Escrito por José Maria e Silva
| 11 Junho 2014
Artigos -
Governo do PT
Idealizada
por pesquisadores da USP, com o apoio da ONU, a criminalização da
palmada tem como objetivo abolir o pátrio poder, impondo às famílias a
tutela totalitária do Estado.
O clima bananeiro em que foi aprovada a Lei da Palmada pode ser medido pela entrada de Xuxa Meneghel no plenário do Senado.
O
casamento, longe de ser uma expressão do amor romântico, é uma
instituição do contrato social. A tradicional frase “enfim sós”, que os
noivos se dizem mutuamente ao iniciar a lua de mel, não passa de uma
figura de retórica. A rigor, desde o instante em que o casamento é
celebrado, no cartório ou na igreja, os casais jamais ficarão a sós – a
sociedade sempre estará entre eles.
O casamento é uma espécie de
triângulo social, formado pelos noivos que disseram “sim” e pela
sociedade que lhes dirá “não” sempre que um deles quiser infringir o
contrato social firmado diante dela. Mesmo quando se revela a própria
chave da felicidade íntima, concretizando o amor romântico, o casamento
nunca fecha totalmente suas portas à sociedade – ela está sempre
espreitando o casal por meio das regras morais da religião, das leis
civis do Estado e ou do legado familiar de cada um.
Por isso, é
natural que o Estado brasileiro, como qualquer outro Estado do mundo,
queira se intrometer na vida dos casais. Essa intromissão é necessária
devido aos filhos, que compõem o perfil da maioria das famílias. Por
delegação da sociedade, o Estado, juntamente com outras instituições,
tem o dever de zelar para que os filhos sejam educados e assistidos
pelos pais até se tornarem capazes de cuidar da própria vida. No Brasil,
a lei que deveria zelar pela saudável convivência familiar é o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em 13 de julho de
1990.
O problema é que ele não foi criado com o objetivo de fortalecer
as relações familiares, prescrevendo deveres mútuos para pais e filhos, à
luz dos costumes da própria sociedade; pelo contrário, o ECA é a
principal arma dos movimentos revolucionários que usam o Estado
capitalista para criar o utópico “homem novo” socialista. Prova disso é a
chamada “Lei da Palmada”, que acaba de ser aprovada no Congresso
Nacional e criminaliza os pais por uma simples palmada nos filhos.
Uma lei da universidade e da ONU
O
Estatuto da Criança e do Adolescente, que se torna ainda mais nocivo
com a Lei da Palmada, não foi pensado para atender os interesses da
criança cordata, que respeita pai e mãe, mas para fazer as vontades do
filho pródigo, que se rebela contra as normas familiares. O ECA não
nasceu dos anseios legítimos da sociedade brasileira, mas de uma
obsessão ideológica dos movimentos de esquerda com os menores de rua,
que, a partir de meados da década de 1970 e até o final do século
passado, tornaram-se a principal massa de manobra revolucionária,
ocupando, na época, o papel de sementeiras de conflitos sociais que
usuários de drogas e moradores de rua exercem hoje.
Por isso, eu não
fiquei surpreso nem indignado com a aprovação da “Lei da Palmada” pelo
Congresso – o que me surpreende e indigna, de fato, é a sociedade não
perceber que o Estatuto da Criança e do Adolescente já continha, em
si, o ideário da “Lei da Palmada” e não se revoltar contra ele. Sem
atacar diuturnamente o Estatuto, é impossível evitar a aprovação de leis
como essa.
A Lei da Palmada não nasceu no Congresso Nacional
muito menos de uma inusitada sinapse do cérebro de Xuxa, transformada em
sua garota-propaganda pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o
ex-comunista do PCdoB que se especializou em lavagem de reputação
pública por meio do uso de artistas globais. Essa perniciosa lei é uma
criação dos intelectuais universitários brasileiros, com o apoio da
Organização das Nações Unidas (ONU) e se inspira em leis similares de
países europeus.
