terça-feira, 11 de setembro de 2018

Brincar de fazer comidinha (com a natureza) é ritual sagrado na infância

Brincar de fazer comidinha (com a natureza) é ritual sagrado na infância

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Brincar de fazer comidinha é uma prática comum em diferentes infâncias ao redor do mundo, se não todas. É também um dos primeiros caminhos pelos quais a criança entra no mundo da brincadeira simbólica.  E onde há natureza acessível, essas comidinhas acontecem de maneira ainda mais especial.



Nos ambientes naturais, as crianças têm à disposição um repertório infinito de ingredientes. Diferentes tipos de folhas, sementes, gravetos, terra, pedrinhas. Em um dos meus primeiros dias nas escolas da floresta, por exemplo, recebi de boas vindas um pedaço de torta feito com uma lasca de tronco, com cobertura de folhas, lama e sementes. E amei!



Eu, “criança adulta”, também me encanto ao ver as crianças preparando suas comidas com terra ou areia, buscando folhas, gravetos e sementes pelo ambiente para dar um sabor especial e um toque de beleza à decoração do prato. Me encanto também ao brincar de comidinha junto com os pequenos. E quantas coisas aprendo enquanto brincamos! Enquanto escolhemos os melhores ingredientes, conversamos, experimentamos receitas. E o menu de uma boa brincadeira de comidinha costuma ser bastante variado: ensopados, bolos, massas e o que mais a imaginação criar.



Apaixonada por essa brincadeira, quando vou aos parques com crianças, levo uma mochila preparada pra essa brincadeira: com panelas, potinhos, colheres, conchas. Nada da loja de brinquedos! Pego tudo que encontrei na minha cozinha e não uso. Também tento, ao máximo, evitar plástico, ampliando o repertório de materiais que a criança conhece. Levo também uma garrafa com água – fundamental para muitas receitas já que, em alguns parques, não existem tantos pontos à disposição.


Com essa mochila, a brincadeira pode acontecer em qualquer canto e não necessariamente no “espaço para crianças”, até porque partimos do pressuposto de que o parque todo é para as crianças. Vez ou outra também coletamos elementos ao longo da semana e guardamos em um saquinho para usarmos na próxima sessão gastronômica. E o resultado, claro, não poderia ser diferente: muitas horas de brincadeira.



Comer não é apenas nutrir-se com o alimento, mas sim um ritual sagrado. Prepará-lo, decorá-lo, servir, comer junto. E isso acontece também nas brincadeiras que nunca têm data nem horário pra começar ou terminar, nem idade pra acontecer. Inconscientemente, passam de geração em geração
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Existe um livro lindo para inspirar estas brincadeiras chamado Cozinhando no Quintal, lançado há dois anos pela educadora Renata Meirelles.


Ele é fruto do projeto Território do Brincar criado por ela e seu marido, o documentarista David Reeks, e apoiado pelo Instituto Alana. Nesse livro, estão registros de diferentes comidinhas que Renata encontrou pelo Brasil durante a viagem que os dois fizeram com os filhos ao pesquisar o jeito de brincar das crianças brasileiras. Ele é repleto de imagens de dar água na boca! E mostra que criar, pesquisar e conviver são provas de que brincadeira se põe à mesa, sim!

Foto: Renata Stort

Projeto MapBiomas mapeia três décadas de mudanças na ocupação territorial do Brasil

Projeto MapBiomas mapeia três décadas de mudanças na ocupação territorial do Brasil

O projeto MapBiomas lançou um conjunto de dados de mapeamento que permite investigar a ocupação territorial de qualquer parte do Brasil, ano a ano, desde 1985. A ferramenta, que possibilita descobrir o que ocorreu no país desde então com uma resolução de 30 metros, é pública, inédita, gratuita e de acesso livre.

“Essa é a mais longa série de dados sobre cobertura e uso da terra já levantada para o Brasil, algo jamais feito em qualquer outro país”, diz Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, coordenador do projeto, que envolve parceiros de 34 instituições diferentes. “O que estamos colocando à disposição de todos é a possibilidade de fazer uma viagem no tempo e enxergar a história do Brasil nas últimas três décadas, mostrando o que aconteceu em pixels de 30 x 30 metros.”

As ferramentas de navegação do site permitem explorar o mapa do Brasil e criar visualizações temporais de dados para estados, municípios, unidades de conservação, terras indígenas e outros recortes territoriais.

“Agora, pela primeira vez, permitimos o cruzamento de dados com o Cadastro Ambiental Rural, possibilitando visualizar mudanças de uso da terra em propriedades rurais”, afirma Azevedo. “Também é possível ver dados por bacia hidrográfica e enxergar a infraestrutura de energia e transportes para entender como ela impacta o uso do solo.”

