Há mais de duas décadas, a Sociedade Brasileira de Recuperação de
Áreas Degradadas, pioneira no tema, se dedica a debater e estudar o
assunto no Brasil. Em 2018, a SOBRADE criou uma série para explorar em
profundidade cada um dos biomas brasileiros. Esse ano, excepcionalmente
na modalidade on-line, é dedicado ao Pantanal.
O evento discutirá a problemática ambiental desse bioma e apontará
medidas e alternativas para uma adequada gestão ambiental. Também
contará com profissionais renomados na área e experientes na região,
buscando abranger as especificidades do tema.
Junte-se à nós, e conheça mais sobre as técnicas e práticas de recuperação ambiental do biodiverso Bioma do Pantanal.
Os participantes receberão certificados pela participação e as inscrições são limitadas.
14h00– Abertura: O papel da Sobrade na Recuperação Ambiental
Com Mauricio Balensiefer, presidente da Sobrade e professor na UFPR
14h20- Palestra: Fisionomias Florestais, Paisagens Físico-naturais, Referenciais para a Restauração da Biodiversidade
Com Geraldo Damasceno Júnior (UFMS) e Arnildo Pott (UFMS)
15h20 – Palestra: Ocupação e Aspectos Socioculturais, Econômicos e Ambientais: Tendências e Perspectivas Futuras ao Bioma
Com Rafael Morais Chiaravalloti (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e Domingos Sávio (UNEMAT)
16h20 – Intervalo
16h35 – Palestra: Cenários de Uso do Solo, Serviços Ecossistêmicos e Inteligência Territorial
Com Angélica Guerra (UFMS), Flávia Araujo (WWF) e Fabio de Oliveira Roque (UFMS)
17h45 – Palestra: Pantanal ameaçado: Vetores da degradação e Status da Gestão Ambiental
Com Silvia Santana – (LabuH (UCDBA), Clovis Vailant (Instituto Gaia) e Ricardo Valcarcel (UFFRJ e SOBRADE)
10/11 (terça-feira)
14h30 – Palestra: Pantanal como área de uso restrito desprotegida: relevância das salvaguardas socioambientais
Com Teodoro Irigaray (UFMT) e Dr. Luciano Furtado Loubet, promotor de Justiça do Mistério Público do Mato Gross
15h30 – Mesa redonda: Incêndios Florestais no Pantanal:
Paradigmas do Uso do Fogo, Potencial e Limitações da Restauração
Ecológica das Áreas Queimadas
Com a presença da equipe Técnica do Corpo de Bombeiros do Mato
Grosso, tenente Coronel Leandro Arruda e Coronel Angelo P. Rabelo e
Rodrigo Studart Corrêa (UNB)
17h00 – 17h15: Intervalo
17h15: Experiências e Estudos de Casos Empresariais/ Institucionais
Com Alexandre Ebert- SEMA/MT e Jonathan Gusso (RUMO Logística).
11/11 (quarta-feira)
14h30 – Palestra: Reabilitação/Restauração de Macrohabitats de Áreas Úmidas
Com Cátia Nunes da Cunha – (INCT- Áreas Úmidas/ UFMT) e Letícia Koutchin dos Reis (Doutoranda/UFMS)
15h45: Palestra:A Engenharia Natural e sua Aplicabilidade na Restauração de Ambientes Aquáticos
Com Fabricio Sutili (UFSM).
16h30: Intervalo
16h45: Palestra: Restauração das Áreas de Nascentes e Cabeceiras
Com Ricardo Ribeiro Rodrigues- (LERF/LCB/ESALQ/USP) e Solange Ikeda (UNEMAT).
17h45: Palestra: Diversidade faunística Associada a Sistemas
Produtivos e Conectividade: Corredores Ecológicos como Estratégia para a
Conservação
Com Walfrido Tomas (Embrapa Pantanal)
12/11 (quinta-feira)
14h30 – Palestra: Invasões Biológicas: Conhecimento e Manejo
Com Sylvia Ziller (Instituto Horus)
15h15 – Palestra: SIG (Sistemas de Informação Geográfica) e Uso de Drones no Planejamento, Implantação e Monitoramento em PRADs
Com Gustavo Manzon Nunes (UFMT)
16h15: Intervalo
16H30:Palestra: Áreas Protegidas/ Estrada Parque/ Dinâmica e Influência da Pesca
Com Thomaz Lipparelli – (LPAmbiental)
17h: Palestra: Status da Pesquisa, Perspectivas, Limitações e Desafios
Com Walfrido Tomas (Embrapa-Pantanal) e Leticia Couto Garcia (UFMS)
13/11 (sexta-feira)
14h30 – Mesa Redonda: Conhecimento Tradicional no Bioma:
Agroecologia, Sistemas Agroflorestais/ILPF, Cultivo de Plantas
Alimentícias não Convencionais e Produtos Florestais não Madeireiros
Com Ieda Maria Bortolotto (UFMS), Elenira Mendes (Instituto Via Chico
Mendes), Mirjam Goring (Instituto Pantanal), Wagner dos Santos
(Instituto Pantanal) e João Leôncio (Instituto Caianas).
16h30 – Intervalo
16h45 – Palestra: Os rios voadores da Amazônia, mudanças climáticas e sua influência no Pantanal: perspectivas e oportunidades
Com Juarês Aumont (FURB)
17h20 – Palestra: A década da restauração (ONU): como
viabilizar as ações em campo, considerando o cenário econômico e
político atual
Com Ricardo Ribeiro Rodrigues (LERF/LCB/ESALQ/USP)
18h – Sessão de encerramento
Fique atento
O evento é online e é obrigatório ter instalado no seu computador a plataforma ZOOM.
Seguiremos o horário de Brasília.
O acesso às palestras será enviado, no dia do evento, para o e-mail que foi cadastrado pelo participante.
O certificado será enviado por e-mail em até 10 dias, após a conclusão do evento.
