terça-feira, 10 de julho de 2018

El derrame de una fábrica china tiñe de rojo un río


Los residentes de la ciudad Yibín se sorprendieron ante la escena


https://elpais.com/elpais/2018/07/05/videos/1530805147_288782.html

Para ver o vídeo do derramamento da tinta, abra por favor o link acima.

Xiangbi, el río local de la ciudad de ciudad Yibin, en China, se tiñó de rojo debido al derrame de un barniz proveniente de una fábrica de embalajes cercana. Los habitantes de la zona, que desconocían la causa del estado del río, subieron vídeos a la red preguntándose qué había sucedido. Además, lograron que el vídeo se hiciera viral al titularlo como ‘Un río de sangre’. El accidente tuvo lugar durante la hora de limpieza del establecimiento. Los trabajadores explicaron a las autoridades que la sustancia que manchó el río es un tipo de barniz basado en agua y pigmentos, por lo que no resulta tóxico ni supone un riesgo para humanos y animales. No obstante, se ha iniciado una investigación que determinará si hubiera posibles riesgos de contaminación ambiental.



Hora de pensar no fim da pecuária industrial, artigo de George Monbiot





pecuária na Amazônia

Pecuária industrial: Ineficaz e devastadora, atividade ocupa 83% das terras disponíveis, devasta biomas e elimina fauna selvagem. Entre as alternativas, reflorestamento nativo e carne cultivada.

IHU
O artigo é de George Monbiot, jornalista, escritor, acadêmico e ambientalista do Reino Unido e que escreve uma coluna semanal no jornal The Guardian, publicado por Outras Palavras, 28-06-2018. A tradução é de Inês Castilho.

Eis o artigo.

Mais do que qualquer outra coisa, a sobrevivência dos seres humanos neste e nos próximos séculos, e a possibilidade de outras formas de vida viverem conosco, dependem de como nos alimentamos. Podemos cortar o consumo de tudo o mais a quase zero, e ainda assim causaremos o colapso dos sistemas vivos — a não ser que mudemos nossa dieta.


Todas as evidências apontam agora numa direção: é crucial fazer a transição da dieta de base animal para uma dieta de base vegetal. 

Um artigo publicado na revista Science semana passada revela que, embora alguns tipos de produção de carne e laticínios sejam mais prejudiciais do que outros, todos são mais nocivos para os seres vivos do que cultivar proteína vegetal. 

O texto mostra que a criação de animais ocupa 83% da terra agriculturável do mundo, mas gera apenas 18% de nossas calorias. Uma dieta baseada em vegetais diminui o uso da terra para 76% e reduz à metade os gases de efeito estufa e outras formas de poluição causadas pela produção de alimentos.


A razão é em parte a extrema ineficácia de alimentar o gado com grãos: a maior parte de seu valor nutricional é perdido na conversão de proteína vegetal a proteína animal. Isso reforça meu argumento de que, se você deseja comer menos soja, deveria então comer soja: 93% da soja que consumimos, e que leva à destruição das florestas, savanas e das terras alagadas, estão incorporadas na carne, nos laticínios, ovos e peixe — e a maior parte é perdida na conversão. Quando a comemos diretamente, é preciso muito menos para obter a mesma quantidade de proteína.

A criação de gado à solta é ainda mais prejudicial: os impactos ambientais da conversão de grama em carne, ressalta o artigo, “são imensos sob qualquer método de produção praticado hoje”. Isso porque é necessária terra demais para produzir todos os bifes e costelas que consumimos. 

Embora as pastagens usem, no mundo inteiro, cerca de duas vezes mais terra do que o cultivo de grãos, elas proporcionam apenas 1,2% da proteína que consumimos. E mesmo que a maior parte dessas pastagens não sirva para cultivar grãos, as terras podem ser usadas para reflorestamento, para permitir que muitos ecossistemas ricos destruídos pela criação de gado se recuperem, absorvendo dióxido de carbono da atmosfera, protegendo bacias hidrográficas e interrompendo a sexta grande extinção planetária de espécies, que está a caminho. A terra que deveria ser consagrada à preservação da vida humana e do resto dos seres vivos está sendo usada neste momento para produzir uma ínfima quantidade de carne.

Sempre que levanto a questão crucial do rendimento por hectare, recebo uma enxurrada de críticas e afrontas. Mas não estou criticando os criadores, estou apenas demonstrando que os números não fecham. Não podemos nem alimentar a crescente população mundial nem proteger os sistemas vivos por meio da criação de animais. Carne e laticínios são uma extravagância que não podemos mais sustentar. Não há saída. Aqueles que defendem que a pecuária “regenerativa” ou “holística” imita a natureza iludem-se a si mesmos. 