A primeira tentativa de aprová-la partiu do
Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), por meio
do Laboratório de Estudos da Criança, que, há décadas, vem produzindo
campanhas contra qualquer agressão física a crianças e adolescentes. O
problema é que os psicólogos da USP confundem ralho e palmada com
agressão física e opressão psicológica e vinham tentando aprovar no
Congresso Nacional a criminalização da palmada – o que finalmente
conseguiram, após convencerem a bancada evangélica.
A primeira
tentativa concreta de transformar em lei a criminalização da palmada
ocorreu há dez anos, por intermédio de um projeto de lei da deputada
federal Maria do Rosário (PT-RS), que veio a ser ministra dos Direitos
Humanos no governo Dilma Rousseff e deixou o cargo em abril deste ano
para disputar o Senado Federal pelo PT gaúcho nas próximas eleições.
Em 2
de dezembro de 2003, Maria do Rosário apresentou o Projeto de Lei
2.654/2003, que modificava o ECA e o Código Civil, estabelecendo o
direito de crianças e adolescentes “não serem submetidos a qualquer
forma de punição corporal, mediante a adoção de castigos moderados ou
imoderados, sob a alegação de quaisquer propósitos, ainda que
pedagógicos”. Como se vê, a criminalização da palmada – que se inclui
entre os “castigos moderados” – era explícita, por isso o projeto da
deputada gaúcha enfrentou forte resistência, não só da bancada
evangélica no Congresso Nacional, mas também de articulistas laicos nos
meios de comunicação.
Há alguns anos, quando o assunto foi
amplamente debatido na imprensa, levando à rejeição do projeto original
de Maria do Rosário, os adversários da proposta acreditaram que ela
estava completamente enterrada. Proibir os pais de darem, de vez em
quando, uma mera palmada educativa nos filhos parecia uma ideia
absurdamente radical, sem a menor chance de se transformar em lei. Com
raras exceções, os articulistas que se insurgiram contra a Lei da
Palmada não foram capazes de perceber que ela estava longe de ser uma
proposta folclórica de uma parlamentar xiita – pelo contrário, era a
tradução literal do pensamento predominante nas universidades
brasileiras e, mais cedo ou mais tarde, haveria de ressurgir das cinzas,
como fênix. Um intelectual universitário jamais desiste de suas ideias,
por mais absurdas que sejam – elas são seu oxigênio e ganha-pão, pois
seu salário mensal não depende do acerto de suas teses.
Mesmo que
professe teses socialmente deletérias (como o chefe do Departamento de
Artes e Estudos Culturais da Universidade Federal Fluminense,
professor Daniel Caetano, que defendeu o evento sadomasoquista “Vagina
Satânica”, realizado na instituição), um docente de universidade
pública continuará vendo o seu bom salário cair religiosamente na conta
todo final de mês.
Por isso, mesmo rejeitada por ampla maioria da
população brasileira, como provam as enquetes isentas sobre o assunto, a
Lei da Palmada acabou vingando. É que a proposta original não era
somente da deputada Maria do Rosário – ela foi respaldada pela “Petição
por uma Pedagogia Não Violenta”, uma campanha multinacional do
Laboratório de Estudos da Criança da USP, que teve início em 1994,
portanto há 20 anos, e colheu mais de 200 mil assinaturas de apoio no
Brasil, Peru e Argentina. Essa campanha teve o apoio do Unicef (Fundo
das Nações Unidas para a Infância), que, em 2005, publicou o livro
“Direitos Negados:
A Violência Contra a Criança e o Adolescente no
Brasil”, uma coletânea de artigos escritos por diversos pesquisadores.
