terça-feira, 16 de maio de 2023

Dez leões são mortos em um único fim de semana no Quênia, com aumento de conflitos com seres humanos

 https://conexaoplaneta.com.br/blog/dez-leoes-sao-mortos-em-um-unico-fim-de-semana-no-quenia-com-aumento-de-conflitos-com-seres-humanos/#fechar 










Dez leões são mortos em um único fim de semana no Quênia, com aumento de conflitos com seres humanos

Dez leões são mortos em um único fim de semana no Quênia, com aumento de conflitos com seres humanos

Após a notícia da morte de Loonkiito, um dos leões mais velhos da África, no último final de semana, o Kenya Wildlife Service – Departamento de Vida Selvagem do Quênia – informou que a tragédia é maior. Nos últimos dias, dez leões morreram como resultado de conflitos com seres humanos na região próxima ao Parque Nacional de Amboseli, ao sul do país, na divisa com o vilarejo de Olkelunyiet. 

Quatro leões mortos no sábado (13/05) tinham atacado propriedades locais e matado onze cabras e um cão.

Uma reunião de emergência foi realizada com a participação de autoridades e representantes das comunidades Maasai. O objetivo é encontrar soluções que protejam as vidas humanas e dos animais. Uma das possibilidade é a implementação de sistemas que alertem com antecedência a presença dos leões.

O Quênia passou por um dos piores períodos de seca de sua história. Com isso, há menor abundância de presas e com fome, leões passam a atacar animais de fazendas. Já fazendeiros que também tiveram prejuízo por causa do clima, querem defender seus animais.

Com quase 400 km2, o Parque Nacional de Amboseli, próximo ao Monte Kilimanjaro, é um ecossistema considerado como Reserva da Biosfera pela Unesco. Estima-se que a população de leões no local gire em torno de 180 indivíduos.

Desde o começo dos anos 2000, o número desses felinos no Quênia caiu de cerca de 2.700 para 2 mil, sobretudo como resultado da perda de habitat e os conflitos com seres humanos e o gado.

Na estação da seca, os Maasai podem entrar no parque com seu gado para ter acesso à água. Consequentemente, os leões são confrontados com o gado dentro e fora do parque, além de suas espécies de presas naturais. Entre 2001 e 2006, a matança retaliatória de leões aumentou de 21 para 44 indivíduos na área de Amboseli.

Existem duas espécies de leões no mundo: o africano (Panthera leo leo), ao sul do Deserto do Saara, e o asiático (Panthera leo persica). Entretanto, a população desse último é muito pequena, são aproximadamente 600 indivíduos que vivem na área do Parque Nacional da Floresta Gir, em Gujarat, na Índia. 

Já no continente africano, estima-se que 40% dos leões tenham desaparecido nas últimas décadas.

*Com informações adicionais da Leo Foundation

Leia também:
Após 20 anos, primeiro leão é visto em parque nacional do Chade
Florence e seus três novos filhotes trazem esperança para a população de leões no Senegal
Famoso caçador de leões, rinocerontes, zebras e elefantes é morto a tiros próximo de reserva da vida selvagem na África do Sul
África do Sul irá proibir criação de leões em cativeiro e turismo que envolva interação próxima com esses animais

Foto de abertura: Michael Siebert por Pixabay

Mapeamento inédito é realizado em manguezais da Grande Reserva da Mata Atlântica

 https://conexaoplaneta.com.br/blog/mapeamento-inedito-e-realizado-em-manguezais-da-grande-reserva-da-mata-atlantica/#fechar




Mapeamento inédito é realizado em manguezais da Grande Reserva da Mata Atlântica

Pela primeira vez, pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento se reúnem para entender como está a saúde dos manguezais na linha de costa, na área conhecida como Grande Reserva Mata Atlântica. O monitoramento envolve trabalho de campo, nos bosques de mangue, e um mapeamento aéreo feito por drones equipados com câmeras altamente tecnológicas e imagens de satélite. Os indicadores apontam as áreas mais conservadas e as mais impactadas pela presença humana e pela poluição.