Ela depende de cercas, enquanto na natureza os herbívoros selvagens vagam livremente, muitas vezes por grandes distâncias.

 Exclui ou extermina predadores, que são cruciais ao funcionamento saudável de todos os sistemas vivos. E tende a eliminar os brotos de árvores, provocando a ausência dos complexos mosaicos de vegetação lenhosa encontrados em muitos sistemas naturais — essenciais para sustentar uma ampla variedade de espécies de vida selvagem.

A indústria da carne exige ataques ainda maiores ao mundo dos seres vivos. Veja a matança de texugos no Reino Unido, espalhando-se agora por todo o país em resposta aos equivocados pedidos dos produtores de leite. As pessoas perguntam como eu justificaria o retorno dos lobos, sabendo que eles iriam matar algumas ovelhas. Eu pergunto como eles justificam a erradicação dos lobos e de uma grande variedade de outras vidas selvagens para dar lugar às ovelhas. A mais importante ação ambiental que podemos fazer é reduzir a quantidade de terra usada na agricultura.
A não ser que você saiba cozinhar bem — e muita gente não tem nem capacidade nem espaço para isso — uma dieta baseada em vegetais pode ser cara ou sem graça. Precisamos de refeições prontas veganas melhores e mais baratas, e substitutos rápidos e fáceis para a carne. 

A grande mudança virá com a produção em massa de carne cultivada. Há três restrições principais a ela. A primeira é que a ideia de carne artificial é, para alguns, repugnante. Se você sente assim, convido-o a verificar como os animais dos quais são feitos suas salsichas, hambúrgueres e empanados de frango são atualmente criados, massacrados e processados. Tendo trabalhado numa fazenda de criação intensiva de porcos, estou mais consciente que a maioria de quão repulsivas elas são.

A segunda objeção é que a carne cultivada mina a produção local de alimentos. Talvez aqueles que fazem essa restrição não tenham consciência de onde vem a alimentação animal. Fazer com que a soja argentina passe por um porco local antes de chegar até você não a torna mais local do que se fosse transformada em alimento humano diretamente. 

A terceira restrição tem um mérito maior: carne cultivada presta-se à concentração corporativa. De novo, a indústria de alimento animal (e, cada vez mais, a produção de carne) foi capturada por conglomerados gigantes. Mas deveríamos assegurar que a carne cultivada não siga o mesmo caminho: nesse setor, como em todos os outros, precisamos de fortes leis antitruste.

Essa poderia ser também uma oportunidade para romper com nossa completa dependência de nitrogênio artificial. Tradicionalmente, a criação de animais e o cultivo de plantas eram integrados através do uso do esterco. Perdas nesse sistema levaram a uma queda gradual da fertilidade do solo. 

O desenvolvimento de fertilizantes industrializados nos salvou da fome, mas a um alto custo ambiental. Hoje, a ligação entre pecuária e agricultura foi quase inteiramente rompida: as lavouras são cultivadas com produtos químicos industriais, enquanto o excremento dos animais se acumula, sem ser utilizado, em lagoas fedorentas, exterminando rios e criando zonas mortas no mar. Quando aplicado na terra, ameaça acelerar a resistência aos antibióticos.

Mudando para uma dieta baseada em vegetais, poderíamos fazer uso de uma ótima sinergia. Em sua maioria, as lavouras proteicas — de ervilhas e feijões — captam nitrogênio do ar, fertilizando a si mesmas e aumentando os níveis de nitrato no solo para uso das culturas subsequentes, tais como cereais e sementes oleaginosas. 

Embora seja pouco provável que a transição para a proteína vegetal elimine a necessidade de fertilizantes artificiais, o trabalho pioneiro de agricultores orgânicos veganos, que usam somente compostos baseados em vegetais e importam o mínimo de fertilidade possível de outros lugares, deve ser apoiado por pesquisas que os governos, até agora, não vêm financiando.

Compreensivelmente, a indústria da carne irá resistir a tudo isso, usando as bucólicas imagens e fantasias pastorais que nos têm fascinando por tanto tempo. Mas não pode nos forçar a comer carne. A mudança precisa ser feita por nós. E torna-se mais fácil a cada ano que passa.

(EcoDebate, 07/02/2018) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Biodiversidade otimiza processos ecológicos que contribuem para reduzir efeitos das mudanças climáticas



Diversidade de árvores favorece restauração de florestas

Jornal da USP
A conservação e restauração de florestas é favorecida quando há uma diversidade de espécies arbóreas cerca de quatro vezes maior que a habitualmente utilizada em trabalhos de BEF (Biodiversidade e Funcionamento de Ecossistemas) em florestas. A conclusão é apresentada em pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. De acordo com o estudo, a maior variedade de árvores influencia de forma mais significativa processos ecológicos e funções ecossistêmicas, tanto acima quanto abaixo do solo. Uma dessas funções é a interceptação de luz, fundamental para a estocagem de carbono, medida adotada para reduzir os efeitos das mudanças climáticas.