Pássaros estão se chocando contra os edifícios da cidade de Nova York em número recorde
Em caixas e em agasalhos, de bicicleta e
metrô, os nova-iorquinos estão levando pássaros feridos ao único centro
de reabilitação de animais silvestres da cidade.
Quando Genevieve Yue trouxe um pombo ferido ao Wild Bird Fund, centro de reabilitação de aves silvestres, em Manhattan, há alguns dias, ficou surpresa ao encontrar uma fila do lado de fora.
“Um casal na minha frente estava com um pássaro enrolado em um
agasalho. Outras pessoas resgataram pássaros em caixas da Amazon. O meu
levei em um saco de comida para viagem que tinha comprado”, contou ela.
Um pedestre perguntou se aquela fila era para a sorveteria.
Yue havia encontrado o pombo ferido na calçada em seu bairro Lower
East Side e notou que o pássaro precisava de socorro. “Tenho grande
afeição por pombos. Meu coração fica partido quando vejo pessoas
tratando-os como pragas”, lamentou ela. Ela forrou o saco de papel com
uma fralda extra de seu filho de dois anos, pegou carona em um Lyft e
foi sentido norte até o Wild Bird Fund no Upper West Side.
É uma pequena operação sem fins lucrativos encarregada de atender toda a cidade de Nova York. “É como um pronto-socorro das aves”,
conta Yue. “Nossas pequenas ambulâncias são basicamente sacos de
compras de papel e caixas de sapatos.” Todos na fila sentiram uma
conexão mútua por causa de seus pequenos resgates. “Começamos a
conversar imediatamente. De onde veio o seu pássaro? E onde encontrou o
seu? Quer ver o meu?’”
Ela não sabia na época que estava ocorrendo uma onda de colisões de
aves em Nova York. Entre sexta-feira, 2 de outubro, e sábado, 3 de
outubro, o Wild Bird Fund recebeu um recorde de 220 aves feridas, três quartos das quais eram pássaros migratórios incluindo a espécie Setophaga americana, a mariquita-de-mascarilha e muitas espécies de passeriformes.
A migração anual de inverno de aves
norte-americanas para o sul começou há algumas semanas e, com a
migração, vêm sempre as colisões. Cientistas da Audubon, ONG da cidade
de Nova York, estimam que até 240 mil aves morrem anualmente devido a
colisões na cidade. Em todo o país, estima-se que a quantidade alcance a
impressionante cifra de um bilhão.
Rita McMahon, fundadora e diretora executiva do Wild Bird Fund, afirma que as aves migratórias passam por Nova York
(e Washington, D.C., Filadélfia, Boston e muitas outras grandes cidades
da Costa Leste que compõem a rota de migração do Atlântico) e colidem
com os vidros em edifícios. Luzes interiores atrás das janelas confundem
as aves
que migram à noite, perturbando sua capacidade de navegação e
atraindo-as em direção à luz. Durante o dia, janelas refletem as árvores
e o céu, criando um obstáculo invisível. Voar entre janelas de vidro é
um campo minado para qualquer ave, mas a maioria das que se acidentam
são “novatas”, afirma McMahon — têm menos de um ano de vida e nunca
migraram por uma cidade.
A colisão de aves contra vidros não é um problema recente. E, apesar
do número recorde de pássaros trazidos ao Wild Bird Fund no último fim
de semana, não há nenhum indicativo de ter havido um agravamento em Nova
York. Não significa que houve aumento nos acidentes com aves, explica McMahon. Na verdade, mais pessoas estão ajudando.
“Há maior conscientização sobre nosso trabalho. As pessoas vêm de
muito longe, da periferia do Brooklyn ou de Rockaway Beach. Podem
demorar duas horas para chegar até nós”, conta ela. “Se puser um pássaro
no bolso ou em um saco de papel, poderá salvar a vida dele. Caso
contrário, ele vai morrer de hipotermia na calçada.”
Desde abril, o centro tem acolhido mais animais
feridos do que no mesmo período do ano passado. “Acredito que seja um
lado positivo da covid. As pessoas estão valorizando mais a natureza.
Estão mais atentas a aspectos que nunca haviam notado. É muito animador e
reconfortante saber que os nova-iorquinos têm tamanha compaixão”,
afirma ela.
Um fim de semana especialmente ruim
McMahon e seus colegas aguardavam a chegada das aves. Funcionários e voluntários acompanham os relatórios do radar do birdcast.info, site que indica a passagem de migrações noturnas de aves. Observadores de pássaros utilizam o site para identificar oportunidades de avistamento; socorristas de pássaros o utilizam para localizar possíveis tragédias.
Na noite da quinta-feira, 1o de outubro, o radar previu uma migração de alta intensidade sobre todo o país. Calista McRae, patrulhadora voluntária de aves
feridas e mortas na maioria das manhãs durante o ano, preparou sacos de
papel (para aves feridas) e sacos plásticos de quase 4 litros (para as
mortas).
“Quando cheguei ao primeiro prédio na manhã de sexta-feira, havia 30
aves caídas do lado, algumas vivas, outras mortas.” Ela contornou o
prédio e encontrou mais 40. Ela passou várias horas na sexta-feira e no
sábado recolhendo aves. Ao todo, recolheu 333 aves — 231 mortas e 102 feridas, que foram levadas ao Wild Bird Fund.
“Sabíamos que haveria muitas, mas não esperávamos tamanho
extermínio”, afirma McMahon. O Wild Bird Fund publicou um
apelo no Twitter, pedindo a voluntários para ajudar a transportar as aves
à instalação. Um casal encheu o carro com 50 aves; uma mulher levou
duas aves de bicicleta e quatro outras foram trazidas de metrô.
No Wild Bird Fund, os pacientes passam por uma triagem ao chegar.