No artigo que abre o livro, as pesquisadoras Maria Amélia Azevedo e
Viviane de Azevedo Guerra, ambas do Instituto de Psicologia da USP
afirmam: “A luta mundial pela abolição de castigos imoderados e
moderados (inclusive o famigerado tapinha no bumbum) já é vitoriosa em
onze países: Suécia (1979); Finlândia (1983); Dinamarca (1983); Noruega
(1987); Áustria (1989); Chipre (1994); Letônia (1998); Croácia (1999);
Alemanha (2000); Israel (2000) e Islândia (2003)”.
Psicólogos da USP escreveram projeto de lei
Ora,
o mundo tem quase 200 países. Isso significa que, apesar de toda a
pressão exercida pela ONU, menos de 10% das nações dedicaram leis
especiais contra castigos físicos em crianças. O que a maioria dos
países pune – e com toda razão – é o espancamento dos filhos pelos pais,
algo que o Código Penal Brasileiro e o próprio Estatuto da Criança e
Adolescente também já condenam. Além disso, nos países citados pelas
pesquisadoras, os menores de 18 anos que cometem crimes violentos não
costumam ser inimputáveis como no Brasil e não têm o rosto totalmente
protegido nas reportagens que relatam seus feitos.
Sem contar que
raramente um país impõe tantas restrições ao porte de arma como no
Brasil, fazendo com que os bandidos, menores ou adultos, se comportem
com a máxima ousadia e detenham o monopólio da pena de morte no País.
Impor a um caldeirão de violência chamado Brasil, com quase 200 milhões
de viventes, as mesmas leis de aldeolas escandinavas com menos de 5
milhões de habitantes, como fizeram os pesquisadores da USP com a Lei da
Palmada, é não ter o mínimo senso de proporção.
O que as
pesquisadoras da USP chamam de “luta mundial pela abolição dos castigos
imoderados e moderados em criança” é, na verdade, uma minoritária
guerrilha intelectual pela abolição do pátrio poder, colocando as
famílias sob o poder totalitário do Estado. A força dessa guerrilha –
que se tornou hegemônica no meio acadêmico – não resulta do apoio que
desfruta na sociedade, mas das fartas verbas que recebe de ONGs,
fundações internacionais e da própria ONU.
Desde a redemocratização, o
Brasil se tornou o laboratório preferencial dos arautos do homem novo,
uma espécie de projeto-piloto em forma de país, no qual os ideólogos de
esquerda testam suas leis revolucionárias, como a Lei da Palmada, sem
levar em conta as culturas locais. Prova disso é que a primeira versão
da Lei da Palmada, apresentada em 2003, não foi redigida pela deputada
Maria do Rosário, mas por uma equipe de pesquisadores do Laboratório de
Estudos da Criança do Instituto de Psicologia da USP.
“A
proposição que estamos apresentando à Casa foi elaborada pelo
Laboratório de Estudos da Criança (Lacri) da Universidade de São Paulo
(USP), sob a responsabilidade das coordenadoras, Dra. Maria Amélia
Azevedo, Dra. Flávia Piovesan, Dra. Carolina de Mattos Ricardo, Dra.
Daniela Ikawa e Dr. Renato Azevedo Guerra, e, como pode ser verificado
na argumentação supra, está amparado por pesquisas e análises
comparativas com as legislações mais avançadas do mundo” – escreveu a
deputada Maria do Rosário na justificativa de seu projeto, ao
apresentá-lo na Câmara no final de 2003.
Como o seu projeto era lobo com
garras e dentes expostos, dizendo já na ementa e reafirmando em seu
primeiro artigo que até os castigos moderados estavam proibidos, ele
acabou não vingando no Congresso, devido, sobretudo, à resistência da
bancada evangélica.
Então, sete anos depois, o Executivo tomou para si a
tarefa de aprovar a Lei da Palmada e, em 14 de julho de 2010, um dia
depois do aniversário de 20 anos do ECA, o então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva enviou à Câmara um novo projeto de lei nesse sentido.
