Pessoa, gerente de Meio Ambiente da Fundação Roberto Marinho e Beatriz Azeredo, diretora de Responsabilidade Social Globo. (Foto: Divulgação) 
 
De acordo com essa agenda, foram definidos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que formam uma agenda global a fim de mobilizar as pessoas para o desenvolvimento enquanto uma só nação, um só mundo. 

Nesse sentido, empresas de comunicação têm um papel fundamental no novo cenário. Ao informarem sobre os novos objetivos globais, a partir de narrativas inspiradoras, ajudam a traduzir informações importantes, muitas vezes vistas como técnicas e complexas – como o conceito de sustentabilidade, que não mais compreende apenas a preservação ambiental, mas alcança dimensão mais ampla ao envolver o tripé social, econômico e ambiental. 

Sempre estivemos na vanguarda de grandes temas sociais na agenda do país, em especial aos relacionados ao tema sustentabilidade. Desde grandes coberturas de desastres naturais, como as enchentes no Rio de Janeiro na origem da TV Globo, a popularização do termo “ecologia”, em 1974, na novela O Espigão até o lançamento, em 2015, da plataforma de mobilização Menos é Mais, para desenvolvimento sustentável. 

No contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Globo assume o compromisso de colaborar para a popularização dos objetivos globais como nova realidade do país, estimulando a adesão de atitudes que preservem nosso planeta para as próximas gerações. Por essa razão, a Globo estabeleceu parcerias com a agência das Nações Unidas para Desenvolvimento - PNUD e a Fundação Roberto Marinho no esforço de promover a divulgação dos objetivos globais para o cumprimento das metas até 2030. 

 
  

Correio Braziliense – Não deixando ninguém para trás / Artigo /Isaac Tsai

Isaac Tsai, Representante do Escritório Econômico e Cultural de Taipei no Brasil


O aquecimento global e a mudança climática afetam toda a humanidade e a sustentabilidade do mundo em que vivemos. Nos últimos 23 anos, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) pediu a cooperação mais ampla possível de todos os países na luta para evitar as consequências devastadoras, pois, até o momento, nem o governo de Taiwan nem os 23 milhões de cidadãos os quais representa tiveram adequado acesso às reuniões da Conferência das Partes. No entanto, Taiwan nunca usou tal fato como uma desculpa para se esquivar de suas responsabilidades como parte interessada (steakholder) na comunidade internacional.

Em junho de 2015, Taiwan tomou um passo concreto quando aprovou, internamente, a Lei de Gerenciamento para a Redução de Gases de Efeito Estufa (GEE), que tem o objetivo oficial de reduzir o nível das emissões de carbono em 50% de 2005 até 2050. Em resposta à Chamada de Lima para Ação Climática, Taiwan também anunciou voluntariamente sua Contribuição Nacional determinada em setembro de 2015, comprometendo-se a reduzir as emissões de GEE em 50% do nível comercial até o ano de 2030.

Taiwan entende que as questões associadas às mudanças climáticas estão intrincadamente conectadas ao desenvolvimento sustentável do mundo e acaba de lançar sua primeira revisão voluntária nacional do progresso no alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis das Nações Unidas.

As mudanças climáticas não conhecem fronteiras e exigem cooperação global. Taiwan tem tanta participação na luta contra as mudanças climáticas quanto qualquer outro país e requer, urgentemente, à comunidade internacional que o apoie em sua tentativa de participar da próxima 23ª sessão da Conferência das Partes, em Bonn, na Alemanha, entre 6 e 19 de novembro deste ano, na qualidade de governo observador não membro, sob o nome de sua Administração de Proteção Ambiental (EPA).

Taiwan é conhecido por sua experiência no desenvolvimento de tecnologia verde. Ao longo das décadas, realizou numerosos projetos de cooperação com países em desenvolvimento em uma ampla gama de campos relacionados às mudanças climáticas. Taiwan também trabalhou com os EUA para gerenciar o meio ambiente e reduzir a poluição por meio de projetos, pesquisas e troca de conhecimento. Em 2014, a EPA de Taiwan oficialmente lançou a Parceria Ambiental Internacional, que comporta uma rede de especialistas mundiais trabalhando em conjunto para fortalecer a capacidade na abordagem de questões ambientais.


O Acordo de Paris destaca o importante conceito de justiça climática, demandando a todos os Estados que tomem medidas para enfrentar as mudanças climáticas. Trata-se de parâmetro injusto excluir os taiwaneses do UNFCCC, pois Taiwan é uma ilha densamente povoada, a qual se encontra exposta a eventos climáticos extremos, sendo o 21º maior emissor de dióxido de carbono do mundo.