Cada ave é avaliada individualmente e a equipe as divide em categorias
de acordo com a gravidade das lesões. Se uma ave começa a pular, é
deixada na sala de “preparação para soltura”, onde pode voar, ficar
empoleirada e é monitorada por 24 horas. Contudo a maioria das aves são
mantidas em cestos de roupa feitos de pano, ficando entre seis e oito
aves por cesto, onde há pequenos poleiros. No fim de semana passado,
segundo McMahon, havia 20 cestos de roupa em uma única sala. Aves
gravemente feridas são mantidas em incubadoras em uma sala silenciosa
que serve como unidade de terapia intensiva.
Todas são alimentadas com larvas. As menores são ideais para que as
aves não batam a cabeça com uma possível concussão ao tentar partir uma
larva grande. No último fim de semana, as larvas no centro esgotaram e
voluntários percorreram lojas de animais por toda a cidade, acabaram encontrando mais de trinta tonéis de larvas.
Das 220 aves
que chegaram, 90 morreram ou foram sacrificadas. Mais de cem se
recuperaram; muitas já foram soltas. Quando as aves se recuperam,
voluntários as soltam no parque Prospect Park e em outros locais no
Brooklyn, onde podem voar sentido sul — sobrevoando a água e longe da
cidade. “Não sabemos o que acontece depois, mas se pudermos garantir que
não passarão por mais nenhum edifício este ano, há mais chance de
sobreviverem”, afirma McMahon.
Recolhendo aves mortas para evitar mais aves mortas
Em dezembro, a prefeitura de Nova York
aprovou uma lei que determina que todo edifício recém-construído deve
utilizar vidros à prova de aves. É uma boa medida, afirma McMahon, mas
não se aplica aos prédios já existentes. Há vários que representam
grandes riscos especialmente para as aves, como os prédios 3 e 4 do
World Trade Center e, a um quarteirão de distância, o Brookfield Place.
“É um centro espelhado muito convidativo para as aves”, afirma McMahon.
Colisões com vidros não são um problema exclusivo do centro da
cidade: quase 45% das colisões ocorrem em prédios baixos, segundo a
Audubon, ONG da cidade de Nova York.
É fácil e barato readequar construções que sejam seguras para as
aves, ressalta McMahon. Embora algumas formas baratas de prevenção como a
colocação de redes não sejam esteticamente agradáveis, outras
estratégias comuns incluem adesivos em janelas, películas protetoras
contra raios UV em janelas (invisíveis aos humanos, mas claramente
visualizadas por diversas espécies de aves);
e até cortinas simples. À noite, algo tão simples como apagar as luzes
visíveis de fora do prédio pode ser uma medida eficaz, segundo a
organização sem fins lucrativos American Bird Conservancy. Em edifícios
novos, decisões sobre o tipo de vidro da janela, a posição e a
quantidade de janelas e o estilo de iluminação externa podem fazer muita
diferença.
Reunir dados sobre acidentes com aves perto de um determinado
edifício e entrar em contato com a administração sobre métodos de
prevenção também são fatores importantes nessa equação, afirma McMahon. É
o que motiva McRae a sair e recolher corpos de aves mortas pela manhã, registrando onde e quando foram encontradas.
“Se um proprietário de um prédio souber que seu prédio matou 350
pássaros no outono entre 6 e 9 da manhã — poderá refletir sobre como
evitar isso”, é mais provável que uma abordagem assim deixe um impacto,
diz ela.
Voluntariar-se para contar, recolher e resgatar aves feridas é uma
ótima maneira de incentivar as pessoas a ajudar, especialmente em tempos
tão turbulentos, afirma McMahon.
Yue, que resgatou o pombo, conta que sentiu um senso de propósito.
Ela afirma que pratica o distanciamento social rigorosamente e, por
isso, foi bom estar em um espaço público sem que a pandemia seja o
assunto principal. “É como se estivéssemos todos em uma missão. Todos
praticaram uma boa ação”, disse ela.
Após a entrada de seu pombo no centro de reabilitação, ela chorou
atrás da máscara enquanto partia. “Foram vários sentimentos ao mesmo
tempo. Fiquei comovida por encontrar um comportamento humano assim — ao
ver um homem segurar um passarinho nas mãos — mas também me senti tão
angustiada por existir tanta dor e sofrimento”, desabafa ela. “Foi uma
espécie de libertação. Há tanta dor, mas também tanta dedicação.”
O pombo de Yue estava com a coluna quebrada e teve de ser
sacrificado. Às vezes, “interromper o sofrimento é tudo o que está ao
nosso alcance”, afirma McMahon, que cuidou pessoalmente do pássaro. O
que Yue fez “foi um grande gesto”, afirmou ela.
Um grupo de aproximadamente 50 cientistas pediu à comunidade
internacional que tome medidas urgentes para evitar a extinção dos
anfíbios, considerada um sinal da deterioração geral do ambiente.
No apelo publicado nesta sexta-feira (7) na revista “Science”, sob o
título “Biodiversidade: Enfrentando as extinções dos anfíbios”, os
especialistas defendem um investimento de US$ 400 milhões na conservação
de várias espécies de batráquios – classe que inclui rãs, sapos e
salamandras.
O objetivo do programa de cinco anos é recolher em lugares protegidos
e zoológicos os anfíbios que correm maior risco de extinção.
Das 5.743 espécies de anfíbios conhecidas, um terço está em perigo de
extinção, devido à mudança climática, perda de habitat, aumento na
radiação ultravioleta que chega à Terra e contaminação por pesticidas.
Desde 1980, pelo menos 122 espécies desapareceram.
Os anfíbios formam uma parte importante do ecossistema, já que comem
insetos e são presas de animais de maior porte. Além disso, as secreções
de sua pele interessam aos pesquisadores de remédios.
Os cientistas que assinam o apelo são de todas partes do mundo, mas
principalmente dos Estados Unidos e países da América Latina, como o
Brasil, México, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Venezuela, Equador e Porto
Rico. (Folha Online)
Mas as oportunidades para utilizar este “baú do tesouro de incrível
diversidade” estão sendo perdidas conforme as espécies desaparecem,
devido à destruição do habitat e às mudanças climáticas.
