Com informações da New Scientist -
31/07/2017
As galáxias ejetam matéria em volume muito maior do que se calculava.[Imagem: Hubble/NASA/ESA/Jose Jimenez Priego]
Sabendo que todos os átomos mais pesados - do hélio para cima na tabela periódica - são criados nas estrelas, costuma-se dizer que todos nós somos seres feitos de "poeira de estrelas".
Mas parece que nossos elementos constituintes - e de tudo o mais que conhecemos, inclusive da Terra - não vieram apenas de vizinhanças mais próximas.
Na verdade, parece que pelo menos metade dos nossos corpos são "poeira de galáxias" - de outras galáxias, que não a nossa aconchegante Via Láctea.
"Nós não nos damos conta de quanto da massa das atuais galáxias similares à Via Láctea foi na verdade 'roubada' dos ventos de outras galáxias," disse Claude Faucher Giguère, da Universidade Northwestern, nos EUA.
Até agora os astrofísicos calculavam que as explosões estelares - as novas e supernovas - não teriam força suficiente para arremessar poeira pelos gigantescos espaços intergalácticos, mas Giguère e seus colegas demonstraram que não é bem assim.
Transferência de massa entre galáxias
Usando modelos 3D da evolução das galáxias, a equipe simulou o caminho que a matéria ejetada das explosões estelares teria seguido desde o Big Bang até hoje. As simulações mais precisas das supernovas revelaram que os ventos galácticos empurram a matéria muito mais rapidamente do que se pensava anteriormente, permitindo que elas atinjam outras galáxias.
Os cálculos indicam que, no tempo de vida de uma galáxia, ela troca matéria continuamente com suas vizinhas, com a jornada entre uma galáxia e outra desses átomos, moléculas e até compostos moleculares, levando de algumas centenas de milhões de anos até 2 bilhões de anos, contou Giguère.
Em galáxias com 100 bilhões de estrelas ou mais, os ventos galácticos podem ter transportado cerca de 50% da matéria atual dessas galáxias - dela para outras, e de outras para ela. Esse percentual é menor para as galáxias menores.
Se as simulações estiverem corretas, galáxias grandes como a nossa podem ter na matéria intergaláctica o principal elemento que as permitiu crescer - até metade de toda a sua massa pode ter chegado pelos ventos intergalácticos.
Cosmologia extragaláctica
Outros pesquisadores que checaram os cálculos gostaram da análise, como a professora Jessica Werk, da Universidade de Washington, que afirma que rastrear o fluxo da matéria da origem do Universo até o presente, e entender onde surgiram os átomos que compõem o ar que respiramos e a água que bebemos, é um dos problemas fundamentais da astrofísica.
"É um dos cálices sagrados da cosmologia extragaláctica. Agora, descobrimos que a metade desses átomos vem de fora da nossa galáxia," concluiu ela.
Bibliografia:
The cosmic baryon cycle and galaxy mass assembly in the FIRE simulations
Daniel Anglés-Alcázar, Claude-André Faucher-Giguère, Dusan Keres, Philip F. Hopkins, Eliot Quataert, Norman Murray
Monthly Notices of the Royal Astronomical Society
DOI: 10.1093/mnras/stx1517