Taiwan não pode ser deixado para trás lidando com esses fortes impactos das mudanças climáticas por conta própria. O povo de Taiwan está ansioso para participar do regime climático global, uma vez que a inclusão de Taiwan no processo da UNFCCC está em total conformidade com o propósito e o espírito da convenção, ante o reconhecimento de que a natureza global das mudanças climáticas exige a mais ampla cooperação possível, respeitando-se os princípios incorporados na Carta das Nações Unidas.

Os 23 milhões de taiwaneses têm o direito, a capacidade e a vontade de contribuir para os esforços, visando garantir o desenvolvimento sustentável do nosso planeta. Convocamos, portanto, todas as partes interessadas a olharem para além das considerações políticas e a apoiarem a participação profissional, pragmática e construtiva de Taiwan na UNFCCC.

Valor Econômico – Governo Trump vai revogar plano ambiental de Obama

Por Daniela Chiaretti | De São Paulo

O governo de Donald Trump deve dar mais um passo hoje na tentativa de desmontar a política climática de Barack Obama.


Scott Pruitt, diretor da agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, a EPA, disse ontem que irá revogar o Clean Power Plan, a espinha dorsal da política interna de combate à mudança climática de Obama. Ele disse ainda que anunciará novas regras para as emissões das térmicas a carvão.


"Aqui está a mensagem do presidente: a guerra ao carvão acabou" disse Pruitt ontem, no Estado de Kentucky, ao lado do líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell. O lugar é simbólico para a mineração. O carvão no Kentucky foi descoberto em 1750. Em 2010 havia 442 minas operando ali.


O Clean Power Plan tem por meta reduzir em 32% as emissões do setor de energia americano até 2030, comparadas aos níveis de 2005. "Em termos práticos, as emissões do setor já estão caindo em função da queda no preço das energias renováveis, das políticas públicas estaduais e do uso crescente de gás natural", disse ao Valor Lou Leonard, vice-presidente sênior de mudança do clima e energia do WWF-US. "Algumas estimativas indicam que essas forças de mercado e políticas estaduais poderiam produzir reduções de emissões comparáveis ou próximas ao Clean Power Plan", continua Leonard.


O anúncio de Pruitt vinha sendo aguardado havia dias. Mas outros movimentos do governo Trump podem ameaçar ainda mais as energias renováveis e dar mais sobrevida ao setor do carvão, segundo o "Financial Times". O secretário de Energia, Rick Perry, propôs novas regras para favorecer o carvão e a geração nuclear nos mercados de energia elétrica. A US International Trade Commission está considerando novas tarifas na importação de painéis solares.


A decisão de Pruitt deverá ser pivô de processos na Justiça. O procurador-geral do Estado de Nova York, Eric Schneiderman, já avisou que irá abrir uma ação para impedir a revogação do plano de energia limpa de Obama. O governo dos EUA é obrigado, por uma decisão da Suprema Corte americana, de fevereiro de 2016, a estabelecer regras para a poluição do ar. "No curto prazo, Estados e grupos da sociedade civil irão questionar a decisão [do governo Trump] nos tribunais", avisou Leonard. "Observaremos de perto a nova regra para garantir que ela se encaixe na decisão da Suprema Corte", disse.


Trump chamou o aquecimento global de fraude ("hoax") e anunciou que os Estados Unidos estão fora do Acordo de Paris, o tratado climático internacional da ONU firmado em 2015. Pruitt vem dizendo que o Clean Power Plan é injusto para as empresas americanas e ultrapassa o mandato da EPA. "O governo passado usou toda a sua autoridade e poder para fazer com que a EPA escolhesse vencedores e perdedores na geração de eletricidade neste país. E isso é errado", disse Pruitt em Hazard, Kentucky.


Leonard, do WWF, lembra que já é concreta a liderança na ação climática nos EUA além dos limites de Washington. "Cidades, Estados, universidades e empresas não apenas têm prometido ações, mas já estão capitalizando com a economia limpa, gerando empregos e mandando um sinal para outros governos e investidores de que os EUA ainda podem cumprir as metas do Acordo de Paris", continua.