Novas estimativas sugerem que dois quintos das plantas do mundo estão em risco de extinção.
A avaliação da Situação Mundial das Plantas e Fungos é baseada em pesquisas de mais de 200 cientistas em 42 países.
O relatório foi divulgado no dia de uma cúpula das Nações Unidas, que
pressionará por ações dos líderes mundiais para lidar com a perda de biodiversidade.
Estamos vivendo em uma era de extinção, disse o diretor de ciência da Kew, Prof Alexandre Antonelli.
“É um quadro muito preocupante de risco e necessidade urgente de ação”, disse ele.
“Estamos perdendo a corrida contra
o tempo porque as espécies estão desaparecendo mais rápido do que
podemos encontrá-las e nomeá-las. Muitas delas podem conter pistas
importantes para resolver alguns dos desafios mais urgentes da medicina e
até mesmo talvez das pandemias emergentes e atuais que estamos vivendo
hoje. “
O relatório revelou que apenas uma pequena proporção das espécies de plantas existentes são usadas como alimentos e biocombustíveis.
Mais de 7.000 plantas comestíveis têm potencial para safras futuras, mas apenas algumas são usadas para alimentar uma população mundial em crescimento.
E existem cerca de 2.500 plantas que poderiam fornecer energia para milhões em todo o mundo,
enquanto apenas seis safras – milho, cana-de-açúcar, soja, óleo de
palma, colza e trigo – geram a grande maioria dos biocombustíveis.
O Dr. Colin Clubbe, chefe de ciência da conservação em Kew, disse à
BBC News: “Atualmente estamos utilizando uma proporção tão pequena de
plantas e fungos do mundo, seja para alimentos, remédios ou como
combustível, ignorando o potencial tesouro de espécies selvagens que
agora temos um maior conhecimento e técnicas para investigar para o bem
da humanidade”.
Os cientistas estimam que o risco de extinção pode ser muito maior do
que se pensava anteriormente, com uma estimativa de 140.000, ou 39,4% de plantas vasculares ameaçadas de extinção, em comparação com 21% em 2016.
Eles dizem que o aumento das estimativas se deve em parte a avaliações de conservação mais sofisticadas e precisas.
E estão pedindo que as avaliações de risco sejam feitas rapidamente, usando tecnologias como a inteligência artificial, e aumentem o financiamento para a conservação das plantas.
A pesquisa descobriu que 723 plantas usadas para fins medicinais estão em risco de extinção, sendo a colheita excessiva um problema em algumas partes do mundo.
E 1.942 plantas e 1.886 fungos foram nomeados como novos para a
ciência em 2019, incluindo espécies que podem ser valiosas como
alimentos, bebidas, medicamentos ou fibras.
O relatório contém um capítulo sobre a flora do Reino Unido, que é mais bem estudada do que na maioria das partes do mundo.
No entanto, não há uma lista única de plantas com flores no Reino
Unido e ainda mais incerteza sobre os fungos, com estimativas variando
de 12.000 a 20.000.
Por que os biomas brasileiros nunca estiveram tão ameaçados
Com recordes de áreas degradadas nos últimos
anos, ecossistemas do país dão sinais de que é urgente frear o
desmatamento e preservar o que resta da nossa fauna e flora.
Nos mais de 40 anos em que frequenta a Lagoa do Peri, localizada no
sul da ilha de Florianópolis e conhecida por ser a maior lagoa de água
doce da costa de Santa Catarina,
o pescador Osni nunca havia visto tamanha estiagem. O rio que conecta a
lagoa à casa da família, no alto de um morro por onde passam
cachoeiras, está praticamente seco. Para sair de onde mora, Osni, que há
alguns anos tornou a casa na lagoa sua residência permanente, precisa
carregar a canoa por alguns metros de lodo até finalmente alcançar a água — são cerca de 20 minutos de remada até uma trilha que desemboca na estrada, que ele percorre de bicicleta.
Com pouco mais de 5 quilômetros de extensão e 11 metros de profundidade, a lagoa é cercada por vestígios de Mata Atlântica primária. Os cerca de 2 mil hectares que compõem o ecossistema são considerados unidade de conservação. Além da mata em regeneração, abriga animais típicos, como a lontra e o macaco-prego, e aves ameaçadas de extinção,
caso da gralha azul. É fundamental também para o abastecimento de água
de população da Ilha, atendendo entre 102 mil e 113 mil habitantes,
principalmente nas regiões leste e sul.
O desequilíbrio é preocupante. Em visitas técnicas, pesquisadores da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) já identificaram a morte
de peixes, o aparecimento de gaivotas e gaviões que não fazem parte da
fauna local e a proliferação de cianobactérias tóxicas. A proximidade
com o Oceano Atlântico e
a presença de um sangradouro entre o mar e a lagoa também aumentam o
risco de que, se o processo de erosão continuar, a água salgada acabe
contaminando a doce. Mas, além dos perigos locais, a situação na Lagoa
do Peri serve de alerta para uma crise muito mais grave: os biomas
brasileiros nunca estiveram tão ameaçados.
Segundo o primeiro Relatório Anual do Desmatamento do Brasil,
divulgado no fim de maio pelo Map Biomas, o país perdeu em 2019 ao menos
1,2 milhão de hectares de vegetação nativa, área equivalente a oito
vezes o município de São Paulo. Mais da metade (60%) de toda área
desmatada está na Amazônia, com 770 mil hectares perdidos. No início de
junho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
constatou que entre agosto de 2018 e julho de 2019 foram desmatados
10.129 km² de floresta, área equivalente a mais de oito vezes a da
cidade do Rio de Janeiro e maior índice desde 2008.