O projeto permitiu constatar com alta precisão diversas mudanças no período 1985-2017:
  • O Brasil teve perda líquida de 71 milhões de hectares de vegetação nativa, o equivalente a SP, PR, RJ e ES somados (a perda líquida é a perda total com a recuperação subtraída)
  • A área de agricultura quase triplicou neste período (cresceu 2,9 vezes), e a área de pecuária cresceu 43%
  • A Mata Atlântica, bioma com 56% da área urbana do país, teve perda líquida de 5 milhões de hectares de floresta; nos últimos 10 anos a regeneração superou o desmate
  • O bioma que viu a maior proporção de sua área de vegetação nativa sumir foi o Cerrado, com 18% de perda líquida
  • A Amazônia perdeu a maior área (líquida) de floresta no período: 36 milhões de hectares
  • Outros biomas tiveram também perda líquida: Pampa (-15%), Caatinga (-8%) e Pantanal (-7%)
O MapBiomas nasceu em 2015, a partir de um seminário que reuniu pesquisadores convidados pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) para discutir um problema. Como o país só tinha dados confiáveis para monitorar emissões por desmatamento e outras mudanças de uso da terra na Amazônia, os parceiros da iniciativa concordaram em unir esforços para conseguir abarcar os outros cinco biomas do país: Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa.
O projeto já lançou ferramentas para explorar duas coleções de dados desde então. A segunda, publicada em 2017, já permitia investigar a mudança de uso da terra no país de 2000 a 2016. Com a terceira coleção, lançada agora, o MapBiomas dobra a extensão do período que pode ser investigado, cobrindo todos os anos de 1985 a 2017.
“Isso só foi possível porque nós conseguimos reunir instituições com cientistas estudando cada um dos biomas brasileiros a especialistas em sensoriamento remoto, em uso da terra, em sistemas de informações geográficas e em ciência da computação”, diz Carlos Souza Jr., do Imazon, coordenador técnico-científico do MapBiomas. “A parceria com o Google Earth Engine, uma plataforma de processamento em larga escala de dados geo espaciais, permite ao MapBiomas tratar um volume monstruoso de dados.”

Máquina do tempo

As imagens usadas pelo projeto são séries históricas produzidas pelos satélites Landsat, dos Estados Unidos. Para cada área de 30m por 30m do Brasil, o projeto atribui uma classificação de uso da terra (floresta, campo, pastagem, plantação, água, cidade etc.). Para cobrir o país inteiro, é preciso analisar mais de 9 bilhões de pixels, montados a partir de milhares de imagens de satélite para a série histórica.

“Só foi possível atingir nosso objetivo usando um alto grau de automação do processo, usando o conhecimento de nossos especialistas nos biomas para alimentar um sistema de aprendizado de máquina”, diz Tasso Azevedo. “E hoje, apesar de o projeto ter sido criado para a estimativa de emissões de gases estufa, ele pode ser usado para inúmeras outras aplicações.”

Por exemplo, municípios utilizam essas informações para montar seus Planos de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica e a expansão da infraestrutura urbana; estados podem aplicar os dados para o zoneamento ecológico-econômico; gestores de unidades de conservação (UCs) podem usar os dados como base para desenhar novas UCs e seus planos de manejo. A Fiocruz estuda a relação das mudanças de uso do solo com a dispersão de doenças como febre amarela e malária usando o MapBiomas.


*Texto publicado originalmente em 17/08/2018 no site do Observatório do Clima



Imagem: reprodução MapBiomas

Com apenas 3% da área preservada, florestas de Araucária – e o pinhão – correm risco de extinção

Com apenas 3% da área preservada, florestas de Araucária – e o pinhão – correm risco de extinção

 
Considerada um dos símbolos do Paraná, a Araucária ou Pinheiro-do-Paraná está nas listas de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e do Ibama. Não é pra menos: estudos apontam que apenas 3% da área original da floresta ainda segue preservada.

Entre as causas estão a conversão das florestas nativas em áreas para agricultura, o crescimento das cidades e a exploração da madeira. O biólogo e engenheiro agrônomo Jaime Martinez, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), explica como se deu esse processo de degradação:
“Nas décadas passadas, a única forma de lucro que se vislumbrava com o nosso pinheiro brasileiro era a partir da madeira. Assim, a floresta só poderia gerar renda quando as árvores estavam tombadas, cortadas. Somente nos últimos anos é que começamos a entender a importância da floresta preservada, de forma a gerar outra forma de renda aos proprietários rurais. A floresta em pé começou a ser vista como fonte de recursos financeiros, o que aconteceu principalmente com a retirada e a venda das sementes da Araucária (no caso, o pinhão).

 Dessa forma, os proprietários rurais entenderam que era possível ter rendimento econômico – não apenas uma vez, mas praticamente todos os anos – com a colheita do pinhão, e passaram a conservar mais a araucária. Com mais um detalhe: há ainda outro recurso oriundo da floresta de Araucária e que é imprescindível para quem mora no sul do país, a erva mate“.

Matéria-prima da floresta de Araucária, o pinhão deve seguir algumas normas para extração. Um dos indicativos do momento adequado para a colheita é a queda de temperatura. Se feita antes da hora, pode gerar prejuízos tanto para o consumidor, como para o meio ambiente, pois interfere na manutenção da árvore e de todo seu ecossistema.

O que ocorre é que muitos coletores se adiantam e removem a pinha ainda na árvore, afetando a germinação de novas plantas. A semente não amadurece e os animais que se alimentam do pinhão também são afetados, pois têm menos alimento disponível, gerando efeito em cadeia.

“É importante lembrar que muitas espécies de nossa fauna silvestre dependem do pinhão para se alimentar, principalmente o papagaio-charão e o papagaio-de-peito-roxo. Abundante de março a julho, quando não há muitos outros recursos em termos de frutos e sementes, ele se torna vital para esses animais. O desafio, hoje, é manter o pinhão preservado de forma a atender a fauna e o crescente interesse do público, que o introduziu em diversos pratos da culinária brasileira. É preciso, então, pensar em estratégias futuras de plantio para que consigamos aumentar a produção”, diz Martinez.