Exército público de delatores profissionais
Esse
projeto de lei do Executivo, que acabou aprovado na semana passada, é
lobo em pele de cordeiro. Ao acrescentar três artigos ao Estatuto da
Criança e do Adolescente, ele estabelece:
“A criança e o adolescente têm
o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou
tratamento cruel ou degradante, como forma de correção, disciplina,
educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da
família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores
de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar
deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los”.
Em seguida, a lei define
“castigo físico” como a “ação de natureza disciplinar ou punitiva com o
uso da força física que resulte em sofrimento físico ou lesão à criança
ou adolescente”. E define como “tratamento cruel ou degradante” a
“conduta ou forma cruel de tratamento que humilhe, ameace gravemente ou
ridicularize a criança ou adolescente”.
Como se vê, a nova versão
da Lei da Palmada, rebatizada casuisticamente de “Lei Menino Bernardo”,
parece não oferecer nenhum perigo para as famílias. Quem pode ser a
favor do “tratamento cruel ou degradante” de uma criança, expressão que
mais se destaca quando se lê o primeiro parágrafo da lei? Ocorre que
essa expressão entrou aí justamente para ofuscar a criminalização da
palmada, que continua embutida na expressão “castigo físico”. Afinal, se
“castigo físico” fosse apenas sinônimo de espancamento e não abarcasse
também uma simples palmada, não haveria necessidade de acrescentar
“tratamento cruel” ao texto.
Além do mais, a lei ainda prevê que os
direitos da criança nela previstos deverão ser objeto de ampla campanha e
integrar os temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do
MEC. Ou seja, na interpretação da lei que será disseminada na
sociedade, a definição prática de castigo físico vai abranger a palmada –
algo que, sem dúvida, será corroborado pelo Ministério Público, ainda
que um ou outro promotor, individualmente, possa pensar e até agir de
forma contrária.
Mas até isso será difícil, pois a lei também
prevê que o profissional da saúde, da educação ou da assistência social,
bem como qualquer pessoa que exerça cargo ou função pública, tem a
obrigação de comunicar às autoridades competentes qualquer suspeita ou
confirmação de castigo físico de uma criança, sob pena de incorrer em
multa que varia de 3 a 20 salários mínimos.
Ou seja, a lei cria um
exército público de delatores profissionais, que, com o tempo, irão
consolidar a criminalização da palmada, ainda que ela não esteja
explicitamente escrita no texto da lei. Em breve, cada filho será o
senhorzinho do lar e teremos a paternidade análoga à escravidão.
Alguns
parlamentares, como o senador Magno Malta (PR-ES), não se deixaram
enganar pela Lei Menino Bernardo e denunciaram o seu caráter subjetivo,
que continua criminalizando todo tipo de castigo físico, mesmo uma leve
palmada.
E o deputado Pastor Eurico (PSB-PE) criticou a presença de Xuxa
como madrinha da lei, lembrando o seu passado de protagonista do filme
“Amor, Estranho Amor”, de Walter Hugo Khouri, em que protagoniza cenas
de nudez com uma criança.
Ditatorialmente, o partido de Eduardo Campos
tomou as dores de Xuxa e destituiu o deputado da Comissão de
Constituição e Justiça.
O clima bananeiro em que foi aprovada a
Lei da Palmada pode ser medido pela entrada de Xuxa Meneghel no plenário
do Senado. Ela trazia pela mão um garoto que, depois, se revelou ser o
neto do presidente do Senado, Renan Calheiros. Num acintoso desrespeito
aos rituais da República, o menino foi posto sentado à mesa diretora da
Casa, entre o avô e Xuxa, como se o Brasil fosse uma monarquia, em que o
poder se transmite hereditariamente e não há distinção entre o público e
o privado.
A transformação do neto de Renan Calheiros numa espécie de
reizinho da República é reveladora da miséria moral reinante – simboliza
a privatização da coisa pública e a estatização da vida privada, numa
mistura que relembra a Itália fascista de Benito Mussolini.