Mas a destruição também foi significativa no Cerrado (408,6 mil hectares), no Pantanal (16,5 mil hectares), na Caatinga (12,1
mil hectares) e na Mata Atlântica (10,6 mil hectares). Mesmo figurando
como última da lista, a Mata Atlântica, bioma ameaçado desde o início do
processo de colonização do país, teve um desmatamento significativo,
com um crescimento de quase 30% entre 2018 e 2019 em relação ao ano
anterior (2017-2018), de acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica.
Os dados e o exemplo da situação da Lagoa do Peri evidenciam a
gravidade de um efeito cascata generalizado da ameaça aos biomas
brasileiros. “Pensar no estado de Santa Catarina não é só olhar para a
Mata Atlântica. Ela está conectada com a Amazônia,
por exemplo, não dá para pensar em uma coisa sem a outra”, explica o
professor Lindberg Nascimento Júnior, do departamento de Geociências da
UFSC. A bióloga Marlúcia Martins, pesquisadora do Museu Paraense Emílio
Goeldi, em Belém, completa: “quando pensamos em respirar, beber água,
comer e até se relacionar, precisamos lembrar que para cada uma dessas
atividades existe algum serviço que os ecossistemas prestam.”
Caminho sem volta Um bioma é o conjunto de
ecossistemas animais e vegetais que têm um certo nível de homogeneidade
ou características próximas entre si. No Brasil, há seis principais:
segundo o IBGE, a Amazônia é o maior deles, ocupando 49,5% do território
nacional; o Cerrado é o segundo mais extenso, correspondendo a 23,3% da área do país; em seguida vêm Mata Atlântica (13%) Caatinga (10,1%), Pampa (2,3%) e Pantanal (1,8%).
Há ainda o Sistema Costeiro-Marinho, que ocupa 1,7% do território em
sua parte continental (superpondo-se aos outros biomas).
Embora possam ser separados conforme suas características, no fundo,
todos estão interligados. Na questão das chuvas, por exemplo, tão
importante quanto sistemas de ventos e nuvens nos oceanos é a trajetória
da água pelos chamados “rios voadores”. Isso depende muito do
equilíbrio dos biomas que abastecem a atmosfera com água — papel
desempenhado especialmente pela Amazônia — e a retêm no solo. É por
isso que o desmatamento no norte tem efeito direto na estiagem do sul do
país e, por sua vez, em ecossistemas locais.
É também nos biomas onde vivem bilhões de agentes polinizadores, como abelhas,
vespas, formigas, moscas, borboletas, entre outros insetos. Esse
conjunto das espécies que habitam sistemas, explica Martins, são
fundamentais para a manutenção dos sistemas agrícolas. São eles que
levam o pólen de um vegetal para outro, possibilitando reprodução e
crescimento. Sem eles, o cultivo de soja, café, laranja e maçã, alguns
dos principais produtos agrícolas do país, seria praticamente
impossível, causando um grande prejuízo.
Um levantamento de 2019 da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e
Serviços Ecossistêmicos mostra que, em 2018, as culturas que dependeram
desses agentes responderam por US$ 12 bilhões na economia brasileira. “O
impacto da degradação de um bioma não é só ambiental, mas econômico”,
explica Rubens Benini, líder da estratégia de restauração florestal da
The Nature Conservancy (TNC) na América Latina. Desmatar a Amazônia, na
visão do especialista, seria “matar a galinha dos ovos de ouro” do país.
“A curto prazo, o efeito negativo é termos nossa imagem internacional
arranhada”, explica a pesquisadora do Emílio Goeldi. E isso já vem
acontecendo: na última semana de junho, fundos internacionais de
investidores, que gerenciam cerca de R$ 21 trilhões, cobraram do Brasil
mais efetividade na área ambiental. “A médio prazo, precisaremos de um
projeto de socorro. E, a longo prazo, perderemos a sustentabilidade
natural, iremos à bancarrota, como muitas civilizações já foram, sem
futuro mesmo para o agronegócio.”
É o que os especialistas chamam de tipping point, ponto a
partir do qual um sistema não consegue mais se recuperar — em geral,
estimado entre 20% e 25% de degradação. A Amazônia está hoje em 19%,
segundo um artigo publicado em fevereiro de 2020 na revista Nature.
Como chegamos aqui “A situação é mais grave do
que parece”, diz Carlos Nobre, pesquisador aposentado do Inpe e membro
da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). “Depois de
grande sucesso nas políticas ambientais do país até 2012, voltamos a ter
um aumento gradual no desmatamento, mas a partir de 2018 até o presente
2020 isso vem acontecendo com uma velocidade muito grande.”
Em junho, o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real
(Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou
1.034,4 km² de área com risco de ser desmatada. Esse número é o maior
desde que o acompanhamento começou a ser feito, em 2015. No primeiro
semestre deste ano, os alertas de desmatamento aumentaram 25% em
comparação com o mesmo período de 2019, segundo o Inpe divulgou nesta
sexta-feira (10).
Ao longo de 40 anos, principalmente a partir da Constituição de 1988, primeira a ter um capítulo específico para o meio ambiente e
a impor o dever de defendê-lo e preservá-lo para gerações presentes e
futuras, o Brasil vinha se posicionando bem nas questões ambientais,
conforme avaliam os especialistas. Foram sendo criadas também leis e uma
série de estruturas e aparatos para garantir que fossem cumpridas, como
o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), em 1989, e o próprio Ministério do Meio Ambiente, em
1992.
“Nos anos 1990, 1992, o Brasil liderou as discussões com o conceito
de desenvolvimento sustentável, seguindo um tripé social, econômico e
ambiental”, diz Benini, do TNC. Até 2012, foram instituídas também leis
como a dos crimes ambientais, prevendo sanções penais e administrativas
para atividades que prejudicam o meio ambiente, e a de unidades de
conservação. O Estatuto das Cidades, de 2001, teve entre os objetivos
permitir que o desenvolvimento dos municípios não ocorresse em
detrimento do meio ambiente.
