terça-feira, 28 de maio de 2024

Será o fim dos agrotoxicos?Equipamento emite sinais vibratórios para manejar pragas na agricultura

 

Equipamento emite sinais vibratórios para manejar pragas na agricultura

Redação do Site Inovação Tecnológica - 23/05/2024

Equipamento eletrônico emite sinais vibratórios para manejar pragas na agricultura
O equipamento para armazenamento, geração e reprodução dos sinais vibratórios emitidos pelos insetos conectado a uma planta de soja.
[Imagem: Tiago Maboni Derlan]


Vibrações contra pragas

O uso de sinais vibratórios é a nova arma da ciência para ajudar no controle de pragas agrícolas, como os percevejos da família Pentatomidae, popularmente conhecidos como marias-fedidas - são aproximadamente 900 gêneros e 5 mil espécies, atacando as mais diversas culturas.

Pesquisadores da Embrapa do Distrito Federal e da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) desenvolveram um dispositivo que digitaliza os sinais que esses insetos usam para se comunicar, e então os reproduz artificialmente a fim de atraí-los ou afastá-los.

Este é um dos primeiros exemplos no mundo de uso dos conhecimentos da biologia sobre a comunicação vibracional entre os animais para o manejo de pragas na agricultura. A ideia é fazer uma manipulação comportamental de insetos-praga em áreas de plantio, com vistas à redução da sua densidade populacional.

"O método consiste em digitalizar os sinais vibracionais emitidos pelos insetos e reproduzi-los, de maneira contínua e repetidamente, para interferir no comportamento deles, a fim de, por exemplo, atraí-los ou afastá-los," destacou o pesquisador Raúl Laumann.

Além disso, a tecnologia permite que os sinais sejam reproduzidos em diferentes superfícies, como o caule e as folhas das plantas, ou outros substratos sólidos, o que possibilita sua aplicação sob condições diversas, atendendo a diferentes particularidades de controle.

"Embora a invenção do dispositivo e do método tenha sido motivada pela necessidade de manejo de percevejos, a tecnologia pode ser aplicada a uma vasta variedade de insetos," destacou o pesquisador.

Equipamento eletrônico emite sinais vibratórios para manejar pragas na agricultura
Esquema de funcionamento da tecnologia.
[Imagem: Raúl Laumann/Embrapa]

Combate sem agrotóxicos

O dispositivo é composto por uma fonte de energia e um módulo regulador de tensão, que mantêm o equipamento funcionando; um módulo de áudio primário, configurado para captar o sinal vibracional dos insetos; um módulo de armazenamento, que armazena esse sinal gravado; um módulo amplificador, responsável pela amplificação do sinal; um microcontrolador, que gerencia o arranjo como um todo; uma interface de comunicação com o usuário, com uma tela e um teclado; e uma interface de saída, para conexão de um reprodutor do sinal como, por exemplo, um alto-falante, que propaga as vibrações no ambiente.

Nos percevejos, os sinais vibratórios atuam na troca de informação entre os indivíduos quando eles se encontram a distâncias moderadas (1 a 2 metros) ou curtas (poucos centímetros ou contatos físicos). A comunicação entre eles se dá por meio de vibrações entre 60 e 130 hertz (Hz), produzidas pelo abdômen do inseto, as quais são transferidas para os tecidos da planta por suas patas, nas quais também se encontram os receptores sensoriais dos sinais vibratórios.

Desse modo, a utilização dessas vibrações identificadas na família Pentatomidae pode ser uma alternativa ou complemento ao uso de feromônios para serem incorporados em armadilhas de monitoramento - os feromônios são sinais químicos que também fazem parte do sistema de comunicação dos insetos.