Para contribuir com a conservação da floresta de Araucárias, algumas iniciativas importantes já vêm sendo desenvolvidas, como o da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em parceria com a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI). Em Santa Catarina, implementaram ação que agrega valor aos produtos extraídos desse ecossistema de acordo com padrão sustentável de produção, aplicáveis ao pinhão e à erva-mate, ambas espécies nativas.

A iniciativa Araucária+ reúne produtores do planalto serrano catarinense, a indústria, o varejo e a sociedade em uma rede sustentável de produção, venda e consumo. Desde o seu início, em 2014, contabiliza 50 instituições envolvidas, 83 produtores articulados, 470 hectares de floresta conservados, e quatro transações comerciais com três empresas.

Fotos: Mauro Scharnik/IAP (pinhão) e Haroldo Palo Junior (Araucárias)
 
Portal da Fundação Parque Tecnológico Itaipu, que tem como objetivo ampliar a difusão de boas práticas e conteúdos relacionados à Água, Energia e Sustentabilidade, constituindo assim, uma rede de discussão, apresentação e proposição de ideias e do compartilhamento de soluções e mobilização social

Desmatamento na Amazônia em julho é 27% maior do que mesmo período do ano passado

Desmatamento na Amazônia em julho é 27% maior do que mesmo período do ano passado

Desmatamento na Amazônia em julho é 27% maior do que mesmo período do ano passado
Em uma (triste) tendência que se confirma mês a mês, em 2018, o desmatamento na Amazônia Legal, área que compreende nove estados brasileiros e corresponde a quase 60% do território nacional, só faz aumentar.

Segundo o boletim mensal do desmatamento da Amazônia Legal (SAD), elaborado pelo Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em julho de 2018 a derrubada de floresta foi 27% maior em comparação ao mesmo mês do ano passado.

No total, o SAD detectou 778 km2 de desmatamento na Amazônia. Neste mesmo período, em 2017, eram 544 km2.

De acordo com o boletim, os principais responsáveis pelo desmatamento foram Pará (37%), Amazonas (21%), Rondônia (20%), Mato Grosso (17%) e Acre (5%).

As florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 356 km2 em julho de 2018. No mesmo mês do ano passado, o índice era de apenas 46 km2. Assim como no desmatamento, o estado do Pará foi o principal culpado pela destruição: 95% da degradação se deu em solo paraense.


Os municípios que mais destruíram a floresta foram Lábrea (AM), Altamira (PA), Porto Velho (RO), São Félix do Xingu (PA) e Boca do Acre (AM).

Ainda segundo o relatório do Imazon, 62% do desmatamento registrado em julho último ocorreu em terras privadas ou “sob diversos estágios de posse”. O restante das áreas que teve corte raso de floresta aconteceu em assentamentos de reforma agrária (19%), Unidades de Conservação (15%), , e terras indígenas (4%).

Pelo gráfico abaixo, é possível notar como o índice de desmatamento na Amazônia, em áreas maiores ou iguais a 10 hectares, vem aumentando desde o começo do ano. Somente entre março e abril é que ele sofreu uma leve queda.



Como noticiamos aqui, neste outro post, em janeiro último, o avanço da soja, em áreas de desmatamento na Amazônia, é o maior em cinco anos. O plantio do grão em área devastada cresceu 27,5% em relação à safra anterior, segundo um relatório da Moratória da Soja.

Os alertas de desmatamento e degradação florestal realizados pelo Imazon são gerados pela plataforma Google Earth Engine (EE), com a utilização de imagens de satélites e mapas digitais. Todavia, os índices de deflorestamento da Amazônia publicados pelo instituto não são oficiais. O governo só leva em conta os dados elaborados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que frequentemente apresenta números diferentes aos do Imazon. A discrepância nos resultados se dá ao uso de metodologias distintas de avaliação.


Foto: Kate Evans/Cifor/Creative Commons/Flickr

 
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante seis anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para várias publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, acaba de mudar para os Estados Unidos

Brincar de fazer comidinha (com a natureza) é ritual sagrado na infância

Brincar de fazer comidinha (com a natureza) é ritual sagrado na infância

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Brincar de fazer comidinha é uma prática comum em diferentes infâncias ao redor do mundo, se não todas. É também um dos primeiros caminhos pelos quais a criança entra no mundo da brincadeira simbólica.  E onde há natureza acessível, essas comidinhas acontecem de maneira ainda mais especial.

Nos ambientes naturais, as crianças têm à disposição um repertório infinito de ingredientes. Diferentes tipos de folhas, sementes, gravetos, terra, pedrinhas. Em um dos meus primeiros dias nas escolas da floresta, por exemplo, recebi de boas vindas um pedaço de torta feito com uma lasca de tronco, com cobertura de folhas, lama e sementes. E amei!

Eu, “criança adulta”, também me encanto ao ver as crianças preparando suas comidas com terra ou areia, buscando folhas, gravetos e sementes pelo ambiente para dar um sabor especial e um toque de beleza à decoração do prato. Me encanto também ao brincar de comidinha junto com os pequenos. E quantas coisas aprendo enquanto brincamos! Enquanto escolhemos os melhores ingredientes, conversamos, experimentamos receitas. E o menu de uma boa brincadeira de comidinha costuma ser bastante variado: ensopados, bolos, massas e o que mais a imaginação criar.