Em 2012, porém, a situação começou a mudar. Um novo Código Florestal,
mais permissivo que os anteriores, foi aprovado depois de cinco anos de
discussões. De lá para cá, especialmente a partir de 2015, os índices
foram aumentando gradualmente, até começarem a bater recorde atrás de
recorde a partir de 2018. O que deu errado?
A primeira hipótese dos especialistas é a redução da fiscalização,
que desde 2005 se tornou bastante rigorosa. Ainda que não prendessem
diretamente os envolvidos, que em geral conseguiam escapar, os agentes
capturavam e queimavam as ferramentas que eles deixavam para trás. “Os
financiadores passaram a perder muito dinheiro com isso, pois o custo de
cada trator daqueles [usados para derrubar árvores] é alto”,
explica Nobre. Em 2019, no entanto, um dos principais órgãos
fiscalizadores, o Ibama, teve o orçamento cortado em 24%. Com a redução
das ações de controle, os criminosos ambientais voltaram a se sentir
impunes.
O maior problema, concordam os estudiosos, foi a mudança drástica no
discurso político, escancarado com a fala do ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, durante a reunião ministerial de 22 de abril. Nas
imagens divulgadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso
de Mello, Salles falou sobre o que considerava ser uma oportunidade em
meio à pandemia da Covid-19. Para ele, o governo deveria aproveitar o momento, em que o foco das notícias estava voltado para a saúde,
e mudar regras que poderiam vir a ser questionadas na Justiça. “Precisa
ter um esforço nosso aqui enquanto estamos neste momento de
tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala de
Covid e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando
normas”, disse o ministro na ocasião.
“Está havendo um desmonte na estrutura nacional de proteção ao meio
ambiente”, diz Marlúcia Martins. Esse desmonte, explica, vem ocorrendo
com tentativas de rearranjos nas instituições que não poderiam ser
feitos de forma “tão descarada”. “A legislação não pode ser tão
alterada, mas todos os bons funcionários podem ser identificados,
desautorizados e destituídos de suas funções”, diz. Um exemplo marcante
foi a exoneração do chefe de fiscalização do Ibama e do responsável por
operações contra crimes ambientais, que ocorreu em abril, após operações
contra garimpos ilegais.
“O discurso adotado pelo Ministério do Meio Ambiente é como um sinal
verde para o crime ambiental”, opina Nobre. “Por mais que a política
ambiental do país tenha avançado muito, ela ganhou um ponto de vista
conservador, no qual crescimento equivale a desenvolvimento econômico,
colocando em xeque os recursos naturais”, completa o especialista da
UFSC. “A natureza está hoje reduzida a ser fonte de recursos, não é
exagero dizer que hoje o maior problema é político.”
Antes que seja tarde demais Na tentativa de
conter o desmatamento na Amazônia, o governo criou, em fevereiro, o
Conselho Nacional da Amazônia Legal. Composto por militares e sem a
participação de representantes do Ibama e da Fundação Nacional do Índio
(Funai), o conselho não está atrelado ao Ministério do Meio Ambiente, e
sim à vice-presidência da república, sob o comando do general da reserva
Hamilton Mourão (PRTB). O objetivo é propor e acompanhar políticas
públicas regionais, além de coordenar ações de prevenção, fiscalização e
repressão a atos ilícitos.
Mas o conselho até o momento não teve o resultado esperado.
Em entrevista à Agência Senado, a coordenadora do Observatório do Clima,
Suely Vaz, criticou o modelo: as Forças Armadas, na sua visão, não
substituem a atuação de agentes especializados na fiscalização e custam
caro. “Manter até 2022, como o general Mourão está pretendendo,
significa gastar R$ 60 milhões por mês só com os militares. Dois meses
de ações, ou R$ 120 milhões, pagam o salário anual de 100 fiscais do
Ibama. Esse é o déficit de fiscais para todo o Brasil”, disse.
Procurados pela reportagem da GALILEU, tanto o Ministério do Meio
Ambiente quanto a vice-presidência da república não retornaram as
tentativas de contato.
Para o especialista da RECN, a maioria das pessoas envolvidas com a
causa ambiental está pessimista. “Não achamos que exército vai ganhar
essa guerra [contra o desmatamento]”, diz Carlos Nobre. Para
Benini, da TNC, é preciso tomar medidas efetivas o quanto antes. “Nem
tudo está perdido, mas é importante agir agora, não é mais possível
tapar o sol com a peneira”, opina.
A maior urgência é frear o desmatamento ilegal — o que é menos
complicado do que parece, segundo os especialistas. “A curto prazo,
precisamos acabar com o crime [99% do desmatamento é ilegal].
Isso não é difícil, os satélites veem na hora que está acontecendo. Leva
de um a dois meses para desmatar fazendas de mil, 2 mil hectares, é
facílimo achar o lugar da ilegalidade”, explica Nobre.
Mas a população também deve se atentar para a questão. Uma ferramenta
de controle é praticar o consumo responsável, exigindo o certificado de
origem dos produtos que consomem — hoje, cerca de 76% da carne
produzida nas pastagens que tomam conta da Amazônia é destinada ao
consumo interno, segundo Nobre. “Exigir o certificado de origem é dar
uma vantagem para quem pratica a pecuária legal”, opina.
Afinal, por mais que pareçam imperceptíveis, as ações individuais têm
impactos que não se limitam a proximidades geográficas. Assim como nos
biomas, tudo está interligado. Por isso, não é exagero dizer que nossa
própria sobrevivência depende da deles.
Fogo, grileiros e gado ameaçam terra de indígenas isolados que liderou desmatamento
Em menos de três anos, 11% da terra indígena
Ituna-Itatá foram desmatados. Quase todo o território que deveria ser
protegido é sobreposto por registros feitos no Cadastro Ambiental Rural.