O trabalho foi realizado no Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da Esalq pela pesquisadora Marina Melo Duarte, com orientação do professor Pedro Henrique Santin Brancalion, do Departamento de Ciências Florestais, e colaboração das professoras Catherine Potvin, da McGill University, e Simone Vieira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 “A pesquisa usa florestas tropicais em processo de restauração para verificar como o número de espécies influencia algumas funções ecossistêmicas e processos ecológicos”, conta a autora. Os experimentos foram realizados no Panamá e no Brasil, na Estação Experimental de Ciências Florestais de Anhembi da Esalq. A instalação dos experimentos brasileiros foi feita pelo professor José Luiz Stape e pelo funcionário João Carlos Teixeira Mendes.

“No Brasil, usamos uma floresta em restauração com 10 anos para verificar se elevados números de espécies arbóreas (20, 58 e 114 espécies) influenciavam funções ecossistêmicas e processos ecológicos tanto acima quanto abaixo do solo. Isso é uma situação inédita pois, até onde sabemos, estudos de BEF em florestas consideram níveis de riqueza de no máximo cerca de 25 espécies. 

No Panamá, usamos experimentos com florestas em restauração de 15 anos de idade, as quais continham menor número de espécies que no experimento do Brasil (no máximo 18), mas maior variedade de combinações delas, permitindo-nos destrinchar, de forma mais fina, os efeitos de diferentes combinações de espécies sobre funções do ecossistema”, explica.

Ao contrário do que a própria comunidade científica esperava sobre essa metodologia aplicada às florestas, os resultados foram surpreendentes. “Quando fiz o intercâmbio no Canadá, vários pesquisadores disseram que possivelmente não detectaríamos diferenças nas funções ecossistêmicas de florestas com 20, 58 e 114 espécies, pois eles acreditavam que essas funções já estariam saturadas com poucas dezenas de espécies”, afirma Marina.
Vista aérea da Floresta Amazônica – Foto: Luciana Macêdo via Fotos Públicas
Vista aérea da Floresta Amazônica – Foto: Luciana Macêdo via Fotos Públicas

Luz

“O que observamos foi que, em relação às funções ecossistêmicas acima do solo, florestas de 114 espécies, pelo menos durante parte do ano, foram capazes de significativamente interceptar mais luz que aquelas que continham 20 ou 58 espécies”. De acordo com a pesquisadora, a interceptação de luz é um processo ecológico intimamente ligado ao estoque de carbono, que é uma função ecossistêmica muito visada nos dias atuais.

Em relação a funções ecossistêmicas e processos ecológicos abaixo do solo, analisados apenas na área experimental do Brasil, verificou-se que também foram influenciados pela riqueza de espécies, apesar de menos significativamente que os processos acima do solo. “A riqueza de espécies aumentou produção e estoque de raízes finas no solo. E também teve efeito sobre taxas de decomposição e de estoque de serapilheira, porém esse efeito não foi linear em relação ao número de espécies de árvores”, complementa.

Em síntese, os resultados mostraram que a diversidade de espécies arbóreas foi capaz de atuar em processos tanto acima quanto abaixo do solo. “É muito importante entender esses mecanismos a fim de melhorar o processo de restauração ecológica, potencializando a conservação da biodiversidade e a provisão de funções ecossistêmicas, em um contexto internacional de necessidade de mitigação de mudanças climáticas”, finaliza.
Foto: Elenice Mouro Varanda
Foto: Elenice Mouro Varanda
A pesquisadora explica o olhar diferenciado com o qual aplicou a teoria BEF em florestas tropicais experimentais. “Até recentemente (há cerca de 15 anos), quase todos os trabalhos dentro dessa teoria se baseavam em campos de gramíneas, que são sistemas menos complexos, pois não têm uma estrutura tridimensional tão complexa como a de uma floresta, as parcelas experimentais não requerem tamanho tão grande quanto as de florestas, gramíneas demoram menos tempo para chegar à fase adulta que árvores”.

Segundo Marina, há uma tendência atual de expandir os estudos de BEF para florestas, que são sistemas mais complexos e têm fundamental importância, entre os ecossistemas terrestres, no estoque de carbono, assunto tão comentado atualmente no contexto de necessidade de mitigação de mudanças climáticas. “Daí uma das importâncias deste trabalho, já que restaurar ou conservar florestas mantendo alta diversidade pode favorecer seu estoque de carbono e outros serviços ecossistêmicos”, complementa.