A Lei da
Palmada já é consequência dessa indistinção entre um Estado cada vez
mais possuído pelos grupos organizados e uma sociedade cada vez mais
destituída de vida privada. É como se os bedéis do Estado, que batem
ponto burocraticamente nas repartições, pudessem cuidar da educação de
todas as crianças brasileiras – uma missão que exige dos pais de carne e
osso enormes sacríficos, inclusive em madrugadas insones, quando velam
pela saúde e o bem-estar de seus filhos.
Duplo grau de jurisdição na família
Os
intelectuais bem-nascidos querem aplicar a todo mundo os seus próprios
princípios de vida, sem levar em conta as circunstâncias em que vivem os
destinatários de suas leis utópicas.
O ideal é que uma criança jamais
precise levar sequer uma palmada e aprenda a obedecer a um simples
olhar. Mas esse é um ideal, que nem sempre pode ser posto em prática,
especialmente nas classes mais pobres, em que a vida é muito dura, e os
pais, machucados pela própria desesperança, nem sempre são capazes de
dialogar com os filhos, depois de mais uma dura jornada de trabalho, em
que enfrentam ônibus lotados para voltar ao barracão minúsculo onde a
família se amontoa.
Em famílias assim, uma palmada, um beliscão, um
cascudo são quase inevitáveis e chegam a ser uma forma de diálogo, uma
espécie de rude carinho físico entre pais e filhos, especialmente em
famílias arcaicas em que beijos e abraços são raros ou inexistem.
Uma
pesquisa do próprio Laboratório de Estudos da Criança da USP mostrou
que mais de 70% desses castigos físicos são aplicados pelas mães – um
fator de desespero para os pesquisadores uspianos, que, volta e meia,
promovem palestras, exibição de filmes, apresentações de teatro,
concursos de desenhos e várias outras atividades educativas tentando
evitar que as mães distribuam palmadas em seus rebentos.
Eles nem se dão
conta de que as famílias, instintivamente, criam e aplicam uma sábia
justiça doméstica que reproduz um dos pilares do processo civilizatório –
o duplo grau de jurisdição.
A mãe, pelo fato de ficar mais tempo com o
filho e, sobretudo por tê-lo carregado no ventre, tende a ter com ele
uma relação muito mais emotiva, consequentemente mais fadada à
impaciência, aos ralhos, às palmadas.
Mas, como diz o provérbio, pé de
galinha não mata pinto. Prova disso é que mal acaba de levar uma palmada
da mãe, a criança já busca o seu colo para chorar, como se a palmada
fosse o prenúncio do carinho. Só quando essa primeira instância da
justiça familiar não surte efeito, é que entra a segunda instância – a
justiça paterna.
Mas o pai, ao contrário da mãe, deve ter maior
distanciamento e evitar o castigo físico. Como sabiam os antigos, a mão
do pai é pesada. Ele é o juiz de segunda instância, que só deve
interferir nos casos mais graves, fazendo valer sua autoridade com um
olhar severo, uma palavra firme e, no mais das vezes, com sua simples
presença.
Quando o pai precisa castigar fisicamente o filho, é porque
esse duplo grau de jurisdição familiar está falhando e, nesse caso, sim,
a criança tem grande chance de se tornar um filho rebelde, malcriado,
às vezes um adulto traumatizado e sem rumo.
A Lei da Palmada, ao proibir
todo tipo de castigo físico, inclusive quando praticado afetivamente
pela mãe, acaba com esse sábio sistema de pesos e contrapesos entre mãe e
pai, privando a criança de seu primeiro e educativo contato com a
Justiça – que é, antes de tudo, uma hierarquia moral de valores, em que a
severidade das sanções é graduada pela gravidade dos atos.
Ao
desconsiderar essas nuances das relações familiares, a Lei da Palmada
chega a desumanizar a criança, como se ela não passasse de um corpo sem
alma, cujo maior sofrimento é a dor passageira de uma simples palmada.
Publicado no Jornal Opção.
José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.