Terra indígena (TI) mais desmatada da Amazônia
em 2019, a Ituna-Itatá concentra este ano mais de 600 focos de calor
detectados pelo satélite S-NPP, monitorado pelo Inpe. Mais da metade
desses focos foram registrados na primeira quinzena de outubro, em um
processo de ocupação que envolve ainda esquemas de grilagem, criação e
“lavagem” de gado.
O território por onde o fogo avança vivencia uma investida sem precedentes de invasores não indígenas
que pressionam toda a região do Médio Xingu, no Pará, afetando
também outras terras indígenas nas proximidades, como as TIs Trincheira
Bacajá, Cachoeira Seca e Apyterewa. Diferentemente desses outros
territórios, a Ituna-Itatá abriga indígenas isolados, sobre os quais
pouco se sabe, mas cuja presença foi descrita em dois pareceres técnicos
da Fundação Nacional do Índio (Funai).
A Ituna-Itatá é uma terra indígena de 1.420 km² em fase de estudo e
com restrição de uso, estágio que impede o ingresso e a permanência de
pessoas sem autorização da Funai. No entanto, 94% dessa terra pública
foi recentemente registrada no Cadastro Ambiental Rural (CAR) em nome de
“proprietários” autodeclarados, segundo um levantamento realizado pelo
Greenpeace.
O trânsito de forasteiros e a crescente pressão sobre o território faz com que esse grupo de indígenas precise se deslocar, afastando-se dos conflitos e também do contato.
“Os indígenas da região do Xingu, de vez em quando, trazem notícias
sobre os grupos isolados que habitam a área. Em 2012, 2014, os relatos
indicavam que estavam mais ao norte. Em 2016, os Asurini e os Araweté
começam a relatar vestígios frequentes desses isolados um pouco mais ao
sul da terra indígena. Esse conhecimento indígena sobre as dinâmicas
territoriais desses grupos deve pautar as ações de monitoramento e
fiscalização do Estado brasileiro”, considera Angela Kaxuyana, da
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
Delimitada em portaria de 2011, como condicionante da hidrelétrica de
Belo Monte, a TI fica localizada entre os municípios de Altamira, que
teve um acréscimo substancial da população desde o início das obras da
barragem, e Senador José Porfírio, que pode ser impactado pela
instalação da maior mina de exploração de ouro a céu aberto da América
Latina, empreendimento da empresa canadense Belo Sun.
O processo de ocupação da Ituna-Itatá por não indígenas
começou a avançar em 2014, ainda no governo Dilma Rousseff. A partir de
2016, ano do início da operação de Belo Monte e do governo Michel
Temer, avançaram os registros do CAR dentro da TI e também os índices de
desmatamento.
“A pressão ali aumentou com o término das obras de Belo Monte, acho
que por dois motivos: primeiro, pela disponibilidade de mão de obra
oriunda do período de construção da usina; e segundo, porque os
empresários da região, que estavam lucrando com atividades ligadas à
obra, também acabaram ficando sem essa renda, voltando seus
investimentos para atividades ilegais”, avalia um ex-servidor público
que atuou na região e prefere não ser identificado.
Ocupação acelerada
Desde 2018, o Observatório De Olho no Xingu, da Rede Xingu +,
monitora o desmatamento na Ituna-Itatá pelo sistema Sirad X. Entre
janeiro de 2018 e setembro de 2020, foram detectados mais de 150 km²
desmatados. Em menos de três anos, o desmatamento atingiu cerca de 11% do território.
Pelos dados do Prodes/Inpe, o desmatamento na TI se intensificou em
2017/2018 e explodiu em 2019, já no governo Jair Bolsonaro, apresentando
um aumento de mais de 750%, em relação ao ano anterior. O período viu o
desparecimento de 120 km² de cobertura florestal.
Com a realização de operações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as taxas de desmatamento
caíram no início deste ano, chegando a quase zero, em alguns meses.
Agora, entre agosto e setembro, foi possível identificar pelo sistema
Sirad X novos pontos de desmatamento, ainda pequenos. Mas, como a
tendência de retirada de floresta na TI costuma crescer no final do ano –
foi assim em 2018 e 2019 -, o reaparecimento de áreas desmatadas serve
de alerta.
“Está havendo novos desmatamentos na região. Tem a abertura ainda de
pequenas áreas, bem em um ramal que sai de um terreno na Ituna-Itatá e
entra na terra indígena vizinha, a Koatinemo. No ano passado, a gente
divulgou a abertura desse ramal, e, agora, estou vendo na imagem que os
novos desmatamentos estão beirando esse ramal”, relata Thaise Rodrigues,
analista de geoprocessamento do Observatório De Olho no Xingu. Além da
TI Koatinemo, as pressões na Ituna-Itatá avançam também sobre a
Trincheira Bacajá.
“Estão ocorrendo queimadas
na Ituna-Itatá, tanto em propriedades que já haviam sido desmatadas há
mais de um ano, acredito que para fazer uma limpeza do terreno, quanto
em áreas que foram desmatadas no início do ano, acredito que para
consolidar [a ocupação], porque são áreas em que ainda tinha sobrado
muita vegetação, e agora, na imagem de setembro, eu estou vendo que
colocaram fogo”, explica a analista da Rede Xingu+.
Queimadas e desmatamento
dentro da Ituna-Itatá estão a reboque principalmente da especulação
pela posse da terra e da invasão de atividades como a pecuária. Os
pontos atuais de fogo na terra dos indígenas isolados muitas vezes coincidem com áreas desmatadas. “Tem
uma guerra ali pela regularização daqueles lotes, daquelas áreas
invadidas. Como é autodeclaratório, a gente vê sobreposição de CAR, uma
briga de facções que fazem vários cadastros, disputando aquele
território”, diz o ex-servidor público.
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico da situação
ambiental de imóveis rurais no país. Criado no âmbito do novo Código
Florestal, em 2012, deveria servir para a regularização ambiental dessas
propriedades, mas, pelo seu caráter autodeclaratório, por vezes é usado
como instrumento para tentar validar a ocupação irregular de terras
públicas.