A parceria envolve cientistas do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (REBIMAR)* e pesquisadores do Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais da Universidade Federal do Paraná (LAGEAMB/UFPR).

O resultado são novos mapas, mais precisos, e que indicam também o vigor da vegetação, com uma precisão inédita da região que vai do nordeste de Santa Catarina, passando pelo Paraná, até o sul de São Paulo.

“É um produto inovador. Todos os mapeamentos que foram feitos até então usavam uma escala média, mais generalizada. Desta vez, estamos fazendo um mapeamento bem mais refinado dos manguezais”, explica Otacílio Paz, geógrafo do LAGEAMB. “O tempero adicional é aplicar os índices de qualidade dessa vegetação, para saber como está a saúde desse manguezal e comparar por setores em cada região da Grande Reserva Mata Atlântica”, completa o pesquisador.

A geógrafa Laura Beatriz Krama é responsável pelo processamento digital de imagens de satélite e pelo aerolevantamento com drones. “Utilizamos as imagens do satélite CBERS 4A, disponibilizadas gratuitamente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Trabalhando com elas, chegamos numa resolução espacial de 2m. Essas imagens são utilizadas tanto no mapeamento, quanto para obtermos valores referentes aos índices de vegetação dos manguezais”, explica Laura.

Mapeamento inédito é realizado em manguezais da Grande Reserva da Mata Atlântica

Ao todo, foram mapeados 48.861,391 hectares de manguezal, sendo 41% encontrados no Complexo Estuarino de Paranaguá, 31% na região de Cananéia-Iguape, 16% na Baía de Babitonga e 12% na Baía de Guaratuba.

A especialista explica que o drone utilizado no mapeamento possui uma câmera multiespectral acoplada, ou seja, além de alcançar detalhes visíveis aos olhos humanos, como as câmeras convencionais, também é capaz de realizar a leitura do espectro infravermelho próximo da vegetação. “A tecnologia permite maior detalhe e precisão nos locais de monitoramento. Conseguimos ter exatidão de centímetros”, detalha.

Mapeamento inédito é realizado em manguezais da Grande Reserva da Mata Atlântica

Laura Krama realiza aerolevantamento de drone em Guaraqueçaba, Paraná
(Foto: Gabriel Marchi)

As técnicas aplicadas avaliam e caracterizam a cobertura vegetal em uma determinada área de acordo com a sua reflectância, ou seja, como a luz solar é refletida pela vegetação. Assim é possível medir o Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI), que corresponde ao vigor vegetativo, e o Green Leaf Index (GLI) – em tradução livre: Índice Folha Verde – que demonstra o teor de clorofila da vegetação. Os valores variam de -1 (para matéria morta) a 1 (vegetação em saúde ideal).

“Os resultados apontam que os manguezais da Baía de Guaratuba, do Complexo Estuarino de Paranaguá (PR) e da região de Cananéia-Iguape (SP) possuem valores médios de cerca de 0,52. A maior diferença foi apresentada na Baía de Babitonga (SC), que resultou num valor de aproximadamente 0,48, indicando ser a região de manguezal menos saudável da Grande Reserva Mata Atlântica”, avalia Laura.

Um resultado surpreendente surgiu ao separar a área entre setor sul (mais impactado pela presença urbana e portuária) e norte (mais preservado, no município de Guaraqueçaba).  Os índices de vegetação indicaram que manguezais do setor norte apresentaram valores inferiores ao setor sul, contrariando a hipótese inicial de que os manguezais da região de Guaraqueçaba apresentariam maior vigor vegetativo.

Ainda serão feitas análises mais aprofundadas para identificar fatores como o fluxo e tipo de sedimento de cada setor que podem ter influenciado nos resultados.

A oceanógrafa e coordenadora de flora de manguezais no REBIMAR, Sarah Charlier Sarubo, explica que esse mapeamento facilita muito os estudos de flora, da saúde e dos estoques de carbono dos manguezais. “Ele consegue mapear a biomassa aérea, que é toda aquela parte das árvores acima do solo, com troncos e folhas. O trabalho de geoprocessamento serve como uma ferramenta para nós, por apresentar os dados de forma mais visual e permitir uma escolha mais assertiva dos locais para monitoramento”. 