Apaixonada por essa brincadeira, quando vou aos parques com crianças, levo uma mochila preparada pra essa brincadeira: com panelas, potinhos, colheres, conchas. Nada da loja de brinquedos! Pego tudo que encontrei na minha cozinha e não uso. Também tento, ao máximo, evitar plástico, ampliando o repertório de materiais que a criança conhece. Levo também uma garrafa com água – fundamental para muitas receitas já que, em alguns parques, não existem tantos pontos à disposição.

Com essa mochila, a brincadeira pode acontecer em qualquer canto e não necessariamente no “espaço para crianças”, até porque partimos do pressuposto de que o parque todo é para as crianças. Vez ou outra também coletamos elementos ao longo da semana e guardamos em um saquinho para usarmos na próxima sessão gastronômica. E o resultado, claro, não poderia ser diferente: muitas horas de brincadeira.

Comer não é apenas nutrir-se com o alimento, mas sim um ritual sagrado. Prepará-lo, decorá-lo, servir, comer junto. E isso acontece também nas brincadeiras que nunca têm data nem horário pra começar ou terminar, nem idade pra acontecer. Inconscientemente, passam de geração em geração

brincar-de-comidinha-ritual-sagrado-na-infancia-xExiste um livro lindo para inspirar estas brincadeiras chamado Cozinhando no Quintal, lançado há dois anos pela educadora Renata Meirelles. Ele é fruto do projeto Território do Brincar criado por ela e seu marido, o documentarista David Reeks, e apoiado pelo Instituto Alana. Nesse livro, estão registros de diferentes comidinhas que Renata encontrou pelo Brasil durante a viagem que os dois fizeram com os filhos ao pesquisar o jeito de brincar das crianças brasileiras. Ele é repleto de imagens de dar água na boca! E mostra que criar, pesquisar e conviver são provas de que brincadeira se põe à mesa, sim!

Foto: Renata Stort
É pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica. Participa de diversas formações sobre primeira infância, brincar e arte para crianças e coordena o programa Ser Criança é Natural (que dá nome a este blog), do Instituto Romã, que incentiva o contato das crianças com a natureza. Organiza a ação Doe Sentimentos e acredita no poder da infância e que o mundo pode ser melhor.

Observe as crianças ao ar livre e deixe de dizer ‘não!’ Pra elas e pra você

Observe as crianças ao ar livre e deixe de dizer ‘não!’ Pra elas e pra você


Neste post, vamos retomar o tema da observação da criança brincando (na e) com a natureza, ou ao ar livre. Consideramos essencial refletir sobre esse tema de diversos ângulos. Não é a toa que ele já esteve por aqui algumas vezes. Eis alguns posts:

– Observar, com intenção e atenção, nos transforma;
– Natureza viva traz riqueza de experiências, percepções e criatividade;
– O vinculo com o espaço melhora nosso olhar. Na natureza então….

Então, quando temos a oportunidade de poder viver esse momento de observação atenta e presente, por que não fazê-lo?

Quando as crianças estão brincando do lado de fora, com a natureza, seja num parque, numa praça, num quintal, é comum que adultos estejam por perto. Se observarmos bem esses encontros, veremos que os adultos geralmente estão usando seus celulares, resolvendo coisas em outros locais remotamente. Quando isso não acontece e eles estão, realmente, atentos às crianças, não é difícil os vermos no papel de “inibidores de possibilidades”. Ou seja, censurando sua liberdade de movimentos. Nesta última circunstância, o adulto se põe a usar a palavra NÃO com bastante frequência, enquanto a criança brinca: Não suba!, não pule!, não desça assim!, não desequilibre!… e por aí vai.

A questão é que o adulto não percebe que, enquanto a criança está envolvida em seu brincar livre, ela utiliza todos os seus sentidos. Quando isso acontece, percebemos um estado de presença completo. Se você é adulto e está acompanhando uma criança que brinca ao ar livre, sugerimos que a observe enquanto a brincadeira acontece.

Observe-a de forma presente e inteira. Perceba os detalhes dos movimentos, da interação. Como essa criança corre? Como ela sobe em algum lugar? Como ela ajusta seu corpo em situações de desequilíbrio? Lembre-se de que ela é única! Se é bebê, como ele observa o mundo? Que movimentos faz? Observe, com detalhe, a riqueza de expressões faciais do seu bebê. Quando ele está do lado de fora, está completamente perceptivo ao ambiente ao seu redor. Como você percebe seus gestos? Consegue identificar os diálogos que ele está travando com o ambiente?

Nessa observação, conseguimos também saber mais sobre os interesses das crianças. O que escolhe para brincar? Como faz suas pesquisas sobre o mundo? Sobre o que debruça sua atenção por mais tempo? Como expressa sua própria natureza, seu temperamento, nessas explorações?

Vivemos numa sociedade que impõe um milhão de “tem que” para as crianças. Tem que ficar quieta, tem que ser atenta, tem que ser focada, tem que brincar com outras crianças, tem que saber o nome de todas as cores…

Em meio a tantos “tem que”, damos muita importância a tudo que a criança não faz em detrimento dos numerosos movimentos que ela faz. O que ela não faz não define aquela criança. Por isso, observá-las com olhar atento, presente e com empatia nos permite conhecê-las de fato, saber quem são hoje, únicas, sem comparações, a não ser com seu próprio desenvolvimento.