Pruitt, quando era procurador-geral de Oklahoma, processou a EPA em tentativa de bloquear o plano de Obama. Este ano, com Pruitt já na direção da EPA, uma análise das atribuições da agência concluiu que o melhor caminho para evitar a judicialização da decisão seria fazer audiências públicas para a substituição do plano de Obama por novas regras. (Com agências internacionais)


Atlas de répteis demonstra importância de regiões secas para biodiversidade

Atlas de répteis demonstra importância de regiões secas para biodiversidade

Por Vandré Fonseca
Cyrtodactylus bintangtinggi, réptil encontrado na Península da Malásia. Crédito: Divulgação.
Cyrtodactylus bintangtinggi, réptil encontrado na Península da Malásia. Crédito: Divulgação.
Manaus, AM -- Um mapa com a ocorrência de répteis em todo o mundo coloca a caatinga brasileira entre as regiões mais importantes para a conservação da biodiversidade na Terra. O estudo apresenta informações sobre mais de 10 mil espécies de lagartos, cobras e tartarugas conhecidos e completa o mapeamento de todos os vertebrados que vivem em ambientes terrestres no planeta.


O estudo, liderado por pesquisadores das Universidades de Oxford, Reino Unido, e Tel Aviv, Israel, com participação de outras 30 instituições, inclusive brasileiras, foi publicado nesta segunda-feira na revista científica Nature Ecology & Evolution. Ele demonstra que regiões áridas e semiáridas podem ter importância vital para a manutenção da variedade de espécies que existem no planeta.


São regiões que não apareciam com destaque em outros mapas, que incluíam mamíferos, anfíbios ou aves. Península Arábica e Levante (região do Oriente Médio próximo ao Mar Mediterrâneo), regiões áridas da África do Sul, estepes asiáticas, desertos da região central da Austrália e Sul dos Andes também estão entre as regiões que precisam ser conservadas, para proteger a biodiversidade.


“Lagartos especialmente tendem a ter uma distribuição peculiar e frequentemente gostam de locais secos e quentes”, afirma o autor principal do artigo, o biólogo da conservação Uri Roll, da Universidade Ben-Gurion (Israel). “Então muitas das novas áreas identificadas como prioritárias para a conservação são terras secas e desertos. Elas tendem a não ser prioritárias para pássaros ou mamíferos. ”


Entre os 10.064 répteis que puderam ser mapeados, a maioria são lagartos (6.110 espécies). Serpentes são o segundo grupo mais números (3.414 espécies), seguidas pelas tartarugas (322 espécies), anfisbenas ou cobras-cegas (193 espécies), crocodilianos (24 espécies) e a tuatara (uma espécie de animal parecido com lagarto e que vive exclusivamente na Nova Zelândia).


O biólogo Richard Grenyer, professor associado em Oxford, destaca que nas regiões secas estão terras com pouco valor econômico, o que é bom para a conservação. Mas elas abrigam também grandes projetos de irrigação e usinas de energia solar. “Algumas vezes são áreas de degradação generalizada, guerras ou conflitos”, afirma o professor. “Isto as torna ambientes desafiadores para conservacionistas trabalharem”, completa.


Os autores do estudo destacam que o mapeamento é importante para usar melhor os recursos destinados à conservação. Antes dos dados dos répteis serem apresentados, já havia estudos semelhantes para aves (10 mil espécies), anfíbios (6 mil espécies) e mamíferos (5 mil espécies).
Atlas de distribuição de répteis. Imagem: Divulgação.
Atlas de distribuição de répteis. Imagem: Divulgação.
Área prioritária para conservação de répteis. Crédito: Divulgação.
Área prioritária para conservação de répteis. Crédito: Divulgação.

Saiba Mais
Artigo: The global distribution of tetrapods reveals a need for targeted reptile conservation.

Ministério dá destaque aos corredores ecológicos com novo programa

Ministério dá destaque aos corredores ecológicos com novo programa

Por Duda Menegassi
O diretor do Departamento de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, Warwick Manfrinato. Foto: Duda Menegassi.
O diretor do Departamento de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, 
Warwick Manfrinato. Foto: Duda Menegassi.


No final de junho, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) assinou uma Portaria (Portaria MMA n°229/2017) que institui um Comitê e Grupo Técnico (GT) para formular e implementar o Programa Conectividade de Paisagens. A meta é construir um programa de Estado que pense e ordene a conectividade territorial, tanto do ponto de vista da biodiversidade e da conservação, quanto do humano e do uso do solo. Por isso, apesar de ter sido criada dentro do âmbito do MMA, a Portaria convida outros ministérios, como o da Agricultura, para se juntarem à mesa de discussões.