Do Jornal da USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/07/2018
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Qual é o número ideal de humanos sobre a Terra? artigo de José Eustáquio Diniz Alves






[EcoDebate] Muitas pessoas, recorrentemente, perguntam qual é o número ideal de humanos sobre a Terra?

Contudo, em geral, a maioria fica frustrada ao saber que não existe um número mágico como resposta. Globalmente, o número ideal de humanos depende de vários condicionantes econômicos e éticos.
O primeiro condicionante econômico é o padrão de vida. 

O número de pessoas que a Terra pode sustentar depende do modo de produção e consumo adotado por estas pessoas. De acordo com a Global Footprint Network, em 2013, a biocapacidade global do Planeta era de 12,2 bilhões de hectares globais (gha). Como a população mundial estava em 7,2 bilhões de habitantes, a biocapacidade per capita era de 1,71 gha. Ou seja, a Terra poderia ter 7,2 bilhões de habitantes em equilíbrio com o meio ambiente se a pegada ecológica fosse de 1,71 gha. Porém, a pegada per capita estava em 2,87 gha em 2013, somando 20,6 bilhões de gha, o que provocava um déficit ambiental de 68%.

Assim, segundo os dados da Global Footprint Network, de 2013, a presença humana sobre a Terra estava gerando um excesso de demanda em relação à capacidade de oferta de serviços ecossistêmicos do Planeta. Para equilibrar oferta e demanda, ou a população mundial (com pegada de 2,87 gha) tinha de cair para 4,3 bilhões de habitantes ou os 7,2 bilhões de habitantes tinham de reduzir a pegada ecológica para 1,71 gha.

Portanto, considerando estes parâmetros, o número ideal (que garante o equilíbrio entre a oferta e a demanda de serviços ecossistêmicos) seria 7,2 bilhões de pessoas com pegada per capita de 1,71 gha ou 4,3 bilhões de pessoas com pegada de 2,87 gha. Desta forma, o número ideal de pessoas dependeria do padrão de consumo.

Vejamos um exemplo de país rico. A pegada ecológica per capita dos Estados Unidos (EUA) era de 8,6 gha em 2013, refletindo um alto padrão de consumo. Caso a população mundial adotasse o estilo de vida americano, o número ideal de humanos sobre a Terra seria de 1,4 bilhão de habitantes para caber dentro da biocapacidade global de 12,2 bilhões de gha.

Agora vejamos um exemplo de país de baixa renda e consumo. A pegada ecológica per capita da Índia era de somente 1,1 gha em 2013. Caso a população mundial adotasse o estilo de vida médio indiano, o número máximo de humanos sobre a Terra para manter o equilíbrio com a biocapacidade de 12,2 bilhões de gha, seria de 11,1 bilhões de habitantes.

Desta forma, o tamanho ideal da população mundial para manter o equilíbrio entre a pegada ecológica e a biocapacidade é de 11,1 bilhões de habitantes, no caso de uma pegada per capita de 1,1 gha, ou de 1,4 bilhão de habitantes, no caso de um pegada per capita de 8,6 gha. Portanto, o tamanho ideal da população depende do padrão de consumo e da forma de produção dos bens e serviços à serviço da humanidade, que são os fatores principais que impactam negativamente o meio ambiente.

Evidentemente, a pegada ecológica é maior nos países ricos que nos pobres e é maior, especialmente, entre as elites ricas dos países ricos. 

Todavia, mesmo se houvesse uma distribuição igualitária da renda e do consumo, a humanidade estaria utilizando 1,68 planeta, apesar de haver apenas 1 planeta. E o pior, mesmo se eliminarmos da contabilidade global os 1,1 bilhão de habitantes dos países ricos com uma pegada ecológica de 6,8 bilhões de gha, assim mesmo haveria déficit ambiental. 

Ou seja, a pegada ecológica dos países de renda média e baixa (sem os países ricos) é maior do que a biocapacidade global. Portanto, mesmo num cenário de completa igualdade social, ou de eliminação dos países ricos, o padrão médio de consumo mundial ainda seria deficitário.

Mas além dos condicionantes econômicos também existem os condicionantes éticos. Será justo manter uma enorme população humana ao mesmo tempo em que se reduz as populações das outras espécies que habitam a Terra muito antes do Homo sapiens?