Esta experiência de se tornar cada vez mais perceptivo à criança é extremamente rica para o adulto. Quanto mais você amplia sua capacidade de perceber os pequenos, mais conhece e aprende a respeitar sua natureza, ao mesmo tempo em que conhece melhor a si mesmo.

Foto: Renata Stort
 
Ana Carolina é pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica, e trabalha com primeira infância. Rita é bióloga e socióloga, ministra cursos, vivências e palestras para aproximar crianças e adultos da natureza. Quando se conheceram, em 2014, criaram o projeto “Ser Criança é Natural” para desenvolver atividades com o público. Neste blog, mostram como transformar a convivência com os pequenos em momentos inesquecíveis.

O projeto que dá voz às árvores no sul do Brasil

O projeto que dá voz às árvores no sul do Brasil

*Por Eutalita Bezerra, de Bagé 

Já imaginou conhecer as peculiaridades de cada árvore da rua? E da cidade inteira? É o que propõe o projeto Arborização Urbana, que está construindo uma nova percepção sobre o parque arbóreo de Bagé, distante 380 quilômetros de Porto Alegre (RS). Além de inventariar as espécies, o grupo promove educação ambiental no município e tem implantado uma nova tecnologia para aproximar a comunidade local da natureza: parte das árvores catalogadas está recebendo um QR Code para “conversar” com seus visitantes.

Criado a partir da vontade do casal de agrônomos Tanira e Norton Sampaio de proteger e defender as árvores, o projeto reúne universidades, organizações civis e prefeitura. Mas nem sempre foi assim. “Quando começamos, há pelo menos dez anos, percebemos que o nosso parque era dizimado sem qualquer interferência da prefeitura. Recorremos ao Ministério Público e a várias instâncias durante pelo menos dois anos, até conseguirmos ativar a Comissão de Arborização Urbana, que já era prevista na legislação”, explica Tanira. Para compor a comissão, o casal fez uma peregrinação pelas instituições locais, procurando aqueles que poderiam compartilhar da ideia de proteção ao meio ambiente.

Tanira e Norton Sampaio são os precursores do movimento de preservação do Parque Arbóreo

Nas andanças em busca de parceiros, Norton conheceu a bióloga e mestra em ecologia vegetal Vanessa Rosseto. Ela sugeriu a construção de um inventário arbóreo, documento de catalogação das árvores que poderia ser indicado à prefeitura como instrumento de gestão pública. Algumas questões nortearam o trabalho. “Que árvores temos em Bagé? Quais as espécies? Como está a saúde dessas árvores? Elas precisam de poda?”, explica a bióloga.

Para dar conta do volume de informações, cada instituição envolvida no projeto de pesquisa ficou responsável por mapear uma parte da cidade. Os parceiros foram a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSUL), a faculdade IDEAU, a Ecoarte e o Instituto de Permacultura do Pampa (Ipep). Em 30 meses, o inventário com informações sobre mais de três mil árvores estava nas mãos de representantes do poder público por iniciativa voluntária, sem contrapartida financeira.

A proposta sensibilizou o biólogo Rodrigo Kanaã, responsável pela arborização urbana da prefeitura de Bagé.

“Eu não enxergava as árvores. Sabia que a poda drástica estava errada, mas não alimentava o cuidado, o apreço e o carinho que hoje tenho por elas.”

Kanaã agora acompanha pessoalmente os funcionários responsáveis pelas podas e plantios para direcionar o trabalho. Não há um galho retirado sem a sua supervisão.

A nova geração

Para reverter a crença da população de que os cidadãos são donos das árvores e que delas podem se servir como bem quiserem, a maneira mais efetiva encontrada pelos idealizadores do projeto foi promover a educação ambiental desde a infância. “Se falarmos com as crianças e elas compartilharem as informações com os adultos, multiplicamos a conscientização e ainda criamos uma geração que vai crescer em harmonia com o ambiente”, diz Norton Sampaio.

QR Codes permitem que visitantes “conversem” com as árvores de uma praça em Bagé


O Arborização Urbana está sendo aplicado em seis escolas de Bagé e conta com uma metodologia própria, que poderá, depois, ser estendida a qualquer instituição de ensino. “Ele está dividido em três eixos: a sensibilização, em que buscamos despertar o olhar apurado das pessoas para as árvores e suas interações; o manejo, no qual falamos sobre as práticas culturais sustentáveis e as inadequadas, como a poda; e a produção de mudas, que ensinamos a fazer desde a coleta de sementes”, afirma a bióloga e secretária executiva Ketleen Grala, uma das responsáveis pelo projeto. As mudas somente são concedidas depois de uma análise sobre a sua destinação, “para garantir que não aumente o número de árvores plantadas de maneira inadequada e que acabam se transformando em um problema”, diz Ketleen.

A auxiliar de limpeza Rosana Lopes, que aparece na foto que abre este post, trabalha em uma das instituições beneficiadas pelo Arborização Urbana. Ela conheceu a iniciativa por acaso – ou destino. Foi à reunião de apresentação da proposta representando a Fundação Bidart, já que os diretores e professores não puderam comparecer. “Voltei encantada com a ideia, porque ela tocou meu ideal de vida”, afirma Rosana.