Nas vésperas da primeira reunião oficial para dar início à construção do programa, o diretor do Departamento de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, Warwick Manfrinato, um dos articuladores do programa, conversou com ((o))eco. Manfrinato explicou que “o objetivo do programa é reunir projetos que hoje são operados de maneira independente e desconectada e trazê-los para dentro de uma estrutura de conexão institucional”. Ainda de acordo com ele, existem áreas prioritárias, como a costa oeste do Brasil, que liga o Pantanal com a Amazônia. A consolidação de corredores no sentido norte - sul para facilitar a migração das espécies diante das mudanças climáticas também é uma das pautas em destaque no programa.


Leia a entrevista:


((o))eco: Como surgiu a iniciativa do Programa Conectividade de Paisagens?
“O Programa Conectividade de Paisagens, como vem sendo desenvolvido e proposto no MMA, tenta conciliar lados aparentemente conflitantes para ampliar seu alcance”.
Warwick Manfrinato: Os corredores ecológicos estão sendo discutido no mundo todo, principalmente nos países signatários das convenções do Clima e da Biodiversidade. No Brasil não é diferente. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) trata há algum tempo desse tema de corredores do ponto de vista ambiental e da conservação. O programa não surgiu, portanto, do nada. Há dois anos, uma iniciativa da Universidade Federal de São Paulo (USP) propôs à várias organizações, inclusive ao governo federal da época, que se iniciasse uma discussão sobre corredores ecológicos.


A proposta foi liderada pelo então professor José Pedro de Oliveira Costa, atual Secretário de Biodiversidade. Quando ele assumiu a pasta, ele propôs diretamente ao ministro, José Sarney Filho, transformar essa iniciativa em um programa com maior amplitude e espectro de ação. Percebemos que os projetos em andamento poderiam ser perenizados através do estabelecimento de um programa. Essa transição de um projeto de governo para um programa de Estado é uma das principais direções norteadoras da discussão que vem ocorrendo nesses últimos meses dentro do MMA, juntamente com outros ministérios, como o da Agricultura, da Defesa e das Relações Exteriores.


Nós tentamos fazer com que os objetivos do programa sejam amplos o suficiente para que ele tenha uma sobrevida para além do próprio MMA. O Programa Conectividade de Paisagens, como vem sendo desenvolvido e proposto, tenta conciliar lados aparentemente conflitantes para ampliar seu alcance. O próprio secretário de Áreas Protegidas foi falar com os secretários do Ministério da Agricultura, para que esse olhar sobre o problema de degradação ocorra de uma forma em que os potenciais da agricultura e da conservação possam ser maximizados, cada um no seu campo, porém de maneira dialogada.



Qual a estratégia para tirar o programa do papel?
A Portaria n° 299/2017 que dá início ao programa foi publicada semana passada, no dia 23 de junho. Antes disso, o Programa de Conectividade de Paisagens já havia sido anunciado pelo ministro Sarney Filho no México, na Convenção da Biodiversidade, em dezembro do ano passado. Ao longo desse semestre, nós trabalhamos na articulação do programa, que será coordenado pela Secretaria

Executiva do MMA, já que não integra somente assuntos de interesse da conservação e conectividade no sentido físico, mas também envolve questões de articulação institucional. O objetivo do programa é reunir projetos que hoje são operados de maneira independente e desconectada e trazê-los para dentro de uma estrutura de conexão institucional. O programa será um lugar de discussão e avaliação dessas iniciativas frente a outras secretarias que também possuem voz naquela temática específica. Por exemplo, a questão de Reserva Legal e de Área de Preservação Permanente (APP) hoje é tratada principalmente dentro de um departamento do MMA e no Serviço Florestal Brasileiro através do CAR (Cadastro Ambiental Rural).



 Haverá um fórum de discussão onde a política pública do Cadastro vai dialogar com o Departamento de Áreas Protegidas quando o tema envolver questões referentes ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Essa relação proposta pelo programa atuará em duas instâncias operacionais. Uma será o Comitê Diretivo, composto por secretários, pelos presidentes das autarquias e pelos diretores de diferentes divisões do MMA. E o Grupo Técnico, composto por servidores de cada uma dessas divisões e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Defesa. Esse grupo irá estabelecer as diretrizes do programa e discutir as questões operacionais e controversas do dia-a-dia

 Segundo o texto da Portaria nº 229/2017, “O Programa a ser implementado tem como objetivo

 central promover a integração de políticas públicas que propiciem a conectividade entre as áreas
 naturais protegidas e os seus interstícios, visando reduzir os efeitos da mudança do clim
a sobre a biodiversidade, com ênfase nas condições de adaptabilidade das espécies, bem 
como assegurar a sustentabilidade dos processos produtivos relacionados, contemplando
questões afetas ao clima, água, florestas, aspectos socioambientais, econômicos e culturais.”