"Adicionalmente, sinais vibratórios com efeito repelente ou que interferem na comunicação têm potencial para o manejo dessas pragas agrícolas, num sistema similar ao da confusão sexual com interrupção do acasalamento, sem o uso de substâncias químicas," disse Raúl, destacando o uso excessivo dos agrotóxicos, que tornam os sistemas agrícolas instáveis em decorrência da eliminação conjunta de inimigos naturais das pragas e da indução de resistência nessas pragas.

A pesquisa já demonstrou a eficácia do equipamento e do método em laboratório. A Embrapa agora busca parceiros industriais para desenvolver um protótipo do aparelho e testá-lo em campo.

Após chuvas intensas no Rio Grande do Sul, governo alerta para seca “muito terrível” na Amazônia

 



Após chuvas intensas no Rio Grande do Sul, governo alerta para seca “muito terrível” na Amazônia

 

 Por Vitor Abdala*

Mesmo com os trabalhos de resposta às enchentes no Rio Grande do Sul ainda em andamento, o governo brasileiro já se preocupa com a ocorrência de novo evento climático extremo no país. Segundo a secretária nacional de Mudança do ClimaAna Toni, uma seca “muito terrível” está prevista para ocorrer em breve na Amazônia.

“O governo já está tentando se adiantar, entendendo que municípios provavelmente vão ser atingidos, que tipo de prevenção [será necessária]. Isso está sendo liderado pelo Ministério da Integração Regional, onde está a Secretaria [Nacional] de Defesa Civil, já pensando em ações de prevenção”, afirmou Ana, em seminário do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) sobre descarbonização da economia, no Rio de Janeiro.

Ana Toni, conselheira do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente / Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Na última semana, a Defesa Civil do Amazonas divulgou alerta de que a estiagem, este ano no estado, deve ser tão ou mais severa que a registrada em 2023.

A orientação é para que pessoas estoquem água, alimentos e medicamentos a fim de que possam enfrentar o período mais crítico da seca. 

A estiagem na Amazônia ocorre no segundo semestre, com o pico da vazante dos principais rios da região se concentrando entre os meses de outubro e novembro.

Em 2023, a Amazônia já havia enfrentado uma das piores secas de sua história (como contamos aqui), com grande redução do nível dos rios, o que prejudicou o transporte para comunidades ribeirinhas e, consequentemente, seu acesso a água, comida e remédios.

Estudos indicaram que a principal causa para o fenômeno foi a mudança do clima, decorrente de ação humana. De acordo com a secretária, os eventos extremos provocados por essas alterações do clima mostram que não basta apenas mitigação e adaptação, mas é necessário também ter recursos para reconstruções.

Aloízio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) / Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

“Tem o custo da mitigação. Tem o custo da adaptação das cidades brasileiras, da infraestrutura, da energia, da agricultura. Mas a gente já está vivendo o custo das perdas e danos”, destacou Ana Toni. “Nesse desastre, que está acontecendo agora no Rio Grande do Sul, provavelmente vai precisar de algo entre R$ 50 bilhões e R$ 100 bilhões [para reconstrução do estado]”.

A necessidade de financiamento para reconstrução é uma preocupação também do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “A gente precisa criar [com bancos multilaterais] uma solidariedade e fundos para reconstrução. Imagina se esse dilúvio [do RS] tivesse caído no Uruguai? Como eles sairiam dessa sozinhos?”, destacou o presidente do banco, Aloizio Mercadante.

Ele lembrou que os bancos públicos precisarão de recursos para financiar a reconstrução de locais atingidos por eventos extremos e disse que o BNDES deve realizar uma série de seminários para discutir experiências internacionais nessa área.

“Estaremos, segunda-feira (27), operando uma linha de R$ 5 bilhões no Rio Grande do Sul, com todos os bancos parceiros. Entramos com o fundo garantidor de R$ 500 milhões, mas precisamos de taxas de juros menores para a reconstrução do Rio Grande do Sul”, declarou.

Este texto foi originalmente publicado no site da Agência Brasil em 22/5/2024
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Foto (destaque): Alex Pazuello/Secom