Até a forma como ela percorre o trajeto entre sua casa e o trabalho mudou. Antes, Rosana andava desconectada dos arredores. “Passei a olhar a vegetação, a descobrir as flores”, conta. A importância de refinar a percepção do verde vem sendo repassada aos professores e alunos. Eles ficaram mais atentos até aos caquizeiros da escola, que ganham uma cor alaranjada no outono.

A estagiária Rennata Oliveira propôs o uso da tecnologia para a identificação das árvores de Bagé 

Como as árvores frutíferas da Fundação Bidart, muitas outras espécies estão espalhadas pela cidade e são pouco conhecidas da população. Para informar sobre essa vegetação, o projeto avançou com a colocação de QR Codes em árvores de uma das praças de Bagé. A ideia foi trazida por Rennata Oliveira, estagiária do projeto de extensão do Arborização Urbana. “O código direciona para um link do nosso site, que simula, com uma linguagem bem gaúcha, um diálogo entre o visitante e a árvore sobre as características dela”, detalha Rennata.

Os planos dos colaboradores do projeto são implantar QR Codes em todo o patrimônio arbóreo e construir roteiros para a visitação dessas plantas segmentados, por exemplo, por espécies, idade, beleza e importância para a região. Até lá, o pessoal do Arborização Urbana espera vencer uma das etapas mais significativas dessa jornada: implantar na cidade um Código de Arborização Urbana, uma lei que regeria as questões ligadas ao verde e daria mais voz a quem já percebeu que cada árvore tem uma história para contar.

*Texto publicado originalmente no site Believe Earth 

Fotos: Mickael Freitas/ Believe.Earth
O Believe.Earth se expressa de várias maneiras. É conteúdo, é ação, é virtual e presencial. É um movimento que valoriza as pessoas e suas micro e macro revoluções. Que inspira a transformação e concretiza o sonho de um futuro melhor.

Indígenas de nove países amazônicos anunciam aliança de apoio a corredor ecológico

Indígenas de nove países amazônicos anunciam aliança de apoio a corredor ecológico


Pauta sugerida pela leitora Alejandra Faúndez
 
Para os indígenas, a natureza é um organismo vivo, complexo e completo, em que as partes (matas, terras, flora, animais e, claro, humanos) se comunicam e funcionam perfeitamente. Portanto, a princípio, parece non sense a proposta de criação de um corredor ecológico na região da Amazônia, para conectar a floresta do Amapá aos Andes. Afinal, para eles, essa conexão já existe em sua cosmogonia, é algo que eles reconhecem, veem, sentem. Espiritualmente, inclusive. Não há qualquer separação.

Mas os indígenas dos nove países amazônicos – Brasil, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Peru e Equador – entendem, também, que é necessário unir forças para proteger a floresta do desenvolvimento. Por isso, depois de adiar esta decisão por muito tempo para analisar bem prós e contras, resolveram apoiar o projeto Corredor Triplo A. Conhecido também por AAA (Andes, Atlântico, Amazonasou Caminho de Anaconda, foi idealizado pelo americano naturalizado colombiano Martin von Hildebrand, da Fundação Gaia Amazônia. Sua divulgação é recente, mas sua estrutura começou a ser pensada há cerca de 30 anos.

Se estabelecido, o projeto vai envolver 400 etnias indígenas (sem falar de outras comunidades tradicionais), cerca de 30 milhões de pessoas e proteger 2,6 milhões de km2 de floresta – mais ou menos a metade do corredor -, que ainda estão intactas, protegidas pelos indígenas apesar das ameaças constantes. O Corredor vai ligar parques naturais, territórios indígenas e hotspots da biodiversidade dessa região, e valorizar também as culturas tradicionais e ancestrais.

Assim, na semana passada, em Bogotá, líderes de organizações indígenas desses nove países se reuniram para anunciar esse apoio. Em pronunciamento conjunto, disseram: “O corredor é um território entendido a partir do biológico, do cultural, do espiritual-sagrado, onde diferentes culturas tradicionais e ancestrais, comunidades locais, grupos tribais e outros grupos populacionais sobrevivem e interagem”. 

Harol Rincón Ipuchima, representante OPIAC da Colômbia acrescentou: “Acreditamos que a nossa presença é vital para a regulação do clima e a proteção das matas, somos responsáveis ​​pela saúde da bacia hidrográfica, tanto espiritual e ambiental. Budas, Krishnas, todos acreditam que os seres humanos e a natureza são um só. Os únicos que se separaram são os brancos”.
Angela Kaxuyaba, indígena brasileira do Pará, destacou que estas lideranças devem “ser parte de um novo diálogo. Não só nas alianças entre as etnias, mas com a sociedade civil. Nós não estamos isolados do mundo, isso é vital para a vida de todos os seres humanos, não apenas a nossa”.

Próximos passos

As conversas de Hildebrand com governos, ministérios e, até, com o Vaticano já avançaram bem. Bom lembrar que o Papa Francisco acompanha a realidade dos povos indígenas da América do Sul e os defende sempre. E o apoio que o projeto tem recebido do governo de Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, desde o inicio, é total. Ele se comprometeu a conversar diretamente com Temer. Em outubro, isso ainda era uma ideia, mas segundo o site Observatório das Veias Abertas (que tem críticas severas ao projeto, identificando-o como um mecanismo para entregar a Amazônia para a exploração estrangeira), Temer não só aceitou o convite para participar do projeto, como o rebatizou de Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia. 