A portaria foi publicada, agora o próximo passo é reunir um grupo de trabalho para construir esse programa. Como funcionará esse processo?
A ideia do Programa Conectividade de Paisagens é que ele possua múltiplos autores. Ele não foi desenhado por nós e repassado às outras instâncias. O que nós fizemos foi um esboço de uma proposta que foi discutida com todos os secretários preliminarmente. Foram diversas reuniões onde os diferentes grupos trouxeram documentos, textos e opiniões. E em maio nós realizamos uma reunião final onde houve o alinhamento dessas contribuições. A partir disso, nós desenhamos a proposta da Portaria, que prevê a construção do programa de forma conjunta com seus diferentes atores, inclusive de fora do MMA. Não é uma Portaria interministerial. É uma Portaria do Ministério do Meio Ambiente, mas que convida os outros ministérios para contribuir. Inclusive, ela prevê a participação do setor privado na mesa de discussões.


A partir da data de publicação, nós temos um prazo de 120 dias para consolidar a estrutura do programa e encaminhar a proposta. A primeira reunião do Grupo Técnico que irá construir o programa está marcada para dia 4 de julho. Com a aprovação do programa, ele entrará em operação, e será implementado e executado dentro de uma ordem multi-mandatária. Nosso planejamento é de longo prazo, para os próximos 10, 15 e 20 anos, para que ele possa ser continuado por quem quer que venha futuramente a assumir a pasta de Meio Ambiente.


Quais são os pontos focais e prioritários do programa?
Existem características físicas e geográficas que precisam ser consideradas, como rios, montanhas e biomas. Existem também as características humanas, que não podem ser ignoradas, porque são elas que levam à degradação ou à conservação. Como nós ordenamos tudo isso é a grande questão do programa. Sob a ótica de prioridades, nós obviamente precisamos olhar para o que ainda existe de área preservada; e para os grandes campos de ocupação transformados pelo uso da agricultura e pecuária; e pensar como nós unimos regiões demasiadamente desconectadas.


Nós temos, por exemplo, a Calha Norte, a Calha do São Francisco e a Calha do Rio Guaporé, na fronteira com a Bolívia. Toda a região que liga o Pantanal à Amazônia, na nossa fronteira oeste, é uma região prioritária - onde já foram reconhecidos, inclusive, vários Sítios Ramsar.



No centro do país existem rios como o Araguaia, o Xingu e o São Francisco, que naturalmente criam ligações entre os biomas no sentido norte-sul. Porque além da Calha Norte, que seria um corredor leste-oeste, também tem sido uma preocupação fazer essa conexão norte-sul. Porque isso vai de encontro com outra prioridade que é a questão climática e a adaptação às mudanças que virão. Nós precisamos proteger os corredores norte-sul porque nas próximas décadas haverá a necessidade de migração das espécies para os polos. Esse é um assunto muito discutido na Convenção do Clima que precisa ser ordenado na Convenção de Diversidade Biológica também.



Quando falamos de corredores, além de priorizar regiões específicas que estão desconectadas do ponto de vista ambiental mais imediato, para garantir o fluxo gênico entre elas, é preciso também pensar no longo prazo, na necessidade de criar esses corredores para facilitar a migração das espécies. Os governos devem tomar essa iniciativa.


Além disso, no Programa Conectividade de Paisagens há diferentes níveis de prioridade. Existe a prioridade biológica de regiões específicas e zonas de encontro entre biomas, e também os locais de interesse humano e cultural. Existem corredores culturais, como as estradas, que também precisam ser observados à luz da conectividade. O programa é uma iniciativa multidimensional e multidisciplinar, que precisa ser construída com muitas cabeças e visões distintas. O programa busca integrar não só áreas, mas ações e instituições.