Mas ela lembra que há ainda a biomassa abaixo do solo, que são as raízes e o estoque de carbono dentro do solo do manguezal que é muito grande. Para isso, as equipes de pesquisa do REBIMAR continuam o trabalho em solo, estabelecendo parcelas de monitoramento, identificando e medindo as árvores, registrando imagens da fisionomia do bosque, assim como coletando amostras do sedimento para avaliar a salinidade.

“Com estes dados é possível avaliar a condição de saúde do bosque, além de calcular as estimativas do estoque de carbono contido na biomassa aérea. Nosso próximo objetivo é avaliar o estoque de carbono presente no solo para ter um panorama mais completo da contribuição dos manguezais da Grande Reserva na mitigação das mudanças climáticas”, explica Sarubo.  

Mapeamento inédito é realizado em manguezais da Grande Reserva da Mata Atlântica

A pesquisadora Sarah Sarubo colhe amostras de sedimentos de manguezal
(Foto: Gabriel Marchi)

Para Otacílio Paz, a ideia é dar ferramentas e gerar dados de baixo custo para a tomada de decisão em gestão territorial. “Identificar, por exemplo, áreas que precisam ser recuperadas, monitoradas ou de outra estratégia como educação ambiental para que a comunidade conheça e valorize esses locais. Ao produzirmos esses dados, podemos dar suporte para as melhores decisões por parte dos gestores”, diz ele.

O mapeamento também inclui questões socioeconômicas como vias de acesso como rodovias e ferrovias, divisas estaduais e limites municipais. Recentemente, a equipe fez um trabalho de Cartografia Participativa que incluiu um levantamento de espécies em colaboração com pescadores. “Levamos mapas para cada um deles, em locais estratégicos, e pedimos para os próprios pescadores marcarem onde eles encontram determinadas espécies da fauna aquática, para uma análise de biodiversidade”, acrescenta o geógrafo.

Por que monitorar os manguezais?

A união de esforços do Programa REBIMAR e do LAGEAMB se justifica pela importância desse ecossistema. Os manguezais são como pântanos que ficam na região de transição entre o mar e a costa, espaços sensíveis que abrigam uma vegetação típica com muitas raízes aparentes e subterrâneas.

Esses ambientes úmidos são fundamentais para proteger a costa brasileira frente a eventos climáticos cada vez mais extremos. A vegetação em bom estado impede a erosão e estabiliza a linha de costa, protegendo contra tempestades e o aumento do nível do mar.

 “Comunidades que estão atrás do manguezal se beneficiam dessa proteção. Proteger esses ecossistemas é proteger também as pessoas e as espécies. Vários estudos mostram que, no sudeste asiático, onde aconteceram os tsunamis, as populações protegidas por manguezais preservados sofreram muito menos impactos do que em áreas que já não tinham essa vegetação”, afirma Sarah.

Ela reforça ainda que os manguezais armazenam mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta, ou seja, absorvem em grande quantidade o gás responsável pelo aquecimento global e pelo agravamento das mudanças climáticas. “Também é importante lembrar que são filtros potentes de água e de ar, retendo a contaminação gerada por portos e pela urbanização”.

Manguezal na comunidade de São Miguel, Baía de Paranaguá, litoral do Paraná
(Foto: Gabriel Marchi)

*O REBIMAR é uma iniciativa patrocinada pela Petrobras e pelo Governo Federal

Leia também:
Por que proteger os manguezais é proteger a nós mesmos?
Estudo revela potencial gigantesco mas ainda pouco explorado de estoque e sequestro de carbono dos manguezais brasileiros
Berçários da vida marinha e protetores das regiões costeiras, os manguezais precisam da nossa proteção

Foto de abertura: Gabriel Marchi (Parque Nacional de Superagui/Guaraqueçaba)