Será justo manter bilhões de indivíduos da espécie humana, enquanto desaparecem os rinocerontes, os leões, os leopardos, os elefantes, as girafas, os gorilas, os tigres, os ursos polares, as abelhas, etc.? Será justo aumentar o asfalto e o cimento das cidades e do campo enquanto as áreas de floresta são transformadas em monoculturas e desertos e a defaunação se espalha pelo mundo? 

Será justo manter o alto padrão de vida humana enquanto os rios urbanos são enterrados vivos e transformados em esgotos e as fontes de água potável são monopolizadas por uma elite ou poluídas, sendo que o processo de acidificação e eutrofização ameaça todas as formas de vida aquática?

Não há muitas alternativas viáveis: ou a população de 7,5 bilhões de habitantes, em 2017, abandona o modelo “Extrai-Produz-Descarta” e constrói um sistema de produção e consumo mais amigável ao meio ambiente ou o fluxo metabólico entrópico vai reduzir as atividades antrópicas por meio de um colapso ecológico.

O fato é que o volume da população atual multiplicado pelo consumo médio global é incompatível com a capacidade de carga do Planeta.

A continuidade do progresso humano global tem esbarrado nos limites das fronteiras planetárias. Por exemplo, o aquecimento global (e suas consequências) pode tornar a Terra inabitável, senão nos próximos anos, nas próximas décadas.

Enfim, o número ideal de humanos sobre a Terra é aquele que não degrada os ecossistemas, mantém o equilíbrio homeostático do clima e garante a sobrevivência e convivência harmoniosa entre todos os seres vivos da comunidade biótica. Certamente, o tamanho ideal da presença humana sobre a Terra (população vezes consumo) é de uma dimensão inferior ao seu impacto atual.

Mas há quem pense diferente. O economista Julian Simon defendia a ideia bizarra de que não havia limites ao crescimento populacional. Ele afirmava que “quanto mais gente melhor”, desde que o mundo seguisse as regras do mercado e os princípios do neoliberalismo.

Simon foi assessor do presidente Ronald Reagan nos EUA e um dos líderes dos negacionistas das mudanças climáticas. Ou seja, um antineomalthusiano ferrenho e ideólogo do capitalismo degradador do meio ambiente. Simon consegue enganar muitas pessoas com seu discurso que o crescimento populacional desregrado não é um problema para a sociedade e o meio ambiente (Alves, 16/05/2012). Por incrível que pareça, há demógrafos brasileiros (Greenwashing) que referendam este tipo de pensamento antiecológico (Rosa, 13/04/2018)

A escola da Economia Ecológica mostra que a economia é um subsistema da ecologia. Assim, manter o ininterrupto crescimento demoeconômico é ambientalmente insustentável. Não se trata de produzir mais com menos, mas sim produzir menos com muito menos exploração dos recursos naturais.

O número ideal de humanos sobre a Terra é aquele que garanta a sobrevivência da espécie no longo prazo e que não empobreça o meio ambiente e nem reduza a biodiversidade do Planeta. 

Atualmente a humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra. Somente com o decrescimento das atividades antrópicas a humanidade atingirá o número ideal de indivíduos.

Se a população ficar em torno de 7 bilhões de habitantes a pegada ecológica precisa cair para 1,7 gha. Mas com a pegada ecológica de 2,87 gha o número ideal para se atingir o equilíbrio ambiental seria de 4,3 bilhões de habitantes. O fato é que o número ideal de humanos é aquele que não provoque um desequilíbrio no clima e nem uma extinção em massa dos seres vivos que compõe a rica e essencial biodiversidade da Mãe Terra.

Referências:
ALVES, JED. O positivismo e o fundamentalismo de mercado de Julian Simon e dos céticos do clima, Ecodebate, 16/05/2012
http://www.ecodebate.com.br/2012/05/16/o-positivismo-e-o-fundamentalismo-de-mercado-de-julian-simon-e-dos-ceticos-do-clima-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Decrescimento demoeconômico ou pronatalismo antropocêntrico e ecocida? Ecodebate, 20/05/2015
http://www.ecodebate.com.br/2015/05/20/decrescimento-demoeconomico-ou-pronatalismo-antropocentrico-e-ecocida-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ROSA, Guilherme. Crescimento da população não ameaça planeta, consumo sim. Entrevista com Roberto Luiz do Carmo, Revista Galileu, republicada no LADEM, 13 de abril de 2018
http://www.ufjf.br/ladem/2018/04/13/crescimento-da-populacao-nao-ameaca-planeta-consumo-sim-entrevista-com-roberto-luiz-do-carmo/

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 09/07/2018
"Qual é o número ideal de humanos sobre a Terra? artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 9/07/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/07/09/qual-e-o-numero-ideal-de-humanos-sobre-a-terra-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.

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