O compromisso dos países latino-americanos (com exceção de Equador e Chile) na Cúpula de Paris, em reduzir o desmatamento da Amazonia a zero, o que diminuirá emissões de gases de efeito estufa, favoreceu bastante o projeto. Agora, com o apoio da aliança indígena, será possível avançar mais.

A água é uma das principais preocupações desses países porque o continente depende dos 200 bilhões de toneladas que viajam do Oceano Atlântico e são absorvidas pela flora da Amazônia. Parte dela viaja na forma de vapor – rios voadores – que o vento empurra para os Andes e volta a ser água, irrigando as terras de boa parte da América Latina, passando pelo Brasil, até regressar ao mar. 

Para os indígenas amazônicos, a conectividade proposta pelo Corredor Triplo A pode “ajudar na regulação do ecossistema para que flua com o clima e nos oriente para semear e colher frutas na selva”. E mais: “Há dinâmicas a partir da foz do rio Amazonas, onde anacondas são geradas, e a manutenção do volume de água e chuvas pode colaborar também para salvar esta forma de vida antiga”. Daí um dos nomes do projeto: Caminho da Anaconda.

Hildebrand sempre lembra que 50% do hipotético corredor já está protegido de alguma forma, devido aos serviços prestados involuntariamente pelos indígenas com sua sabedoria de preservação e respeito à natureza.

Agora, o próximo passo é levar a proposta final do projeto, com o aval dos indígenas, aos governos que já aderiram e à próxima Conferência sobre Diversidade Biológica da ONU (COP 14), que será realizada em novembro em Sharm El Sheikh, no Egito. Não é pouca coisa, não!! 

Entre os signatários, agora, estão os maiores grupos indígenas da bacia amazônica, que juntos somam cerca de 400 grupos (incluindo os que estão em isolamento voluntário), representados por estas instituições: COICA (Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica); AIDESEP (Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Selva Peruana); APA (Amerindian Peoples Association of Guiana-Guiana); CIDOB (Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia); COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira); CONFENIEA (Confederação das Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana); FOAg (Organizações da Federação Autóctones Guyabe – Guiana Francesa); OIS (Organisatie Van Inheemsen no Suriname); OPIAC (Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia colombiana) e ORPIA (Organização Regional dos Povos Indígenas do Amazonas – Venezuela).

Fonte: InfoAmazonia, Consejo Interamericano de Espiritualidade Indígena, Observatório das Veias Abertas

Foto: Divulgação
 
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na Claudia e Boa Forma, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, considerado o maior portal no tema pela UNF. Integra a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade.

Plantio de soja no Brasil expande 310% nos últimos anos e em grande parte sobre áreas de vegetação nativa

Plantio de soja no Brasil expande 310% nos últimos anos e em grande parte sobre áreas de vegetação nativa

Para atender a voracidade da atual dieta do ser humano, baseada cada vez mais no alto consumo de proteínas, vastas áreas de terras são transformadas em plantações de soja e outros cultivos para alimentar vacas, bois, galinhas, porcos e outros animais, os grandes favoritos em nossos pratos nas últimas décadas.

Segundo projeções do mercado, em 2018, o Brasil – que já é o maior exportador mundial de soja – , deve se tornar também o maior produtor global do grão, tirando o primeiro lugar dos Estados Unidos. A produção brasileira este ano deve chegar a 117,4 milhões de toneladas, um recorde histórico sobre o volume da commodity exportada.

E como o Brasil está conseguindo superar a produção americana? De acordo com especialistas do setor, os agricultores dos Estados Unidos não têm mais terra para expandir o plantio.
Infelizmente, o que acontece em nosso país é que parte da ampliação do solo cultivado do grão se dá sobre áreas de vegetação nativa da região chamada de Matopiba, que compreende os estados do ​Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

A denúncia é feita pelo relatório Sustentabilidade das cadeias de produção: risco de desmatamento na exportação da soja brasileira, elaborado pela iniciativa global Trase.

O estudo aponta que entre 2001 e 2017, o plantio da soja cresceu 310% apenas no Matopiba, sendo que 65% se fez diretamente sobre vegetação nativa, ao contrário do restante das áreas de Cerrado, onde o cultivo do grão foi feito sobretudo em pastagens (70%).  

“A maioria das empresas (80%) com o maior risco de desmatamento por tonelada em todo o Brasil obtêm volumes significativos de soja oriundos desta região. Somente no Cerrado estima-se que 60% da soja foi plantada em propriedades que tinham excedido os limites legais para conversão e portanto, não estão em conformidade com o novo Código Florestal”, afirma o relatório.

Apenas seis grandes empresas (Bunge, Cargill, ADM, Louis Dreyfus, COFCO e  Amaggi) foram responsáveis por 57% das exportações de soja no país em 2016. O levantamento da Trase revela que os compradores de grãos destas companhias “podem estar associados a pelo menos dois terços do risco total de desmatamento associado à expansão da soja observados na última década. Os dados da plataforma mostram que, em um ano normal, essas empresas são as  únicas compradoras para mais de 100 municípios”.