De que forma o Cadastro Ambiental Rural (CAR) pode ajudar a incluir propriedades privadas no projeto de corredores?
“Não há nenhuma possibilidade de corredores e do programa ocorrer sem a participação do setor privado, dos proprietários e das atividades agrícolas.”.
Essa presença do CAR no planejamento do Programa de Conectividade é uma necessidade, que inclusive já está sendo articulada com o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro. Não há nenhuma possibilidade de corredores e do programa ocorrer sem a participação do setor privado, dos proprietários e das atividades agrícolas. Recentemente eu estive em uma indústria de açúcar e foi constatado lá que o próprio canavial estava cumprindo o papel de conectividade entre os diferentes fragmentos de floresta nativa daquela região. Existem alternativas para que a atividade agrícola seja menos impactante e mais permissiva à biodiversidade, e técnicas para aprimorar a malha de relações em regiões onde a necessidade de conectividade é mais ampla.


O programa permitirá a criação de políticas públicas através de incentivos e projetos para que o proprietário possa produzir sem perder de vista a necessidade de proteger um bem que é da sociedade. O proprietário rural cumpre um papel social para além da função econômica de produção. Existem ferramentas que devem ser olhadas à luz da conectividade e o CAR será uma delas. O Cadastro irá fornecer instrumentos e informações para que possamos aumentar as alternativas de diálogo com o proprietário rural.


Até que ponto a implementação de trilhas de longo curso, como a Trilha Transcarioca no Rio de Janeiro, que conecta seis unidades de conservação, pode ser uma estratégia aliada na consolidação de grandes corredores ecológicos?
É muito importante evidenciar que não existem corredores se não houver uma ação de conectividade em nível local. Não existe um corredor, qualquer que seja ele, que funcione sem essa visão local. Nós podemos conceber um grande corredor na Calha Norte, mas se os prefeitos, as empresas e os proprietários locais não entenderem que aquilo é importante, eventualmente a degradação vai acontecer. Mesmo com um arcabouço legal robusto, ele não se implementa. Nesse sentido, a ação de trilhas de longo curso é muito importante porque desperta o envolvimento e o engajamento das comunidades que moram ao longo dessa trilha.

As pessoas passam a ter, não somente o benefício econômico gerado pela presença da trilha, mas a noção de que aquilo serve a um bem maior. E aí sim, de baixo para cima, essa ação de corredor começa a fazer sentido. Áreas protegidas valorizadas por trilhas são essenciais e os trekkings de longo curso são um assunto em emergência, algo que está crescendo até por ação muito diligente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).


Nós só iremos conseguir efetivar o programa de corredores se houver essa ação local junto com parques municipais, grupos de voluntariado e outros. Sem isso, faremos algo de gaveta, que não sairá do papel. Nós precisamos ter a visão continental, mas não podemos achar que só isso irá resolver. Esse trânsito em nível local é o que faz o projeto se concretizar.



A Trilha Transcarioca, um corredor ecológico de 180 quilômetros que conecta seis unidades de
 conservação no Rio de Janeiro. Foto: Duda Menegassi/WikiParques.


Já existe alguma previsão de quais seriam as fontes de recurso para financiar o programa?
Sim. Em primeiro lugar, apesar de estarmos vivendo um momento orçamentário público muito difícil, o Brasil é privilegiado por seus parceiros internacionais. Existem inúmeras agências internacionais que atuam historicamente no Brasil, como o GEF (Global Environment Facility). Essas agências e interações nos fornecem recursos externos ao orçamento que permitem hoje a instalação e condução de projetos bem-sucedidos, como o ARPA (Programa de Áreas Protegidas da Amazônia), que é financiado por um grupo de doadores, que inclui a Alemanha e a Noruega, e ONGs como a WWF e a Moore Foundation, assim como empresas privadas.


Existem recursos já disponíveis que estão sendo operacionalizados para que a gente faça esse planejamento de médio e longo prazo. Por outro lado, existem novos recursos em vista. A Fase 6 do GEF acaba ano que vem, e eles já abriram a chamada para Fase 7. Nós estamos planejando para que a submissão ao GEF de uma nova demanda brasileira de recursos tenha uma estrutura muito ligada à questão da conectividade, tanto marinha quanto terrestre. Na região marinha nós queremos construir corredores como, por exemplo, Vitória – Trindade, no Espírito Santo. A Ilha de Trindade, que fica bem longe do continente, é uma cordilheira submersa e nós estamos olhando para ela como um corredor ecológico que será contemplado no Programa Conectividade de Paisagens.


Esse planejamento irá estruturar nossas propostas para angariar recursos externos. Ao mesmo tempo, nós precisamos enxergar como é que os orçamentos federal, estaduais e municipais podem vir a partir do reconhecimento pelas jurisdições estaduais e municipais da importância do programa e do que ele representa.