Um levantamento feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR),
divulgado em junho, identificou quase 10 mil registros no CAR
sobrepostos a terras indígenas em diferentes fases de regularização ou
com restrição de uso, em todo o país. O estado com mais casos do tipo é o
Pará, com 2.325 registros, sendo 1.290 “propriedades” em TIs em
processo de regularização e 1.035 em TIs com restrição de uso.
Na Ituna-Itatá, até outubro, foram feitos 229 cadastros sobrepostos
aos seus limites. Desses registros no CAR, 35,8% correspondem a áreas
acima de mil hectares, o que indica que mais de um terço das
sobreposições de terra são feitas por grandes proprietários e grileiros
interessados na especulação de grandes terrenos, e não por pequenos
posseiros.
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas)
cancelou cadastros ambientais rurais sobrepostos à Terra Indígena
Apyterewa recentemente. Questionado sobre a possibilidade de
cancelamento de cadastros na Ituna-Itatá, Rodolpho Bastos, secretário
adjunto de regularidade ambiental da Semas, informou que as ações de
análise do CAR em TIs feitas pelo órgão são voltadas para terras indígenas
regularizadas, o que não incluiria a Ituna-Itatá, ainda em fase de
estudo. Bastos ressaltou que o CAR é um instrumento de regularização
ambiental, e que a regularização fundiária de terras indígenas caberia à Funai e ao governo federal.
Pecuária abre caminho
O ciclo da grilagem na Ituna-Itatá se completa com a compra ou
arrendamento de terra ocupada e desmatada para fazer pasto e criar gado.
Em artigo publicado em junho deste ano, analistas ambientais que
atuaram na região pelo Ibama citam que foram encontradas cerca de 2 mil
cabeças de gado dentro da terra indígena.
“O rebanho é comercializado por meio de guias de trânsito animal
falsas ou enganosas, uma vez que é proibido aos frigoríficos adquirirem
animais criados em áreas não autorizadas, o que inclui as áreas
protegidas. As falsas declarações de origem do rebanho não oferecem
garantias sobre o devido controle sanitário, o que, além de contribuir
para o desmatamento,
pode colocar em risco a saúde da população”, explicam os autores do
artigo, entre os quais está Hugo Loss, ex-coordenador de operações de
fiscalização do Ibama exonerado após realizar megaoperação contra crimes
ambientais na região.
Para o Greenpeace, trata-se de prática de “lavagem de gado”. A ONG,
em parceria com a Repórter Brasil, identificou “propriedades” na
Ituna-Itatá registradas no CAR em nome de pessoas que vendem gado para
outros pecuaristas que, por sua vez, comercializam os animais com
grandes frigoríficos, como a Marfrig Global Foods, a Frigol e a JBS.
Em fevereiro, Edward Luz, conhecido como o “antropólogo dos
ruralistas”, tentou impedir uma ação de retirada de gado realizada pelo
Ibama na Ituna-Itatá. Ele dizia, em um vídeo-selfie, que estava fazendo
cumprir ordem do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para que
nenhum patrimônio da população fosse destruído. Luz acabou detido, mas
foi solto horas depois.
Segundo o presidente da Associação dos Produtores Rurais e
Agroindustrial do Vale do Bacajaí (Asprub), Pedro Ferreira do
Nascimento, conhecido como Pedro Pintado, a Ituna-Itatá passou por cima
de parte da Gleba Bacajaí, de propriedade do estado do Pará. Ele alega
que a Asprub defende os produtores rurais que estavam na gleba antes de
2011, mas condena a presença de invasores posteriores à criação da TI.
“Tem parte da intenção da ‘reserva’ que os órgãos federais e os
órgãos estaduais erraram e muito. Mas, em 80% da intenção de reserva, os
órgãos federais fizeram a coisa certa, e quem tá lá dentro cometendo
crimes, tá errado. Por isso que eu fui em Brasília pedir pra tirar 20%,
recuar um pouco pra salvar pessoas que tinham direito lá dentro, o que
ia evitar o esbulho que tá acontecendo agora”, defende Pedro Pintado.
Há ações de políticos e ruralistas que questionam a própria
existência da Ituna-Itatá. Em projeto de decreto legislativo de março
deste ano, o senador Zequinha Marinho (PSC-PA), que já foi
vice-governador do Pará, tenta sustar portarias que restringem ingresso,
locomoção e permanência de pessoas estranhas aos quadros da Funai na
área da TI. No texto do projeto, o senador alega que “não há tribos
isoladas na região” e que “sequer há um povo indígena ali habitando”. A
matéria está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado
Federal.
O InfoAmazonia questionou a Funai sobre o que tem sido feito pela
Fundação para garantir a restrição de uso da Ituna-Itatá e proteger os indígenas
isolados que lá estão. Em nota, o órgão informou que tem feito ações de
proteção territorial na área em articulação com o Ibama, a Polícia
Federal, o Centro Gestor e Operacional Ituna-Itatá do Sistema de
Proteção da Amazônia
(Censipam) e a Secretaria de Segurança Pública do Pará. A nota diz
ainda que a Funai está planejando uma série de expedições terrestres e
sobrevoos no local, a fim de avançar na etapa de localização geográfica
referente ao registro de povo indígena isolado na área.
Ao Ministério da Defesa, perguntamos por que não houve atuação preventiva da Operação Verde Brasil para evitar as queimadas na Terra Indígena Ituna-Itatá, considerando que, pelo ciclo do desmatamento,
retiradas da floresta, como a registrada ano passado, costumam ser
seguidas pelo fogo; e se haveria equipes da Operação atuando na TI para
conter os focos de incêndio. Não houve resposta.
—
Esta reportagem faz parte do Amazônia Sufocada, projeto especial do InfoAmazonia com o apoio do Rainforest Journalism Fund/Pulitzer Center.