“​A desnecessária conversão de novas áreas de Cerrado como justificativa para a expansão da agricultura no Brasil não tem base econômica e não se adequa aos compromissos de redução do desmatamento assumidos pelo país”, alerta Arnaldo  Carneiro Filho, um dos pesquisadores envolvidos no estudo. “Otimizar o uso do solo num sentido mais amplo pode reduzir os impactos socioambientais oriundos da produção da soja. ​Considerando a expectativa do crescimento da demanda chinesa, é vital promover novas iniciativas de sustentabilidade e parcerias nos países importadores, particularmente na China”, destaca.

E não é só sobre o Cerrado que a soja avança. Mostramos aqui recentemente que a produção do grão, em áreas de desmatamento na Amazônia, é a maior em cinco anos. O plantio em área devastada cresceu 27,5% em relação à safra anterior, indicou um relatório da Moratória da Soja. Mato Grosso concentrou a maior parte (76,2%) das lavouras em floresta destruída.

Outra denúncia feita pelo jornal britânico The Guardian, em fevereiro do ano passado, alertava que florestas do Amapá corriam risco de serem dizimadas por plantações de soja e eucalipto.
O “fechar de olhos” e a conivência de multinacionais, que comercializam e atendem a demanda global pelo grão, com o desmatamento é simplesmente inaceitável. Políticas públicas precisam ser implementadas urgentemente para que companhias que compram soja de áreas desmatadas sejam multadas e punidas criminalmente.

Leia também:
Dinheiro que financia soja, pecuária e consequente desmatamento na Amazônia vem de paraísos fiscais
Burger King é cúmplice no desmatamento do Cerrado, denuncia organização internacional
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Nossa fome insaciável por carne está destruindo o planeta



Foto: Alf Ribeiro/divulgação Mighty Earth e gráficos divulgação Trase 
 
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante seis anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para várias publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, acaba de mudar para os Estados Unidos

Abaixo-assinado pede demissão e prisão de servidor público que matou onças-pardas em Santa Catarina

Abaixo-assinado pede demissão e prisão de servidor público que matou onças-pardas em Santa Catarina

Abaixo-assinado pede demissão e prisão de servidor público que matou onças-pardas em Santa Catarina
Noticiamos na semana passada, as imagens brutais da caça a uma onça-parda em alguma região de Rio Novo e Serra dos Alves, em Santa Catarina.

O vídeo, gravado pelos próprios assassinos dos animais, mostra como mãe e filhote (informação confirmada mais tarde pelo Ibama) foram torturados com requintes de crueldade: caçados com cachorros, espancados, mortos com tiros e depois, a onça mais nova, decapitada.

A denúncia partiu do Observatório de Justiça e Conservação (OJC), que recebeu a filmagem chocante e decidiu que elas deveriam ser compartilhadas publicamente para chamar a atenção das pessoas contra a barbárie e também, sobre um projeto de lei que pretende permitir a caça de animais silvestres em todo território nacional, inclusive em Unidades de Conservação (UCs) e a criação de campos de caça esportiva e comercial (leia mais sobre o assunto neste outro post).

Em um dos vídeos, um homem em tom jocoso segura a cabeça do animal morto. Ele seria Lauri Sutil Narciso, ex-vereador do município catarinense de Agrolândia e hoje servidor público da prefeitura. De acordo com o OJC, ele é um dos vereadores envolvidos em um escândalo de servidores públicos que gastaram dinheiro público em compras pessoais no Paraguai. Todos, incluindo Lauri, foram condenados na época pela Justiça e obrigados a ressarcir o município. Eles também ficaram impedidos de exercer cargos políticos pelo período de oito anos.
Depois da divulgação do vídeo na semana passada, os envolvidos no episódio foram multados pelo Ibama em R$ 743 mil.

A onça-parda (Puma concolor) – conhecida no sul do Brasil como leão baio ou suçuarana -, é uma espécie de topo de cadeia, ameaçada de extinção e fundamental para o equilíbrio de todo o ecossistema e biodiversidade. A supressão dessa espécie causa violento desequilíbrio natural. Sua principal função é controlar a superpopulação de diversos outros animais.
Estima-se que, atualmente, apenas mil indivíduos ainda vivam em toda a Mata Atlântica.

Agora, o OJC lançou um abaixo-assinado online que pede a demissão e a prisão de servidor público que matou as onças-pardas.

A iniciativa, na plataforma Change.org afirma:

Segundo o portal da transparência de Agrolândia, Lauri Sutil Narciso ocupa um cargo público na Secretaria de Obras e Infraestrutura do município. Diante do crime ambiental que praticou e pelo histórico político que tem, exigimos a exoneração (demissão) do funcionário do cargo que ocupa na prefeitura atualmente e a responsabilização criminal de todos os envolvidos. Hoje, o caso está com a Justiça Federal e o Ministério Público Federal. 

A impunidade de um caso como este faria com que as mortes de animais essenciais para o equilíbrio do ecossistema e que precisam ser preservados e protegidos fosse em vão. Também abriria um grave precedente para que mais casos semelhantes a esse se repetissem”.

Vamos lá: assine já neste link a petição e compartilhe este post na sua timeline! Vamos nos unir para pedir a condenação desses criminosos!

Foto: reprodução vídeo


Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante seis anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para várias publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, acaba de mudar para os Estados Unidos